“Estudo adverte que o Sul da Península Ibérica irá perder turismo com o aquecimento global no planeta”
Muito do litoral português, como a Costa da Caparica ou a Ria Formosa, irá ficar alagado até 2100. Com temperaturas demasiado quentes no Verão, o Algarve irá perder turismo a favor de destinos no Norte, ficando mais exposto a insectos e pragas infestantes que originam as chamadas doenças dos viajantes. Um estudo sobre os efeitos das alterações climáticas nos destinos ibéricos no final do século XXI, da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE), traça um cenário, no mínimo preocupante. “O estudo serve para alertar que se não se fizer nada para evitar o futuro que está anunciado, há grandes probabilidades deste cenário catastrófico acontecer”, frisa Eunice Gonçalves, presidente do conselho directivo da ESHTE e co-autora do estudo.
As preocupações partem de aumentos de seis graus centigrados até ao final do século, um cenário já referenciado em estudos anteriores. “As temperaturas subirão, e de forma significativa. Os fluxos turísticos do Sul da Península Ibérica irão deslocar-se para o Norte, á procura de temperaturas mais amenas”, adianta Eunice Gonçalves, referindo que o Inverno tende a ser a estação alta do Algarve e Sul de Espanha. “Há um limite para o sol e mar a partir de determinada temperatura, sobretudo com o turismo sênior a ganhar importância”.
Não será a morte do Algarve, “mas o destino tenderá a perder peso no conjunto do país para outros crescerem”. É o caso do Norte, Madeira e Açores. “No Norte da Europa, por exemplo, hoje não há turismo balnear, e com o aumento das temperaturas poderá vir a existir”.
O efeito mais crítico é o da subida média da água do mar. Muitas áreas da costa portuguesa deverão ficar alagadas. Globalmente, o mar subiu 10 a 20 centímetros no século XX, também como conseqüência do degelo dos glaciares. “Em todo o território nacional vai haver um recuo da linha de costa”, avisa a investigadora.
Serra da Estrela emerge para o turismo náutico
Com o aquecimento global, também os destinos de neve da Península Ibérica irão desaparecer enquanto tal, com excepção dos Pirineus. “Esses locais terão de evoluir para outro tipo de produto. Chega a um ponto que é tão caro manter a neve que a própria estância deixa de ser viável”, salienta Eunice Gonçalves. “E já hoje se nota cada vez mais necessidade de recorrer a meios mecânicos, como canhões de neve”. O caso emblemático em Portugal é a serra da Estrela, colocando-se as alternativas ao nível do turismo de natureza e de montanha. “Se a neve derrete, vão criar-se imensos lagos e bolsas de água, que podem ser agradáveis para actividades náuticas”.
Eunice Gonçalves sublinha que há margem de intervenção no sentido de controlar os efeitos anunciados das alterações climáticas. “Este é um exercício que parte da situação actual, projectando-a até o final do século”, explica. A verdade é que o estudo já considera como situação de partida, em 2008, fenômenos como “erosão litoral, cheias, secas, ondas de calor, fogos florestais e desertificação”.
Em 2100
Com o aumento de 6º C até ao fim do século, fluxos turísticos do Sul da Península Ibérica irão deslocar-se para Norte.
O inverno passa a ser a estação alta do Algarve. O Alentejo interior sobe dos actuais 20 a 90 dias de temperaturas máximas de 35º C.
Riscos para a saúde, com o aumento de insectos e espécies infectantes, como as alforrecas.
Norte, Açores e Madeira irão ganhar pelos climas amenos.
Com a neve a derreter, a serra da Estrela irá ganhar bolsas de água, para turismo de natureza.
Recuo da linha de costa em todo o território nacional. Costa da Caparica e Ria Formosa, no Algarve, são algumas áreas que tendem a ficar alagadas.
No enoturismo, a adequação de castas será um imperativo.
‘Conceição Antunes’
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