domingo, 26 de outubro de 2008

A NOVA ESPÉCIE

Confidenciava-me há poucas semanas um amigo que os homens de hoje em dia também já têm dores de cabeça. Segundo ele, reina entre os casais uma preocupante ausência de desejo sexual, o qual também se manifesta nos homens.

É sabido que as mulheres são exímias em enumerar razões para não ter sexo: cansaço, sobrecarga doméstica, filhos, falta de auto-estima, medo do espelho, tensão pré-_-menstrual, depilação por fazer, resquícios de uma discussão, sono, falta de dinheiro, entre tantas outras. O dado novo é que os homens também passam pelo mesmo, ou seja, entre ter sexo aborrecido e rotineiro ou não ter, alguns preferem ficar a ver o futebol e a beber cervejas aconchegadas com uma reconfortante pratada de tremoços, o que me faz pôr em causa a clássica máxima muito popular nos anos 80, divulgada em canecas e t-shirts, que proclamava ‘sex is like pizza, when it’s good it’s very good, when it’s bad, it’s still good’.

O sexo mecânico, que eu pensava não ser bom para as mulheres mas ainda assim satisfazer os homens, afinal pode não ser considerado uma opção.

Esta INFORMAÇÃO leva-me para o território do sim e do não que pelos vistos se arruma agora de forma diferente. Aos homens sempre calhou o ónus de aguentar com a recusa das mulheres e estão habituados a encarar o cenário negativo com fair-play e descontracção. Um não é o prato do dia; o sim é muitas vezes um bónus.

Com as mulheres é ao contrário: habituadas ao luxo de dizer sim ou não conforme lhes apetece, quando são confrontadas com uma recusa, tomam-na como uma ofensa pessoal e o mundo pode desabar. Não conseguem perceber que uma recusa pontual não representa automaticamente um acto de rejeição. Como é próprio do modus operandi feminino, tendem a interpretar e reinterpretar todo e qualquer gesto, atribuindo-lhe os mais variados significados baseados mais na fantasia e na insegurança do que em qualquer dado real.



Acredito que aos homens também assiste o direito de dizer não, tal como tantas vezes as mulheres o fazem. Afinal, se andamos cá há tantos anos a lutar pela igualdade, nós, as mulheres, temos a obrigação de assumir com humildade que o outro também tem o direito a dores de cabeça, sejam elas verdadeiras ou ilusórias. A libido tem vida própria, tal como o amor e o desejo, é por isso um acto de uma enorme ingenuidade tentar forçá-la. Num mundo em que os homens se vão parecendo cada vez mais com as mulheres, é apenas natural que também eles tenham os seus dias não, mesmo sem tensão pré-menstrual ou sintomas de menopausa.

Não esqueçamos que esta nova espécie também tem outras qualidades; usa perfume e bons cremes para a pele e vai de boa vontade à faca operar o nariz para nos deixar dormir em paz sem banda sonora. Além disso, o clássico homem feio, porco e mau e a cheirar a cavalo raramente conhece as subtilezas do bom sexo e nem sequer se preocupa se a parceira atinge o nirvana ou está a pensar que precisa de mudar o verniz das unhas.

'Margarida Rebelo Pinto'

sábado, 18 de outubro de 2008

Viva a crise!

A crise é má. Todos a vamos pagar. Mas poderá ser boa. Se descongelar algumas ideias políticas que estavam há muito no frigorífico, se enterrar durante algum tempo as ideias de Milton Friedman que iluminaram a classe política nas últimas três décadas. Friedman, guru da escola de Chicago, considerava que só o dinheiro interessava. A partir daí confundiu-se a economia com os ciclos financeiros típicos da economia de mercado.

Todos os outros aspectos da economia (a agrícola, a humana, a laboral, a ambiental – todas fazem parte do eco-sistema a que se chama "economia") foram esquecidos. A ideologia hegemónica cristalizou-se, como se os fluxos financeiros fossem o coração e a alma do mundo. Não são. Esta crise pode incentivar uma nova ruptura criativa na economia, afastando as ervas daninhas que tiravam o sangue ao mercado. O Carnaval financeiro está a acabar e as máscaras estão a ser vendidas em saldo. Não é preciso citar Adam Smith para se chegar à conclusão que o saneamento do sistema bancário e o controle do défice público são medidas essenciais para garantir a saúde económica do Estado moderno. Por aqui imaginava-se que a crise financeira tirasse alguns políticos do seu estado letárgico. Não é o caso. Em Portugal tudo pode ser motivo de debates "fracturantes", menos o que interessa neste momento: a economia real dos portugueses. É nestes momentos que se vê o défice global da classe política nacional. Discute o acessório, esquece o essencial. A crise há-de bater-lhes à porta.

Fernando Sobral

TRICHET, CASINHAS DA CÂMARA, CRISE E UM MINISTRO SUICIDADO

Crise: Desvendar o mistério Trichet. A Euribor foi abaixo mas as taxas de juro subiram (e só deram sinais de descer depois das intervenções simultâneas de quase todos os governos da EU). Trichet é, portanto, o sr. “mal-entendido” que tarde e a más horas, decidiu… Resultado: ninguém o seguiu. Antes e depois, ele estava “certo”... Consumidores, famílias e empresas é que não o entendiam e estavam “errados”… Viu-se! E ainda não se demitiu...?!



Ler os jornais, nestes dias da grande crise, serve sobretudo para vermos como mais de 95 por cento dos opinion-makers não percebe nada do que se está a passar… E não consegue escondê-lo. Parece aquela estória dos cegos à volta de um elefante a tentarem adivinhar que coisa será pela impressão recolhida do sítio em que lhe tocam...

José Mateus Cavaco Silva


O caso das casinhas da Câmara mostra bem um dos mais tristes (e só aparentemente paradoxal) aspectos do Portugal pós-Abril: a “união de facto” (ainda não tanto o casamento gay...) das nomenklaturas comunistas e aparentadas locais com o “complexo salazarento e neo-corporativo”. Bem instalada nestas ricas casinhas e bem abrigada atrás de um discurso de “superioridade moral”, esta “união de facto” vai próspera, feliz e fazendo muitos meninos. Este conúbio só aparentemente é insólito porque, realmente, “o que os une (a dependência das tetas do Estado) é muito mais forte que o que os separa (as simpatias pela esquerda totalitária ou pela direita totalitária)”… E todos berram contra o liberalismo, essa coisa que, claro, seria pôr as casinhas da Câmara no mercado (de arrendamento, o tal que Salazar liquidou e ninguém quer ressuscitar), entregando-as a quem as pagasse pelo seu valor (resolvendo-se, assim e de caminho, também o défice crónico, agudo e grave da CML. Compreende-se… Tudo se compreende. Tal como se compreende que um dia (como a história do sítio bem ilustra) a coisa acaba mal... Até lá, vão vivendo à conta e bordando belos discursos com os resíduos da “superioridade moral” de comunistas e fascistas.



As Finanças andam a confundir o dispositivo militar com a Função Pública e aplicar-lhe as mesmas regras. Há outras maneiras de dizer isto: confundir o rabo com as calças ou, melhor ainda, comparar o cu com a feira de Castro... Leia-se o texto de Helena Pereira no “Sol” de 11 deste mês e fica-se esclarecido sobre a dimensão do enorme mal-entendido. Mas se as Finanças cometem o típico erro do tecnocrata pouco atento ao valor real e ao peso e densidade de certos “imateriais” (como “a soberania” ou “o moral”) e pouco entendido nos determinantes da geopolítica e suas implicações fatais, já o ministro da Defesa comete suicídio. Porque, a ser verdade o que o “Sol” relata, isto é o suicídio político de Severiano Teixeira… O ministro da Defesa foi apagado deste quadro. Assim, os militares percebem que não podem contar com ele. E a partir daí, o ministro não conta no campeonato. É claro… Se ele deixar que isto aconteça, realmente. Se a norma diz que poucos sobrevivem politicamente ao exercício do cargo de ministro da Defesa (façam a lista a dos ministros dos últimos trinta anos e vejam...), a agir assim então é “morte” certa antes ainda do fim do exercício.

Desertores

Terceira classe de Desertores, aquela que Pacheco Pereira fala, e que tentava incluir num “bolo” único. Esta classe era constituída pela parte da população que beneficiava directamente do status-quo do Estado Novo, privilegiada, rica e instruída, vivia num outro Portugal, bem "longe" do estado de indigência em que se encontrava a maioria da população.

Estes Portugueses tinham um bom nível de vida, mesmo para os padrões actuais.

Estes recusaram defender a pátria que tanto os beneficiava e preferiram partir, financiados, a maioria pelos dinheiros dos seus papás. E o seu “exílio” foi bastante dourado.

Nessa altura Paris devia ser uma cidade espectacular para quem tinha duas coisas, Dinheiro e tempo Livre. Mesmo para aqueles cuja mesada paternal não chegava para os copos do Quartier Latin e Montparnasse, podiam arranjar facilmente um empregozeco relativamente bem pago. Esta classe de desertores nunca pôs o pé nos Bidonville, onde a primeira classe de "desertores" vivia, até podemos dizer que raramente saiu dos limites da cité, dos seus cafés e livrarias.

Não quero que pensem que estou aqui a dar lições de moral a estes senhores. Não dou, porque sou de uma outra geração. Geração que nunca foi posta perante o dilema de ter que defender a sua pátria lutando. Se vivesse nesses tempos, não poderia dizer, hoje em dia, qual a opção que teria tomado.
Mas estes desertores não contentes com o que fizeram, voltaram logo a seguir ao 25 de Abril para Portugal e foram-se colocar em Alcântara a chamar de “assassinos” aos Portugueses que combateram em África. Mais tarde o acto de cobardia serviu de “medalha” para se introduzirem na classe politica dirigente, onde ainda se encontram. Aí difundiram a sua cultura de exigir direitos recusando-se a cumprir qualquer dever, cultura essa que hoje está completamente arreigada na Sociedade Portuguesa.

Mas não se ficaram por aí!

Tiveram até a desfaçatez de Auto-atribuir-se pensões por “feitos relevantes na luta Anti-fascista”.
Estes cobardolas apenas são merecedores do meu mais profundo desprezo.
Nada lhes devo.

Se houve 25 de Abril, se hoje vivemos em Democracia e se a minha geração nunca se confrontou com o dilema de combater ou não combater, são coisas que devo a todos os Portugueses que foram mobilizados para a guerra do Ultramar, sobretudo aqueles que nunca voltaram.
Esses é que são os verdadeiros Heróis.
Esses é que foram os que se sacrificaram.
Esses foram aqueles que todos os dias, durante dois anos ao acordar, não sabiam se iria ser a última vez.
Esses são aqueles que hoje estão votados ao esquecimento.
Esses são aqueles que a classe política, saída do 25 de Abril, nunca teve a honra nem a dignidade de lhes agradecer.

A todos os que foram mobilizados, o meus sinceros agradecimentos.

Aos filhinhos do Papá e da Mamã, que prestaram a sua comissão nos bares do Quartier Latin.

BADAMERDA!

Luís Bonifácio

Capitão Salgueiro Maia

O depois considerado grande herói do 25 de Abril, o então Capitão Salgueiro Maia, cerca de uma semana depois de chegar à Guiné, com a sua C.Cav.ª n.º 3420, na Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO), veria a sua companhia completamente destroçada, o que seria resolvido com um seu “salve-se quem puder”. Houve militares que apenas apareceram dois dias depois e outros que seriam apanhados e ficariam detidos nas prisões do PAIGC.

Ten-Coronel Marcelino da Mata

TGV - EM QUEM ACREDITAR...?!

Bruxelas e a ADFER dizem, no mesmo momento e sobre o mesmo assunto, coisas opostas. Mais, o presidente da ADFER, como "especialista em combóios", diz que a ligação Porto-Lisboa não deve ser feita por ser um desperdício de dinheiro (mas nada diz das centenas de milhões de contos que já se gastaram na chamada linha do norte sem ter resolvido nenhum dos seus problemas...). O problema é que o quadro de decisão do TGV Lisboa-Porto não é de "especialistas de combóios" mas sim de políticas de valorização do território e de estratégia do País. E é neste quadro que a decisão tem de ser discutida para fazer sentido. Depois, entrem em cena os especialistas de combóios para tratar os problemas de combóios que essa decisão coloque. Mas neste sítio anda tudo ao contrário e os especialistas de combóios querem decidir da estratégia e da valorização do território...

O quadro de contradição entre a ADFER e Bruxelas cria dúvidas, claro. E na dúvida o melhor mesmo é perguntar a quem sabe: Prof. António Brotas, diga-nos o que lhe parece isto e como estão realmente as coisas...

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Presidente da ADEFER fala em desperdício de dinheiro

14-10-2008 8:50



A Associação Portuguesa para o Desenvolvimento do Transporte Ferroviário considera ser desperdício de dinheiro a construção da linha de TGV entre Lisboa e Porto e defende o seu adiamento.

Esta é, apenas, uma das críticas que o presidente da ADEFER faz ao projecto do Governo para a Alta Velocidade.

Arménio Matias insiste que a ligação Lisboa-Madrid deveria passar por Alcochete e estranha o atraso da obra em Portugal em relação a Espanha que iniciou o projecto na mesma altura.

Para este responsável, Portugal está muito atrasado quanto ao TGV, lembrando que tudo começou ao mesmo tempo - em 1988 - em Portugal e Espanha.

Nestas declarações, o presidente da ADEFER, diz que não concordar com o calendário proposto pelo Governo para o TGV em Portugal e considera que o projecto contém soluções dispendiosas e esbanjadoras. Na sua opinião, o plano poderia ser mais barato e mais eficiente.

Arménio Matias diz ainda que a linha deveria ter sido alterada depois da decisão de não se fazer o novo Aeroporto na Ota e sim em Alcochete, defendendo que a ligação Lisboa-Madrid e Lisboa-Faro deveria passar sempre por Alcochete.


Já quanto ao traçado Lisboa-Porto, uma prioridade para o Governo, este especialista em caminhos de ferro diz que não se deve fazer imediatamente pois isso é um desperdício de dinheiros públicos.

Cx/Paulo Neves

Bruxelas diz que TGV Portugal-Espanha está no «bom caminho»
Relatório anual de acompanhamento do projecto
2008/10/14 15:13Redacção / MD



Custos serão mais baixos na parte portuguesa



O projecto de eixo ferroviário de alta velocidade (TGV) que ligará Portugal e Espanha «parece actualmente estar no bom caminho, tanto a nível de programação, como de custos», indica o relatório anual de acompanhamento do projecto, divulgado esta terça-feira em Bruxelas, citado pela «Lusa».

O relatório aponta que «efectivamente, de acordo com os dados disponíveis, os custos serão mais baixos na parte portuguesa» e os prazos estão a ser cumpridos.

Segundo o documento, que foi elaborado pelo coordenador europeu do eixo ferroviário de alta velocidade do sudoeste da Europa, Etienne Davignon, adianta que «no que respeita à parte portuguesa da ligação, relatórios mais pormenorizados confirmaram os progressos registados entre o Porto e Lisboa e entre Lisboa e a fronteira espanhola (Caia)».

No entanto, o coordenador europeu aponta que há «algumas questões que merecem uma avaliação mais profunda», tais como o facto de o futuro aeroporto de Lisboa, em Alcochete, não ter ligação à linha de alta velocidade, o que «obrigará a um serviço expresso a partir do Poceirão no caso dos passageiros provenientes do Leste e do Sul de Portugal.

O coordenador recomenda ainda «que seja realizada no projecto a avaliação do impacto da mudança de localização do aeroporto da Ota», no caso específico da ligação Lisboa-Porto.

José Mateus Cavaco Silva at October 14

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Roubo e saque

Há muitos anos que o Estado liquidou o mercado do arrendamento. Intervenções sucessivas culminaram no congelamento das rendas após 1974. Os resultados foram péssimos.

A desvalorização da propriedade arrendada gerou a ruína dos centros das cidades. Os jovens, mal começam a ganhar algum dinheiro, são obrigados a endividar-se para o resto das suas vidas para gáudio dos bancos e dos construtores.

As novas gerações são sacrificadas em prol dos benefícios ofertados aos que arrendaram casas antes do 25 de Abril. Nenhum Governo teve coragem e seriedade política para mudar isto. Agora, o Estado, que provocou a desgraça, quer triplicar a carga fiscal aos prédios arruinados. Era como se o incendiário multasse o dono do pinhal por este o ter deixado arder.

Carlos de Abreu Amorim