sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O avarento ou a escola da mentira dos governantes

 
a cristmas carol
Harpagón
Estamos enganados. Os séculos que vivemos não são o XXI, é o XVII. Harpagón governa-nos. Não estamos no ano 2011, estamos em 1668, a data em que Jean Baptiste Moliére criou a personagem referida antes, este pai de Elisa e Cleanto,
namorado da Menina Mariana. Uma Mariana que namora com Cleanto sem o pai saber, pai que um fartado, motivo do nome Harpagón. Nada tem, diz ele, mas sim o suficiente e mais para emprestar dinheiro a juros altos. Forreta, que, para poupar, mora na casa de Mariana, jovem e rica. Uma Mariana de 20 anos, pretendida por um homem de 63 e muito doente. Mariana gosta da luz e a sua casa parecia ser um jardim iluminado, enquanto Harpagón vivia apagando as velas, para poupar. Casa grande e fria, que causava doenças perigosas, porque Harpagón não queria que as lareiras fossem acesas, para não gastar lenha. Velho e reumático, veste pouca roupa, sempre a mesma, nunca lavada para ser eterna. Para ele tomar banho era um pecado: seria desperdício da água e sabão. Possui um Paço, que diz não ser dele, assim, outros pagariam impostos. 
E o dinheiro? Não é gasto, é guardado ou emprestado a juro, que cobra sempre enquanto a cabeça.
Harpagón é um homem simpático e avarento, dentro da sua poupança. Não é apenas pelo dinheiro que não gasta para ele, excepto num anel de diamantes que sempre usa para seduzir Mariana e ganhar as simpatias dos membros do paço, que vivem aterrados com a sua mania de poupança, dos juros que cobra e do obscuro e frio que faz do paço. Infelizmente, é apenas uma comédia dos tempos da pobreza viva, que hoje em dia sofremos.
Digo que é Harpagón que nos governa, mas é um engano meu pela falência em que hoje moramos, no Século XXI. Nem o Primeiro-ministro tem a capacidade de poupar para o povo que lhe entregou a sua soberania, é a denominada troika, os que nos emprestam dinheiro para a nossa sobrevivência. Paga por nós com falta de trabalho, desemprego, novos impostos ou os antigos que são elevados de 23 a 40% em dia certo, trazidos das poupanças avarentas que estamos obrigados a guardar para pagar as contas, juros e a impossibilidade de gastar em roupa, comida e em receber pessoas em casa. Faz de nós pessoas ladras e necessariamente avarentas.
Harpagón induzia outros a pagar réditos e escondia o dinheiro numa caixa que andava sempre com ele. Esta troika nem caixa de tesouro vazia permite levar, por ser um bem taxado, como a água, a força eléctrica, as alças das rendas de casa e as devoluções de casas aos bancos que costumavam emprestar dinheiro para as comprar. Sem trabalho a família toda, é-lhes impossível pagar os interesses do dinheiro emprestado para adquirir.
Harpagón é a troika: o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia. O Harpagón ou troika, vigiam os investimentos do dinheiro, permanecendo sempre no Paço chamado Lisboa. Sem a troika, o paço falia e os seus membros morriam. Como começa já a ser: suicídios, calmantes e outras ervas. O avarento em Molière, acaba a dançar de felicidade, não por causa da Mariana, mas sim por causa de dinheiro ganho pelos juros impingidos aos devedores, que é o governo que assim nos trata…Harpagón ou A Escola da Mentira, como Molière a baptizou…

In: Avatar

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Carta ao Presidente de Angola‏

*Camarada Presidente,

Desculpa não ter lhe chamado de Excelência.

Quando éramos jovens, no tempo do Comunismo Cientifico Mono - partidário, sabíamos que a luta pela liberdade e dignidade do angolano seria a nossa única saída para uma Angola verdadeiramente livre e democrática.

Camarada Presidente, caso não se lembre de nós, somos aqueles pioneiros que crescemos no tempo das Empas, das Lojas do Povo, das Lojas dos Dirigentes, das Lojas dos Directores, das Lojas dos Responsáveis, das Lojas dos Cooperantes, das Lojas Francas, das Lojas da Angoship, dos Armazéns da Encodipa, da Edimbi, da Egrosbal, da Disa e outros terrores que V. Expia criou para dominar este povo humilde.

Que saudades Camarada Presidente, naquele fardamento da OPA que era a nossa única opção. Até À Missa de Domingo íamos de João Domingos e Calções da OPA já se lembra de nós?

Mesmo naquela altura, sempre acreditamos nos ideais da democracia e temos certeza que V. Expia também, senão nunca teria passado as suas férias no Sul de França, Brasil, Espanha nem tão pouco usaria os fatos de YSL, os relógios Cartier ou os Sapatos Italianos.
Nunca ouvi dizer que V. Expia passou alguma temporada de férias em Cuba, Coreia do Norte, Rússia e noutros Gulagues espalhados pelo Mundo.

Tal como na época colonial nós também aprendemos a viver submetidos as grilhetas do Tribalismo, Racismo e Escravidão.
Se no tempo do colono os nossos avós recebiam fuba podre e peixe podre e como sobremesa uma ***da, nós não tivemos melhor sorte, pois, recebíamos peixe podre das Nações Unidas,
Fuba,  Pala-pala amarga, e caso refilássemos uma Jinguba na testa como sobremesa.
Para completar o quadro éramos comparados aos porcos que tudo comem e nunca apanham diarreia.
Como V. Expia e sua camarilha tem vivido a Grande e a Francesa e usufruem o que de melhor o nosso dinheiro pode adquirir nunca sentiram na pele as verdadeiras consequências dos Vossos
actos maquiavelicos.

Naquela época, V.Excia definiu como inimigos de Angola os Carcamanos Sul-Africanos, os Imperialistas (ianques) e o Capitalismo Selvagem que supostamente tinha a intenção de tirar as riquezas de Angola e submeter-nos ao neocolonialismo.
Não nos esqueçamos da Igreja Católica que era o ópio do povo e deveria dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César.
Até hoje ainda procuramos pelo César que fazia parte do Governo, na altura. Nestas circunstâncias, crescemos a odiar os Capitalistas, os Sul-Africanos, os Imperialistas, a UNITA e os padres.
Apoiamos o ANC, a Swapo e outros movimentos de libertação mesmo sabendo que nós também éramos vitimas de um regime ditatorial.
Será que o que assistimos hoje, em Angola, não é a materialização dos piores receios dos angolanos de boa-vontade?
Quem está a abocanhar as riquezas de Angola? Os Angolanos ou os amigos estrangeiros do Regime?

Nós, os ditos angolanos, assistimos hoje a vinda de uma espécie de mercenários a quem são atribuídos passaporte e bilhete de identidade bem como uma serie de benesses que são negadas ao locais. Será que V. Expia ainda se lembra de Pierre Falcone e outros Falcones espalhados por Angola? Agora me pergunto: Quem está a promover o neocolonialismo?

Excia. o Vosso Sistema Comunista não vingou em Angola, nem nos países que serviram de modelo deste sistema. Tal como todo sistema absolutista tem os dias contados, Vencia teima em manter sob vossa alçada todos os pelouros do país. Nem nos piores dias da ocupação colonial o poder tradicional foi tão desvirtuado como nos dias de hoje, pois assistimos a imposição de Sobas e sobados nomeados superiormente.
A centralização é tão acentuada que os futuros colonialistas estarão a estudar o V. caso de sucesso. Não falta muito para ser nomeado o Soba da Cidade Alta.

Quanto a democracia, seria de bom tom regular o volume quando tal palavra é pronunciada, pois de nada serve afirmar que tal exercício existe quando nós no dia-a-dia experimentamos todo tipo de actos selvagens e assistimos ao atropelo sistemático dos direitos humanos. Quem não se lembra dos actos praticados pela V. Guarda Presidencial?
Quem não se lembra de Fulupinga Landu Victor?
Quem não se lembra do Jornalista da Rádio Despertar? Quem não se lembra do Vandalismo perpetrado contra a Organização dos Direitos Humanos em Luanda?
Temos plena consciência que por V. vontade a UNITA já estaria dizima, mas tal não acontece porque eles também sabem mexer com armas.
Como é que V. Expia pode falar em democracia se não permite a livre manifestação e reunião?

Democracia ("demo+kratos") é um regime de governo em que o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos (povo), directa ou indirectamente, por meio de representantes eleitos ? forma mais usual. Uma democracia pode existir num sistema presidencialista ou parlamentarista, republicano ou monárquico.
As Democracias podem ser divididas em diferentes tipos, baseado em um número de distinções.
A distinção mais importante acontece entre democracia directa (algumas vezes chamada "democracia pura"), onde o povo expressa a sua vontade por voto directo em cada assunto particular, e a democracia representativa (algumas vezes chamada "democracia indirecta"), onde o povo expressa sua vontade através da eleição de representantes que tomam decisões em nome daqueles que os elegeram.
Outros itens importantes na democracia incluem exactamente quem é "o Povo", isto é, quem terá direito ao voto; como proteger os direitos de minorias contra a "tirania da maioria" e qual sistema
deve ser usado para a eleição de representantes ou outros executivos.

Camarada Presidente, democracia não significa propalar aos quatro ventos que ela existe quando o principal acto representativo dela é sistematicamente vilipendiado.
V. Expia ao mudar a constituição quando estávamos em pleno exercício legislativo é um atentado directo a soberania da nação e aos elementares direitos do seu povo.
Além disso, ninguém pode afirmar com certeza matemática que existe um processo democrático genuíno em Angola, quando não existe um único representante do povo eleito directamente.

Sejamos claros, Ditadura não combina com Democracia.

Hoje há uma verdadeira revolução em África e Angola não poderá ficar fora desse movimento reformador, senão perder-se-á irremediavelmente.
A verdade é que os problemas do Egipto, Tunísia, Líbia, Costa do Marfim não são diferentes dos problemas de Angola, a única diferença é que são países que sempre estiveram num estadio político mais progressivo e têm uma população mais instruída que a nossa.
Não sei se a memória já começa a falhar, mas o Camarada Presidente de certo lembrar-se-á que a Independência de Angola nasceu, cresceu e floresceu com base nas revoluções operadas no Norte de África. Agostinho Neto, Savimbi, Holden Roberto e outros dirigentes africanos que encabeçaram a grande avalanche independentista tiveram a sua formação militar e política na chamada África Branca, por isso, não é de estranhar que perante os mesmos problemas as soluções que se nos apresentam sejam similares.

Segundo os entendidos na matéria: A revolução (do latim revolutìo,ónis: ato de revolver), segundo o Dicionário Houaiss é datada do século XV e designa "grande transformação, mudança sensível de qualquer natureza, seja de modo progressivo, contínuo, seja de maneira repentina"; "movimento de revolta contra um poder estabelecido, e que visa promover mudanças profundas nas
instituições políticas, econômicas, culturais e morais" V. Expia elegeu a internet como o mensageiro da desgraça, no entanto, esqueceu-se que os nossos irmãos que deambulam noite e dia por Luanda, não têm acesso a internet mas sentem a necessidade de mudança. O inimigo de V. Expia está dentro de Vós. V. Expia sente mais prazer em assistir os concursos de Misses do que visitar os seus concidadãos que sofrem cheias em Benguela, Cunene e mesmo em Luanda.
Angola precisa de uma verdadeira alternância democrática sem fraudes ou truques. ****

 ****
Camarada Presidente, em democracia não existe insulto mas sim livre expressão, no entanto, V.Excia quando caluniado é livre de expressar o V. descontentamento junto das autoridades judiciais.
Mesmo os governos eleitos não estão livres da censura e da crítica, já diz o ditado popular "quem não sente não é filho de boa gente" e como angolanos que somos acreditamos que
somos filhos de boa gente, senão V. Excia já teria sido colocado num barril e atirado ao atlântico.
Só V. Expia acredita que em Angola existe democracia, por isso, organiza manifestações de apoio e outras macaquices próprias dos regimes autoritários.
Não se esqueça V. Expia que até Adolf Hitler foi eleito mas teve que ser derrubado para se repor a democracia na Alemanha.
O que determina a continuidade ou não dos governos eleitos é a satisfação dos anseios dos povos e não o contrario. Os governos existem para servir o povo.

V.Excia fala das casas de chapa dos Musseques como se a maioria dos angolanos não soubesse que o seu MPLA pretende lucrar com o famoso programa de construção de 1 milhão de casas.
Qual é o angolano que aufere um vencimento de 100 dólares mensal e consegue adquirir uma casa de 60000 dólares? Não adianta invocar os Kazumbiris de Agostinho Neto e outros, pois
nós sabemos quanto V.Excia e sua prole gastam na Europa, América, Dubai e noutros cantos em Mulheres, Carros, Mansões, Aluguer de Aviões e outros mordomias.
Também sabemos que nós angolanos apesar convivermos com dirigentes milionários fazemos romarias as capitais desse mundo para pedinchar para projectos basilares em qualquer sociedade.
Quem não sabe que o programa de luta contra a Poliomielite é patrocinado pela Fundação Linda e Bill Gates? Porquê que a maioria dos dirigentes do MPLA morre no Estrangeiro?
Que país do mundo tem as embaixadas nas melhores avenidas das grandes capitais e o seu povo não tem água potável?
Não há futuro sem passado, no entanto, nem todo passado colonial justifica a actual situação política angolana. Será que V.Excia vai dizer que os seu Genro e os seus Netos são responsáveis pela actual situação de pobreza em Angola? Por acaso, num ponto eles são-no pois fazem parte do 1% da população que usufrui da totalidade da riqueza do país.
Angola é Angola e não pode, em circunstância alguma, ser designada por Ex-colónia de Portugal.

Todos nós conhecemos a origem da pobreza em Angola.
Foi o MPLA e o seu governo quem criou o homem novo, corrupto, mulherengo, trapaceiro, traiçoeiro, gatuno, dissimulado, assassino, bufo.
A confusão da guerra civil contra a UNITA permitiu criar o ambiente político propicio para implantação do MPLA e o agudizar dos problemas do país.
Quem não se lembra do negócio de gasolina que distintos membros do MPLA fizeram com a UNITA? Quem não se lembra dos grupos errantes que atacavam caravanas de camiões em várias
estradas de Angola? Muitos lembrar-se-ão que existiram dois grandes grupos, um na Huíla que era encabeçado pelo irmão do então comandante da Região Militar Sul e outro em Benguela encabeçado pelo irmão do então comandante da Polícia. Ainda nos lembramos daquele dia em que V.Excia disse que não seria candidato pelo MPLA as eleições e, o Camarada João Lourenço (ingenuamente) se ofereceu como sucessor natural, dado ser na altura Secretário Geral do Partido. Depois deste triste episódio, até as moscas fugiam do homem. Pura malandrice.

A Pobreza, o Desenrasca e o Espertismo têm pai e chama-se José Eduardo dos Santos.

O Camarada Presidente, até me fez chorar a rir ao dizer que em Angola há liberdades porque surgem cada vez mais partido políticos, associações cívicas e profissionais,
Ong´s, jornais, rádios comunitárias, etc. Será que V. Excia está a falar dos partidos extintos pelo tribunal constitucional?
Será que está a falar da FESA? Está a falar das ONG´s que falam bem do Presidente ou das Ong´s como a Omugna que não podem manifestar o seu descontentamento pelo demolição de casas dos pobres? Esta a falar do Jornal Angolense ou do Jornal de Angola? Está a falar da Rádio Nacional de Angola ou da Rádio Ecclesia que qualquer dia só vai ser escutada no S. Paulo?
Esta a falar da Semba Comunicação? Quem é o etc.?

Como V.Excia fica muito nervoso quando se fala da corrupção em Angola, louvamos o facto de saber que está certo, pois na realidade não há país nenhum no mundo em que não há corrupção.
A tese está aprovada, V. Expia merece um Horroris Causa, pois é o único Presidente no Mundo que aprova a Universalidade da Corrupção.
Como angolanos de boa - vontade queremos um país capaz de apreender os melhores exemplos dos quatro cantos do mundo. Tudo que for mau que fique bem longe da nossa casa, por isso,
ficamos indignados pela vossa resignação perante os factos, pois V.Excia deveria ser o guia da nação. Assistimos pois a uma total deturpação do propósito e alcance da função do Presidente da República. Se o nosso Presidente resigna-se perante a corrupção, o que fazer perante a Pedofilia, o Tráfico de Droga, o Abandono Parental, a Fraude Escolar, a Violência e outros males que nos apoquentam por esta Angola fora? Literalmente, estamos paíados!

Também discordo deste gajo que colocou na Internet a notícia que Vencia tem uma fortuna de vinte biliões de dólares no estrangeiro. Primeiro ele não está a falar de V.Excia,
pois há muito que Angola não tem Presidente.
Segundo, 20 biliões de dólares não são nada comparados com as quantias assambarcadas por V. Expia dos Cofres do Estado. Façamos as contas: Por cada barril de petróleo vendido,
V. Expia abocanha 3 dólares. Sabendo que só Cabinda produz 600000 mil barris diários é só fazer as contas. Chefe, massa é massa e os números não enganam.
Areia para os olhos, também tem hora.
Até hoje ninguém viu o recibo da dívida paga a Rússia, além disso, de onde vem o dinheiro utilizado nas compras feitas pela V. família em Portugal, Brasil e outros locais espalhados pelo mundo.
Ainda nos lembramos daquele cheque o Dr. Aguinaldo Jaime tentou transferir nos States.

Convenhamos, só uma pessoa burra e suicida, iria dirigir-se-ia ao Banco Nacional de Angola (BNA) para entregar os nomes dos bancos e os números das contas em que o Vosso dinheiro foi depositado.
Também sabemos que em nenhuma circunstância o Governador do Banco de Angola ou o director do Tesouro Nacional iriam fazer a transferência desse valor para as suas contas do Estado.
Para onde foram os 600 milhões de dólares encontrados numa conta na Suíça? Sabemos que até ameaçaram cortar as pernas dos Suíços que estavam em Angola, a data dos acontecimentos.

Camarada Presidente, é melhor mandar dar umas chapadinhas ao Camarada que escreveu este discurso.
Ir ao dicionário buscar a palavra fantoche até dá saudades do tempo dos comícios em que gritávamos "Abaixo os Fantoches da UNITA!". Depois íamos gritando "Abaixo aquilo!
Abaixo aquele outro! e por fim quando mudasse o disco "Viva o MPLA! todo mundo estava na onda do abaixo e lá vinha "Abaixo!". Definitivamente, o Camarada Presidente está a tentar
implementar o sistema comunista numa realidade totalmente diferente e num mundo globalizado. Não aceitamos o comunismo como forma de vida e também temos certeza que para o seu e nosso bem é necessário que o Camarada Presidente abandone o poder enquanto pode ir pelo seu próprio pé.

Caro Camarada,

A paciência do povo angolano tem limites e a nossa intenção clara é chegar a verdadeira democratização do país.

Quanto as eleições sabemos que pela fraude a vitória esta garantida, no entanto, pode ter plena certeza que não vamos vestir o fato de Domingo para te manter no poleiro.

Sabemos que o teu MPLA não é um partido democrático, por isso, adivinhamos um Congresso - Comício de vários dias com bajulações e vivas ao Camarada Chefe.
Acreditamos que V. Expia tem mais cerca de um ano e meio de mandato e esse tempo vai ser bem aproveitado para delapidar os cofres do Estado.

Como povo de boa-vontade, desejamos ao Camarada Presidente, muitos anos de vida mas longe do Governo de Angola. 35 anos é muito tempo.
Até os mancebos que foram concebidos durante o conflito de 1992 já tem idade para ir a tropa. Chega.

Por Arlindo Faísca, in A Revolução Angolana****

domingo, 11 de setembro de 2011

Discursos seguros

O discurso de abertura de António José Seguro teve todos os ingredientes de um bom discurso. Tinha que ser, aliás. Seguro sabe que a partir de sexta, acabou-se o conforto do partido, das caras conhecidas, das distritais, dos gabinetes e dos amigos. A partir de sexta, está exposto às luzes implacáveis da ribalta, de onde só sairá em glória ou desgraça. Não há meio termo. E Seguro cumpriu, ninguém o pode negar : foi um discurso inteligente, astuto, bem pensado, definidor das linhas gerais de uma estratégia politica, com um rumo para o Partido Socialista e, muito importante, críticas certeiras ao actual governo. Seria, em tempos de normalidade, um excelente discurso feito por um líder com boas qualidades.
O problema é que não vivemos tempos normais. Muito longe disso. E por isso esta estratégia, e este discurso, são claramente insuficientes para o momento que o país atravessa, e como Seguro em breve descobrirá, para o que vem aí. Foi um daqueles casos em que, para mim, o todo foi bastante menor que a soma das partes. A falta de urgência foi gritante, a falta de indignação para com a golpada – porque não há outro termo – que permitiu a subida da direita ao poder através da falência forçada do país, essa falta de indignação foi gritante. Acabou por ser o que mais me impressionou, essa aceitação, quase subserviente, às circunstâncias politicas que vivemos e de como aqui chegámos. Isto já para não falar na falta de carisma, que se tornava mais evidente a cada berro visivelmente estudado, e para ser sincero, um discurso demasiado longo mais revelador de falta de ideias claras, definidas e fortes do que de profundidade de pensamento. Mais de uma hora? Eu sei que o António José Seguro está contente por ser finalmente Califa em vez do Califa, mas caramba, via-se claramente que já ninguém o podia ouvir, e as ideias importantes, fortes e carismáticas transmitem-se em 20 minutos. E já agora: quem é que teve a magnífica ideia de relembrar a todos os socialistas, já para não falar dos restantes cidadãos, que ainda faltam mais de 1700 dias para se poder correr com este governo? Como grito de reunir as tropas, como fonte de energia e inspiração para o duro trabalho da oposição, era difícil fazer pior. Não há pressa, foi isso que se quis dizer? Isto já para não falar da banalidade absoluta de “as pessoas estão primeiro”, um slogan de instituição bancária, com o mesmo nível de sinceridade e imaginação destas. Foi mesmo o melhor que se lembraram, ou estava em saldo na Young & Rubicam?
E uma ultima coisa que me ficou na memória: eu sei que se calhar parecia bonito andar a exibir o apoio das velhas glórias fundadoras do PS, mas o que o gesto realmente transmite é uma tremenda insegurança, uma necessidade de atestado de qualidade para militante ver, e mais grave ainda, cola a imagem a tempos passados e a batalhas que já lá vão. Ser líder significa estar lá em cima sozinho, caso ainda não tenha percebido, pelo que mais vale ser o seu próprio homem, sem necessidade de se andar  a colar ao brilho dos outros. E, sinceramente,  já não estamos nos anos 80, embora a recuperação do antigo logotipo queira se calhar indicar umas tremendas saudades desse tempo. Já fui feliz aqui, não é?
Percebe-se portanto a estratégia de Seguro para ser primeiro-ministro: exactamente a mesma que o levou a secretário-geral. Trabalho de formiguinha paciente durante anos a fio, sem se expôr demasiado, sem entrar em grandes polémicas ou batalhas, evitar o desgaste prematuro, para depois esperar que o adversário caia de podre e aparecer como o salvador. De preferência o único. Pode ser que seja a estratégia correcta, que sei eu disto? Afinal, temos um governo com maioria absoluta que será protegido até ultimas consequências pelo Presidente da Republica, pelo menos enquanto o conseguir controlar. Mas temo bem que, como habitual, os acontecimentos se precipitem e apanhem Seguro totalmente desprevenido. Como a crise na União Europeia está prestes a entrar em velocidade Warp, creio que em breve descobriremos.
Como nota final sobre o que é realmente um grande discurso, revelador de um pensamento avançado, combativo, moderno, combativo, límpido, combativo, mobilizador, combativo, e com a crucial  – repito, crucial – desmontagem da narrativa dos partidos de direita (já referi a combatividade?),  fiquem com o Francisco Assis. Grande homem, grande pensador, grande orador. Subscrevo por inteiro, sem tirar nem pôr, tudo o que ele diz, de uma ponta à outra. É um dos melhores discursos que lhe tenho ouvido. Se alguma crítica lhe tenho a fazer, é só a necessidade de treinar e controlar aquela linguagem corporal e a velocidade do discurso. É que parece, aqui entre nós, que está sempre aflito para ir à casa de banho. E isso distrai um bocadinho.

In: Aspirina B

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

" Cuidado com o Cartão de Cidadão”

Há cerca de um mês, o meu Bilhete de Identidade caducou e passei a ser portadora do Cartão de Cidadão. No momento do levantamento deste, na Loja do Cidadão, fui confrontada com cuidados mais complexos do que os até então utilizados para o levantamento de BI (entrega ao próprio, identificação pelas impressões digitais dos indicadores direitos e esquerdos, assinatura presencialmente da recepção, ?).
Perante o avolumar de falsificações de documentos a que hoje se assiste, todos estes cuidados pareceram-me correctos.
Apercebi-me, contudo, que o cartão contém diferentes informações não visíveis (que me dizem respeito) e às quais só tenho acesso com um leitor de cartões. Aparelho que o comum dos mortais não possui. Refiro-me concretamente a todas as informações recolhidas nos documentos que este novo cartão congrega: direcção, freguesia, data de validade?
Há 3 dias tive de me deslocar a Lisboa e pernoitar num Hotel. Aí pediram-me o BI. Obviamente, apresentei o meu novo Cartão do Cidadão.
Qual não foi o meu espanto quando percebi que o jovem que me atendeu colocou o meu cartão de Cidadão num leitor de cartões e, num segundo, teve acesso a mais informações sobre mim do que eu própria!!! (foi ele mesmo que me disse que até via data de validade, que eu ainda não sei qual é!!!!!)
Meus amigos, isto faz algum sentido?
Então, têm todos os cuidados para entregar o cartão ao próprio cidadão e depois qualquer sujeito privado ou público tem acesso a esses dados? Deixam omissas informações que depois qualquer pessoa tem acesso desde que tenha um leitor? Então o leitor de cartões não está acessível exclusivamente a organismos públicos? Para que diabo é que um serviço privado, como um hotel, tem acesso à minha vida toda?
Onde está o direito à não invasão da minha privacidade?
Todos estes dados, em conjunto, permitem o acesso a outras informações da minha vida pessoal e profissional, através da internet. Ex: a página pessoal  de qualquer funcionário público.
Que raio de prevenção contra a falsificação de documentos é esta?
Será que ninguém percebeu ainda que, assim, a cópia da identidade de alguém se torna simples e eficaz? Basta roubar um simples documento.
O complicador é só ter um chip? Mas alguém acredita nisso?
Cá por mim, nunca mais apresento o cartão de Cidadão em lado nenhum.
A carta de condução (que também é um documento identificativo) vai passar a servir muito bem.  

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Ágora agora

A democracia ateniense compreendia um universo sociológico estimado em 400 mil habitantes, dos quais se calcula que só à volta de 40 mil, mais 10 ou menos 10 mil, tivessem poder político – isto é, fossem considerados cidadãos. Para tal, teriam de ser homens atenienses; o que excluía as mulheres, os estrangeiros e seus filhos, e os escravos. Será o equivalente, comparando o incomparável, ao número de eleitores da freguesia de Benfica em Lisboa.
Para além do baixo número de cidadãos, também a cultura era muito mais simples e uniformizada do que a das democracias modernas, com o seu aumento incomensurável de informação e de paradigmas intelectuais e morais. Finalmente, os problemas de gestão nesta escala populacional, nesta tipologia étnica e nesta economia pré-industrial são completamente distintos, porque muito menos complexos, do que aqueles que enfrentamos na contemporaneidade.
Por estas razões, uma das características mais radicais da democracia grega podia funcionar com plena eficácia: o sorteio como método de escolha de alguns governantes. O risco de assimetrias graves no desempenho era baixíssimo, dados os mínimos denominadores comuns quanto aos conhecimentos e aos valores. Em resultado, o conceito de democracia realizava-se de uma forma que para nós se tornou impossível. Na nossa época, dependemos de especialistas para a enorme maioria das funções governativas.
Todavia, atribuímos o direito de voto a todo e qualquer indivíduo que tenha nacionalidade e maioridade reconhecidas. Quer dizer que basta ter 18 anos, mesmo que nem sequer se saiba o que é um parlamento, para ter literalmente voto em matéria de escolha de governantes. Isto é absurdo. Mas não é menos absurdo do que aceitar votos de alguém que pode ter 44 anos e ser um psicopata. Ou ter 81 e estar senil. Na urna, tal como o dinheiro romano das latrinas, os votos não tem cheiro nem autoria. São a expressão abstracta do colectivo concreto, para o melhor e para o pior.
Esta caótica misturada de idades, experiências de vida, estados mentais, ignorâncias, ilusões, esperanças e sabedorias – em cujas mãos depositamos a legitimidade e o destino político da comunidade – precisa de algo mais do que retóricas partidárias e eleitorais: precisa de quem a ame. 

In: Aspirina B