sábado, 29 de maio de 2010

Empinar pipa

Como qualquer boa propaganda de máquina fotográfica: recordar é viver! Por isso, mais uma vez, volto à minha infância, tempos em que empinar pipa era um verdadeiro barato.
Essa reminiscência foi novamente marcante quando li o livro “Caçador de Pipas”, best seller do escritor Khaled Rosseini, cujo personagem central, Amir, é um garoto problemático que cresceu no Afeganistão, onde venceu o famoso campeonato de pipas.
Se bem me lembro, nessa época de moleque, lá em Cajazeiras, traquinar com pipa era um lampejo de felicidade. O êxtase dessa brincadeira era fazê-la subir vertiginosamente, parar no ar com aquela peculiar exuberância, ao sabor do vento, para só aí dar linha, fazendo com que ela descesse num perfeito vôo rasante, quase batendo no chão, e voltasse a subir. Nossa! Mais divertido, impossível.
Melhor ainda: no meio do bate-papo inocente, passávamos horas a fio aparando palha de coco na produção da haste central e as outras duas que se cruzavam na armação da cobiçada pipa – estilo peixinho. Em seguida, revestíamos com papel de seda ou celofane colado por uma gororoba feita de goma com água, presa a um rabo de retalho de tecidos, difícil e chato de fazer.
Ah, quanto à linha, não tínhamos problema. Usava-se linha de pesca, de pedreiro ou de costura que sorrateiramente roubávamos da máquina de costura de nossas mães.
Todo “pipeiro” que se preza tem que ter noção do local ideal para a prática desse entretenimento. O vento forte e constante são os ingredientes indispensáveis para que se torne como um pássaro de papel batendo as asas, como disse certo aficionado. Tinha mais: chamava-se de “mané” quem não agisse assim.
Depois de certa idade acho que todos podem tirar suas fantasias do armário, e quiçá voltar a ser de novo criança. E eu assim me decidi, quando comprei direto ao camelô, num desses cruzamentos de rua da cidade, uma pipa moderna, bem colorida, toda feita de plástico, nylon ou outro material sintético. Desmontável, linha tipo cordonê e, por cima, com direito a uma embalagem especial para acomodá-la.
Desencadeou em mim um turbilhão de emoções quando botei a sofisticada pipa para fazer subir aos ares na praia de Lucena. Mostrando-se livre, leve e solta... cintilante e tranquila. Fiquei ali boquiaberto, arrepiado e comovido. Sai correndo, com o vento batendo no rosto e um sorriso tão grande quanto de uma criança. Era como se todas as rajadas de vento soprassem a meu favor. Prova viva que a nostalgia estava no ar. Um autêntico “elevador emocional” que ultrapassava o mais alto dos andares.
Sim. Foram momentos de saudades: parafraseando Calderón de La Barca, a dizer que “a vida não só sonhos, são saudades também”. E com os olhos fixos no céu, agradeci a Deus por esse instante mágico.


"LINCOLN CARTAXO DE LIRA"

terça-feira, 25 de maio de 2010

Isto já só lá vai a BOMBA

Senhores Deputados da Nação

Não sei muito bem se faço bem ou mal em lhes estar a escrever, pois alguns de vocês, de tão analfabetos culturalmente, nem ler corretamente ainda sabem, e outros só se dedicam a ler as letras gordas dos jornais com que se ‘besuntam’ diariamente na trabalheira que é estar sentado no hemiciclo de S. Bento a contar joaninhas, e beber cafezinhos no bar ali ao lado dos passos perdidos... pois agora para não se cansarem muito, até já nem tem que levantar a mão para votar, é só carregar no botão.
Bem ou mal, resolvi que realmente faço bem em lhes escrever, pois pelo menos não me levam por parvo nas vossas sacanagens.
E de passos perdidos já nós estamos fartos... pois na realidade perdido esta Portugal, ao alimentar Vossas Excelências, suas autenticas cavalgaduras!
Como bem sabem, até que sou, ou era, amigo pessoal de alguns que ai se sentam, (digo era, pois tenho a consciência plena que após esta cartinha, vou perder alguns amigos, mas que se phoda, pois para ter amigos destes, antes quero ter inimigos) mas para mim tão bom será o Pedro como o Paulo, pois não escutei ainda uma palavra que seja de algum... unzinho que seja dos senhores, a dizer que não concorda com a autentica roubalheira que por ai esta a acontecer no convento roubado aos frades.
Vocês estão a abusar da paciência dos portugueses, e a paciência tem limites!!!
Ele são os BMW para o Senhor Gama se passear, e sentar a sua digníssima “peida” logo em 2 (dois) que custaram bem mais de 150 mil euros, porque um só não lhe chega, atendendo ao tamanho da sua generosa “bunda”!
Ele são os BMW para os Vice-Presidentes da Assembleia, para a Secretária-Geral, e só falta comprarem também uns BMW para as assessoras dos cafezinhos e para as senhoras que limpam o pó das estantes dos gabinetes...
Ele é a actriz que se quer passear de Paris para Lisboa em executiva, e de Lisboa para Paris em executiva, como se fora hospedeira de bordo, paga com o NOSSO dinheiro, recolhido nos impostos com que nos vão a carteira de cada vez que abrimos os cordões a bolsa.
ARRE PORRA E TRÊS QUINZE que isto já esta a ser demais!!!
Então estas “cavalgaduras” vem falar de CRISE... CRISE... dizem eles, alto e bom som, e depois pegam, SACAM, do dinheiro do Orçamento de Estado e fazem uma bandalheira tal, que mais parece um cabaré espanhol... e das P.U.T.A.S nem sei se também não estão incluídas no orçamento!
Agora mesmo aprovaram mais 25% (vinte e cinco por cento) de aumento para os subsídios de viagens dos Deputados...
Repito, pois pode haver alguém que não tenha entendido muito bem:
APROVARAM, MAIS 25% DE AUMENTO PARA OS SUBSIDIOS DE VIAGENS DOS DEPUTADOS!!!
Cheguei a conclusão que tenho que regressar a política, e desta vez formar um grupo extremista, que se dedique a colocar por ai umas bombas, e faça umas limpezas no sebo de uns quanto energúmenos da praça.
Afinal o “marocas’ tinha razão, quando falou no direito a indignação!!!
PORRA!!! PORRA!!! PORRA!!!
Já não existe pachorra para tanta falta de vergonha dos políticos portugueses.
Os portugueses estão a espera de que... e de quem... estão a dormir... estão em coma... será que morreram...
Uma nova revolução deve ser coisa pouca para tentar resolver o estado a que chegou Portugal!
Então será que alguém de bom senso consegue aceitar que numa semana se venha pedir novos sacrifícios aos portugueses, com cortes nisto e naquilo, em especial no social, nos mais desprotegidos da sociedade.
Que se vejam famílias inteiras a dormir ao relento, quem nem dinheiro tem para comprar leite para os filhos.
Outros portugueses, em especial idosos com aposentadorias de m.e.r.d.a, que tem de optar entre comer a bucha requentada, ou comprar os medicamentos para tentar resistir ao cimo da terra mais algum tempo.
E depois olhamos para os aumentos de impostos, no sentido de ajudar a causa publica, e por ai afora, e na semana seguinte com a maior das caras de pau do mundo, se venham aumentar em beneficio de si próprios em 25%... VINTE E CINCO POR CENTO!

Mais 25%... VINTE E CINCO POR CENTO!

Meus Caros Amigos

Estou convencido que já não existe outra saída:

ISTO SÓ LÁ VAI A BOMBA!!!


"João Massapina"

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Carta aos militantes e simpatizantes do CDS-PP do Barreiro

Caros Militantes e Simpatizantes do CDS-PP do Barreiro, da sensibilidade nacionalista lusitana

Tenho acompanhado na medida das minhas possibilidades logísticas, atendendo a distancia geográfica, cerca de 7.00 km, que neste momento tenho a separar-me do Barreiro, com o mar pelo meio, mas que não impede de forma alguma que tome conhecimento, mesmo que parcelado, dos acontecimentos que tem vindo a ocorrer por ai, relativamente a atualidade do CDS-PP do Barreiro.
Falo na qualidade cidadão totalmente independente de partidos políticos, e de Ex-Presidente da Comissão Política Concelhia do Barreiro, por 3 mandatos, e que entende perfeitamente a Vossa desilusão relativamente a determinadas figuras e praticas que são usadas com mão leve e repetidamente no partido que entenderam encarar como sendo o vosso.
A quando da minha chegada ao Partido pelo convite do então Presidente Dr. Manuel Monteiro, e do então Secretário-Geral, desde logo foram criados vários entraves a minha filiação no Barreiro e na Distrital de Setúbal. Tive então que me filiar por Lisboa, pela mão do meu bom Amigo Dr. Telmo Correia e pela então Secretaria da Concelhia minha Amiga Maria Orisia, e só depois transferir a minha militância para o Barreiro – Setúbal.
Nessa altura, o problema era precisamente igual ao que vocês estão a enfrentar hoje, passados mais de 10 anos. Existe medo de que surjam novas figuras, novas idéias, novos projetos que possam ofuscar as mentes iluminadas que dirigem os destinos do Partido a nível Concelhio e Distrital a anos e anos a fio, e sem que se vislumbrem resultados positivos.
Mais de dez anos atrás, o maior obstáculo era um dinossauro que se chamava Kruz Abecacis, e mesmo assim foi possível contornar, através da união dos militantes do Barreiro, contra figuras que nada tinham que ver com a doutrina política do CDS-PP, mas que por lá se passeavam em busca de colocação profissional, uma vez que vegetavam nos corredores da indiferença. Como gosto de chamar os bois pelos nomes, tenho que referir por exemplo Pedro Estadão, mais tarde destacado militante do PS do Barreiro, em transito para o PSD, e o então Secretario Distrital, porque nem sequer queriam que existisse o numero necessário de Concelhias formadas e a funcionar, para poderem manter um Secretário como rei e senhor, e não uma Comissão Política Distrital, órgão colegial que poderia criar problemas aos seus objetivos feudais. Figuras como o Sr. Carlos Dantas Aveiro, que tanto jogava de um lado como do outro da barricada, na busca de se erguer a Presidente da Distrital, e ser nomeado para alguma destacada situação, cargo para o qual teve a lata de lançar a sua esposa, Drª Isabel Dantas, mas que mais tarde acabou por ocupar, como se de uma monarquia se trata-se no Distrito, e que chegou a dirigir um departamento de educação no distrito, logo ele que trabalhava como advogado escriba na Direcção regional de Agricultura em Santarém, portanto muito conhecedor dos meandros educativos como podem constatar...
Quando constataram que existia uma equipa coesa, tanto no Partido como na FTDC como na JC no Barreiro, e que todos remávamos para o mesmo lado, na busca de obter vitorias para o partido, que não pessoais, desde logo se assustaram e começaram por barrar a colocação do Nuno, Presidente da Distrital da JC, que por mero acaso até era meu Vice-Presidente, no lugar que deveria ocupar nas listas candidatas as eleições legislativas de 2001. Eu ocupei, se a memória não me falha, o 8º lugar dessa lista, e poderia até ter sido o ultimo dos suplentes, pois o que nos interessava era cimentar o Partido no Barreiro. Mas o lugar da JC deveria ser no mínimo o 3ª da lista e não o 5º ou 6º lugar que acabou por ocupar, e só para colocar o senhor Dantas em 2º, a esposa em 3º e o amigalhaço João Tita Mauricio em 4º lugar.
Mais tarde candidatou esse mesmo amigalhaço, João Tita Mauricio, para as eleições ao Parlamento europeu. Sá faltou candidatarem os irmãos, as mãezinhas, os primos e as tias dessa família.
No decorrer dos nossos mandatos realizamos 2 Comicios, dignos desse nome, e que podem ser comprovados na comunicação social local e nacional escrita, e que foram inclusivamente televisionados, com a presença do Presidente do Partido, no salão dos Franceses, quando até ai nunca tal tinha acontecido no Barreiro, pois existia uma verdadeira cobardia de assumir o Partido a nível local. Fizemos campanha de rua, com colocação de pendões e distribuição de material de propaganda, tanto nas Legislativas como nas Europeias. Preparamos listas para concorrer a todos os órgãos autárquicos do Barreiro, com uma candidatura forte, de uma figura tradicional e reconhecida no Barreiro, que aceitou, mesmo radicado na Suiça alguns meses no ano, mudar a sua vida, e vir para o Barreiro a tempo inteiro para defender o Barreiro e o CDS-PP.
Quando tudo estava acertado e preparado, com apoios financeiros de vulto para suportar a campanha, logo surgiram os verdadeiros problemas, com uma sondagem encomendada pelo Partido Socialista, a época liderado por Aires de Carvalho, e que dava a eleição direta de autarcas para o partido em pelo menos 1 Freguesia – Santo António da Charneca, e 1 a 2 elementos para a Assembleia Municipal.
Desde logo se levantaram as tropas ameaçadas, e de tudo fizeram para tentar abortar o nosso trabalho. Como não foi possível nos demover a bem, logo o fizeram de uma forma verdadeiramente histórica, ao adulterar as listas de militantes, colocando cidadãos que nada tinham que ver com o CDS-PP, e posteriormente fazendo crer na mente do Secretario Geral de então Dr. João Rebelo e no Presidente do Partido Dr. Paulo Portas, que teriam sido elementos da própria Concelhia a adulterar a militância.
Eu próprio fui confrontado pessoalmente, com a presença nessas tais listas de funcionários do meu local de trabalho, que nada tinha que ver com o partido, e de alguns outros dos elementos da Concelhia que tiveram situação igual, sobre o assunto. Posso dizer que cheguei a ser ameaçado verbalmente, e porque não dizer fisicamente sobre o necessário abandono da candidatura autárquica.
Como verifiquei movimentações estranhas de elementos junto do PS local, e mantinha uma boa relação pessoal com Aires de Carvalho, cimentada na sua militância inicial no PSD, nos idos anos 70, e por curto período de tempo, marquei uma almoço com ele, porque estava desconfiado de movimentações no sentido de um apoio indireto a candidatura do PS, que passava por descarados apoios a figuras como o Provedor da Misericordia Julio Freire, Jornais Locais afetos ao PS como o Jornal do Barreiro, e outras figuras ligadas a maquina do PS.
Fui então informado nesse almoço, que decorreu no antigo Restaurante Centenário, que ficava em frente da CMB, e no qual também estiveram presentes o então Secretario da Comissão Politica Concelhia e ainda um elemento das FTDC, que realmente existia um apoio embora indireto por parte do CDS-PP, e que o mesmo estava a ser feito via Dr. Carlos Dantas e outras figuras ligadas a estrutura nacional do Partido.
O resto da situação, acho que vocês já conhecem pois ficou lavrado em acta no livro de actas da Comissão Politica Concelhia, e que resultou na imediata demissão da Comissão Politica Concelhia por solidariedade para comigo e porque nos sentimos ultrajados com tamanha situação, que para nós significava a mais baixa possivel.
Abandonaram então o Partido mais de 100 (cem) militantes, de que até hoje disponho de registo das suas demissões por cartas registadas com aviso de recepção dirigidas a Sede Nacional do Partido. Eu me mantive ainda como simples militante, precisamente 1 ano (365 dias) para ver qual seria a dignidade daqueles senhores. Que pude constatar não ser absolutamente nenhuma. Em 2005 me dirigi pessoalmente a Sede Nacional no Largo do Caldas, e fiz entrega de todos os documentos do Partido, como sejam arquivos, livros de actas, contabilidade organizada, absolutamente tudo. E desde essa data nada mais tenho de que me ligue a tamanhas figuras ou entidade.
O Partido não concorreu a essas eleições autárquicas, e o Partido Socialista veio a ganhar as mesmas, muito por razão de o CDS-PP não ter concorrido e ter existido voto útil no PS. O CDS-PP poderia ter ficado a servir de charneira na Assembleia Municipal, comandando praticamente os destinos do Barreiro, isso não aconteceu por culpa dessas alimárias e o partido acabou por ficar desmembrado, sem militância e jamais voltou a ter a pujança que mostrou nessa época.
Todos ficaram muito contentes com o resultado. O Sr. Carlos Dantas chegou a Presidente Distrital. O Sr. Jornalista António Sousa Pereira saiu do Jornal do Barreiro e lançou um jornal on-laine que nem se sabe mas se adivinha de onde surgiram as verbas, e que é o vosso conhecido “Rostos”, o Provedor da Misericordia, Julio Freire, antigo comunista e um corrupto da pior espécie lá continua como um rei, e por ai vamos, pois poderia ficar aqui a debitar nomes e situações por paginas e paginas.
Meus Caros
Desde já lhe posso garantir, e penso que não será surpresa para vocês, que essa luta que estão a travar é desigual, mas como já me apercebi que tal como eu, não necessitam da política para viver ou para absolutamente nada nas vossas vidas particulares, será uma luta sem duvida interessante de prosseguir.
Espero que realmente consigam chegar a um bom resultado final, que seria limpar o CDS-PP de alguns emplastros que por ai andam, e que se empederniram de tal forma na estrutura que muito dificilmente são arracados da rocha, em que se grudaram como as lapas.
Os Concelhos de Jurisdição, tanto Distrital como Nacional vão funcionar sempre de acordo com o que eles solicitarem, e só realmente nos tribunais civis vão conseguir fazer valer as vossas razões, tendo para isso que gastar do vosso dinheiro, do vosso tempo, da vossa paciência, mas com a certeza de que estão a travar uma luta justa.
Lhes desejo muita sorte nessa vossa tarefa, e o digo não por esta ou aquela tendência que possa existir no interior do CDS-PP, mas porque sempre lutei pela justiça daquilo em que acredito.
Com amizade e consideração,
José João Massapina Antunes da Silva
Ex-Presidente da Comissão Politica Concelhia do Barreiro do CDS-PP

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Aldemaro Campos

Sempre detive como conceito, de que a Família é o lugar onde o amor deveria ser praticado, vivenciado, desfrutado em toda sua essência.
Inspirado nesse diapasão, confesso que jamais apagarei de minha mente a figura extraordinária do Dr.Aldemaro Campos (meu sogro). Era um homem inteligente, íntegro, grande conhecedor de nossa literatura, e um grande visionário. De hábito simples (até demais). Vivia uma vidinha pacata, típica ao homem do campo.
Depois de um longo expediente, não de sua Repartição Pública (Procuradoria do Estado), mas de suas atividades na fazenda, chegava em casa exausto, sujo, amarrotado, malcheiroso, moído e monossilábico, mesmo assim, não deixava de dirigir um gesto de atenção e de cordialidade as pessoas.
Sempre se queixava da vida moderna: estresse, trânsito, correria, insegurança, colesterol, triglicérides etc. Não era adepto a nostalgia esquizofrênica de seu tempo de mocidade. Dizia que o ser urbano enfrentava uma crise de referências.
Entre tantos bate-papos que tivemos juntos, não me esqueço quando ele disse que todas as criaturas nascem flexíveis para morrerem rígidas. Donde a flexibilidade era discípulo da vida e a rigidez, da morte. Exemplificava-se com maestria essa teoria através da velha história do carvalho e do junco (plantas) que enfrentam a tempestade: o primeiro, por ser firme, quebra-se e morre. O segundo, maleável, sobrevive.
Meu coração tem por essas lembranças, reais sentimentos de alegria, saudade e felicidade. Mormente, as histórias ingênuas contadas por sua esposa Dona Salete (como dizem por ai, a sua “cara-metade”, a “tampa da panela”) sobre a estonteante Maria Amaral - sua parenta.
Não sei até hoje se tais narrativas eram reais ou de ficção. Ressaltando, qualquer semelhança com seus personagens vivos ou mortos teria sido mera coincidência.
E mais: nessas histórias contadas por Dona Salete, sobre essa criatura indefectível, pareciam peças de Shakespeare por tratarem de temas universais, tipo traição, paixão, inveja, ódio, caridade etc.
Quando estava em regime de inspiração total, Dona Salete (espécie de detergente d’alma) brilhava com umas histórias (sem fim) didáticas e empolgantes sobre as travessuras trepidantes dessa tal Maria Amaral. Com vestígio de humor, ou de ironia, vinha lá Dr.Aldemaro com sua tirada: “Eeeiita!!! Boa... Boa... Muito boa!!! Já terminou???
Por isso, todas às vezes que vejo um político tentando se defender (com histórias mirabolantes) nos embaraçosos escândalos de corrupção, eu sinto a falta da presença do Dr.Aldemaro, com sua maldita lealdade inabalável, para lhe sapecar: Chega... Chega de Maria Amaral!


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Adm.Empresas

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A crise da imprensa

Pela mão do proprio autor nos chegou esta peça, que pela sua qualidade e oportunidade não posso deixar de divukgar:

Dias atrás, eu estava aguardando uma encomenda na agência central dos correios, e bem próximo de mim tinha dois senhores. Conversavam. Discretamente resolvi ouvi-los. Um perguntava ao outro: -“Estou decepcionado com a imprensa!”. O outro, quase enfezado, respondeu: -“Realmente, a imprensa não consegue sair do rame-rame”.
Como se não bastasse, um sujeito encostado no balcão não resistiu. Pegou um deixa e
deu sua contribuição à conversa: -“Mas e daí? Estamos no Brasil!”. Os exemplos abundam.
Não precisa ser nenhum cientista político, sociólogo, antropólogo ou ter qualquer outra especialidade acadêmica para saber que a crise da imprensa, não só aqui como noutros países, é o da perda de credibilidade – é uma crise ética, de sua transformação em um instrumento da publicidade (ponto de vista econômico), e da sua constituição em mentor político e ideológico da direita.
É bom lembrar: ao entrar no joguinho medíocre-mediático do descaso e da leniência, o jornal acaba subestimando o nível de seus leitores, sem contribuir com o que deveria ser verdadeiramente o seu papel. “O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter”, já dizia o jornalista Cláudio Abramo.
Mentir não é pecado apenas perante Deus, mas igualmente perante os cidadãos. Pois bem, o fechamento de jornais, dispensa de jornalistas e a diminuição de suas tiragens é apontada como responsável: a difusão da internet grátis, dos jornais grátis, e uma longa lista de et cetera. Como se vê, uma tremenda coleção de bobagens, um verdadeiro discurso engomadinho, que foge ao razoável e agride o bom senso.
Eu sou do tempo, lá no interior, que se dizia que jornal servia para embrulhar peixe. Depois, passei a valorizá-lo através de seu escrito – com tinta envenenada e em papel envenenado – na defesa da liberdade, da democracia e do bem comum.
É importante alargar o campo de visão da linha editorial jornalística. Não adianta querer convencer o leitor de que as coisas estão mais ou menos “good”, quando é o oposto, estão mais para “bad”. Assim, a tão falada luz no fim do túnel, para muitos, essa luz pode ser um trem vindo em direção contrária.
Afinal, que é que falta? Além do que já foi dito, está faltando (salvo rara exceção) um jornalismo que se preze e adote uma linha progressista, tendo como seu patrimônio a ética social, suas posições políticas democráticas, o espírito pluralista dos seus comentaristas, a originalidade das suas coberturas jornalísticas.

LINCOLN CARTAXO DE LIRA

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Carta Aberta ao Senhor Manuel Alegre de Melo Duarte, Candidato a Presidente da Republica de Portugal, e dos Algarves, que não alarves

Exmo Senhor
Manuel Alegre de Melo Duarte

Mais do que conhecida criatura portuguesa, designadamente por meio das designações como Manuel Alegre, Poeta, Radialista, Advogado, ex-Deputado, ex-Vice-Presidente da Assembléia da Republica, co-fundador do Partido Socialista, (novamente) Candidato a Presidente da Republica de Portugal, e tantas outras coisas mais, que não vem agora a importar muito para a lide em questão.

Apresentando desde já os meus respeitosos préstimos, que não cumprimentos a Vossa Senhoria, começo por desde já lhe dizer, meu Caro Senhor que jamais posso ser incluído no rol daqueles portugueses que descaradamente em jeito de arruaça propagandística eleitoreira desafia e apelida de ‘cobardes’ por se esconderem detrás do anonimato, porquanto eu sou um cidadão nascido em Lisboa no dia 17 de Janeiro de 1962, que tem documento de cidadania portuguesa com o numero de bilhete de identidade 6266610, emitido pelo arquivo de identificação de Lisboa, e fui registrado com o mesmo nome que até hoje ostento, e não o mudei nem mudei de sexo, aproveitando alguma das leis que Vossa Senhoria fez o grande favor de empenhadamente trabalhar na Assembléia da Republica, nas suas horas vagas em que por lá se passei, pago pelo dinheiro de todos nós que pagamos impostos, ou seja; quem lhe está a escrever esta missiva é nada mais nada menos que José João Massapina Antunes da Silva, um cidadão livre, como qualquer outro cidadão português, e com os seus deveres fiscais em dia.

Portanto; muito mal vai Vossa Senhoria no inicio da caminhada de uma candidatura presidencial, em que se apresenta mascarado de candidato supra partidário, embora o ar se sinta empestado com a sua conotação política, quando começa desde logo por atacar os portugueses que não confiam em si, e jamais gastariam um euro para o ajudar sequer a chegar a casa de transporte publico se lhe tivessem fanado a carteira nalguma reunião, ou esquina de boteco, ou nalgum descuido na pesca do robalo lá para as bandas do centro de Portugal, ou numa caçada aos ‘gambuzinos’ no Alentejo.

Cada um faz como melhor entende, mas ao caminhar esta estrada, não lhe vislumbro grandes êxitos no curto prazo da sua vida política, no entanto Vossa Senhoria melhor decidira, sem que no entanto não deixe de lhe deixar uma opinião, pela qual não paga nada, e que no meu modesto entendimento deveria começar por respeitar todos os portugueses por igual, tanto aqueles que em si confiam, como aqueles que de si só reservam muito más lembranças de um passado que deveria ser para esquecer, só que muitos daqueles que viveram esse passado jamais se vão libertar desses fatos tristes das suas vidas.

Fatos em que Vossa Senhoria, tem participação efetiva, e pelos piores motivos, que depois passarei a enumerar, e tal como já lhe referi, o vou fazer sem qualquer temor, pois ‘cobardolas’ deve ser Vossa Senhoria, que ataca sem ver a quem ataca, como se fora cego a disparar a esmo o seu desespero e angustia de ter atrás de si um passado que não pode renegar, e muito menos mudar, pois ele está indelevelmente escrito, vivido e guardado para toda a posteridade, quanto mais não seja nas memórias de muitos que infelizmente consigo conviveram.

Pauto a minha vida por olhar de frente para os homens, e nunca os medi aos palmos, por isso para mim, tanto valor tem um homem de 1,95 m, ou outro de 1,52, me dá igual a sua cor de pele, ou se os cabelos são loiros ou pretos ou se é careca, ou barbudo. Agora o que também faz parte da minha forma de ser, estar e viver, é: nunca, jamais deixar de responder a um desafio ou a uma ameaça, e desde já lhe posso dizer que NÃO TENHO MEDO DE NINGUÉM, E MUITO MENOS MEDO DE SI E DAS SUAS AMEAÇAS, pois um homem é um homem, e um bicho é um bicho, e estamos cá é para isto, para viver, e não para nos acobardar perante qualquer ‘pilantra’ que nos surja no caminho armado em pavão cheio de penas, mas com o rabo preso a um passado que tenta vir agora justificar...

E posto que me excedi, nesta minha explanação inicial, para que Vossa Senhoria não possa ter a mais insignificante duvida, que não o vou respeitar enquanto homem, porque entendo que Vossa Senhoria não merece qualquer respeito enquanto tal, e muito menos vou acatar a sua ameaça de que quem falar de si terá que se entender consigo, pois também desde já lhe digo que vou falar de si muito mais do que Vossa Senhoria desejaria, e que eu mesmo pensaria ter paciência de falar, atendendo a sua mais do que manifesta insignificância terrena.

Vamos lá então finalmente a ver, se o pessoal se entende cá com Vossa Senhoria, em todos os capítulos, para que fiquemos de uma vez por todas devidamente entendidos, pois se existe coisa que detesto na vida é mal entendidos. E quanto a heróis, como muito em sabe; os cemitérios estão pejados deles, e não o estou a ver como valendo grande coisa sequer para alimento das minhocas...

Eu, José João Massapina Antunes da Silva sou um dos que o tem atacado nos mais variados locais possíveis e imaginários, assinando sempre com o meu nome próprio, porque não utilizo em local algum pseudônimo para me esconder, porque nunca o fiz, nunca o faço e nunca o farei, uma vez que sempre assumi tudo aquilo que digo e escrevo, com total frontalidade.

Obviamente que o tenho atacado verbalmente mas de modo leal e o mais frontal possível porque considero que Vossa Senhoria não é digno de ser algum dia o mais Alto Magistrado da Nação chamada de Portugal, e muito mal andariam os portugueses se assim o designassem, e mais lhe digo que penso pela minha cabeça, não sou influenciado nem por A ou por B, e até me dou ao luxo de ser irmão de um membro da sua Comissão de Honra, ou Comissão de Candidatura, ou lá ou o que lhe queira chamar, e não seria por isso, e muito menos seria por causa disso, que lhe deixaria de zurzir uma valentes pauladas verbais, para o colocar no seu devido lugar, que não deveria ser sequer como Deputado da Nação, mas sim como mero cidadão, obrigado a cumprir os seus deveres e direitos como qualquer outro português digno desse nome.

Deve ser realmente por causa da sua falta de dignidade e caráter que Vossa Senhoria tem sido um dos mais privilegiados desta Nação desde a épica Revolução de 1974.

Vossa Senhoria diz, e muito bem, que em Agosto de 1961 foi incorporado no serviço militar obrigatório. E eu lhe pergunto desde já, o por que de tamanha admiração, e justificação da sua parte para esse facto, pois quem seria Vossa Senhoria para se assumir como exceção a regra da época. Todos os jovens da sua geração o tiveram que fazer, e ninguém que eu tenha conhecimento até ao dia de hoje, questiona esse fato inquestionável das suas vidas.

Seguiu a sua vida militar, e daí também ninguém o questionou se foi soldado raso, ou se chegou a cadete, depois Aspirante, Oficial Miliciano e por ai afora, e até quem sabe podia ter chegado a Major ou até mesmo a General que nem o seu amigo, ex-chefe de rede bombista, e depois de limpa a sua ficha pelo seu outro grande amigo Mario Nobre Soares, transformado em Comendador Otelo Saraiva de Carvalho, e a que só já lhe falta ser colocado no dia do juízo final, no Panteão Nacional ao lado da Amália e dos reis, ou até quem sabe nos Jeronimos ao lado de Camões, Pessoa, e Vasco da Gama.

Seguiu viagem para cumprir os seus deveres militares para Angola, como poderia ter seguido para a Guiné-Bissau, Moçambique, ou outra qualquer das colônias onde existia palco de guerra e militares portugueses destacados, ou esperava que o tivesse colocado a guardar lapas na guerra das Berlengas, ou da Ilha do rato em frente ao Lavradio-Barreiro.

Diz que o seu pelotão recebeu missões para realizar escoltas e tudo o mais o que seria normal num palco de guerra, porque obviamente Vossa Senhoria não estaria a espera de se deslocar para a Guerra Colonial para ir banhar-se nas águas quentes da costa, ou comer camarão de papo para o ar nas avenidas de Luanda ou mascar tabaco no Nambuangongo.

Refere que estive debaixo de fogo algumas vezes, (felizmente nunca se queimou, estorricou, ou lhe colocaram nada dentro dos bolsos para o fazer andar aos pulinhos no meio da picada) pois tudo isso foi muito bom para que dessa forma Vossa Senhoria pudesse tomar consciência das condições em que tantos jovens da sua geração foram colocados, por si próprio, quando mais tarde, segundo as palavras de muitos deles, que estão dispostos a testemunhar, era Vossa Senhoria que via radio como que dava as coordenadas de onde os “turras” poderiam encontrar os destacamentos, colunas e aquartelamentos, bem como as rotas das escoltas.

Vossa Senhoria; não sei, não posso afirmar, nem o estou a fazer de modo algum, mas enquanto investido de militar, ainda por cima não um mero soldado raso, poderia ter acontecido dar esses mesmos dados, agora o que a história não consegue apagar é que isso aconteceu por via direta ou indireta quando já não estava a cumprir o serviço militar, e desde Argel, com a conivência direta de adversários de Portugal e dos Portugueses.

Obviamente que Vossa Senhoria pode optar por uma autentica “peixeirada”, como aliás é seu timbre, em local próprio, com o digo eu, diz você, dizem eles, eles os seus Companheiros, e olhe que tem dezenas, centenas deles com muita vontade de o desmascarar na praça publica, e para isso basta falar com os muitos que nas diversas Associações de antigos militares, e de estropiados, lhe tem uma amizade tão grande que se você algum dia se descuidar a passar fora de uma passadeira para peões em zona movimentada, lhe pode acontecer bem pior que o simples braço partido a quando da campanha eleitoral para o 1º mandato do seu amigo Mário Nobre Soares.

Está a ver como eu tenho uma memória de elefante, e como você conhece tanta gente que até já se esqueceu de um jovem e imberbe jornalista, de gravador em punho, em plena FIL, a poder ver e conhecer as imagens de momentos importantes para a história de Portugal. Já agora uma a parte, sem maldade, só por mais profunda amizade a pessoa em questão, ainda mais que até fomos Companheiros de Partido, e chegamos até a juntamente com outros Companheiros da época, lutar contra muitos daqueles que agora o estão a levar ao colinho na tentativa de o colocar como Magestade em Belém. Será que a sua amiga arquiteta esta boa, não a tenho visto, tirando o empenhamento com que defende os contentores para a zona ribeirinha, mas nessa altura ela já andava muito ao pé de si, pois se a vir, lhe transmita os meus mais afetuosos cumprimentos, vindos de um ex-dirigente da JSD e do PSD do Barreiro.

Mas voltemos ao importante desta missiva, deixando as familiaridades para outras oportunidades. Assim; a quando Vossa Senhoria foi parar ao aquartelamento de Quixico, perto da fronteira com o Congo, e acabou por dar tanto nas vistas da PIDE-DGS, que a coisa esquentou de tal forma que até lhe arranjaram, ou foi você mesmo quem arranjou uma oportuna doença para o tirarem de lá. Quero eu dizer, no meu entendimento, para que você obviamente se pudesse pirar de lá...

Com aquilo que lhe acabei de dizer, não lhe estou de forma alguma a chamar ‘cobarde’ antes pelo contrário, pois seguindo a velha máxima portuguesa, e que outros povos também usam; quem tem cu tem medo...

Pena que na época não existiam atestados médicos para justificar, e hoje você até pode dizer que estava com paludismo ou outro qualquer mal tropical, sei lá até mesmo uma mordidela de macaco... mas o que deve ter sido mesmo, e existe ainda vivo na mente de quem se recorda, foi uma doença chamada de investigação da PIDE-DGS que o vitimou, e o jogou para a enfermidade.

Foi mesmo a PIDE-DGS e não o paludismo que o atacou, confesse lá só cá para nós, que ninguém nos esta a escutar...

Pois foi... em 1963 você foi passar férias pagas, por amável convite da PIDE-DGS, e ainda bem que você nem esqueceu o dia, e até acho que nesse dia todos os anos você deve comemorar, pois passou a categoria de mártir político, posto tão ambicionado pelos camaradas da época, que chegavam a andar quase a porrada para serem detidos e considerados da pesada na oposição.

Engraçado como você só passa uma noite preso, e de imediato é passado a disponibilidade. Para logo depois a PIDE-DGS o alojar graciosamente nas suas instalações por mais 6 meses, e olhe que isso você nunca esclareceu lá muito bem, nem sequer em poesia.

Esta sua epopéia de mártir político até faz lembrar as prisões e os exílios do seu grande amigo Mario Soares, em que o colocavam numa estância voltada para os coqueirais e para o mar, a passar férias, e lhe possibilitavam salvos condutos para rumar a Paris. Você optou por Argel, pois lá tinha uma radio, onde poderia continuar o trabalho iniciado em Angola.

Conte lá, cá para a gente que ninguém nos esta a escutar, foi isso não foi... só que você não pode contar tudo. Como eu o entendo Vossa Senhoria, que ao contar uma história tantas vezes repetida, muitos acabaram por acreditar nela, e o consideram quase um igual ao General herói francês em plena Casablanca

Você sabe muito bem que atentou contra Portugal nos idos anos de 1960, e contra aquilo que era a lei no momento, e que por tanto, ao estar a fazer isso colocou as vidas dos seus Camaradas em sérios riscos de vida. Não se pode agora vir fazer de santo, não pode vir escudar-se em maniqueísmos revolucionários para justificar o injustificável, ou vir dizer na praça publica batendo no peito umas trezentas e setenta vezes que nada fez, que não contribuiu para que muitos militares tivessem tido um destino bem diferente daquele que lhes poderia estar reservado.

Sabe Vossa Senhoria, o que eu realmente gostava era que se juntassem esses ex-jovens, e no local próprio fizessem um frente a frente consigo, para que de uma vez por todas Vossa Senhora não se queira fazer passar por aquilo que realmente não é.

Quanto ao resto...

Pois estaremos cá para que a história algum dia o possa julgar a si, e a mais uns quantos que se fazem passar por verdadeiros santinhos democráticos, quando não passam de hereges.

Fazer de democrata, aproveitando as circunstancias políticas, e as oportunidades é mesmo a imagem de marca de uma certa casta de políticos que foram paridos, para não dizer mesmo abortados, em 1974, e que tem conduzido tão bem Portugal para o abismo onde hoje se encontra.

Fico então a aguardar da parte de Vossa Senhoria que faça o que entender, pois pela minha parte não retiro uma virgula em tudo o que lhe escrevi, e em tudo o mais que lhe irei continuar a chamar, e a dizer de si.

Lhe desejo uma campanha eleitoral a medida dos seus desígnios, e da vontade que tenho de que ganhe estas eleições, ou seja nenhuma vontade, de querer, ou sequer gosto em o saber a candidatar-se perante os portugueses debaixo de uma mascara da maior das hipocrisias possíveis e imaginárias.

Faltou ainda dizer-lhe que vou publicar esta minha carta aberta, na grande maioria dos meus espaços na net, para que assim tenha as mais variadas oportunidades de a ler, e ao mesmo tempo de testar que me estou borrifando pura e simplesmente para as suas ameaças, e cá o estou a esperar para falarmos olhos nos olhos no local próprio se assim Vossa Senhoria na sua garbosa valentia de caçador, poeta e pescador o entender.

Atentamente, um cidadão português a quem comprovadamente Vossa Senhoria jamais pode chamar de cobarde, e que fica ao seu dispor para outros esclarecimentos que por bem entenda,

José João Massapina Antunes da Silva

terça-feira, 11 de maio de 2010

Uma Ferrovia Transcontinental

A Ferrovia Transcontinental, ou outro qualquer nome com que a queiram batizar, seria uma realidade no desenvolvimento da Região de Sines, e de todo o Alentejo, para potenciar o desenvolvimento econômico e humano dos municípios envolvidos.
Ao deixar de fora do projeto TGV estas zonas, nos termos em que deveria ter sido analisada a possibilidade da sua integração, está o Governo a condenar a região a uma ainda maior desertificação e isolamento.
A inclusão da região num projeto voltado para o transporte de mercadorias em alta velocidade, (obviamente que não vamos transportar mercadorias a 300 km por hora, mas podemos transportar com qualidade e eficácia a uma velocidade bem maior do que a até agora existente) garantiria a construção de um ramal da ferrovia TGV, que poderia levar as mercadorias que entram nos Portos de Sines e Setubal, aos 4 cantos da Europa, bem assim como as colocar nos portos para que rumem aos diversos destinos por via marítima.
As autarquias deveriam ter acautelado em devido tempo, um debate para a realização de um projecto voltado para essa sinergia a capitalizar para a Região, ainda não é demasiado tarde, mas o tempo esta a passar, e salvo omissão minha, não se escutou uma única palavra da Associação de Municipios de Setúbal sobre o assunto. Pelo menos um debate serio, que ainda esta a tempo de se realizar, serviria para balizar intervenções estratégicas no desenvolvimento integrado da região.
Deve ressaltar-se que a região polarizada em torno de Sines tem muitas potencialidades, para acolher industrias, para dessa forma se potenciar um desenvolvimento mais descentralizador, no sentido de que saiam dos eixos nacionais até agora existentes, desenvolvendo dessa forma o interior.
O Governo devera ter uma preocupação com o econômico e social dos municípios. As cidades do interior tinham a 40 ou 50 anos uma história de desenvolvimento atrelada às culturas em grande superfície hoje já quase inexistentes na região a que me refiro, pois a agricultura foi destruída na sua essência.
Por isso mesmo existe cada vez mais uma necessidade de se desenvolverem alternativas de industrialização no interior da região. A indústria precisa ser direcionada as cidades do interior, para dessa forma se poderem explorar os potenciais de cada município. Seria uma forma ainda de um melhor aproveitamento da mão-de-obra local, gerando emprego e renda para a região.
Mais Investimentos na exploração da atividade turística também deveriam fazer parte do programa de governo, como mais uma alternativa de se desenvolver não apenas a região do Litoral, mas a região como um todo.
Portugal tem que ousar.
Obviamente que quando eu me preocupo com grandes projetos de desenvolvimento, não posso me esquecer que nenhuma região é atrativa se ela não tem sustentabilidade, e para ter sustentabilidade temos que criar essas mesmas condições, e se não existem projetos estruturantes não se pode pensar em termos de futuro, e com isso se mata uma Região e por conseguinte; um País no seu todo.


“João Massapina”

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Acabou-se a festa, pá!

Aproximamo-nos do fim da linha, da hora da verdade. Trinta e mais anos a viver sem produzir riqueza e a endividarmo-nos por conta da riqueza que um dia haveremos de produzir, acabaram finalmente por nos colocar em frente do espelho para nos encararmos a nós próprios. Escrevo depois de ter perdido meia hora de trabalho bloqueado por uma qualquer manifestação em S. Bento - não sei se dos professores ainda em luta da abolição dos últimos resquícios da fracassada tentativa governamental de os pôr a ganhar de acordo com o mérito e a produção, ou se de trabalhadores de outro sector que terão lido as tarjas colocadas pela CGTP no Marquês de Pombal: "Exigimos aumento de salários e pensões".
Pois, exigimos... É o que de melhor soubemos fazer desde o 25 de Abril: exigir. Com o país falido, os sindicatos exigem aumentos de salários e pensões e os geniais gestores públicos que conseguem a proeza de obter "resultados" administrando monopólios exigem também que ninguém toque nos seus pornográficos prémios de gestão. Uns e outros vivem tranquilos à sombra das exigências e daquilo a que chamam direitos adquiridos ou "contratualizados" - o que é a mesma coisa, em linguagem nova-rica. E quem pagará tanta exigência? Oh, claro, a srª Merkel, culpada de dirigir um país que tem de honrar o título de "locomotiva europeia", que se reconstruiu das cinzas há sessenta anos pelo seu esforço e mérito e que, egoísta como é, não quer partilhar com os "PIGS" a factura do seu desgoverno. A 'insensível' srª Merkel, ao que nos contam, está mais preocupada com a sua opinião pública e a eleição regional da Renânia-Vestfália (da qual depende a sobrevivência do seu governo de coligação) do que com a missão que a 'Europa' atribuiu à Alemanha de a socorrer em qualquer situação de necessidade. Para já, a 'Europa' exige à srª Merkel e à Alemanha que assuma um quinto da factura de 135.000 milhões de euros necessários para acorrer à Grécia, depois de esta ter passado vinte anos a desbaratar ajudas europeias (de que foi das mais beneficiadas), a acumular défices para, entre outras coisas, pagar reformas aos 50 anos de idade, e, no fim falsificar as contas públicas e esconder dos seus parceiros do euro o descalabro financeiro em que vivia. Enquanto os alemães pagavam o custo da sua reunificação e o grosso das despesas da tal 'Europa'. Agora a Grécia, depois Portugal, a seguir a Espanha, talvez também a Irlanda e a Itália. Claro que, se a Alemanha não se comover, adeus euro, talvez mesmo adeus União Europeia. Mas ponham-se na pele de um alemão, ponham-se na pele dos nossos emigrantes que lá trabalham no duro, e digam lá se iam a correr, entusiasmados, salvar a 'Europa'.
E as agências de notação financeira, ah, esses filhos-da-mãe da Standard and Poor's, da Fitch, da Moodys, a alimentarem a especulação contra nós e os gregos? Esses malandros que, vejam lá, olham para o nosso histórico, vêem que passámos a última década inteira a crescer menos de 1% ao ano, enquanto a despesa do Estado crescia cinco vezes mais, e permitem-se duvidar da nossa capacidade de domesticar o monstro nos anos próximos! Sim, porque nós, se nos derem oportunidade, vamos a correr comprar títulos da dívida pública portuguesa, tamanha é a fé que temos na nossa capacidade de gastar apenas o que produzimos! Claro que eles são uns 'incendiários', mas só porque encontram terreno preparado para arder.
Porque será que não acreditamos naquilo que acusamos os outros de não acreditarem também? Eu explico, pela parte que me toca. Com alguns exemplos concretos - nem sequer os mais significativos, apenas representativos.
Primeiro exemplo: viram aquela imagem do dr. Jardim, de mãos postas como quem reza a um salvador, acolhendo o engº Sócrates no Funchal, acabado de desembarcar do Falcon? Eu sei que as fotografias às vezes mentem: um mau ângulo pode inverter a verdade de um momento. O problema é que aquela imagem correspondia exactamente ao conteúdo do momento. Sócrates desembarcou e Jardim disse-lhe "são 1300 milhões". Sócrates respondeu: "Ok, dou 1100". Jardim voltou-se para trás, para o seu povo, e disse-lhe: "no passado, eu jurei que o sr. Pinto de Sousa era um bandido. Mas agora quero jurar que o engº José Sócrates é um patriota e um amigo da Madeira". Sócrates sorriu, virou-se igualmente para trás e entregou ao seu assessor, sem ler, a folha onde Jardim tinha rabiscado as contas que suportavam a extraordinária factura de 1300 milhões da enxurrada da Madeira. Abriu os braços e exclamou: "há alturas na vida das nações em que o que menos conta é o dinheiro".
Segundo exemplo: depois de ter conseguido que o Governo lhe entregasse toda a área de exposições do CCB para servir de armazém à sua colecção particular de pintura, sem ter de pagar um tostão por isso e sem dar qualquer contrapartida; depois de ter conseguido que o Museu/Colecção Berardo fosse o único museu do país com entradas à borla (assim justificando o "êxito" e o "interesse público" do contrato celebrado com o eng.º Sócrates); depois de ter garantido que o Estado cumpria religiosamente o compromisso mútuo de meter meio milhão de euros por ano para compras destinadas a engrossar a sua colecção, o 'mecenas' Berardo achou-se desobrigado de fazer igual, preferindo pagar em espécie o meio milhão que lhe cabia. E quando a ministra, posta ao corrente do facto, se atreveu a arquear uma sobrancelha, ele veio, sobranceiro e no seu português típico: "if ministra no contente, I pack my bags and go!" Eu também vou propor às Finanças que, em vez de pagar o IRS em dinheiro, me aceitem uns manuscritos, umas roupas velhas, uns óculos partidos - coisas da minha colecção particular...
Terceiro exemplo: em 2006, o engº Sócrates ficou fascinado com o projecto de construção de um autódromo no Algarve. Nem o desastre da nacionalização (!) do autódromo do Estoril - (brilhante operação do também socialista Pina Moura, que ainda hoje sobrecarrega o erário público, sem qualquer utilidade) - o fez pensar um pouco, antes de se atirar de cabeça. Atirou-se: deu-lhe um projecto PIN, 130 hectares de Reserva Agrícola Nacional para urbanizarem e 12% de participação pública na empresa "privada" Parkalgar - o resto bancou o BCP, numa das suas geniais operações de crédito. Mas em 2009, segundo as escutas do "Sol", o então administrador do BCP, Armando Vara ("allways on my mind"...), desabafou com o secretário de Estado do Desporto que aquilo era "um sorvedouro de dinheiro... irracional, do ponto de vista económico". E, como lhe competia, enquanto administrador do credor, tentou, conta o "Sol", passar o crédito "tóxico" que tinha em carteira. Adivinhem para quem? Para os contribuintes, é claro. Segundo o jornal, Vara, disse a Laurentino Dias que "não há razão nenhuma para a Caixa não meter lá dez milhões", já que "aquilo só vai lá com capital público... sem preocupações de retorno". E, por isso, ele achava que "o chefe" (que já sabemos quem não é) "devia dar um conforto". Pois que "é irracional, mas está feito, e um dia qualquer o Estado nacionaliza aquilo - que é a solução". Preparem-se, pois: um dia seremos o único país do mundo que tem, não um, mas dois autódromos sem corridas e ambos comprados pelo Estado aos empreendedores visionários que os construíram. Estão a ver por que a Standard and Poor's não acredita em nós?
Querem mais exemplos? O contrato da auto-estrada do Pinhal Interior (procure no mapa), assinado à pressa entre a Brisa e a Mota-Engil, no mesmo dia em que o ataque à dívida pública atingia o máximo (tal como o contrato celebrado entre a APL e a mesma Mota-Engil, para o Terminal de Contentores de Alcântara, também assinado a correr, assim que se levantou publicamente a vontade de contestar o negócio, jurídica e politicamente). Mais 1200 milhões para reforçar a nossa posição de país com mais quilómetros de auto-estrada por habitante de toda a UE. Outro: o 'comboio-fantasma' de Oeiras ou as dívidas das empresas municipais, utilizadas como expediente para contornar os limites de endividamento das autarquias. Outro ainda: a arrogância dos accionistas das empresas participadas pelo Estado, recusando-se a acatar as instruções do Governo para suspender ou, ao menos, limitar os prémios de gestão, que são um insulto público. E este: os dois dias de tolerância de ponto e de caos nas cidades, porque vem aí o Papa e o país tem de parar.
Poderiam ser dezenas de exemplos. Mas não vale a pena, já. Quem quer perceber, percebeu há muito. Quem não quer, vai perceber da pior maneira. Só não digam, depois, é que não sabiam.


Texto publicado na edição do Expresso de 1 de Maio de 2010

Acabou-se a festa, pá!

Aproximamo-nos do fim da linha, da hora da verdade. Trinta e mais anos a viver sem produzir riqueza e a endividarmo-nos por conta da riqueza que um dia haveremos de produzir, acabaram finalmente por nos colocar em frente do espelho para nos encararmos a nós próprios. Escrevo depois de ter perdido meia hora de trabalho bloqueado por uma qualquer manifestação em S. Bento - não sei se dos professores ainda em luta da abolição dos últimos resquícios da fracassada tentativa governamental de os pôr a ganhar de acordo com o mérito e a produção, ou se de trabalhadores de outro sector que terão lido as tarjas colocadas pela CGTP no Marquês de Pombal: "Exigimos aumento de salários e pensões".
Pois, exigimos... É o que de melhor soubemos fazer desde o 25 de Abril: exigir. Com o país falido, os sindicatos exigem aumentos de salários e pensões e os geniais gestores públicos que conseguem a proeza de obter "resultados" administrando monopólios exigem também que ninguém toque nos seus pornográficos prémios de gestão. Uns e outros vivem tranquilos à sombra das exigências e daquilo a que chamam direitos adquiridos ou "contratualizados" - o que é a mesma coisa, em linguagem nova-rica. E quem pagará tanta exigência? Oh, claro, a srª Merkel, culpada de dirigir um país que tem de honrar o título de "locomotiva europeia", que se reconstruiu das cinzas há sessenta anos pelo seu esforço e mérito e que, egoísta como é, não quer partilhar com os "PIGS" a factura do seu desgoverno. A 'insensível' srª Merkel, ao que nos contam, está mais preocupada com a sua opinião pública e a eleição regional da Renânia-Vestfália (da qual depende a sobrevivência do seu governo de coligação) do que com a missão que a 'Europa' atribuiu à Alemanha de a socorrer em qualquer situação de necessidade. Para já, a 'Europa' exige à srª Merkel e à Alemanha que assuma um quinto da factura de 135.000 milhões de euros necessários para acorrer à Grécia, depois de esta ter passado vinte anos a desbaratar ajudas europeias (de que foi das mais beneficiadas), a acumular défices para, entre outras coisas, pagar reformas aos 50 anos de idade, e, no fim falsificar as contas públicas e esconder dos seus parceiros do euro o descalabro financeiro em que vivia. Enquanto os alemães pagavam o custo da sua reunificação e o grosso das despesas da tal 'Europa'. Agora a Grécia, depois Portugal, a seguir a Espanha, talvez também a Irlanda e a Itália. Claro que, se a Alemanha não se comover, adeus euro, talvez mesmo adeus União Europeia. Mas ponham-se na pele de um alemão, ponham-se na pele dos nossos emigrantes que lá trabalham no duro, e digam lá se iam a correr, entusiasmados, salvar a 'Europa'.
E as agências de notação financeira, ah, esses filhos-da-mãe da Standard and Poor's, da Fitch, da Moodys, a alimentarem a especulação contra nós e os gregos? Esses malandros que, vejam lá, olham para o nosso histórico, vêem que passámos a última década inteira a crescer menos de 1% ao ano, enquanto a despesa do Estado crescia cinco vezes mais, e permitem-se duvidar da nossa capacidade de domesticar o monstro nos anos próximos! Sim, porque nós, se nos derem oportunidade, vamos a correr comprar títulos da dívida pública portuguesa, tamanha é a fé que temos na nossa capacidade de gastar apenas o que produzimos! Claro que eles são uns 'incendiários', mas só porque encontram terreno preparado para arder.
Porque será que não acreditamos naquilo que acusamos os outros de não acreditarem também? Eu explico, pela parte que me toca. Com alguns exemplos concretos - nem sequer os mais significativos, apenas representativos.
Primeiro exemplo: viram aquela imagem do dr. Jardim, de mãos postas como quem reza a um salvador, acolhendo o engº Sócrates no Funchal, acabado de desembarcar do Falcon? Eu sei que as fotografias às vezes mentem: um mau ângulo pode inverter a verdade de um momento. O problema é que aquela imagem correspondia exactamente ao conteúdo do momento. Sócrates desembarcou e Jardim disse-lhe "são 1300 milhões". Sócrates respondeu: "Ok, dou 1100". Jardim voltou-se para trás, para o seu povo, e disse-lhe: "no passado, eu jurei que o sr. Pinto de Sousa era um bandido. Mas agora quero jurar que o engº José Sócrates é um patriota e um amigo da Madeira". Sócrates sorriu, virou-se igualmente para trás e entregou ao seu assessor, sem ler, a folha onde Jardim tinha rabiscado as contas que suportavam a extraordinária factura de 1300 milhões da enxurrada da Madeira. Abriu os braços e exclamou: "há alturas na vida das nações em que o que menos conta é o dinheiro".
Segundo exemplo: depois de ter conseguido que o Governo lhe entregasse toda a área de exposições do CCB para servir de armazém à sua colecção particular de pintura, sem ter de pagar um tostão por isso e sem dar qualquer contrapartida; depois de ter conseguido que o Museu/Colecção Berardo fosse o único museu do país com entradas à borla (assim justificando o "êxito" e o "interesse público" do contrato celebrado com o eng.º Sócrates); depois de ter garantido que o Estado cumpria religiosamente o compromisso mútuo de meter meio milhão de euros por ano para compras destinadas a engrossar a sua colecção, o 'mecenas' Berardo achou-se desobrigado de fazer igual, preferindo pagar em espécie o meio milhão que lhe cabia. E quando a ministra, posta ao corrente do facto, se atreveu a arquear uma sobrancelha, ele veio, sobranceiro e no seu português típico: "if ministra no contente, I pack my bags and go!" Eu também vou propor às Finanças que, em vez de pagar o IRS em dinheiro, me aceitem uns manuscritos, umas roupas velhas, uns óculos partidos - coisas da minha colecção particular...
Terceiro exemplo: em 2006, o engº Sócrates ficou fascinado com o projecto de construção de um autódromo no Algarve. Nem o desastre da nacionalização (!) do autódromo do Estoril - (brilhante operação do também socialista Pina Moura, que ainda hoje sobrecarrega o erário público, sem qualquer utilidade) - o fez pensar um pouco, antes de se atirar de cabeça. Atirou-se: deu-lhe um projecto PIN, 130 hectares de Reserva Agrícola Nacional para urbanizarem e 12% de participação pública na empresa "privada" Parkalgar - o resto bancou o BCP, numa das suas geniais operações de crédito. Mas em 2009, segundo as escutas do "Sol", o então administrador do BCP, Armando Vara ("allways on my mind"...), desabafou com o secretário de Estado do Desporto que aquilo era "um sorvedouro de dinheiro... irracional, do ponto de vista económico". E, como lhe competia, enquanto administrador do credor, tentou, conta o "Sol", passar o crédito "tóxico" que tinha em carteira. Adivinhem para quem? Para os contribuintes, é claro. Segundo o jornal, Vara, disse a Laurentino Dias que "não há razão nenhuma para a Caixa não meter lá dez milhões", já que "aquilo só vai lá com capital público... sem preocupações de retorno". E, por isso, ele achava que "o chefe" (que já sabemos quem não é) "devia dar um conforto". Pois que "é irracional, mas está feito, e um dia qualquer o Estado nacionaliza aquilo - que é a solução". Preparem-se, pois: um dia seremos o único país do mundo que tem, não um, mas dois autódromos sem corridas e ambos comprados pelo Estado aos empreendedores visionários que os construíram. Estão a ver por que a Standard and Poor's não acredita em nós?
Querem mais exemplos? O contrato da auto-estrada do Pinhal Interior (procure no mapa), assinado à pressa entre a Brisa e a Mota-Engil, no mesmo dia em que o ataque à dívida pública atingia o máximo (tal como o contrato celebrado entre a APL e a mesma Mota-Engil, para o Terminal de Contentores de Alcântara, também assinado a correr, assim que se levantou publicamente a vontade de contestar o negócio, jurídica e politicamente). Mais 1200 milhões para reforçar a nossa posição de país com mais quilómetros de auto-estrada por habitante de toda a UE. Outro: o 'comboio-fantasma' de Oeiras ou as dívidas das empresas municipais, utilizadas como expediente para contornar os limites de endividamento das autarquias. Outro ainda: a arrogância dos accionistas das empresas participadas pelo Estado, recusando-se a acatar as instruções do Governo para suspender ou, ao menos, limitar os prémios de gestão, que são um insulto público. E este: os dois dias de tolerância de ponto e de caos nas cidades, porque vem aí o Papa e o país tem de parar.
Poderiam ser dezenas de exemplos. Mas não vale a pena, já. Quem quer perceber, percebeu há muito. Quem não quer, vai perceber da pior maneira. Só não digam, depois, é que não sabiam.


Texto publicado na edição do Expresso de 1 de Maio de 2010

terça-feira, 4 de maio de 2010

Água em asteroide

Agência FAPESP – Vida em asteroides? Longe disso, mas esses pequenos corpos celestes que gravitam em torno do Sol não são tão áridos como se achava. Evidência de água e de compostos orgânicos acabam de ser detectados na superfície de um deles.
A descoberta foi publicada na edição da revista Nature em dois artigos, um deles com participação brasileira. As evidências dos blocos básicos da vida foram localizadas no asteroide 24 Themis, que tem cerca de 200 quilômetros de diâmetro e se encontra entre Marte e Júpiter.
Ao medir o espectro de luz infravermelha refletida pelo objeto, os pesquisadores verificaram que era consistente com água congelada. Segundo eles, todo o asteroide está coberto por um filme fino de gelo.
Os cientistas também detectaram material orgânico, o que fortalece a teoria de que asteroides podem ter sido os responsáveis por trazer água e compostos orgânicos à Terra. Os dois grupos de pesquisadores usaram o telescópio de infravermelho da Nasa instalado em Mauna Kea, no Havaí.
“Os compostos orgânicos que detectamos aparentam ser cadeias extensas e complexas de moléculas. Ao caírem sobre a Terra estéril em meteoritos, essas moléculas podem ter servido como um grande pontapé inicial no desenvolvimento da vida no planeta”, disse Josh Emery, da Universidade do Tennessee, autor de um dos artigos.
O outro artigo tem participação de Thais Mothé Diniz, do Observatório de Valongo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especialista na caracterização de pequenos corpos do Sistema Solar.
Emery destaca que encontrar gelo na superfície do 24 Themis é uma surpresa, por ela não ser fria o suficiente para que o gelo possa permanecer ali por muito tempo. “Isso implica que gelo é abundante no interior desse asteroide e talvez em muitos outros. O gelo em asteroides pode ser a resposta para o enigma de onde veio a água da Terra”, disse.
A proximidade do 24 Themis ao Sol faz com que o gelo evapore. Emery e Andrew Rivkin, da Universidade Johns Hopkins, sugerem que a duração do gelo na superfície do asteroide dure de milhares a milhões de anos, dependendo da posição do objeto.
Segundo eles, o gelo evaporado é contantemente substituído por um processo por meio do qual o gelo contido no interior do asteroide “sobe” aos poucos, à medida que o vapor escapa da superfície.
Os cientistas ressaltam que, como o 24 Themis é parte de uma “família” de asteroides formada a partir de um grande impacto e da consequente fragmentação de um corpo muito maior, há muito tempo, a descoberta implica que o objeto original também tinha gelo, o que tem grandes implicações para o estudo da origem do Sistema Solar.
Os artigos Detection of Ice and Organics on an Asteroidal Surface (vol 464 | DOI:10.1038/nature09028), de Andrew S. Rivkin e Joshua P. Emery, e Water ice and organics on the surface of the asteroid 24 Themis (vol 464 | DOI:10.1038/nature09098), de Humberto Campins e outros, podem ser lidos na Nature em www.nature.com.