segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Um cê a mais

Manuel Halpern

Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o c na pretensão de me ensinar a nova grafia. De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa. Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim. São muitos anos de convívio. Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes cês e pês me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância. Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: não te esqueças de mim! Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí. E agora as palavras já nem parecem as mesmas. O que é ser proativo?  Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.
Depois há os intrusos, sobretudo o erre, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. Caíram hifenes e entraram erres que andavam errantes. É uma união de facto, para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem. Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os és passaram a ser gémeos, nenhum usa chapéu. E os meses perderam importância e dignidade, não havia motivo para terem privilégios, janeiro, fevereiro, março são tão importantes como peixe, flor, avião. Não sei se estou a ser suscetível, mas sem p algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.
As palavras transformam-nos. Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos. Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do cê não me faça perder a direção, nem me fracione, nem quero tropeçar em algum objeto abjeto. Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um cê a atrapalhar.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Dinossauro de um dedo só

Uma espécie de dinossauro terápode que não havia sido descrita foi desenterrada por um grupo de cientistas chineses no interior da Mongólia. A descoberta será publicada esta semana pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Os terápodes, que deram origem às aves modernas, são um grupo de dinossauros essencialmente carnívoros ao qual também pertencem répteis bem conhecidos como o tiranossauro e o velocirraptor.
O grupo liderado por Xing Xu, do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados da Academia Chinesa de Ciências, encontrou o terápode preservado em rochas da formação Wulansuhai, originária do Cretáceo Superior e localizada na fronteira entre a Mongólia e a China.
A formação rochosa datada de 75 milhões a 84 milhões de anos atrás já foi o cenário de inúmeras descobertas de fósseis de vertebrados. Os autores descobriram parte de um esqueleto que incluía ossos da coluna vertebral, os membros anteriores, parte da pélvis e os membros posteriores quase completos.
O pequeno dinossauro provavelmente tinha a altura de poucas dezenas de centímetros e peso aproximado de um papagaio, de acordo com os autores. A maior parte dos terápodes tem três dedos na mão, mas os pesquisadores apontam que o novo dinossauro tinha apenas uma grande garra em cada uma das mãos.
Essa característica, segundo eles, faz do espécime descoberto o único dinossauro conhecido com um só dedo, sugerindo um complexo padrão de evolução nos membros superiores do grupo.
Os autores denominaram o animal Linhenykus monodactylus, referindo-se à cidade do interior da Mongólia, Linhe, próxima de onde foi encontrado o fóssil e ao fato de o réptil ter apenas um dedo em cada mão.
O artigo The first known monodactyl non-avian dinosaur and the complex evolution of the alvarezsauroid hand (doi: 10.1073/pnas. 1011052108), de Xing Xu e outros, poderá em breve ser lido na PNAS em www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.1011052108 .

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Funeral arbóreo


Outro dia cruzava o retão de manaíra (Av.Flávio Ribeiro Coutinho), enquanto aguardava o sinal verde, fiquei olhando o desbragado cortejo fúnebre de uma frondosa palmeira imperial afastando-se e sumindo. Igual a um pobre-diabo, sem direito ao enterro digno, missa de sétimo dia, visitas de pêsames e outros rituais que fazem parte de nossa tradição.
            É. Foi um sentimento de choque, raiva, perplexidade e aturdido vê essa árvore sendo conduzida, numa carroça, por quatro empregados fardados. Em razão da distância, não deu para identificar a organização para qual serviam.
            Puxa, que tristeza, que infortúnio crasso! Reconheço que o luto é uma manifestação humana de pesar pela morte de outro ser humano. Mas essa cena melancólica não poderia ser tão diferente diante daquilo que acabara de presenciar. As demais palmeiras, ali plantadas, eram como parente e amigos chorando a perda do ente querido. Clamando: “Eles querem me matar!”. Ou, então, no ato de desespero: “Não quero morrer!”.
            Não pretendo acreditar (já acreditando) que um provável mané graduado, com PhD em tudo que envolve paisagismo e meio ambiente, tenha planejado o “estreito canteiro central” dessa importante artéria pública. Ora, o manejo impróprio, a falta de um distanciamento adequado que permita o livre crescimento dessas palmeiras, tiram-nos não só a plasticidade de sua beleza, como a sombra e o conforte térmico.
            Sem soberba, sem arroubo de imaginação, mas muito menos com exagerada humildade de conhecimento, necessário dizer e entender que árvore tem sua arquitetura própria antes de escolher. Plantando aleatoriamente sem se preocupar com o crescimento saudável das espécies, a saúde das árvores é prejudicada, ficando, por sua vez, susceptíveis a quedas.
            Lastimável que as pessoas parecem ignorar o fato de que as árvores crescem e que têm raiz, pois árvores mutiladas perdem tanto a função de sombrear, quanto a de liberar oxigênio. Além de ficarem expostas a bactérias, fungos e vírus, provocando os mais variados tipos de doença.
            Intui-se que o idílio bucólico vivido em plena área urbana é fruto da falta da consciência ambiental, da consciência verde dos moradores. Mesmo sabendo que o fator essencial de melhoria da vida urbana é uma necessidade ambiental.
            Claro que vou ficar frustrado com os meus apelos se não forem atendidos, mas me sentirei orgulho de ter feito a minha parte. Agora, as autoridades devem decidir como agir para que o resto de tais palmeiras não seja dizimado, esmigalhado, machucado. Detalhe: sem desculpas nem trocadilhos baratos.


                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                           (lincolncartaxo.blogspot.com)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Mais uma vergonha

Chama-se "Agora é que conta", passa na TVI" e é apresentado por Fátima
Lopes. O programa começa com dezenas de pessoas a agitar uns papéis.
Os papéis são contas por pagar. Reparações em casa, prestações do
carro, contas da electricidade ou de telefone. A maioria dos
concorrentes parece ter, por o que diz, muito pouca folga financeira.
E a simpática Fátima, sempre pronta a ajudar em troca de umas figuras
mais ou menos patéticas para o País poder acompanhar, presta-se a
pagar duzentos ou trezentos euros de dívida. "Nos tempos que correm",
como diz a apresentadora - e "os tempos que correm" quer sempre dizer
crise - , a coisa sabe bem. No entretenimento televisivo, o grotesco é
quase sempre transvestido de boas intenções.

Os concorrentes prestam-se a dar comida à boca a familiares enquanto a
cadeira onde estão sentados agita, rebolam no chão dentro de espumas
enormes ou tentam apanhar bolas de ping-pong no ar. Apesar da
indigência absoluta do programa, nada disto é novo. O que é realmente
novo são as contas por pagar transformadas num concurso "divertido".

Ao ver aquela triste imagem e a forma como as televisões conseguem
transformar a tristeza em entretenimento, não consigo deixar de sentir
que esta é a "beleza" do Capitalismo: tudo se vende, até as pequenas
desgraças quotidianas de quem não consegue comprar o que se vende.

Houve um tempo em que gente corajosa se juntava para lutar por uma
vida melhor e combater quem os queria na miséria. E ainda há muitos
que não desistiram. Mas a televisão conseguiu de uma forma
extraordinariamente eficaz o que os séculos de repressão nem sonharam:
pôr a maioria a entreter-se com a sua própria desgraça. E o canal
ainda ganha uns cobres com isso. Diz-se que esta caixa mudou o Mundo.
Sim: consegue pôr tudo a render. Até as consequências da maior crise
em muitas décadas.

Entretanto a apresentadora recebe 40.000¤ por mês. Foi este o valor da
transferência da SIC para a TVI. Uma proposta irrecusável segundo
palavras da própria
A pobre da Fatima Lopes so ganha 1290 euros por dia. Brincando com
miseria dos outros, pobre povo portugues, sem alternativas,mas
miseravelmente felizes.


Autor desconhecido

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Um novo tempo de “Cavacadas” e “Cavaquices”

Sou profundamente critico sobre a figura de Cavaco Silva. Nem sempre foi assim, mas como sabem; só os burros não mudam...

Numa primeira fase Cavaco foi um ministro das finanças “apagado” no governo liderado por Francisco Sá Carneiro. Não deu nas vistas e funcionou como um relógio ômega que nem adianta nem atrasa, mas faz cumprir religiosamente a tempo e horas as ordens que recebe do chefe.
Conta ele que chegou a Figueira da Foz para fazer a rodagem de um carro, e acaba por sair como líder do Partido Social Democrata, imposto por uma certa nomenclatura que achou nele a figura certa para dar a cara as suas pretensões de conquista do poder e ampliação de objetivos pessoais.
Como líder da oposição chega a primeiro ministro, mesmo que em minoria, e faz bem o seu papel, apoiado numa equipa de grande qualidade que sem macula consegue autênticos milagres para a época que se vivia em Portugal.
Em 1987 parte em desvantagem para as eleições legislativas e acaba por conquistar uma inesperada maioria absoluta.
De 1987 até 1991 conduz Portugal de uma forma superior, e até a oposição se teve que render a sua boa gestão. Não se vislumbravam sombras de corrupção ou outras maculas na governação.
Em 1991 Cavaco reconquista e amplia a maioria absoluta e inicia então um ciclo de erros e lacunas, apoiado num autentico bando de “salteadores” que instalados nos mais variados postos da governação não olharam a meios para atingir fins...
Em 1995 olhando para as poucas possibilidades de se reeleger, decide retirar-se, e começa a sonhar com uma candidatura presidencial como forma e conteúdo para se chegar novamente a linha do poder.
Avança mesmo nesse desiderato e naturalmente é derrotado, porque os Portugueses apesar de uma memoria curta, não a tem assim tão curta.
A memoria é realmente uma condição indispensável para o desenvolvimento da nossa vida e também para a própria vida politica. A comunicação social portuguesa enferma de um grave problema de falta de memoria e capacidade de não deixar morrer as importantes realidades do passado.
Não podia deixar de recordar uma dúzia de factos que fizeram da trajetória de Cavaco Silva a aberração que hoje se pode confirmar ser enquanto politico e gestor. Infelizmente sei que mesmo recordando tudo isso a sua caminhada para voltar a entrar no palácio de Belém é imparável face a qualidade paupérrima dos adversários em presença.
Irei começar pelo fim da história, falando no imbróglio BPN em que Cavaco se deixou envolver de livre e espontânea vontade para arrecadar uns lucros extra, obtidos de um modo ardiloso.
Com a descoberta da marosca, e o potenciar de noticias e divulgação de factos, caberia a criatura ter descido a terra para esclarecer a situação, mas tal não aconteceu, antes pelo contrário, ficou mudo e calado deixando rolar as noticias sobre o contexto da obtenção de 140% de lucros em apenas 2 anos. Coisa espantosa de acontecer, e que nem um economista que se farta de gabar de seriedade, experiência, e conhecimento profundo dos mercados nem sequer estranhou...
No ciclo da noticia surge como um dos mais implicados no escândalo BPN, o seu ajudante de campo de anos e anos, ex-secretário-geral do PSD, Manuel Dias Loureiro, que é defendido com unhas e dentes até ao limite do insustentável. Só deixa cair Dias Loureiro do Conselho de Estado quando toma conhecimento off que o semanário Expresso iria divulgar novas noticias, incluindo os lucros espantosos das suas acções não cotadas em bolsa referentes a SLN, empresa que dominava o BPN.
Qualquer cidadão português necessitaria de ser parido duas vezes para obter níveis de lucro iguais aos que Cavaco e sua filha obtiveram com as acções da SLN; agora, pelo contrário, todos os portugueses necessitam de trabalhar por dois para poder pagar os impostos que estão a tapar o imenso buraco criado por essas espantosas mais valias que bafejaram Cavaco Silva e os seus muchachos...
Existem imagens tão lamentáveis, que não saem da nossa cabeça por muito que surjam factos que tentem apagar os seus efeitos acumulados. Uma dessas lamentáveis imagens é referente a Março de 2002, quando Cavaco Silva fez a tristemente celebre declaração acerca dos funcionários públicos:
“Como é que nos vemos livres deles? Reformá-los não resolve o problema, porque deixam de descontar para a Caixa Geral de Aposentações e, portanto, diminui também a receita do IRS. Só resta esperar que acabem por morrer”.
Considerar os funcionários públicos que colocaram a sua maquina estatal a funcionar como meros dejetos não foi triste, foi mais do que isso uma vergonha em termos de credibilidade para quem faz afirmações desse cariz.
No meu caso particular, e entre outras “bacuradas” levadas a efeito nos últimos anos de governação, não sai da minha memoria a celebre declaração que deixou cair Fernando Nogueira, nos finais da campanha eleitoral do PSD em 1995. Posteriormente surgiram as noticias nunca desmentidas sobre as suas recusas em aparecer nos cartazes de campanha ao lado de ex-líderes do PSD em 2005. Já anteriormente, num acto de profunda falta de solidariedade politica, recusou pagar as despesas de campanha de Freitas do Amaral, após a segunda volta das presidências de 1986.
A falta de solidariedade institucional tem sido uma das principais características da caminha politica de Cavaco, que apenas tem solidariedade com os seus boys.
Mais recentemente o processo das escutas, que num país dito normal, exigiria um inquérito com cabeça, tronco e membros, para se apurar se foi cometido algum tipo de crime de responsabilidade de titulares de cargos públicos, baseado na lei que prevê varias hipóteses, nomeadamente atentado contra o Estado de Direito, coacção contra órgãos constitucionais, prevaricação, abuso de poderes, violação de segredo de estado.
Sobre isto vale a pena ouvir um depoimento efectuado por Sarsfield de Cabral na altura na SIC Notícias – que, além de apoiante de muitos anos, tal como eu já trabalhou directamente com Cavaco – onde afirmou que, na sua opinião, conhecendo bem Fernando Lima, este nunca faria nada sem orientações do Presidente.
Eu subscrevo na integra tais afirmações pois conheço Fernando Lima, e sei o quanto se pode contar com o seu posicionamento, além de estar acima de qualquer suspeita por posicionamentos do tipo em questão. Um autentico embaixador com superior sentido de Estado!
As minhas primeiras criticas publicas e frontais a gestão de Cavaco Silva remontam aos tempos da forma lamentável como foi lançada e gerida, nos Governos de cavaco Silva, a primeira Parceria Público Privado da Ponte Vasco da Gama.
Se mesmo assim alguém tiver duvidas acerca do assunto, pois então  leiam o livro ou ouçam as declarações do Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas Carlos Moreno, processo que esteve na origem, aliás, do famoso bloqueio da Ponte 25 de Abril (os novos preços impostos na Ponte 25 de Abril resultavam do acordo de concessão; como os preços na Ponte 25 de Abril foram depois revistos em baixa, a Lusoponte teve que ser largamente compensada – a decisão foi anunciada pelo Ministro Ferreira do Amaral que, uns tempos mais tarde, passou a presidir à… Lusoponte), e que vendeu por entrepostas pessoas terrenos pertencentes a sua família localizados no local de implantação da amarração da Ponte.
Não esquecer que foi o próprio Cavaco Silva quem acabou por empurrar Ferreira do Amaral para uma sinistra campanha eleitoral, perdida antes mesmo de se iniciar, mas que tinha como objetivo ocupar o espaço politico.
Já a pulga na orelha me tinha ficado, graças ao brutal buraco financeiro e a forma absolutamente inqualificável como foi conduzido pelos Governos de Cavaco Silva o processo de modernização da linha de caminho de ferro do Norte (várias centenas de milhões de contos – repito centenas de milhões de contos – com deslizamentos orçamentais e temporais impensáveis, para ganhos nulos nos tempos de percurso), originando um brutal desperdício de recursos públicos.
Os vultosos prêmios contratuais atribuído pelos Governos de Cavaco Silva a empreiteiros adjudicatários de obras publicas para que estrategicamente as obras fossem concluídas em timings compatíveis com o caderno eleitoral das eleições legislativas, aliados a manifestos apoios de verbas mais do que interessantes para apoiar a própria campanha eleitoral.
Não se pode vir condenar Socrates, quando ele teve como exemplo aulas de um autentico professor em gestão de tempos e espaços, e também de formas de comandar a maquina politica de modo ardiloso.
Mas não é só Cavaco que brilha em toda esta sumula, pois não me esqueci da entrevista ao Expresso de Miguel Cadilhe, Ministro das Finanças do primeiro Governo de Cavaco Silva, onde ele afirmava peremptoriamente que Cavaco foi o pai do “monstro” pelas implicações que teve o regime remuneratório da função pública (e sobretudo as múltiplas excepções criadas – fazendo praticamente com que, de facto, a excepção seja o regime… normal) aprovado pouco antes das legislativas de 1991…
Recordo, também, o processo de negociação com os parceiros sociais dos aumentos salariais em 1991 (ano de eleições, pois claro) em que, tanto quanto me recordo, o Governo de Cavaco Silva propôs aumentos superiores aos propostos pela delegação da própria … CGTP… e que deu direito a brinde com champanhe e larga publicitação.
Não posso esquecer de forma alguma a forma mais do que caótica como foram geridos os fundos estruturais – em particular o FSE e o FEOGA – nos Governos de Cavaco Silva. Sobre o FSE há notícias várias e processos diversos no Tribunal. No Feoga, há certamente noticias e imagens, por exemplo, da visita com pompa e circunstância, de Cavaco à Odefruta, bem como aos seus elogios estusiásticos ao projecto protótipo de sucesso do milionário francês Thierry Roussel – projecto que permitiu a este último deitar a mão a um milhão de contos – 5 milhões de euros! – em fundos comunitários e ajudas do Estado português e “dar às de Vila Diogo” cerca de um ano depois…
Não bastava chamar a atenção sobre alegadas corrupções, como a denuncia que fiz acerca de manifestas fraudes cometidas na Casa dos Rapazes no Barreiro, e que foi empacotada, pois só quando colocado perante os factos e mesmo assim só quando devidamente publicitados, é que tomava medidas de fundo.
Por falar em teimosia e alegados racios sobre o seu mítico rigor e competência recordo aqui também o famigerado “coeficiente de erro de Braga” de Macedo (assim baptizado por Paulo Portas, sim, esse mesmo, então Director do Independente devido ao nome do Ministro das Finanças, Braga de Macedo, repito; sim, esse mesmo), quando no fim de 1993 o Governo de Cavaco Silva atingiu um défice público elevadíssimo, cerca de três vezes superior ao que tinha estimado no inicio do ano (uma das principais razões desse catastrófico lapso de previsão terá sido provocado pela decisão da então Senhora Secretária de Estado do Orçamento – essa mesma, a também muito competente e rigorosa Manuela Ferreira Leite – de despedir contratados da DGCI, o que, associado a alterações legais, teve como brilhante resultado que nesse ano e a partir desse momento o Estado praticamente deixou de arrecadar o IVA).
Foram personalidades como Braga de Macedo e Manuela Ferreira Leite, conjuntamente com outras figuras, que fizeram a imagem de degradação final da governação de Cavaco Silva. Manuela Ferreira Leite tem a seu favor a recente leitura correta da situação nacional, mas tal como na velha historia do lobo... tantas vezes disse que vinha lobo, sem ele vir, que quando o lobo apareceu já ninguém acreditos...
É interessante recordar também alguns factos menos noticiados como o da proposta de demissão de Cavaco Silva da Universidade, efectuada pelo Conselho de Reitores em 1985, por ter-se ausentado do serviço docente que lhe fora atribuído. Esta proposta não terá ido para a frente porque Deus Pinheiro, na altura ministro da Educação do Bloco Central, segundo essas notícias, lhe teria concedido licença sem vencimento sem que para isso tivesse qualquer competência.
Os favores são assim pagos a seu tempo, e a presença de Deus Pinheiro tanto no Governo como em cargos de elevado destaque politico, tem merecido a eterna gratidão da nomenclatura cavaquista.
A falta de transparência e casuísmo que terão marcado os processos de privatizações e negociações de aquisições de bancos e seguradoras como foram exemplo a Tranquilidade ou do Totta / Banesto?, ou sobre a forma atabalhoada e pouco rigorosa como foi lançada e realizada nos Governos de Cavaco Silva a criação das universidades privadas sob a soberania, em regra geral, sem a mínima garantia ou exigência de qualidade do ensino, o que veio a anos mais tarde dar os resultados que todos sabemos, e de que o próprio Socrates é um dos mais tristes exemplos.
Iniciei esta resenha falando da falta de transparência da comunicação social, e por isso recordo também o Ministro do Governo de Cavaco que, segundo notícias da altura, combinava com o Director de Programas o alinhamento dos telejornais da RTP – pois, esses mesmos que agora rasgam as vestes pela asfixia democrática – o Marques Mendes e o José Eduardo Moniz.
Como esquecer também as notícias sobre o processo de atribuição de licenças de rádios e televisões nos Governos de Cavaco Silva – e que fez com que parte relevante da comunicação social privada tenha, então (alguns desde então), ficado sob a dependência de grupos económicos mais ou menos sintonizados com os Governos de Cavaco Silva. Alguém já se esqueceu do afastamento mais do que estranho da “incómoda” TSF das licenças nacionais?.
Cavaco Silva, o tal homem providencial, um poço de virtudes, que raramente tem dúvidas e nunca se engana… Enfim, só a “suave” imprensa nacional não vê ou não quer ver que… Cavaco rima com… buraco…
No próximo dia 23 de Janeiro, os portugueses vão escolher entre candidatos muito parecidos, embora alguns tenham participado ativamente na degradação nacional, e outros tenham aproveitado as situações que lhe foram surgindo para se alcandorar a objetivos pessoais. Por exemplo; alguém sabe o quanto a organização criada pelo candidato Fernando Nobre soube sugar ao longo dos anos de entidades publicas... Possa ser que Mario Soares saiba responder por algumas verbas... Sampaio por outras... e até Cavaco Silva ajudou a dar imagem a plantaforma de lançamento de uma campanha pessoal lançada com a devida antecedência.
Manuel Alegre é um produto das maiores máfias que se movem no interior da maçonaria... dos outros nem vale a pena se falar pois de verbos de encher não passam...
Os portugueses vao ter mais um mandato de cavacadas e cavaquices pela frente, mas como tem sido eles a escolher esse rumo ao longo dos anos, o que se pode dizer, se não apenas que cada um tem aquilo que merece.

“João Massapina”  

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O triunfal regresso do provador oficial de bolo rei

É por estas e outras que eu quando olho para alguns (todos) dos candidatos presidências me dá uma certa azia estomacal misturada com uma imensa vontade de defecar sobre eles próprios, que nem sei como tenho conseguido conter esses dois desideratos...

Surge diariamente na minha cabeça a singela pergunta do porque de em Portugal ninguém questionar o triste facto de os verdadeiros corruptos estarem cada vez mais instalados nos lugares determinantes das decisões do poder politico, social e econômico. Ao mesmo tempo me questiono sobre o estranho facto de os cidadãos decentes andarem a trabalhar continuamente para manter o poder nas mãos dessa “turma” e contribuírem sem limites para encher a pança dessa gente¬... hipotecando a cada dia que passa o seu futuro.
Penso eu de que; na realidade a sociedade portuguesa já entrou num ritmo tal de fait-divers que não liga a nada do que passa ao seu lado em termos de acontecimento digno de registo.
Aquilo que antes era caraterizado por leitura de “sopeira” é afinal hoje a leitura preferida do cidadão com um claro objetivo, tendo em vista a alienação individual da mente para com o mundo real, e a criação de uma imagem ficcional que possibilite passar ao lado dos assuntos que afetam o seu dia a dia, nomeadamente a crescente corrupção nas mais altas esferas, a baixa qualidade de vida, a crescente criminalidade da sociedade, o desemprego crescente, a insegurança laboral, a falência do estado social, uma economia nacional em queda livre, um País tecnicamente falido, uma Europa sem rumo definido exceto para as grandes potencias do tipo Alemanha, França, e mais um numero cada vez mais crescente de questões que deveriam ser os temas de debate na sociedade, mas que afinal passam ao lado dos cidadãos por via da sua clara opção em se distanciar dos problemas deixando as decisões a uma meia dúzia de sumidades.
No próximo dia 23 de Janeiro; Portugal vai ter mais uma eleição presidencial, e nem assim a discussão sobre a qualidade dos candidatos e das suas propostas tem merecido a atenção dos cidadãos. Mas tenho que dar razão a alienação generalizada dos cidadãos, pois nenhum dos candidatos apresenta proposta alguma que mude o ritmo da vida diária e possa criar algumas expetativas de uma nova sociedade e de um mundo nacional melhor. Da mesma forma que ninguém apresenta uma sensibilidade necessária e suficiente para questionar de forma frontal na praça publica tanto a incapacidade programática dos candidatos ou sequer um presidente que se recandidata com uma imagem de santidade quando na verdade face aos seus antecedentes deveria ser fortemente questionado acerca da sua postura e responsabilidades na degradante situação econômica nacional, educacional e social a que Portugal chegou neste ano de 2011.
Pior do que não questionar as responsabilidades de muitos anos de governação de Cavaco Silva, é não questionar situações que num qualquer outro País seriam vistas com claros indícios de corrupção passiva e ativa. Um dos candidatos eleitorais (Manuel Alegre) lançou farpas, mas não tem passado de autentica alcoviteira, sem questionar realmente as razões de determinados acontecimentos.
Falo obviamente, entre outros fatos, da muito estranha movimentação, em 2001, por parte de Anibal Cavaco Silva, Presidente da Republica em exercício, e recandidato ao lugar, e de sua filha, de nada mais, nada menos; adquirirem em conjunto 255.018 ações da SLN grupo detentor do Banco Português de Negócios de muito má memoria para a economia nacional, e para a bolsa de cada um dos portugueses que anda a pagar o buraco (cratera) deixado pela entidade...
Qualquer cidadão quando adquire ações tem que declarar a sua aquisição, e qualquer cidadão que omite esse tipo de aquisição fica sujeito as penalidades previstas por lei. (Qualquer um, menos Cavaco Silva...) Da mesma forma um qual quer cidadão que renega a aquisição deste tipo de instrumento econômico, e vem a ser desmascarado por comprovada mentira, fica debaixo da alçada tanto da lei como da opinião publica. Mas com Cavaco Silva (quase) tudo isso passou ao lado...
Ironicamente Cavaco Silva fez declaração publica de que nunca tinha adquirido nada ao BPN, esquecendo que a SLN era a maquina desse mesmo banco, e que tinha adquirido um bom lote de ações a essa entidade. Esquecimentos destes, nem o magnifico queijo Limiano provoca!
Mas como as ações da SLN nem eram transacionadas na Bolsa de Valores, afinal a quem terá Cavaco Silva e a sua extremosa filha terão adquirido as benditas ações, que mais tarde venderam com ganhos elevados se não mesmo a alguém muito próximo, assim tipo Dias Loureiro (agora empresário nas áfricas) ou mesmo a Oliveira e Costa (agora doentinho compulsivo...), que prepararam no tempo a manobra com todo o cuidado, vendendo as ações a Cavaco por um valor de 1 (um) euro, e mais tarde as readquirindo ao mesmo Cavaco Silva e a sua filha com 1,40 (um euro e quarenta cêntimos) de mais valia por cada ação, proporcionando um ganho sem igual aos seus amigos (Cavaco Silva e filha), para um papel que nem cotação tinha na Bolsa.
Será que essas mais valias chegaram a ser declaradas ao fisco nacional, atendendo a que o papel não corria na Bolsa de Valores e toda a operação foi realizada por debaixo da mesa num prazo de 2 anos (2001 – 2003), na maior e mais completa nevoa que se possa considerar possível de existir numa sociedade dita transparente...
Valorização de mais de 140% (comprado a 1 euro em 2001, e vendido em 2003 a 2,40 euros) de um papel sem cotação na Bolsa de Valores e ainda por cima de uma empresa que inclusivamente andava a ser largamente questionada pelo Banco de Portugal, é um acontecimento digno de figurar ao lado de milagres econômicos como a Dona Branca, ou como o milagre comercial da Senhora de Fátima ou mesmo da Senhora da Ladeira...
Até agora ninguém questionou devidamente toda uma operação que, volto a repetir, em qualquer outro País do mundo dito civilizado mereceria um trabalho de investigação por parte das autoridades competentes, pois o assunto cheira demasiado a esturro para se passar ao lado sem sequer verificar o que se encontra dentro da panela. No entanto; nem as entidades competentes nem o próprio cidadão comum questionaram o assunto, deixando o mesmo no mais completo silencio.
É por estas e outras que eu quando olho para alguns (todos) dos candidatos presidências me dá uma certa azia estomacal misturada com uma imensa vontade de defecar sobre eles próprios, que nem sei como tenho conseguido conter esses dois desideratos...
Olho para o cidadão Manuel Alegre e apenas consigo ver um refratário militar que ajudou forças terroristas a abater soldados nacionais que eram obrigados a vestir uma farda e pegar em armas sob pena de fortes penalizações num momento próprio da historia nacional. Uma criatura dessas não merece absolutamente nenhum respeito em termos eleitorais pois a sua vida fica muito longe daquilo que se entende por decência em termos de cidadania. Só o respeito culturalmente enquanto poeta, pois como cidadão elegível deixa muito a desejar, e não se pode confiar em quem não tem respeito nem por si próprio.
Olho para o cidadão Fernando Nobre e vejo alguém que andou a pregar anos e anos a defesa da moralidade e bons costumes, apoiada numa entidade – AMI – que acabou por lhe servir de trampolim para lançar objetivos meramente pessoais. Embora todo o cidadão no pleno gozo dos seus direitos de cidadania possa ser candidato, desde que cumpra as formalidades em termos de idade e não tenha impedimentos legais, acho eu que existem cidadãos que pelo seu percurso pessoal deveriam cuidar da manutenção da sua imagem num patamar elevado. Com a sua candidatura perde todo o estatuto de cidadão acima de certas questões inferiores da sociedade, como o é uma eleição deste tipo, sem apresentar propostas concretas.
O candidato Francisco Lopes, surge nesta campanha para fazer a habitual figura de “patinho” feio vestido de vermelho com uma foice e um martelo desenhados na testa. Uma candidatura de contestação por um lado e de garante da manutenção de eleitorado por outro Desde 1974 que o PCP utiliza sempre a mesma estratégia, lançando candidatos para encher chouriços, e sempre com os mesmos resultados de perda de votos, mas sempre sem propostas minimamente credíveis para apresentar.
Os outros candidatos em presença surgem para fazer figura de corpo presente na fotografia da historia que algum dia falara de que em 2011 as presidenciais tiveram como candidatos fulano e sicrano. Não tem a mais remota esperança de ser sufragados com capacidade de mover os dígitos eleitorais, e só querem surgir na foto, o que poderiam também conseguir se fossem as 13 horas de um qualquer dia de semana, para cima de uma arvore da Avenida 5 de Outubro, para salvar um gato...
Resta o principio do fim, que se chama Anibal Cavaco Silva, e que se apresenta para ser reeleito com base em mais uma mandato do mesmo teor do primeiro... um mandato de primado do chamado corta-fitas. Uma candidatura com alicerces em anos e anos de poder executivo, e muitas duvidas acerca da sua cotação em termos de cidadão impoluto, de que o assunto SLN versus BPN é só uma ponta do rastilho da imensa bomba em que se transformou a criatura que um dia veio ao mundo lá para os lados de Boliqueime.
Obviamente que vocês me vão questionar sobre quem afinal eu apresentaria para se candidatar com programa, com capacidade de ser algo diferente para a sociedade, uma vez que os candidatos em presença são autênticos clones...
A resposta é muito simples... cabe a sociedade portuguesa acordar em termos sociais e políticos e “matar” a realidade atual criando uma nova sociedade em termos políticos e sociais, mostrando que todos podem ganhar com novas propostas sem que as mesmas tenham que ter saída da sombra dos partidos políticos, e livres dos compromissos das negociatas da navegação a vista que hoje são os atributos da realidade politica.
Onde andara afinal a sociedade civil portuguesa, que deveria sair a rua e se manifestar, e ao mesmo tempo lançar novas propostas e novas figuras. Desde 1974 que temos perante os nossos olhos, sempre, as mesmas criaturas a determinar a politica e o rumo da sociedade. A rentabilidade bruta dessa gente em termos de gestão, esta baseada na enxurrada de erros continuamente repetidos que acabou por conduzir Portugal a banca rota em que se encontra hoje.
Os portugueses entraram numa espiral de alienação de que jamais vão conseguir sair. Acreditam nas oportunidades da propaganda enganosa, e nas figuras que continuadamente lhes colocam a frente dos olhos.
Portugal, enquanto País já não existe, esta hipotecado na infindável divida externa, (China, Brasil, Angola, India, EUA, e mais uns quantos compraram Portugal aos lotes...) mas praticamente ainda ninguém se apercebeu de que a gestão das migalhas que ainda vão caindo das mesas estão a ser devoradas por um reduzido grupo de personalidades que engajadas nos partidos políticos vão jogando em função dos seus interesses pessoais. Os restantes 10 milhões servem para pagar impostos e irem periodicamente, de modo eleitoral, dando credibilidade ao saque nacional. Das migalhas devoradas pela minoria recebem o pó da farinha...
Decidi que no dia 23 entre poder votar no “bolo rei”, na “bolacha de agua e sal”, no “doutorzinho da tapitanga”, no “poeta pateta”, ou no “inocente da tasquinha da esquina” irei afinal votar no emplastro, pois assim como assim a alienação cada vez mais é lei!!!

João Massapina