sábado, 26 de setembro de 2009

Não é uma questão de dentes

-“As mães mandam os miúdos para a escola sem comer! A gente é que tem que tomar conta deles”.

Foi a minha amiga que me contou: Uma das participantes da roda aonde costuma ir com outra amiga, às vezes à tarde, tomar o café pingado, sentou-se esmorecida, já estafada, em princípio de ano escolar. Mas só a minha amiga escutou: - “Pode ser que mude!”, disse simpaticamente.

As outras têm outros assuntos de conversa, não discutem política, todas de bem na vida e ainda bem, todas de bem com Deus, com Sócrates, de quem nunca falam. A moça professora ainda acrescentou: “E temos que encher páginas de relatórios. Será isto ensinar?”

A minha amiga, prudentemente, remeteu-se ao silêncio, olhando-a com comiseração.

Contou-me hoje. E comentámos que não, não era aquilo ensinar. Parece que a moça dava aulas nos subúrbios, fora do percurso eleitoral, por consequência, fora da dedada socrática. Podia ser que depois...

Eu contei-lhe da entrevista de ontem do Mário Crespo ao professor José Gil, que analisou uma situação de estranheza, como já ambas tínhamos estranhado. Uma figura, um partido, um governo, cheios de mazelas pessoais, sociais, com tanto escândalo ao longo dos quatro anos, tanto vilipêndio humano, e estava à frente nas sondagens para as eleições de amanhã. Qual a varinha mágica de tanto êxito? Será forjado? Pacheco Pereira afirma contundentemente que, ao sofrer na pele as mentiras periodísticas sobre si próprio, percebeu como é fácil forjar mentiras para convencer o povo. E o povo deixa-se enrolar pelas sondagens.

- “O que vale é que o carnaval já acabou. Mas tanto Carnaval!. Para quê? E o Zé Povo gosta que se farta! Mesmo que estejam desempregados! Eu ouvi um homem de uns cinquenta anos a dizer isto: “Ou ganha um, ou ganha outro – a Manuela ou o Socas”. Que as velhinhas digam “Socas”, vá que não vá, não têm dentes, os rr enrolam-se na língua. Agora um de cinquenta anos a dizer “Socas”!”

Ainda rimos com a história e eu contei que tal comentário já o fizera “Cassandra”, com sarcasmo implacável, na peça “La Guerre de Troie n’aura pas lieu”, a respeito dos gritos da multidão: “Viva Vénus! Eles não gritam senão frases sem r, por causa da falta de dentes... Viva a Beleza... Viva Vénus... Viva Helena... Eles pensam proferir gritos. Apenas içam as mastigadelas ao cúmulo da sua potência.”

A minha amiga ficou lisonjeada com o paralelo, mas hoje sentia-se deprimida, sem saber bem em quem votar. Eu lembrei pessoas do CDS que me pareceram gente da velha guarda – o Lucas Pires, o Nogueira de Brito, o Narana Coissoró, o Ribeiro e Castro, o Lobo Antunes, e tantos outros.

- “Olhe, diz-me ela, mas julgo que não a sério, o melhor é a gente não saber ler, senão passa a vida numa irritação completa. Isto da tal professora! Quem está bem instalado não quer saber de nada! Zero! Lamentar a vida dos outros!? Não estão para aí viradas! E gozam que se fartam! Essas vão votar no Sócrates, com o r direitinho, porque não lhes faltam dentes, dos tratamentos protésicos mais careiros.

- Sim, Sócrates representa a mágica Helena para a maioria influenciável – quer com dentes, votando Sócrates, quer sem eles, votando Socas.


Berta Brás

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Da Democracia Partidária para a Democracia Civil

As desilusões acerca de políticos e políticas, a sua complexidade e falta de informação objectiva, motivam uns cidadãos e desmotivam outros a deslocarem-se aos locais de voto.

Cada vez se torna mais difícil permanecer fiel a um partido ou a encontrar um que satisfaça a própria visão política. As ligações sociais e culturais tradicionais de filiados e adeptos têm sido sistematicamente desacreditadas. A desilusão conduz muitos a não votarem. Os partidos, cada vez se desvinculam mais das regiões, da natureza e do povo, para darem mais relevância à ideologia e à banalidade pragmatista. Em Portugal a macrocefalia com a sua concentração em Lisboa mais agudiza a problemática duma nação cada vez mais estranha a si mesma.



Os eleitores protestadores querem manifestar com o voto o seu descontentamento para com os governantes quando fazem uso do boletim de voto para colocarem o nome duma pessoa ou partido não considerado na lista (tornando o voto inválido, colocando a cruz em todos os partidos ou votando no considerado irrelevante).



Os eleitores tácticos procuram com o seu voto fomentar coligações.



Os eleitores bonzinhos querem ver na política visões, justiça, o que ela, em democracia partidária, não pode dar. Esperam uma política de visão completa e não partida, esquecendo que o Partido é partido não podendo pela sua essência ser inteiro.



Os abstencionistas tornam-se, entretanto, num partido com aspirações a maioritário. Uns protestam, outros não sabem o que eleger; outros sabem mas não querem, pelas mais diversas razões. Também os há que não votam para que o partido não seja indemnizado pelo dinheiro do Estado, na comparticipação devida por votante.



Na imprensa aparecem opiniões a defender a participação com o voto e outras contra ela.



Os defensores da participação nas eleições argumentam com a obrigação civil livre de votar. Assim, o eleitor pode influenciar a governação dos 4 anos e manifestar que está atento à política, podendo mais facilmente criticá-la ou aplaudi-la. Quanto menos o poder popular se manifestar mais oportunidade dá a grupos de interesse duvidoso. A não participação no acto eleitoral favorece extremismos.



Os defensores da abstenção nas eleições argumentam que os não votantes não têm outra alternativa nas listas de eleições que possibilitem mostrar o seu protesto e descontentamento com a política vigente. Muitos não eleitores, mais que por indiferença, não alinham na eleição de partidos que se desviaram do povo que deixaram de representar para defenderem ideologias. Mostram que perceberam o teatro das campanhas eleitorais não reconhecendo nelas alternativas. Muitos não vão votar para se contraporem à dominância dos partidos que se assenhorearam da praça pública (do Estado) avassalando a formação de organizações cívicas. Muitos querem uma democracia menos representativa e mais directa, como na Suiça.



Embora o meu partido inoficioso seja o do arco-íris, aconselho todo o cidadão a considerar bem o seu voto e, no caso excepcional de não votar, organizar ou entrar numa associação cívica que tente intervir directa ou indirectamente na política. Facto é que quem não vota continua a deixar os outros falar e agir em seu nome, sem possibilidade de, pelo menos, protestar perante o partido em que votou.



Muito embora os partidos se tenham assenhoreado de tudo o que é relevante no Estado, isto não pode constituir motivo para a renúncia à implementação duma sociedade civil adulta que mais tarde corrigirá os vícios da democracia partidária no sentido duma democracia civil.



Na discussão política não se encontra um partido da classe média nem um partido conservador, nem tão-pouco são tematizadas as questoes que o Partido Pirata vai colocando por essa europa fora e que são muito oportunas. De facto não é bom que a esquerda continue a privatizar o saber e o capitalismo a propriedade. Socialismo e turbocapitalismo são irmãos gémeos sorvendo da pessoa o seu espírito para o colectivizar e proletarizar em função de superstruturas em que o indivíduo não vale nem tem lugar. Se queremos ser coerentes e humanos teremos transformar todas as instituições políticas e económicas em verdadeiras oficinas de futuro, um futuro aberto e solidário! Para isso torna-se óbvio participar e contribuir para superar as velhas frentes de esquerda e de direita! O futuro já começa a estar presente numa visão integral de participação na complementaridade.


António da Cunha Duarte Justo

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Olha que eu não te vou lá tapar

Falava com a minha filha. Da Mafalda, a minha neta de quatro anos. Concordámos que as suas respostas a cada passo nos deixam surpreendidos. E contou-me nova história.

É certo que tenho vivido mergulhada em êxtase de avó. Como mãe, descurei um tanto o acompanhamento dos filhos, a profissão pouco tempo me deixando para lhes contar as histórias do seu adormecer, cuidando que, tal como sucedera comigo, cada um era livre – dentro das regras que já trouxera de casa, e que contribuem para a formação do carácter - fechando um pouco os olhos, todavia, às fugas, acima de tudo desejando que fossem felizes na liberdade, que não descurava, contudo, o desejo de que se saíssem bem como estudantes. Mas a filha foi, de facto, a mais cumpridora, não precisando tanto de que lhe vigiasse os cadernos, ela própria sabendo das suas dúvidas que, assim que desfeitas, a levavam a singrar no seu próprio caminho, com o entusiasmo da boa estudante que sempre foi. E hoje corrige-me os erros das minhas dúvidas ortográficas, que a idade e os acordos (com o fechado) ortográficos vão semeando no meu espírito. Todavia, estou convencida de que é necessário mais autoridade, conheço filhos de pais agricultores e merceeiros, cujos filhos, bons estudantes, ajudam os pais na lavoura, em tempo de férias. A liberdade, segundo os princípios da Constituição dos Direitos Humanos, ao maximizar a fragilidade infantil sob o domínio paterno ou docente, e os seus direitos à própria personalidade – tudo o que seja repressão significativo de autoritarismo e crueldade - instituiu o excesso de mimo como prática, e as crianças, sob o apoio da lei, tornam-se muitas vezes déspotas na escola como na família.

Ciente das dificuldades do viver futuro das crianças mais novas, aos netos mais novinhos – as mais velhinhas já no seu percurso de adultas, tendo deixado em mim igualmente as suas marcas de encanto - vou assistindo e vibrando com o seu trajecto, o Bruno, na doçura da sua sensibilidade e marotice, a Beatriz, a mais novinha, espantando-me com a sua ciência sobre as marcas dos carros e outras saídas vocabulares que vai buscar creio que às histórias do Panda, aos CDs que todos eles gostam de ver, às lições dos Infantários, e, naturalmente, ao acompanhamento familiar.

Todavia, a Mafalda, de longa data a todos tem espantado na articulação rápida do pensamento, de uma firmeza já notória nas fotos da sua primeira infância.

Eis a história transmitida pela tia:

A tia e a mãe jogavam a um jogo de computador em casa daquela, o tio deu-lhe um beliscão por brincadeira, a que reagiu, não educada ainda no politicamente correcto, em imediata queixa à mãe. O pai pô-la em contacto telefónico com a avó, dizendo-me ela que estava aborrecidinha, estado de espírito que me levou a tentar aplanar, falando-lhe do Bruno e da Beatriz não presentes para brincarem. Ao que parece, o tio ia sair, quis saber para onde, foi-lhe explicado que ia dar de comer aos “Sem Abrigo”, na sua ronda nocturna, e concluindo, talvez na brincadeira com ela, que iria lá dormir, depois de lhe ter explicado quem eram os senhores que ia visitar.

E a Mafalda, muito séria e muito rápida, contestou, pesarosa: “Olha que não te vou lá tapar”.

Uma vez mais foi objecto de admiração a sua saída.

Sem o saber, a Mafalda estava a programar um caminho futuro, para uma sociedade já não dividida entre a miséria e o voluntariado, a actual miséria dos Sem Abrigo que as iniciativas de Solidariedade para a Reinserção Social, através dos seus Voluntários, tentam chamar à razão e trazer para um viver mais digno, intenção poucas vezes coroada de êxito, pois não raro são repelidos com violência, num clima a que a droga, nos nossos tempos, não é alheia.

Vem de longa data, entre nós, a atenção pelos pobrezinhos, a cada passo até recordados literariamente. Somos esmoleres por natureza, confrange a miséria, e com a nossa esmola julgamos contribuir para libertar um pouco da fome os esfomeados. E os Voluntários da Solidariedade Social são dignos de todo o apreço, sacrificando o seu bem-estar, por vezes sob os frios do inverno, para levar conforto e tentar salvar os sem agasalho.

Mas a luta é entre os que os querem salvar e os que preferem continuar, no embrutecimento de uma liberdade que os desresponsabiliza, sacrificando indiferentemente os outros, achando-se em seu pleno direito para tal, num egoísmo sem tréguas.

Quando a Mafalda diz ao tio: - “Olha que não te vou lá tapar” é todo um programa rígido de um futuro possível, se mais Mafaldas houvesse que continuassem o seu discurso para uma maior dignidade humana: - “Tens direito a um lar, mas deves trabalhar e não pedir, para satisfazeres as necessidades da tua condição humana. O teu agasalho deves ser tu a obtê-lo”.

E o tio deveria meditar nisso, não se sacrificar tanto – no dia seguinte ele vai trabalhar cedo - em prol daqueles que não querem nada, que se deixaram conduzir ao degrau ínfimo da sua condição humana.

Era necessário que os governos propusessem medidas eficazes para combater a mendicidade e a indignidade dos que preferem pedir a trabalhar. Creio que noutros países mais desenvolvidos do que o nosso, se tomam medidas a favor desses. O mal é que, no nosso, as medidas não são suficientes sequer para a maior parte dos que trabalham.

Depende também de hábitos cívicos e educacionais. Mas como diria o falso “Mendigo” do “Deus lhe pague”, a esmola é uma prática dos abastados para angariarem a ajuda celeste, pelo reconhecimento do bem que fizeram na Terra.

Eu sou das que a dou. Mas com raiva, não por bondade nem por interesse nos favores divinos. Por saber que nada obtenho com isso em termos de recuperação social. E que muitas vezes o mendigo ganha mais mendigando do que trabalhando decentemente.

Gostaria de dizer como a Mafalda: - “Olha que não te vou lá tapar”. Mas limito-me a esperar que esse dia chegará com mais critério.

Hoje ainda vivemos sob a magia do “Menino do Bairro Negro” do nosso Zeca Afonso, “menino” a quem só soubemos transmitir os ideais não de responsabilidade mas de liberdade. E de insolência.


Berta Brás

Portugal entre o Labirinto do Socialismo e o Campo de Touros

Temos tido uma campanha de rostos sem discussão de temas de fundo nem de interesse nacional. Muitos cartazes de fachada que não dizem nada de concreto e nada trazem. Dum lado a retórico e a vantagem do partido de governo e do outro a falta de eloquência e juventude. As armas da democracia são as palavras e estas revelam-se muito fracas de conteúdo. Este é o tempo dos partidos e não do Estado nem do Povo. O que o PS tem a mais de empolamento e retórica falta ao PSD. As máquinas da opinião funcionam, mesmo à custa da verdade. Esta desmotivaria o povo a votar em governos que se servem em vez de servir.

A verdade será dita ao povo depois das eleições. Então falar-se-á mais seriamente da dívida externa portuguesa que consta de 32,6 milhoes de euros por dia, ou seja, cada hora que passa os portugueses devem mais 1,4 milhoes de euros. Portugal caminha, a passos largos, para a anarquia tal como aconteceu na República, a toque de caixa de políticos irresponsáveis que sacrificam o futuro dos portugueses ocultando-lhe a realidade e o estado do Estado. O PM Sócrates, com a sua ideologia e actuar, parece seguir as pegadas dos seus modelos republicanos que conduziram Portugal à falência na República, o que veio a legitimar o golpe militar de 1926 que instaurou a ditadura militar e vem a dar origem ao surgir do Estado Novo como restabelecedor da dignidade de país a nível internacional.

O sucesso imediato dá razão à mentira mas esta tem pernas curtas. A Portugal falta-lhe a consciência duma política civil da verdade por isso aposta num futurismo agnóstico do oportuno. Por isso o país não consegue chegar longe. A pobreza do povo, que temos, não é compatível com ordenados e pensões de senhores parasitários, alimentados à custa dum estado a caminho da banca rota. Em nome da democracia se afirma a tirania dos homens bem, hedonistas, irresponsáveis de fachada alegre e festiva.

Não se assiste a um debate sério sobre a formação (escola) como chave do sucesso e do futuro, pelo contrário vêem-se programas de formação subsidiados pela União Europeia mais dirigidos a dar emprego aos formandos do que em transmitir uma formação séria aferida às necessidades da nação. Estes são dinheiros desviados para interesses individuais e ideológicos à margem dos interesses e das necessidades do país. O governo continua a adiar o país, a desfazer Portugal.

Não há protecção de dados do cidadão; a Constituição nacional, é mais partidária que nacional.

Não se discute a sério o sentido do empenho militar no estrangeiro. Que interesses de Portugal se defendem no Afeganistão?

Que política se desenvolve no sentido de evitar o Dióxido de Carbono e de produção de energias limpas, para se venderem ao estrangeiro. A energia fotovoltaica é reservada para as grandes multinacionais, quando os tetos das casas portuguesas poderiam tornar-se todos em fonte de riqueza nacional e de investimentos rendosos para os particulares que em vez de investirem em cimento e casas poderiam investir na energia limpa.

Quem se empenha pela transformação do sistema de medicina de classes que brada aos céus para a transformar num sistema de medicina solidário. Pacientes encontram-se mais de meio ano e até anos à espera de operacoes fáceis… Médicos importados e outros que se vão formar ao estrangeiro porque o sistema de escola português tem muito de ideologia e pouco de adaptação às necessidades reais do país.

Uma política económica que se limita a atirar cimento e alcatrão parta o cidadão é contra o ambiente e contra os mais fracos e retrógrada. Desperdiça-se o capital da nação em acções duvidosas.

Onde se encontra a discussão sobre a necessidade de regionalização do país contra a centralização desenfreada que só tem servido políticos e elites económicas à sombra dum estado que pretende ser português num país de terra queimada, para lá de certos centros.

Um estado com uma filosofia parasita só poderá continuar a asfixiar o resto da classe média com impostos insuportáveis. Para o futuro não haverá fundos de meneio que possibilitem o estado tornar-se livre. As gerações novas terão de fazer revoluções para poderem recomeçar a construir um país para todos.

O horizonte de Portugal e da democracia não pode ser configurado ao horizonte míope dos partidos nem de arrogâncias de popularidades.

Os revolucionários do 25 de Abril, nas pegadas dos revolucionários do 5 de Outubro, têm feito tudo para que Portugal se tenha de ajoelhar à Espanha ou de dar lugar a novos Gomes da Costa!

Em país habituado a construir e fundamentar a sua identidade em datas revolucionárias sem personalidades à altura não pode ir muito avante.


António da Cunha Duarte Justo

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

CAMPANHA ELEITORAL NO GRAMADO PORTUGUÊS

Povo fora de Jogo e Atletas perdidos nas Fintas

Vazia de contudo com figuras de barões de rostos polidos. A horizontalidade socialista afirma-se contra a verticalidade conservadora. Faltam respostas convincentes aos problemas a resolver na próxima legislatura: endividamento do estado, desemprego, envelhecimento da sociedade, emigração, energia alternativa, escola e saúde, ocupações precárias com salários de judas, tudo problemas adiados.

Fora de jogo

O povo não aguenta conceitos para resolução da crise e os partidos, para evitarem uma maior erosão do eleitorado contentam-se com perfis de imagens. Não falam das obrigações e encargos futuros que pesarão dolorosamente sobre todos nem da maneira de resolver a crise.



Esta é a hora dos partidos pequenos que podem criticar e fazer ofertas de benefícios na certeza de não serem chamados à responsabilidade governamental para os poder cumprir. Os partidos grandes que façam promessa só poderão mentir ou fazê-las a favor da ideologia contra o país.

“Benfica” contra o “Porto”

Apesar de tudo há uma cera polarização, atendendo a que, na liga, o líder campeão tem metido golos na própria baliza, não ligando aos colegas de equipa nem à natureza do relvado que tem. Isto, num país do futebol, é grave mas não ameaçador. Os adeptos têm grandes reservas na capacidade de frustração quanto ao “Benfica” e ao “Porto”; relativamente aos outros clubes não passam de tambores da festa eleitoral que se aproveitarão dos erros do maioral. Quanto a técnicas e metas a atingir, os adeptos contentam-se com o olhar para os capitães de equipa num desejo imenso de levantar as mãos para os poder aplaudir. Os restantes, os espectadores televisivos, desconhecedores das regras do jogo, esses não lhes resta senão dar asas ao sentimento e lançar umas carvalhadas contra uma ou outra jogada dalgum jogador.



O “Benfica”, macho e galaroz, com o seu avançado Sócrates, tem até força para colocar jogadores fora de jogo como no caso da TVI. Tem muitas bandeiras e bandeirinhas além dos seus fiscais no gramado português, não lhe faltando também o cacarejar das galinhas mais interessadas nas suas penas do que no seu jogo. Alguns pretendentes a galo da equipa sofrem, sabendo que só poderão mostrar a sua voz quando o galaroz se encontrar distraído no poleiro ou no caso de perder muitas penas no despique.



O “Porto”, com a sua avançada Manuela, mais preocupada com a sorte do galinheiro, encontra-se um pouco apreensiva das caneladas e rasteiras que a equipa adversária lhe tem passado, apesar de algum árbitro distraído com o aplauso das claques das bancadas da esquerda. Aposta no rejuvenescer de energias depois do intervalo! Não parece convencida numa vitória, seja ela de quem for, e que trará grandes surpresas negativas para a liga, dado só então ser aberto o jogo e serem postas as cartas na mesa. Por outro lado, mesmo que a adversária do campeão da liga soubesse o estado mísero da mesma, não o poderia apresentar, porque, como antigamente, os anunciadores de más notícias são sacrificados. O povo não aguenta a verdade. Por isso, só quem promete ganha.



Na falta de jogo (programa) a opinião pública ocupa-se das escorregadelas dos jogadores em terreno, de escândalos inocentes provocados pela chuva e do que poderia estar por detrás do terreno escorregadio.



Com o andar do jogo, a situação não parece fácil para os que se encontram na tribuna. O craque das bancadas já não soa tão ritmado. Na falta de maiorias absolutas, sempre perigosas para a democracia, os partidos têm que manter sempre uma janela aberta para o vizinho da Direita e da Esquerda.



Se pensarmos nos interesses de Portugal e não no dos partidos a próxima legislatura precisaria duma coligação PSD – PS. Só assim, longe de interesses de clientelas poderia Portugal arregaçar as mangas e fazer algo pelo país e pelo povo.


António da Cunha Duarte Justo

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

DEBATES

Chegou ao fim a série de dez debates que opuseram os líderes dos cinco maiores partidos.

A primeira ideia a reter é a de que o modelo adoptado, importado dos EUA, falhou em toda a linha. As restrições de tempo e de temas em cada frente-a-frente levou a uma série de ideias apenas afloradas, facilitou a fuga a perguntas difíceis e, de uma maneira geral, retirou interesse aos debates. Faltou, também, em quase todos os debates, o confronto directo, algo que melhorou nos últimos frente-a-frente.

A série começou com um duelo entre Sócrates e Portas que foi, basicamente, equilibrado, tendo, talvez, o segundo conseguido uma vitória tangencial.

Seguiu-se um soporífero confronto entre Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, com o líder do BE a conseguir ser menos eficaz como cura para a insónia.

Sócrates foi vencedor claro frente a Jerónimo de Sousa, enquanto Ferreira Leite surpreendeu pela positiva face a Louçã.

Frente a Jerónimo, Paulo Portas voltou a sair vencedor, tendo conseguido encontar pontos de contacto entre CDS-PP e os comunistas, nomeadamente na «defesa dos agricultores».

O debate seguinte trouxe nova surpresa, com Sócrates a incomodar bastante Louçã e a conseguir vencer o confronto que muitos pensavam que seria o mais difícil para o primeiro-ministro. O trunfo do fim dos benefícios fiscais defendido pelo Bloco para os PPR, Educação e Saúde deixou Sócrates em clara vantagem.

Contra Jerónimo de Sousa, Ferreira Leite abriu o capítulo das gaffes, confundindo taxas de IRS com IRC. No dia seguinte, a líder do PSD voltou a sentir dificuldades, perdendo claramente face a Paulo Portas, apesar de ter tocado um ponto sensível ao lançar a ideia de que para o CDS era indiferente se vencia o PS ou o PSD, uma posição de mera estratégia política e não de convicções.

Portas voltou a exibir-se em boa forma frente a Louçã, num debate entretido que serviu de aperitivo para o dito «Grande debate».

Sócrates e Ferreira Leite mostraram, de forma inequívoca, as debilidades do modelo dos debates, deixando de fora muitas questões importantes, nomeadamente as áreas da Segurança ou Justiça, e aflorando apenas outros temas de interesse.

Pelo meio ficam mais duas gaffes da líder do PSD, com uma explosão anti-espanhola inaudita e uma imagem infeliz sobre orfãos parricidas.

Contas feitas, a série de debates beneficiou claramente Paulo Portas, que insiste na especialização em nichos de oportunidade (segurança, agricultores, pensionistas, antigos combatentes, etc). Sócrates acabou por se sair bem, podendo a jogada do fim dos benefícios fiscais proposto pelo Bloco vir a impedir alguma transferência de votos do PS para o BE. Ferreira Leite não convenceu, mas acabou por não ser o desastre que muitos previam, saindo, eventualmente, mais penalizada com o facto de falar de «asfixia democrática» ao lado de Jardim. Jerónimo de Sousa esteve ao nível esperado, sabendo-se que o eleitorado comunista não é conquistado em debates mas sim nos movimentos sindicais e nas ruas. Louçã surpreendeu pela negativa, vendo-se obrigado a falar de alguns aspectos do programa do BE que podem alienar alguns potenciais eleitores.

A campanha (oficial) começa agora e o tom dos ataques deverá começar rapidamente a subir. As contas, essas, ficam para dia 27.

P.S.: O «Caso TVI» marcou o período da pré-campanha e é, no mínimo, um episódio grave. Admitindo que a decisão da administração seja legal, algo que é muito duvidoso, parece óbvio que o modo e o timing são totalmente errados. Que alguém apregoe que o grande beneficiado de toda esta situação é o PS entra quase na esfera da inimputabilidade...


"Pedro Corvelo"

domingo, 6 de setembro de 2009

O atestado médico por José Ricardo Costa

Imagine o meu caro que é professor, que é dia de exame do 12º ano e vai ter de fazer
uma vigilância. Continue a imaginar. O despertador avariou durante a noite. Ou fica
preso no elevador. Ou o seu filho, já à porta do infantário, vomitou o quente,
pastoso, húmido e fétido pequeno-almoço em cima da sua imaculada camisa.
Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta. Ora esta coisa de um professor ficar
com faltas injustificadas é complicada, por isso convém justificá-la. A questão agora é:
como justificá-la?
Passemos então à parte divertida. A única justificação para o facto de ficar preso no
elevador, do despertador avariar ou de não poder ir para uma sala do exame com a
camisa vomitada, ababalhada e malcheirosa, é um atestado médico. Qualquer pessoa
com um pouco de bom senso percebe que quem precisa aqui do atestado médico
será o despertador ou o elevador. Mas não. Só uma doença poderá justificar sua
ausência na sala do exame. Vai ao médico. E, a partir deste momento, a situação
deixa de ser divertida para passar a ser hilariante.
Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo. Enfim, com o sorriso de
Jorge Gabriel misturado com o ar rosado do Gabriel Alves e a felicidade do padre
Melícias. A partir deste momento mágico, gera-se um fenómeno que só pode ser
explicado através de noções básicas da psicopatologia da vida quotidiana. Os mesmos
que explicam uma hipnose colectiva em Felgueiras, o holocausto nazi ou o sucesso da
TVI.
O professor sabe que não está doente. O médico sabe que ele não está doente. O
presidente do executivo sabe que ele não está doente. O director regional sabe que
ele não está doente. O Ministério da Educação sabe que ele não está doente.
O próprio legislador, que manda a um professor que fica preso no elevador
apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está doente.
Ora, num país em que isto acontece, para além do despertador que não toca, do
elevador parado e da camisa vomitada, é o próprio país que está doente.
Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente.
Vamos lá ver, a mentira em si não é patológica. Até pode ser racional, útil e eficaz em
certas ocasiões. O que já será patológico é o desejo que temos de sermos enganados
ou a capacidade para fingirmos que a mentira é verdade.
Lá nesse aspecto somos um bom exemplo do que dizia Goebbels: uma mentira várias
vezes repetida transforma-se numa verdade. Já Aristóteles percebia uma coisa muito
engraçada: quando vamos ao teatro, vamos com o desejo e uma predisposição para
sermos enganados.
Mas isso é normal. Sabemos bem, depois de termos chorado baba e ranho a ver o
'ET', que este é um boneco e que temos de poupar a baba e o ranho para outras
ocasiões. O problema é que em Portugal a ficção se confunde com a realidade.
Portugal é ele próprio uma produção fictícia, provavelmente mesmo desde D.Afonso
Henriques, que Deus me perdoe.
A começar pela política. Os nossos políticos são descaradamente mentirosos. Só que
ninguém leva a mal porque já estamos habituados.
Aliás, em Portugal é-se penalizado por falar verdade, mesmo que seja por boas
razões, o que significa que em Portugal não há boas razões para falar verdade. Se eu,
num ambiente formal, disser a uma pessoa que tem uma nódoa na camisa, ela irá
levar a mal.
Fica ofendida se eu digo isso é para a ajudar, para que possa disfarçar a nódoa e não
fazer má figura. Mas ela fica zangada comigo só porque eu vi a nódoa, sabe que eu
sei que tem a nódoa e porque assumi perante ela que sei que tem a nódoa e que sei
que ela sabe que eu sei.
Nós, portugueses, adoramos viver enganados, iludidos e achamos normal que assim
seja. Por exemplo, lemos revistas sociais e ficamos derretidos (não falo do cérebro,
mas de um plano emocional) ao vermos casais felicíssimos e com vidas de sonho.
Pronto, sabemos que aquilo é tudo mentira, que muitos deles divorciam-se ao fim de
três meses e que outros vivem um alcoolismo disfarçado. Mas adoramos fingir que
aquilo é tudo verdade.
Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses. Somos ignorantes e
culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros. Fazemos
malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a Fortaleza.
Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas
modernas e europeias, mas para ver passar, a seu lado, entulho, lixo, mato por
limpar, eucaliptos, floresta queimada, barracões com chapas de zinco, casas
horríveis e fábricas desactivadas.
Portugal mente compulsivamente. Mente perante si próprio e mente perante o
mundo.
Claro que não é um professor que falta à vigilância de um exame por ficar preso no
elevador que precisa de um atestado médico. É Portugal que precisa, antes que
comece a vomitar sobre si próprio.
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URGE MUDAR ESTE ESTADO DE COISAS.
ESTÁ NA SUA MÃO, NA MINHA E DAQUELES A QUEM A MENSAGEM CHEGAR!