quinta-feira, 27 de março de 2008

EVA

Entre a luz e o grão
o azul teto do sonho
e o barro chão,
o meu tigre adormece
e o pássaro vela.
No segredo, na sombra,
no rio, na pedra;
do meu fúlgido olho,
espectro de um pastor,
imoderada, pinga-se tão lúcida cor.
Entre as asas antigas
de um pássaro cantor,
transborda a Estrela
vestígio, silente, de um fungível abismo
tão fundo, negro, liso;
de um tronco nodoso à deriva
no azul escuro da eterna esfera.
No umbigo das bruxas, das feras,
a semente d’água,
o princípio, o indício
da sempiterna sensitiva:
fêmea nos lábios de Deus
pousada viva. Eva.
Palavra em eterna treva.

Inez Figueredo

ENSAIAS-ME PARA PRINCIPAL

Sinto-te que o fim está perto e
Nada fazes para impedir.
Ao contrário, insistes em manter-me
Co-autora de uma história que não quero escrever.
Aspiro a actriz principal quando não vou além da secundária.
O sentimento que me assaltou e
Te encetou novas sensações empurra-me
Para um palco onde sou tudo menos eu.

In Gosto e Contragosto

ENCUENTRO

Te conocí en la cima de un íntimo silencio. La flor de algún paisaje se fue abriendo en tu boca. de tu voz de celaje, brotó la paz menuda de tu alma remota. Con rara unción, los cirios del corazón prendieron en lágrimas de oro sus crisálidas rotas, y fue un nacer de raros cristales que enmudecieron la solazul presencia de una delicia ignota. La flor desnuda, el mismo perfume de tus ojos, labró en frágil paciencia esta emoción tan blanca. Al alejarte, quedó sin ilusión ni enojo, con un sabor a cielo prendido en la garganta.

Laura Gallego

EGO DOMINUS TUUS

Hic. On the grey sand beside the shallow stream Under your old wind-beaten tower, where still A lamp burns on beside the open book That Michael Robartes left, you walk in the moon, And, though you have passed the best of life, still trace, Enthralled by the unconquerable delusion, Magical shapes. Ille. By the help of an image I call to my own opposite, summon all That I have handled least, least looked upon. Hic. And I would find myself and not an image. Ille. That is our modern hope, and by its light We have lit upon the gentle, sensitive mind And lost the old nonchalance of the hand; Whether we have chosen chisel, pen or brush, We are but critics, or but half create, Timid, entangled, empty and abashed, Lacking the countenance of our friends. Hic. And yet The chief imagination of Christendom, Dante Alighieri, so utterly found himself That he has made that hollow face of his More plain to the mind's eye than any face But that of Christ. Ille. And did he find himself Or was the hunger that had made it hollow A hunger for the apple on the bough Most out of reach? and is that spectral image The man that Lapo and that Guido knew? I think he fashioned from his opposite An image that might have been a stony face Staring upon a Bedouin's horse-hair roof From doored and windowed cliff, or half upturned Among the coarse grass and the camel-dung. He set his chisel to the hardest stone. Being mocked by Guido for his lecherous life, Derided and deriding, driven out To climb that stair and eat that bitter bread, He found the unpersuadable justice, he found The most exalted lady loved by a man. Hic. Yet surely there are men who have made their art Out of no tragic war, lovers of life, Impulsive men that look for happiness And sing when t"hey have found it. Ille. No, not sing, For those that love the world serve it in action, Grow rich, popular and full of influence, And should they paint or write, still it is action: The struggle of the fly in marmalade. The rhetorician would deceive his neighbours, The sentimentalist himself; while art Is but a vision of reality. What portion in the world can the artist have Who has awakened from the common dream But dissipation and despair? Hic. And yet No one denies to Keats love of the world; Remember his deliberate happiness. Ille. His art is happy, but who knows his mind? I see a schoolboy when I think of him, With face and nose pressed to a sweet-shop window, For certainly he sank into his grave His senses and his heart unsatisfied, And made - being poor, ailing and ignorant, Shut out from all the luxury of the world, The coarse-bred son of a livery-stable keeper -- Luxuriant song. Hic. Why should you leave the lamp Burning alone beside an open book, And trace these characters upon the sands? A style is found by sedentary toil And by the imitation of great masters. Ille. Because I seek an image, not a book. Those men that in their writings are most wise, Own nothing but their blind, stupefied hearts. I call to the mysterious one who yet Shall walk the wet sands by the edge of the stream And look most like me, being indeed my double, And prove of all imaginable things The most unlike, being my anti-self, And, standing by these characters, disclose All that I seek; and whisper it as though He were afraid the birds, who cry aloud Their momentary cries before it is dawn, Would carry it away to blasphemous men.

William Butler Yeats

EARTH’S ANSWER

Earth raised up her head. From the darkness dread & drear, Her light fled: Stony dread! And her locks cover'd with grey despair. Prison'd on watery shore Starry Jealousy does keep my den Cold and hoar Weeping o'er I hear the father of the ancient men Selfish father of men Cruel jealous selfish fear Can delight Chain'd in night The virgins of youth and morning bear. Does spring hide its joy When buds and blossoms grow? Does the sower? Sow by night? Or the ploughman in darkness plough? Break this heavy chain. That does freeze my bones around Selfish! vain! Eternal bane! That free Love with bondage bound.

William Blake

E POR VEZES

E por vezes as noites duram meses E por vezes os meses oceanos E por vezes os braços que apertamos nunca mais são os mesmos E por vezes encontramos de nós em poucos meses o que a noite nos fez em muitos anos E por vezes fingimos que lembramos E por vezes lembramos que por vezes ao tomarmos o gosto aos oceanos só o sarro das noites não dos meses lá no fundo dos copos encontramos E por vezes sorrimos ou choramos E por vezes por vezes ah por vezes num segundo se envolam tantos anos.

David Mourão-Ferreira

quarta-feira, 26 de março de 2008

OUTRO SILENCIO AINDA

Es el mar mi ropaje: así desnuda como una enorme ola a ti yo llego. Mi ocasión la tormenta y los relámpagos, y es la montura de mi amor el viento. No retorno: yo voy pues son mis pasos como a la hierba la pasión del fuego. Soy la bestia de larga cabellera que lame la otra lengua que es el beso. En la forma de piedra me hallo a gusto porque es así tan duro mi silencio que no lo vencerá el dolor del mundo, ni del odio la gota de veneno. Es el mar mi ropaje: así desnuda como una enorme ola a ti yo llego. Brotaron en mis manos de agua sucia las flores venenosas de estos versos.

Delfina Acosta

OMBRO-A-OMBRO

….ora eis que embora outro dia
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava
à proa de outro veleiro
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava
que, estando triste, cantava.

(”Fado Português”, José Régio/Alain Oulman)

OCTOBER

O hushed October morning mild,
Thy leaves have ripened to the fall;
Tomorrow's wind, if it be wild,
Should waste them all.
The crows above the forest call;
Tomorrow they may form and go.
O hushed October morning mild,
Begin the hours of this day slow.
Make the day seem to us less brief.
Hearts not averse to being beguiled,
Beguile us in the way you know.
Release one leaf at break of day;
At noon release another leaf;
one from our trees, one far away.
Retard the sun with gentle mist;
Enchant the land with amethyst.
Slow, slow!
For the grapes' sake, if the were all,
Whose elaves already are burnt with frost,
Whose clustered fruit must else be lost--
For the grapes' sake along the all.

Robert Frost

O OUTRO NOME

Sabes agora o que é uma ilha: um espaço onde não cabem a solidão e o medo - espaços maiores do que a terra e que todos os astros. Como se a vida não fosse, como alguém disse e tu sabes, um risco. E como se o arame em que executas o teu número não pudesse a qualquer momento romper-se e tu entrares no vazio. E esse é o outro nome do fosso de que falavas há pouco.

Albano Martins

O INSECTO

Das tuas ancas aos teus pés quero fazer uma longa viagem. Sou mais pequeno que um insecto. Percorro estas colinas, são da cor da aveia, têm trilhos estreitos que só eu conheço, centímetros queimados, pálidas perspectivas. Há aqui um monte. Nunca dele sairei. Oh que musgo gigante! E uma cratera, uma rosa de fogo humedecido! Pelas tuas pernas desço tecendo uma espiral ou adormecendo na viagem e alcanço os teus joelhos duma dureza redonda como os ásperos cumes dum claro continente. Para teus pés resvalo para as oito aberturas dos teus dedos agudos, lentos, peninsulares, e deles para o vazio do lençol branco caio, procurando cego e faminto teu contorno de vaso escaldante!

Pablo Neruda

O BRILHO FUGAZ DAS PALAVRAS

Quem se julga dono da viagem navega no vazio — nem a todos cabe ter por amante a água, a sua têmpera lunar. Nem o silêncio carnal das raparigas. Nem o brilho fugaz das palavras.

Casimiro de Brito

NAQUELE TEMPO

Ah, amigo, naquele tempo era o mar com as praias douradas e mais acima o campo de árvores debruçadas sobre as pedras do rio ( amendoeiras rosa, alfarrobeiras velhas ) naquele tempo o jardim tinha um lago de peixes e no coreto a banda ainda tocava havia o miradouro com a serpente enrolada na branca escadaria para lá se fugia ninguém nos descobria ninguém nos castigava.

Yvette Centeno

NA PALMA DA MÃO

Não tenho vocação para a saudade é o agora que amo em cada gesto em cada cheiro em cada cor em cada choro. É o brilho das coisas e a neblina o claro e o escuro da condensada noite, e a fluidez da manhã acordada sozinha. É o mistério das coisas que contemplo olhos para o futuro que trago comigo desde que nasci.

Ângela Leite

MANHÃ

Lentamente, foi se afastando da praia. Estava amarrado, e depois, em um segundo, Oscilava livre e ia sendo recolhido pela maré vazante. Era um bote pequeno, Mas mesmo assim teria demorado até que desaparecesse. No alto mar, ao sabor das correntes que o arrastaram por dias, deve ter recolhido a chuva E deve ter secado ao sol, E a água que foi penetrando pela borda Ao meio dia deve ter deixado um rastro brilhante de sal sobre os dois bancos E nas dobras da madeira velha do fundo. Depois, talvez numa noite de chuva, Primeiro uma onda o alagou até o meio. Em seguida, balançando mais lento, foi aos poucos coberto pela água. Como não afundasse, assim ficou vagando, Até que se desfez em partes, Uma das quais é esta, que agora Está quase enterrada na areia.

Paulo Franchetti

LINDO CASAL AGORA

Siga o dollar. Anca
rosa na liga. Caldo
claro, sol, dia. Gana,
droga, a sina. Local
cor da lagoa. Sinal
anil, gado caro. Sal
lilás, dona agraço
Golo anal dás. Rica
lá largas naco. Dói
gasolina, dor. Cala
silo, lança. Dragão
ladra, cai só. Longa
cal rói: galo. Dansa
loira cona salgada

In Aspirina - B

INFINITO

E quando olho no céu arder as estrelas; digo pensando para mim: para quê tantas candeias? Que faz o ar infinito, e aquele profundo infinito sereno? Que quer dizer esta solidão imensa? E eu que sou?

Giacomo Leopardi

HERDEIROS DAS CAPELAS IMPERFEITAS

Somos de pura raça lusitana,
Herdeiros de um incerto Viriato,
De um bastardo que foi prior do Crato,
Dos que foram além da Taprobana.
Vendemos lã para comprarmos “lana”,
(“Caprina”, que é negócio mais barato.)
E já produz mais fumo o nosso mato
Do que oxigénio a nossa mata emana.
Povo de heróis, de artistas e de santos,
(Líamos assim… sábios, outros tantos…),
Em seus brandos costumes ledo e manso.
Mas ter como morada este país,
E mesmo assim viver sempre feliz,
– Oh! meus amigos, só de santo ou tanso.

In Aspirina B

HÁ GENTE ASSIM

Toda a juventude é vingativa. Deita-se, adormece, sonha alto as coisas da loucura. Um dia acorda com toda a ciência, e canta ou o mês antigo dos mitos, ou a cor que sobe pelos frutos, ou a lenta iluminação da morte como espírito nas paisagens de uma inspiração. A mulher pega nessa pedra tão jovem, e atira-a para o espaço. Sou amado. - E é uma pedra celeste. Há gente assim, tão pura. Recolhe-se com a candeia de uma pessoa. Pensa, esgota-se, nutre-se desse quente silêncio. Há gente que se apossa da loucura, e morre, e vive. Depois levanta-se com os olhos imensos e incendeia as casas, grita abertamente as giestas, aniquila o mundo com o seu silêncio apaixonado. Amam-me; multiplicam-me. Só assim eu sou eterno.

Herberto Helder

HÁ DE FLUTUAR UMA CIDADE

Há de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida pensava eu... como seriam felizes as mulheres à beira mar debruçadas para a luz caiada remendando o pano das velas espiando o mar e a longitude do amor embarcado por vezes uma gaivota pousava nas águas outras era o sol que cegava e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite os dias lentíssimos... sem ninguém e nunca me disseram o nome daquele oceano esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar se espantasse com a minha solidão (anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.) um dia houve que nunca mais avistei cidades crepusculares e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta inclino-me de novo para o pano deste século recomeço a bordar ou a dormir tanto faz sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade.

Al Berto

GESTOS DE ASSOMBRO E MARAVILHA

Demorámos um ano a aprender alguns gestos de assombro e maravilha, a voz da adolescência que desperta silenciosa, depois do degelo, e nos derrete a neve que envolvia o próprio coração, agora aqui à flor das nossas bocas. Afogado na tua presença, repito cada vez com menos estranheza uma palavra: nós. A sua vibração é um relâmpago no crespúsculo da sala e volto a encontrar a flor azul que brota dos teus olhos, sempre em busca de um sobressalto iluminado quando dizemos: "toma, este é o meu corpo, revelado por ti." Sei hoje como é perder a inocência e conservá-la ainda num recanto desta sala de espelhos onde vive a luz da tua imagem entre vozes que celebram em coro o espírito das águas, essa primeira esperança confiada por Deus às nossas vidas.

Fernando Pinto do Amaral

FROM THE FRONTIER OF WRITING

The tightness and the nilness round that space when the car stops in the road, the troops inspect its make and number and, as one bends his face towards your window, you catch sight of more on a hill beyond, eyeing with intent down cradled guns that hold you under cover and everything is pure interrogation until a rifle motions and you move with guarded unconcerned acceleration— a little emptier, a little spent as always by that quiver in the self, subjugated, yes, and obedient. So you drive on to the frontier of writing where it happens again. The guns on tripods; the sergeant with his on-off mike repeating data about you, waiting for the squawk of clearance; the marksman training down out of the sun upon you like a hawk. And suddenly you're through, arraigned yet freed, as if you'd passed from behind a waterfall on the black current of a tarmac road past armor-plated vehicles, out between the posted soldiers flowing and receding like tree shadows into the polished windscreen.

Seamus Heaney

FADOS

Nasce o dia na cidade, que me encanta Na minha velha Lisboa, de outra vida E com um nó de saudade, a garganta Escuta um fado que se entoa à despedida… E com um nó de saudade, a garganta Escuta um fado que se entoa à despedida… Foi nas tabernas de Alfama, em hora triste, Que nasceu esta canção, o seu lamento Na memória dos que vão tal como o vento, O olhar de quem se ama e não desiste… Na memória dos que vão tal como o vento, O olhar de quem se ama e não desiste Quando brilha a antiga chama ou sentimento, Oiço este mar que ressoa enquanto canta E Da Bica à Madragoa, num momento, Volta sempre esta ansiedade da partida, Nasce o dia na cidade que me encanta, Da minha velha Lisboa de outra vida… Quem vive só do passado sem motivo, Fica preso a um destino que o invade, Mas na alma deste fado, sempre vivo, Cresce um canto cristalino, sem idade. Mas na alma deste fado, sempre vivo, Cresce um canto cristalino, sem idade. É por isso que imagino, em liberdade, Uma gaivota que voa, renascida, E já nada me magoa ou desencanta Nas ruas desta cidade amanhecida. Mas com um nó de saudade na garganta Escuto um fado que se entoa à despedida! Fernando Pinto do Amaral, cantado por Carlos do Carmo no filme Fados, de Carlos Saura (Prémio Goya para a Melhor Canção Original)

ENCONTRO

A antiga namorada ressurgindo na rua você enxovalhado cabelo e barba por fazer vida de sacrifício meio se esconde e ela passa ainda jovem talvez mais bonita mais mulher bem tratada vestido caro você recorda o primeiro beijo aquela paixão eterna o baile de formatura a profissão abandonada vai levando nos olhos o tipo mignon que outros braços e beijos farão vibrar recorda poemas que lhe fez o livro de estréia tão pobre e tão longe tão dela impregnado sente-se velho acabado saudade da juventude mas foi a sua opção os filhos de outra mulher a literatura vida tão avessa assume e na volta da esquina desaparece a antiga namorada.

Fernando Py

EL SILENCIO DE LAS NOCHES

Cuando el silencio de las noches envuelve en el descanso las vidas agitadas por los trajines del día. Cuando al alba, al despertar, los primero rayos del sol nos anuncian que sigue la vida. Cuando todo está en silencio allí están esas voces, con rostros inventados, con cuerpos de fantasía, que transmiten sensaciones y nos brindan compañía. Cuando todo está en penumbras allí estan esas voces, que amigas del viento y del tiempo se esconden en los rincones de corazones solitarios que buscan esa voz amiga... esa voz... que con cuerpo imaginario cruza mares y cielos para llegar al corazón de todo el mundo y de cada pueblo.

Teresa Aburto Uribe

DOS “POEMAS DE AMOR”

Eu sei que o tempo foi e sei
que inútil será buscar no verso aquele instante
em que a licorne timorata e branca
baixava a testa luminosa e tudo
era regato e trompa na floresta.

Ivo Barroso

DAVA A ULTIMA CAMISA POR UM POEMA

Dava a última camisa por um poema. Domingo ao fim da tarde só restam cinzas. Todos. Tudo inteiramente consumido. Tudo, o quê? Segunda, sobrava alguma palavra intacta na lareira? Terça tão comprida como um ano Quarta, outra vez a esperança Não, sem poema não se pode viver! Quinta a memória entra em pânico A pouca claridade que restava anoiteceu também na Sexta as vagonetas com o meu minério perdem-se no túnel. Sábado: trabalho em vão! Domingo tudo recomeça e voltava a dar a última camisa por um poema

Jan Kostra, trad. de Ernesto Sampaio

ANTI-ÉCLOGA

A verdade é que também as urtigas me aborrecem. Esta doçura dos pássaros, a silvestre quietude da tarde atravessada pelo balido das ovelhas, grandes imitadoras de Edith Piaf, tudo isso não chega a ser tão daninho como a luz de um semáforo vermelho, mas um pouco de sangue na biqueira do sapato faz-me falta. Faz-me falta praguejar, ter um lago de cimento onde cuspir, obstáculos de fogo, fantasias, a metralha dos calinos. Não me sinto nada bem com a doçura, com a paz dos ermitérios, de onde Deus se retirou há quinze anos. Esta resignação das árvores, dos faunos, das silvanas, da restante bicharada típica dos lugares onde sofrer é natural como estar só, a conclusão é que não sei caminhar sem sapatos que me apertem. As sandálias do pescador, as botas do alpinista, não me levam a lado nenhum. Detesto confessá-lo, mas eu sou da cidade até à raiz do terror. Não consigo viver sem o saco de areia onde exercito o excessivo golpe da exasperação. Sem esse esbracejar a minha seiva coagula, torna-se pastosa, sonolenta, felizita como um rio de meandros preguiçosos, lamacentos, imprestáveis - de que me serve fingir o sossego a que não chego, brincar às Arcádias em que não acredito? Está decidido, prefiro sofrer. Amanhã de manhã regresso ao abismo.

José Manuel Silva

ALVENARIA

Sobre pedras se eleva este soneto,
em trabalhosa faina alevantado,
as linhas definidas no traçado
da perfeição do prumo e nível reto.
Dentre tantos eleito, põe-se ereto
rima por rima, embora recatado;
ao martelar do metro faz-se alado,
opondo ao som a luz deste quarteto.
Sobre andaime de verso e de ciência
necessário a erguer prova tão dura,
deixa o pedreiro, alçado, o rés-do-chão.
E sobranceiro ao mundo, àquela altura,
Vai concluir, com brava paciência,
A obra em que balança o coração.

Virgílio Maia

ABAIXO DO SILENCIO

Sobre os cotovelos a água olha o dia sobre os cotovelos. batem folhas da luz um pouco abaixo do silêncio. Quero saber o nome de quem morre: o vestido de ar ardendo, os pés e movimento no meio do meu coração. O nome: madeira que arqueja, seca desde o fundo do seu tempo vegetal coarctado. E, ao abrir-se a toalha viva, o nome: a beleza a voltar-se para trás, com seus pulmões de algodão queimando. Uma serpente de ouro abraça os quadris negros e molhados. E a água que se debruça olha a loucura com seu nome: indecifrável cego.

Herberto Helder

A VAGA

No mar a onda brilhante
susta o tempo:
é aquele instante
do longo momento
interminável e só,
quando o movimento
se faz e se contrai.
Inverte-se o líquido
o mar é o infinito

Napoleão Maia Filho

terça-feira, 25 de março de 2008

DESDIA INTEIRO

Vezeiro em ver asas no dinheiro, dele nunca me atrevi expôr-me à amizade; pronome primeiro dos que se querem enormes, queima-me o bolso – e seu cheiro me açula. Por isso, credor meu, creia-me: pra mim só inteiro é o dia, se nulo. Desforme a sina, o que amo não me ímã: e anti-Midas, me dista e detesta o que atrai. Mas traio-me na rima avessa: no que cavo cova, festa; sou um mendigo se em cima – a ter algo meu, prefiro a sesta.

Ronaldo Bressane

DEPOIS DA CHUVA

Sobre a areia molhada surgem ideogramas de pés de galinha. Olho para trás mas não vejo nem santuário nem asilo de aves. Terá passado um ganso cansado, ou talvez manco. Não saberia decifrar aquela linguagem ainda que fosse chinês. Uma simples aragem a apagará. Não é verdade que a Natureza seja muda. Fala ao deus-dará e a única esperança é que não se ocupe muito da gente.

Eugenio Montale, trad. Geraldo Holanda Cavalcanti

DA SIMPLICIDADE

Escondo-me atrás de coisas simples, para que me encontres. Se não me encontrares, encontrarás as coisas, tocarás o que minha mão já tocou, os traços juntar-se-ão de nossas mãos, uma na outra. A lua de agosto brilha na cozinha como pote estanhado (pela razão já dita), ilumina a casa vazia e o silêncio ajoelhado, este silêncio sempre ajoelhado. Cada palavra é a partida para um encontro - muita vez anulado – e só é verdadeira quando, para esse encontro, ela insiste, a palavra.

Yannis Ritsos, trad. Eugénio de Andrade

DA SEPARAÇÃO

Separar-se é ter a residência invadida. Conferir peças na sala, armário, carteira, com pouca noção exata do que foi embora. Olhar desconfiado aos objetos que viram e nada dizem. Separar-se, uma porta arrombada por dentro.

Fabrício Carpinejar

CONTOS PEQUENISSIMOS

... esta grandeza de não a ter é mais pequena que a de não desejar tê-la e se o preço de participar é grandeza não contem comigo não participo não participo nem contra grandeza nasci ar em forma de gente nasci luz em forma de gente não me compreendo e respiro-me e vejo-me textual a forma de gente faz-me agir fora do que nasci ar fora do que nasci luz e nasci ar para forma de gente e nasci luz para forma de gente nasci antes de mim antes de forma de gente era génio antes de nascer em forma de gente a forma de gente não me deixa ser o génio que nasci.

Almada Negreiros

CANÇÃO PRIMAVERIL

Anda no ar a excitação de seios súbito exibidos à torva luz de um alçapão, por onde os corpos rolarão, mordidos! Ou é um deus, ou foi a Morte que nos vestiu este torpor; e a Primavera é um chicote, abrindo as veias e o decote ao meu amor! Esqueço que os dedos têm ossos: é só de sangue esta carícia; apenas nervos os pescoços... Mas nos teus olhos, nos meus olhos, a luz da morte brilha.

David Mourão-Ferreira

segunda-feira, 24 de março de 2008

AS SURPRESAS

Não raras vezes somos impactados por surpresas desagradáveis; algumas até com tamanha força , que nos derrubam, destruindo e esfacelando nossos sonhos, alegrias e esperanças. São bombas de efeito moral, que abalam toda a nossa estrutura emocional. Não nos damos conta de que esta força negativa vai perfurando a nossa alma, poluindo a nossa mente e destruindo a nossa resistência.
Ai, então, é preciso forças para nos levantarmos dos escombros, e começarmos a juntar os pedaços que restaram, ocupando os espaços possíveis, segurando cada mão estendida, ainda estendida, e assim, vivermos outra vez, olhando para a frente, com ânsia de vitória.
Em outras ocasiões, quando tudo parece muito bem, somos tomados por um certo desencanto em relação à vida, às pessoas ao nosso redor. É uma desmotivação geral, que contamina a nossa existência. Olhamos ao redor e nada nos alegra o coração, tudo parece perder o brilho aos nossos olhos.
Mas que nunca, é preciso conhecer uma outra força; desta feita, libertadora, impulsionadora para a vida, libertadora, criando motivação dentro de cada um de nós. Pergunta-se, então: De onde virá essa força?
Muitas vezes, nos encontramos sob o impacto de perdas inesperadas e nos perguntamos: Como conviver com isso? É a perda de um emprego estável, um luto, o fim de um relacionamento significativo, uma separação conjugal; enfim, algo difícil com o qual teremos de conviver! Mais do que nunca é preciso forças para não ficarmos prostrados; para levantarmos a cabeça e convivermos com as dificuldades, aceitando o desafio para uma nova vida, que renasça dos escombros.

‘Estevam Fernandes’

ANIMAIS

Dois homens abraçaram-se ruidosamente na rua,
e o seu colóquio a sombra de ábditos deuses
transportou-me para um comércio de infâncias e de começos.
Cheguei a invejar-lhes a cruel alegria.
Dois cães brincaram na água,
e a sua herança de sangue expôs-se:
ira inclemente, rigorosa forma expondo-se.
Cheguei a invejar-lhes a ausência de conceito.
Aqui te abrigas, nesta vaga hereditária e antiga,
aqui sonhas a tua origem e o teu fim,
aqui repousas no eixo do fátuo enigma.
Nada foste. Nada és, animal cego e piedoso.

Luís Quintais

AMORES

A nudez da palavra que te despe. Que treme, esquiva. Com os olhos dela te quero ver, que te não vejo. Boca na boca através de que boca posso eu abrir-te e ver-te? É meu receio que escreve e não o gosto do sol de ver-te? Todo o espaço dou ao espelho vivo e do vazio te escuto. Silêncio de vertigem, pausa, côncavo de onde nasces, morres, brilhas, branca? És palavra ou és corpo unido em nada? É de mim que nasces ou do mundo solta? Amorosa confusão, te perco e te acho, à beira de nasceres tua boca toco e o beijo é já perder-te.

António Ramos Rosa

AMARELO CETIM

Não são nunca de cetim, amarelo cetim,
cetim de seda talvez (é possível) os lençóis
quando a casa é de lençol, televisão quadrada
a olhar para a cama, no canal enigma,
e às vezes há uma piscina geriátrica no tecto
cadeiras e mesas voltadas ao contrário
o vento em baixo a raspar o tejo
leite mal passado no frigorífico (porque
A Mulher está ausente) e retratos dos filhos
a patinar no jardim. Tem quase a tua idade.
Imagino, e já não gosto dos bonitos.
Melhor é rápido, à esquina
só com o lençol de cimento,
ou o brusco pesadelo
de mãos e pernas torcidas, que não dura, dá vantagem,
mas deixa o corpo dorido.

António Franco Alexandre

AÍ QUE SAUDADE DE AMÉLIA

Nunca vi fazer tanta exigência,
nem fazer o que você me faz.
Você não sabe o que é consciência
nem vê que eu sou um pobre rapaz...

Você só pensa em luxo e riqueza;
tudo o que você vê você quer.
Ai, ai, meu Deus que saudade da Amélia,
aquilo, sim, é que era mulher...

Às vezes passava fome ao meu lado
e achava bonito não ter o que comer.
E quando me via contrariado,
dizia: - meu filho, o que se há de fazer.

Amélia não tinha a menor vaidade,
Amélia é que era mulher de verdade.

‘Ataufo Alves e Mário Lago’

AH, TEMPOS DE LOBISOMEM

Outro dia me mandaram pela Internet um texto muito bem elaborado no qual o autor cobrava ao mundo:
- Quero minha liberdade de volta!
Era uma longa lamentação sobre esse estado de confinamento em que vivem as famílias por trás de grades de ferro, vigiadas por circuitos fechados de vídeo e sistemas de alarme paranóicos.
O certo é que vivemos em liberdade condicional.
Na verdade, a histeria coletiva acaba com a noção de liberdade que Rousseau imaginava para a civilização do seu tempo. Que liberdade é essa em que não se pode sentar em cadeiras nas calçadas, nem tampouco ninguém consegue mais dormir de janelas abertas?
Viajamos em carros blindados, levantamos ainda mais os muros das nossas casas, que já eram altos, rastreamos os passos dos nossos filhos, decoramos senhas eletrônicas somente para pagar as nossas contas, mas o pior de tudo é que no confiamos em mais ninguém.
Cuidado com homem elegante que se próxima de você nas proximidades do estacionamento. De uma hora para a outra, ele pode sacar de uma pistola e apontá-la para a sua cabeça. Quem nos garante uns contra os outros?
É preciso ser hostil com a via pública.
O telefone, a voz educada quer saber o seu endereço, CPF, suas impressões digitais, sua biografia eletrônica. Em poucos segundos o seu gentil interlocutor terá transferido todo o seu saldo bancário para o bisaco da ladroagem cibernética.
É preciso ser hostil com o telefone.
A jovem e sedutora beldade que lhe atende no balcão da loja anuncia maravilhas sobre o produto que você está prestes a levar para casa. O preço é uma piada, o prazo uma valsa. A coisa em si um prodígio da tecnologia. Se for telefone celular, entao, só falta falar. Em casa, você descobre que tudo é uma fraude.
É preciso ser hostil com a loja.
Será que não há mais espaço para ser verdadeiro em lugar nenhum deste mundo? Com quem eu posso ser gentil? Ou melhor, com quem se pode ser gente, simplesmente?
A liberdade é um zumbi, uma assombração que se esconde por trás dos muros elevados, das cercas eletrificadas e dos olhares apavorados do Big Brother que se mudou definitivamente para dentro das nossas vidas.
A liberdade morreu. Virou zumbi e hoje em dia arrasta correntes pelos corredores da noite, pois ninguém acredita mais em lobisomem.
Mas em bandido quem não acredita?

‘Luiz Augusto Crispim’

ADULTÉRIOS

A traição é um tema recorrente da obra de Woody Allen, é ponto central de filmes como “Hannah e Suas Irmãs” (1986) e “Maridos e Esposas” (1993), por exemplo.
Adultérios reúne três peças de um ato que gira em torno do mesmo tema: a descoberta da traição ou a iminência disso. As três peças recebem nomes de lugares: Riverside Drive é centrada no dialogo de um escritor nova-iorquino que vai dispensar a amante e um mendigo que o acusa de haver roubado uma idéia sua; Old Saybrook passa-se numa casa de campo, onde três casais descobrem os seus poderes; e Central Park West é mais uma trama de acerto de contas. Allen não desperdiça a sua verve em histórias divertidas, recheadas de ironia e sua visão do mundo de que a vida não tem sentido, e nem precisa ter mesmo.

(RF)

ADOLF E AS BARATAS

Reza a lenda que em meados dos anos 20, século passado, um jovem chamado Adolf insistia em aprender piano com uma velha e boa professora num bairro classe media de Viena, apesar de notória falta de talento do aluno para a música.
Além de não conseguir avançar no aprendizado, o pior é que Adolf começava a falhar no pagamento. Mesmo assim, persistente que só ele, decidiu estudar até um dia aprender. Só lhe faltava dinheiro para honrar as mensalidades.
O problema foi contornado da seguinte forma: Adolf passou a caçar baratas na periferia onde morava, guardando-as numa caixa de sapatos que levava e discretamente abria, liberando as “bichinhas”, quando chegava à residência da professora.
Foi um horror. Apavorada diante da súbita aparição de tanta barata, a pobre mulher pediu ajuda até ao exercito austríaco, mas ninguém deu cabo de livrá-la de tamanho sofrimento.
Menos de duas semanas de convívio com as baratas, ela concluiu que se não exterminasse as baratas exterminariam com o seu oficio e clientela. O alunado já começava a minguar rapidamente.
Em meio a tanto aperreio, a professora descobriu que o menos promissor de seus discípulos mostrava-se solidário e, melhor ainda, solicito, oferecendo-se a todo momento para dar um fim àquele tormento.
- Mas como, meu rapaz, se nem o serviço público de dedetização conseguiu? E, suponho que você consiga, como poderia eu recompensá-lo pelo enorme bem que você me faria? Uiz saber a professora.
- Simples, professora: eu livro a senhora das baratas e a senhora me livra das mensalidades – propôs Adolf. O acordo foi prontamente aceito pela desesperada e inocente vítima.
A pobre nem de longe sonhava estar comprando uma facilidade a quem, traiçoeiramente, lhe arranjara tremenda dificuldade. E claro que as baratas sumiram porque o rapaz esperto deixou de levá-las, simplesmente.
UMA HISTORIA PUXA OUTRA
Lembrei-me ontem do episodio protagonizado por Adolf, que alguns anos mais tarde ficaria mundialmente famoso e conhecido também como Hitler, depois de recuperar um relato que me foi enviado há dois anos.
Segundo o narrador, houve uma reunião de autoridade no qual a autoridade maior corara empenho de seus auxiliares no sentido de estancar a serie de assassinatos cometidos por bandidos que o povo chamava de “matadores da moto preta”.
Não pensem, contudo, que o chefe estava preocupado com os crimes ou as vitimas. O que estava pegando mesmo, diziam encomendadas pesquisas, era o desgaste de imagem por conta da ação continuada e desenvolta dos facínoras.
Véspera da campanha eleitoral, aquilo estava afligindo muito o homem. Foi aí que destacados membros daquele circulo se apresentou como agente da solução esperada. Se o chefe lhe desse carta branca...
Naquele momento, os super poderes requeridos no foram delegados, até para não ferir suscetibilidades dos (então) superiores hierárquicos de quem se dizia pronto e capaz de “dar um jeito” na matança.

‘Rubens Nóbrega’

ACHO QUE DEVEMOS GASTAR A VIDA

Não existe um significado ordinário para a vida,mesmo assim, arrisco uma concepção meramente poética: a vida é uma janela aberta pelo tempo, á vontade da natureza.
Para alguns, principalmente, aqueles que não compreendem o fato da existência humana ser uma dádiva, o fôlego é escasso; e, este, logo se extingue. Outros, no entanto, preservam as instruções e conseguem viver longamente sem excessos; felizes, por assim dizer. Então, o segredo da longevidade está na dosagem correta do elixir?
Acompanhamento espiritual; um pouco de divertimento e ar fresco; amar até onde der para amar; fazer sexo seguro e não inventar certas posições acrobáticas; tomar água quase sempre; comer pouco sal; usar um Lorax para ajudar a dormir; e nada de TV ou filmes que nos façam chorar. Da forma como eu estou colocando deixa a impressão de que a receita da vida está numa bula, dessas de remédio. É! Quem sabe? Acho que devemos gastar a vida. Mas bem melhor é fazer isso a conta gotas.
Dizem que a infância é a pior das fases. Quando jovens, simplesmente, passamos pela vida, igual a um carrossel de cavalinhos, e damos voltas ao redor de nós mesmos, e de repente, tornamo-nos homens. O que criamos na infância? Castelos de areia. Ou será este o segredo: a inocência da idade?
As coisas não acontecem na infância; elas terminam na infância. Nada germina ali... Mas, os sonhos não são como sementes? No máximo há um período de transição, contudo que pode também nem existir. A infância é a fase das poucas definições. A infância é quase o vazio. Isso por que na infância tudo nos conduz a uma formação. Diz-nos quem somos. E ás vezes nem queríamos ser o que nos tornamos.
A infância só nos deixa boas lembranças; até as feridas somem, com o tempo. Os nossos pais parecem que aproveitam mais a nossa infância que nós mesmos. E isso pode ser também uma resposta. Por causa disso, acredito que somos, apenas, meio e não me atrevo a essa parte.
A velhice é a mais serena das idades. É quando já enxergamos tudo. É quando estamos nos desprendendo da vida. Na velhice, aceitamos a idéia do descanso, não como um passamento, mas como um último experimento, o que nos faltava para ser completo, sabe se lá? É um grande triunfo conseguir beirar os setenta na lucidez dos anos, quando o corpo ainda nos deu sinais de decrepitação; não reclamou de inchaços; nem apontou algum riscado que nos remetesse às doenças psíquicas, pois é irremediável a idéia do esquecimento.
O velho é sábio. E, por isso, reaprende a viver. Não conserva os hábitos e prazeres de antigamente, uma vez que não são mais importantes. A velhice é uma graça! Cada ruga que sulca a pele é uma cicatriz de verdade. E dor surge de crescimento. Altivo, o espírito; combalida, a carne. Ambos formam um composto de conhecimento com honradez.
Ser velho é patrimônio. É ser um fiel depositário dos anos. Uma testemunha do que fora o próprio homem. É ser pele escamosa, flácida, pútrida. O velho é quem sabe ser a resposta a todas as perguntas. Quando vai á sepultura descontente, porquanto teve os seus dias na construção da sua própria biografia, é um tolo; um ancião apenas que morre por que assim está escrito.
Porém, se à cova desce um corpo, exaurido, por ter valorizado os seus dias; e, que, antes de se entregar à morte, fez questão de beijá-la, como que agradecendo por seu último suspiro... ali está um homem bem-aventurado, pois sabia que não havia mais o que fazer aqui. Viver é experimentar de tudo, inclusive da morte.
O que não se admite é um obituário antecipado no supérfluo. O zelo exacerbado é a ilusão do diabo. E o diabo é o que não conseguimos alcançar. Rasgo o minuto para expor um testemunho comum: a vida passa; e que bom que passa...
A barriga está mexendo no ventre da mãe. E pulsa; e pulsa; e pulsa; e, expulsa. E o coraçãozinho acelera o ritmo; frenético; alucinante. É a ansiedade. É a dor do parto. E o parto; e o parto; e o parto; e Eu parto sem vontade de ficar. E é na dor onde guardarei todas as saudades; e que só serão apartadas na hora da hora. A janela da vida fica entreaberta e ás vezes também fecha e revela o mistério do ciclo da vida.
No tumulo, uma flor de mato e uma borboleta solitária; havia um corpo, mas nem se fez questão dele. Uma alma agora vaga na espera do lugar onde as flores nunca murcham; onde os velhos serão sempre crianças e onde o tempo será apenas o tempo.

‘Misael Nóbrega de Sousa’

A VISAGEM

Em noite de sentir, de um belveder,
o deserto obscuro da paisagem,
surgiu-me, de repente, uma visagem,
no corpo escultural de uma mulher.

Sorriu e olhou-me assim, como quem
contar segredos, revelar mensagem.
Depois seguiu, do vento na vagagem,
a sina de cumprir novo mister.

A sua tez, de palidez sombria,
Parecia lembrar-me, parecia
antiga sombra de um lugar qualquer.

Foi então que atinei toda a verdade:
a visagem que vi era a saudade,
a saudade vestida de mulher.

‘Ronaldo Cunha Lima’

A VIAGEM CANINA DE UMA MULHER SEM PECADOS

Na ladeira da Rua da Republica, perto de um boteco, perambula uma prostituta jovem, habitualmente acompanhada de um cão. Ela não veste Prada. Nem o cão. Seria a nova Madalena?
Passo por ali, quando vou mandar emoldurar quadros, no caminho da Praça da Pedra. A única praça que não é do povo. É minúscula e o povo, como sempre... exagerado.
Já vi essa dona com vários cães diferentes. Geralmente são vira-latas ou misturados. Tanto faz.
Dias atrás andava com um daqueles que parece uma salsicha, aliás, prostituta não gosta de sexo. Nos últimos dias, é um cão corintiano, alvi-negro de pelagem longa.
Baixinha, loira, veste sempre camisetas com letriros no peito, como se imitasse as de Marcos Pires. Deve ter ojeriza ao conluio e não é para menos.
De uns tempos para cá, quando a vejo, já não foco o olhar nela, nem no cão, mas na banalidade à sua volta. Invariavelmente, olham-na inquietação. São anciãos caindo aos pedaços...
Todas as vezes que nos cruzamos, atento mais para a coreografia dos cães e quase nada para a prostituta. Os animais sentam, deitam, equilibram-se em duas patas, nada além. É a tradução do tempo.
A mulher fala com os cães em voz baixa, não faz gestos abruptos a um passo dos esquecidos, na mais paraibana das praças – João Pessoa.
Ora, dirão os pedigree, o vira-lata tem o ouvido melhor que o nosso, por isso não precisa gritar. Ah, é? Banho de tristeza nos olhos daquela mulher. Que lei da física, digo Freud, explica?
Não sei dizer o que mais lhe agrada no coito. Não fui lá. No fundo, é natural uma mulher dominando o “animal”, fazendo-lhe submisso. Qual?
Sonho com o dia em que todas as relações sejam como a dessa puta com os cães: cumprindo a missão de viver.

‘Kubitschek Pinheiro’

A QUEM PERGUNTAS?

A vós a quem a luz aquece, na abertura da luz, inteiramente resguardados, não é possível tocar-vos as entranhas e perguntar: Onde apanhastes isso? À beira do mar que contém as visões dos outros e os rostos a quem já não é possível molestar - a quem perguntas? Quando se abre uma cratera a fronteira renova-se, o fogo sossega. Quando te cobres de flores, quem sabe se é para adormeceres ou para acordares para os actos mais puros?

Ivan Laučik

A PEDRA

Desta casa
vai ficar a
memória
embora seja
assim a
pedra
silêncio e
manhã

Manoel Ricardo de Lima

A MAD AND FAITHFUL TELLING

Às vezes quando se fuça muito numa qualquer loja de discos, ou se procura bandas diferentes no MySpace, acabamos por encontrar uma como o Devotchka. Trata-se de um divertido grupo formado no Colorado nos EUA que mistura de tudo numa salada musical hilária e bizarra: musica romena, eslava, cigana, com muito de mariachi, folk e uma certa atitude punk.
Acaba de chegar ás lojas o novo disco da banda, ‘A Mad & Faithful Telling’, uma festa como nunca se ouviu antes.
Dá uma experimentada em:

www.myspace.com/devotchkamusic

Lá vais encontrar a ótima ‘Basso profundo’, que periga aparecer em qualquer filme de Jim Jamush.
Gostou?
Então aproveite e procure também Andrw Bird, e de preferência o primeiro álbum, ‘Thrills’, fora de catalogo, e os brasileiros Moveis Coloniais e Acaju.

(A.C)

A IRONIA DO DESTINO - II

Seja como for, o que é que ele está defendendo de armas na mão, com impávida firmeza, sozinho, sem autorização de ninguém, dentro da savana do mundo negro? A integridade da bacia atlântica, ameaçada pelo avanço do imperialismo soviético. A resistência dos portugueses coincide com a pregação do presidente americano, em favor da unidade cristã e dos povos de outras confissões amantes da liberdade do seu país.
Veja-se porém a calamidade que desaba sobre Portugal, quando ele aceita o desafio que lhe manda a União Soviética, através de incursões terroristas, na orla de uma colônia que até ontem vivia em paz com a sua metrópole.
Publicam telegramas da Suíça os jornais americanos informado que o diário “Noticias de Brasileiras” traz uma reportagem completa a propósito da crise angolesa. Ela, ao ver do importante e situado jornal da Suíça alemã, tem como origem única o governo da União Soviética. Agentes seus e de outro país da Cortina de Ferro organizaram sete sociedades com o fim especial de elaborar a lista de todas as sociedades russas que estão atuando em África, a fim de invadir e subverter as duas possessões portuguesas. Devemos dar fé ao relato suíço, porque os helveticos estão bem informados das coisas soviéticas.
Na revolução de 35, no Rio de Janeiro e no Nordeste, Getulio Vargas convocou um grupo de burgueses paulistas e cariocas a fim de antecipar a noticia da revolução que Moscou preparava contra o seu governo. Ele deu até detalhes na exposição que fez na casa de Guilherme Guinle.
Daí a dois meses estourou a revolta militar . tudo se passou como o presidente havia descrito em sua palestra sessenta dias antes.
Perguntei-lhe depois onde obtivera aqueles dados preciosos. Ele disse apenas isto: “Na Suíça”.
Com nenhum aliado se encontra Portugal. Os poucos tímidos, das primeiras horas abandonaram-no e hoje é uma serena homogeneidade com a União Soviética, para que Lisboa faça em Angola aquilo que a Rússia planejou e está exibindo pela violência armada.
Esta é uma das amargas ilusões do nosso tempo. Encontra Portugal, no caminho da sua evolução política, reunidos para tomar-lhe a pérola das suas colônias, os tártaros do Oriente e dos democratas do asfalto de Londres e Nova Iorque.
Isso faz lembrar o episodio da batalha, que travou o condestável de Bourbon na Itália, na qual seu filho, para abrir-lhe caminho no meio da tropa inimiga, gritava de espada na mão: “Guarde-se à direita, senhor meu pai; guarde-se à esquerda”.
Portugal encontra-se em um momento em que os seus amigos se acham confundidos com os soviéticos no mesmo manto de púrpura, que anuncia o inimigo comum.

Assis Chateaubriand – artigo publicado em 28 de Junho de 1961

A DITADURA DO NÃO…

A maioria das pessoas cresce e constrói a sua identidade a partir do que não pode fazer. A quantidade de “não” que escuta desde a infância é tão grande que chega a ser paralisante. Assim, o cérebro, que deveria ser palco de manifestações criativas e inovadoras, vai criando limitações para que a pessoa possa sentir-se aceite no meio em que vivemos.
Vivemos numa sociedade extremamente crítica, que não tolera erros, e isso nos torna excessivamente; auto-críticos. Cerca de 95% das pessoas mantém uma “conversa negativa” consigo mesma, condicionando o seu cérebro a pensar mais no que não quer do que no que deseja.
É sabido que os principais referenciais de uma pessoa são instituídos durante a infância, ate aos 7 anos de idade, nessa fase, chamada de “absorção”, reagimos aos estímulos externos como uma esponja, simplesmente absorvendo-os. Essa é a fase em que aprendemos mais e perpetuamos tais conhecimentos em nossa personalidade.
Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos revelou que crianças, até aos 8 anos de idade, recebem cerca de cem mil “nãos”. Pode parecer um número absurdo, mas é rel. o estudo também revelou que as crianças pesquisadas recebiam, em média, um elogio para cada nove repreensões. Além disso, os pesquisadores descobriram que, para anular os efeitos negativos de uma repreensão, são necessários, pelo menos, sete elogios.
Há uma equação a respeito da influencia do “não” na vida das pessoas e vou apresentá-la a você:
A quantidade de “nãos” a que as pessoas foram submetidas, somada ao modo como elas os assimilam e ao tipo de sensibilidade de cada uma, responde pela quantidade de auto-estima que elas têm hoje.
Atualmente, as pessoas deixaram de pensar naquilo que desejam, mas são capazes de relacionar tudo o que “não” querem para a sua vida. O problema é que a palavra “não” provoca uma reação paradoxal no cérebro, pois não possui representação lingüística. Ao ler ou escutar a palavra “quadrado”, por exemplo, você forma imediatamente uma imagem mental da figura geométrica em questão. E se eu lhe disser: “Não pense em um quadrado” seu cérebro desprezara o “não” e continuará pensando em um quadrado, registrando só o que veio depois do “não”, ou seja: “pense em quadrado”! Por isso é tão importante fazer afirmações positivas.
Outro dia, em um dos meus cursos, um pai de família me disse que está cansado de pedir ao seu filho que não brigue com a irmã, mas ele continua brigando. Expliquei a esse pai que o filho, ao escutar “não brigue com sua irmã”, despreza o “não” e assume só o que vem depois: “brigue com sua irmã”. Sugeri-lhe que passasse a pedir ao filho para ser gentil com a irmã, pois assim ele visualizaria a correta o seu cérebro, pouco a pouco, o ajudaria a transformar essa imagem em realidade.
Esse o paradoxo do não: as pessoas sempre pensam naquilo que são solicitadas a não pensar.
Nosso cérebro está programado para atender às nossas vontades, mas se pensamos apenas no que não queremos, dificilmente alcançaremos o sucesso. Para ver o mundo de uma outra forma é preciso pensar positivo e estabelecer relações com pessoas prósperas e de bem com a vida. Além disso, é fundamental estipular metas positivas. As metas nos estimulam a seguir adiante, mas como ninguém gosta de ir em direção a coisas negativas, se as metas no forem positivas não teremos motivo para tentar alcançar. É preciso identificar o que nos faz bem e felizes, pois ninguém pode obter satisfação daquilo que você não quer.

‘Lair Ribeiro’

A DIGNIDADE, A ÉTICA E O POLÍTICO

A renuncia do governador de Nova York, destaque do noticiário nos últimos dias, demonstra que, num país sério, isso é o mínimo que faz o político quando é “apanhado com a boca na botija”. Descoberto como cliente de uma prostituta e tendo-a pago com o seu próprio dinheiro – não o do erário nem o de empreitadas – Eliot Spitzer, em nome da dignidade do cargo publico, viu-se na obrigação de sair de cena e pedir desculpas à população por ter traído a confiança. Na Alemanha, a modelo e empresária que apareceu com os seios “quase á mostra” em fotografias da sua grife, desistiu da candidatura a um governo estadual. Políticos orientais denunciados, além de renunciar, cometem suicídio para escapar à desonra.
Quanto mais desenvolvido e organizado o país, mais respeitado é o exercício do mandato popular. A ele só têm acesso e permanecem homens e mulheres comprovadamente capazes, probos e portadores de dignidade, carisma e liderança que os tornam guardiões do interesse público. Como tal, são figuras que não podem “errar” ou deixar dúvidas, principalmente no aspecto comportamental. Seu erro reflete-se diretamente na parcela de confiabilidade do poder que exercita e o torna moralmente inaceitável à sociedade que o elegeu.
Colocado como uma das principais economias do Mundo e postulante a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, o Brasil não pode ficar á margem de valores e procedimentos éticos que suas nações parceiras cultuam naturalmente e as fazem respeitadas até pelos adversários. Os episódios acima são significativos e devem ser observados e imitados por todas as nações que ainda não chegaram ao estagio avançado de comportamento dos seus agentes públicos.
Toda a vez que aqui eclodir um escândalo, deve tornar-se praxe que o envolvido, culpado ou não, se afaste do seu posto para evitar danos à instituição e diminuir a possibilidade de, com o seu prestigio, prejudicar as apurações e relegar o interesse público. Poderá encontrar-se um meio de, até, permitir a volta dos que restem comprovados inocentes. Esse procedimento evitará a repetição de episódios como os do mensalão, dos sanguessugas e outros que têm emporcalhado a imagem da classe política nacional e, o pior, atinge indistintamente a reputação dos bons e dos maus.
Vivemos no Brasil e na América Latina pós-ditaduras, a falsa idéia de que democracia é o “tudo pode”. Temos de, urgentemente, reformar esse conceito errôneo, passando a cultivar a plenitude de valores como dignidade, honestidade, verdade, civilidade, patriotismo e respeito. A permissividade que se tem visto jamais levará à verdadeira democracia. Pode, no entanto, constituir a anarquia...

‘Dirceu Cardoso Gonçalves’

segunda-feira, 17 de março de 2008

SEXO MENTIRAS E CHOCOLATE

Em Novembro de 2007, foi lançado um livro da autoria conjunta de um psicólogo cognitivo, Terry Horne, e de um bioquímico, Simon Wottoon: Teach Yourself: Training Your Brain. É mais um produto da úbere indústria da auto-ajuda, e, especificamente, de uma crescente moda editorial que vende a promessa do desenvolvimento da inteligência a partir de qualquer idade. E, se por mais nada, ficamos logo a saber que os autores são inteligentes porque estão a vender um livro que agrada por igual a homens e mulheres. Às mulheres, manda comer chocolate, preto de preferência, e fica resolvida a questão. Aos homens, receita fiambre e presunto ao pequeno-almoço, sexo com fartura e mentiras à fartazana.
Contudo, os autores arriscam provocar alguns dissabores no leitor lusitano, pois alertam contra as telenovelas, os copos, os charros e aquela malta que está sempre a queixar-se e a dizer mal de tudo e de todos, nefastos fatores ambientais que diminuem a inteligência. Ou seja, os autores quiseram deliberadamente ofender 98% da população adulta portuguesa. E nisso estiveram mal, os cabrões. Voltam a estar bem ao recomendarem sessões de mimos a bebés, leitura em voz alta e um MBA. Excelentes conselhos, qual deles o melhor, e que juntos chegam para fundar uma civilização.Do caleidoscópio de questões que surgem por associação perante estas contra-intuitivas e inusitadas recomendações para-científicas, agarro na temática religiosa. Porque muitas das recentes descobertas e hipóteses da neurologia, psicologia e dietética já faziam parte do legado milenar da experiência monástica.
Os seres humanos que envelhecem com; exercício físico regular, dieta frugal, vida social intensa e; atividades intelectuais complexas, como acontece com os monges, vivem mais tempo e com mais saúde. E, hoje, tropeçamos nesses mesmos preceitos erigidos em última novidade da ciência e da medicina. Dir-se-ia que a religião judaico-cristã, fonte da moralidade ocidental, poderia capitalizar com este retorno às origens, aproveitando para dar a conhecer os tesouros antropológicos que guarda, mas não. Porque a religião não sabe o que fazer ao sexo, e tem andado a metê-lo nos buracos errados. Se não conseguir unir a sexualidade à espiritualidade, a religião vale menos do que uma boa tablete de chocolate preto. É científico.

In: Certamente

VIDA PROFISSIONAL E VIDA PESSOAL

De que adianto ser um executivo bem sucedido ou um profissional realizado se a sua vida pessoal é um fracasso.
Sentir-se solitário no topo do seu cargo, não ter tempo para ver o filho crescer, não passear com a esposa, não ter uma atividade que dê prazer (ler um bom livro, fazer atividade física) etc, isto tudo é conseqüência da vida competitiva a que hoje estamos acostumados.
Mas, as organizações estão buscando contratar pessoas que saibam compatibilizar a sua vida profissional com a pessoal.
As pessoas devem ter os seus momentos de prazer (lazer) para poder estar bem consigo mesmas e contribuírem de maneira completa junto as organizações.
Se você não pensou nisto, comece a avaliar agora o seu nível de empregabilidade.

‘Rocha & Coelho’

TUNEIS ATRAVÉS DAS TREVAS

Flannery O’Connor (1925-64) é uma figura absolutamente singular na literatura norte-americana do século XX. Nascida em Savannah, Georgia, teve uma vida marcada pelo lúpus, doença hereditária que matou o seu pai e que haveria de a debilitar gradualmente, desde os primeiríssimos sintomas (1951) até à morte prematura, aos 39 anos. Fechada na quinta familiar, em Milledgeville, rodeada de silêncio e uma centena de pavões, Flannery viveu para a escrita e nada mais do que a escrita. E se a bibliografia é escassa — dois romances, três dezenas de contos e uns centos de cartas —, a força brutal da sua ficção coloca-a no mesmo patamar de um William Faulkner.

Depois de ter oferecido aos leitores portugueses os magníficos contos de Um Bom Homem é Difícil de Encontrar e o interessante romance de estreia (Sangue Sábio), a Cavalo de Ferro prossegue a edição da obra completa de O’Connor com o segundo livro de contos, trabalhado de forma obsessiva pela escritora até ao fim da vida e publicado postumamente.
Nas nove narrativas de; Tudo o que sobe deve convergir, o leitor das outras obras de O’Connor reconhecerá as mesmas paisagens (o Sul dos campos de algodão, das florestas a perder de vista e das fazendas incapazes de lidar com o fim da escravatura), os mesmos temas; (questões raciais ou de fé, em fundo de apocalipse moral) e os mesmos tipos humanos (seres à deriva, em busca de uma salvação impossível).
Este é um “mundo da culpa e da dor” onde toda a gente cai desamparada, sem saber o que fazer das sombras malignas que envenenam as relações entre pais e filhos, homens e mulheres, brancos racistas e negros que não conseguem libertar-se. As personagens tentam muitas vezes mudar o curso das suas existências, mas está quase sempre tudo “consumado”. Há um ímpeto fatal em volta do que as pessoas fazem e dizem, uma espécie de maldade que é como o ar que se respira. Quem busca um rasto de compaixão humana, falha. Quem pretende fugir do abismo, cai nele. Os olhos dos outros são sempre “espelhos retorcidos” que devolvem imagens medonhas, grotescas, visões infernais. E as epifanias não redimem, antes projetam quem as vive para o “centro de um mistério desconfortável”.
O que torna estes contos inesquecíveis é a escrita de O’Connor, tensa como uma corda muito esticada, quase a partir. Mesmo quando descreve as mudanças da luz, um gesto súbito ou a boca que é “como uma grande rosa que tivesse escurecido e murchado”, há uma energia que se acumula e que acaba por conduzir, quase sempre, à explosão trágica de um final que é como um uppercut em cheio nos queixos do leitor. O desfecho de Os Coxos Hão-de Entrar Primeiro, um dos mais espantosos e terríveis que alguma vez li, é um bom exemplo.
As histórias de O’Connor são túneis que perfuram as trevas da condição humana. Túneis em que entramos às cegas, sem saber se alguma vez deles sairemos.
[Texto publicado na revista Time Out Lisboa]

SEJA IRRESISTÍVEL

Saber vender a própria imagem é uma habilidade fundamental no mundo dos negócios. Hoje a competitividade é tão intensa que já não basta ser apenas bom naquilo que se faz.
Você precisa ser excelente ao vender o seu talento para as pessoas, ou elas talvez não descubram sozinhas; o seu valor.
Eis alguns princípios psicológicos que podem ser usados para tornar qualquer um irresistível:

- A lei da reciprocidade, se uma pessoa nos dá algo temos que retribuir.

- A lei da comparação. Nossos julgamentos se relacionam com experiências previas. Se estiver visando uma promoção, dê um jeito de marcar a sua entrevista logo depois de alguém que, em sua opinião, não tem a menor chance e, maximize as suas.

- A lei do neteworking. Quando quiser trocar de emprego ou arranjar um, peça a alguém influente e que faça parte da sua rede de relacionamentos para dar um telefonema a seu favor.

- A lei da escassez. Se queremos alguma coisa e sabemos que ela não está disponível, passamos a querê-la com maior intensidade (por exemplo, trabalhar em uma determinada empresa). A receita é dar uma de difícil e aumentar o seu ibope.

- A Lei da autoridade. O seu grau de irresistibilidade aumenta se você for um expert em liderança, gestão, trabalho em equipe ou qualquer outra competência além de sua especialidade técnica.

‘Rocha & Coelho’

RECRUTAMENTO ELETRONICO

Se você ainda tem duvidas de que a Internet veio para facilitar a vida das pessoas, veja o resultado de uma pesquisa consumida pelo instituto americano Ilogos Research, informando que 91% das 500 maiores empresas do mundo, listadas pela revista Fortune, fazem recrutamentos online.
Hoje, esta prática também é adotada pelas empresas de consultoria, as quais disponibilizam seus sites ou email’s para recrutar profissionais para diversas áreas.
Não perca tempo, selecione empresas onde gostaria de trabalhar e envie o seu Curriculum Vitae, procurando elaborá-lo de forma sucinta mais enumerando as suas principais competências e atribuições nos cargos e empresas onde trabalhou.
Lembre-se que a analise do Curriculum Vitae é o primeiro passo de um processo seletivo.

‘Rocha & Coelho’

PREVENÇÃO DE QUEDAS EM IDOSOS

Queda é um evento freqüente e limitante, sendo considerado um marcador de declínio na saúde dos idosos.
O risco de cair aumenta significativamente com o avançar da idade. No Brasil, cerca de 29% dos idosos caem ao menos uma vez ao ano, e 13% caem de forma recorrente. Os acidentes são a quinta causa de morte entre os idosos e as quedas respondem por dois terços das mortes acidentais.
Por que os idosos caem mais? Porque são acometidos por várias doenças ao mesmo tempo associadas ao declínio funcional que acompanham o envelhecimento, tornando uma queda leve algo potencialmente perigoso entre os idosos.
O que podemos fazer para diminuir o risco de quedas entre os idosos? Primeiro devemos identificar os idosos com maior risco de quedas. Isto pode ser feito pelo Geriatra numa simples consulta médica. Depois, devemos seguir algumas condutas. Tais como:
- Incentivar a prática de atividade física para fortalecimento muscular;
- Orientar o uso de dispositivos de auxilio à marcha, como, por exemplo, bengalas, muletas, andadores, entre outros;
- Corrigir déficit visual, procurando oftalmologista;
- Corrigir déficit auditivo, consultando otorrinolaringologista;
- Ter cautela no uso de medicamentos com ação em sistema nervoso central, como os calmantes, soníferos e antidepressivos, etc;
Por fim, modificações no ambiente do idoso, algo que pode ser feito pelo Terapeuta Ocupacional, que é um profissional habilitado para tal.
Todas essas condutas são de suma importância no intuito de evitarmos o evento que mais traz repercussões negativas na vida de um idoso, que são as quedas.

‘Glauco Herberth Maia de Almeida – Geriatra’

OUVIR AS ESTRELAS

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" e eu vos direi, no entanto, Que para ouvi-las, muita vez desperto E abro a janela, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A via Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro no céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e entender estrelas."

Olavo Bilac

ORGANIZE A SUA AGENDA

Hoje o maior problema na vida das pessoas é a falta de tempo, parece que o tempo esta diminuindo, é comum ouvirmos isto. Para na ficarmos estressados devemos organizar a nossa agenda.
Concentre-se no que é realmente importante para o trabalho. mas não confunda importância com urgência.
Há milhares de pequenas interrupções cotidianas que aparentemente exigem a sua atenção, mas acabam roubando o seu tempo. Para separar o que é importante do que pode ser deixado para trás mais tarde (ou delegado), organize uma lista de prioridades para o seu dia a dia de trabalho.
Seja objetivo e não encha a sua agenda com dezenas de compromissos, sob o risco de se sentir frustrado no fim do dia.

‘Rocha & Colelho’

ONDE ESTAO DESTA VEZ OS NEGROS CATIVOS – II

“O que nos resta será fazer uma vida miserável de nacão supersubdesenvolvida”

Voltou ontem o Sr. Thomecroft da viagem que empreendeu ao Paquistão, à Índia e ao Ceilão. A missão que levou do gabinete consistia em ouvi-los acerca da participação da cabeça do casal no Mercado Comum. Manifestaram-se esses três Estados-membros contrários à presença da sua metrópole ao lado dos seis. Alimenta o povo da Inglaterra uma particular estima pela Austrália e Nova Zelândia, que se bateram nas duas guerras com denodo ao lado do exercito metropolitano.
Estamos há quatro meses lendo aqui a repercussão que teve no Canadá e nas outras partes da Comunidade britânica o possível ingresso da Inglaterra no Mercado Comum. E debate de um vigor polemístico, o qual desperta inveja a todos nós brasileiros, que estamos como carneiros nas mãos dos Seis magarefes da Europa continental. No tentou idéia de ter visto maior apatia do que o Rio e São Paulo apresentaram, quando discuti no Senado a incorporação do Mercado Comum. Supus que reagiríamos pelo menos academicamente através de um movimento dos outros. Estados do hemisfério, também feridos pelo golpe da Europa ocidental.
Eu havia conhecido o Sr. Pinay em Paris. Ele esteve no Rio e lhe mostraram as palavras que eu havia dito no Congresso. Como tinha e tenho admiração pelo seu enorme talento parlamentar e administrativo, quis oferecer-lhe um almoço e para este convidei amigos capazes de discutir a posição do Brasil diante do Mercado Comum.
Foi o almoço um debate onde a nossa posição ficou bem defendida. Aquela seria uma das poucas manifestações em face das conseqüências da medida discriminativa contra a América Latina.
Tomaram os nossos compatriotas o mecanismo aduaneiro dos Seis como águas de flor de laranja. Não se fez maior caso de um acordo que representava esta conclusão para o Brasil se quisermos insistir em vender para os países do Mercado Comum devemos dobrar-nos aos preços africanos plus 14,6% a mais nas despesas de entrada nos países signatários. Da medida discriminatória.
Aqui chegamos ao ponto crítico da imposição à produção tropical brsileira.
Pergunta-se: encontram-se os artigos exportáveis nacionais em condições de competir com os similares africanos em qualquer mercado do mundo? Basta tomar café robusta que os asiáticos vendem, com bela apresentação,muito bem cantado, por preços abaixo de 30 centavos. A prova da superioridade das cotações do continente negro temo-la no êxito da ofensiva feita há dois anos em Buenos Aires para arrebentar-nos o suprimento de café que tínhamos a vida inteira do mercado argentino.
Se há seis nos quase tudo que o Brasil exportou era gravoso, imagine-se agora depois dos aumentos de salários, transportes, taxas de juros, impostos, etc.
Para que possamos enfrentar a produção da África na Europa dos Seis na Inglaterra, temos que trabalhar dentro de um regime de escravos. Será indispensável cortar sessenta ou cinqüenta por cento das despesas internas do homem brasileiro, a fim de que ele venha a suportar a competição dos seus concorrentes favorecidos pelos interesses da Europa Ocidental. Não vejo que o Brasil, com a animosidade que manifesta todo o dia contra os Estados Unidos, consiga viver sem a Europa. E, se os egípcios voltaram à Inglaterra
penitentes com o seu algodão na mão, por que o Brasil não haverá de querer vender o que ele tradicionalmente colocava em Londres, Paris, Hamburgo, Amesterdam, Antuérpia e Genova?
A nossa sorte está tirada. Para não perder consumidores da importância dos seis, o que nos resta será fazer uma vida miserável de naco superdesenvolvida. Desta vez os negros cativos não estão mais em Angola nem em Moçambique, mas do lado do Oceano Atlântico, que banha grande parte do continente de Colombo. Acabou-se a vida de servidão dos negros de África. Daqui por diante os negros cativos, condenados ao eito, somos nós.
A calamidade que vem de abater-se em cima do Brasil, chega numa hora dessas: o cacau a 19 centavos e o café que nas vésperas da depressão de 29, valia 27 centavos, hoje vale 35. não é possível dizer mais nada do holocausto nacional.
Tudo que é produto agrário é cotado de maneira vil, enquanto as classes liberais e o proletariado brasileiro pedem cada vez mais aumentos de ordenados e salários.

‘Assis Chateaubriand – artigo publicado em 27 de Julho de 1961’

O TEU CABELO

Mesmo quando adormeces tão cansada
O teu cabelo não repousa mas continua
Instala durante as horas da madrugada
Uma montanha no alcatrão da tua rua
Há nele toda a força dum compêndio
Transporta várias lições de geografia
Umas vezes tem o fogo dum incêndio
Noutras há nele a chuva e a neve fria
Tudo depende do estado da humidade
Os ventos, as altas e as baixas pressões
Entre madeixas que existem na verdade
E o relevo criado nas minhas emoções
Aos poucos o mundo passa ao cinzento
Tempo pleno de sombras e de segredos
O teu cabelo está sempre em movimento
Na carícia tenho o clima entre os dedos


Im Blog Aspirina B

O SOL DA MEIA NOITE

Quem não gostaria de percorrer um super-recortado litoral com belas paisagens naturais e cidades encantadoras. Quem não gostaria de ver um sol especial, o da meia-noite, clareando, no verão, as madrugadas.
Muitas pessoas sonham em aportar nesse lugar, um dos mais setentrionais do Mundo. Sonham com esse país europeu com formato geográfico longo e estreito, semelhante ao do Chile. Esse lugar tão longe é a Noruega.
O traçado geográfico da Noruega é impar, com o seu labirinto de fiordes, partindo do porto de Bergen, ao sul do país, até ás ultimas cidades do extremo norte. Por isso, o espírito de navegante é ínsito do povo norueguês, entendedores de ventos e mares, desde o fim do século 8 d.c.. Daí porque a forma mais adequada de conhecê-la é navegando por suas baias e estreitos, formados por antigos glaciares.
Dentre as cidades a serem visitadas, destacam-se Bergen e Trondheim. Aquela por seu Píer de Bryggen, declarado patrimônio da humanidade, pela UNESCO, em 1979; por suas construções seculares, como castelos e igrejas; pelo Fisktorget, o famoso mercado de peixe; por suas antigas casas que datam de 1070, preservadas ao longo dos séculos. A última cidade é escala importante, por abrigar a catedral Nidaros, a maior da Noruega.
A Noruega integrava o grupo dos países pobres. Em 1970, ao ser descoberto um campo de petróleo e gás no seu litoral do Mar do Norte, passou à categoria de país rico, com excelentes condições de vida e alta evolução cultural e social.
Os 4,5 milhões de noruegueses vivem no extremo norte do planeta, espalhados num território de 325 mil quilômetros quadrados (pouco menor que o Estado do Maranhão no Brasil). Arraigados às suas tradições, os noruegueses respeitam as suas leis e o direito à tranqüilidade própria e a dos outros.
A cobrança rígida de vida austera no os torna irritadiços ou frustrados; pelo contrário, não afeta a sua maneira alegre e risonha de ser. Também pudera com aquela dádiva do sol da meia noite, a iluminar as madrugadas das cidades do seu país que ficam além do circulo polar!

‘Onélia Queiroga’

O MUNDO EM PROGRESSO

No seu belo romance “Cloud Atlas” (2004), David Mitchell reconta uma parábola oriental sobre o propósito do Universo. Diz o personagem:
“Um dia o meu avô me mostrou um quadro representando um templo siamês. Não lembro o seu nome, mas dizem que desde o dia em que um discípulo de Buda fez pregações naquele local, séculos atrás, todos os chefes de bandidos, todos os tiranos e todos os monarcas daquele reino o vêm adornando com torres de mármore, arvoredos perfumados, cúpulas folheadas a ouro, murais decorativos nos tetos abobados, esmeraldas nos olhos das estatuetas. Quando o templo finalmente estiver igual à sua contrapartida na Terra da Pureza (reza a lenda) então nesse dia a humanidade terá cumprido a sua função, e o Tempo chegará ao fim”.
Para esse tipo de cosmogonia, o Universo é uma obra-em-progresso que um dia estará pronta – e deixará de existir. Os leitores de Ficção Cientifica irão recordar o conto de Arthur C. Clarke, “Os Nove Bilhões de Nomes de Deus”. Um grupo de monges do Himalaia contrata os serviços de um supercomputador (e respectiva equipe técnica) para fazer todas as combinações de letras possíveis formando todos os possíveis nomes de Deus. Dizem eles que a função da humanidade é descobrir esses nomes, e quando o fizer, seu trabalho estará encerrado. Certa noite, quando o trabalho está na reta final, faltando apenas uns minutos para ser completado, os técnicos resolvem cair fora dali, porque acham que nada vai acontecer e os monges ficarão furiosos. Quando fogem do mosteiro, um deles olha para o céu. E o conto se encerra com a frase hoje celebre:
“No alto, sem alarde, as estrelas estavam se apagando de uma em uma”.
Essas historias tão distantes entre si correspondem á nossa ânsia profunda de que o mundo faça sentido. O mundo (o Universo) é algo que foi montado, tem um desenho, tem um desígnio, tem um propósito. Estamos aqui para remontar esse quebra-cabeças cósmico. Alguém criou o Plano, estilhaçou tudo e misturou as peças. Estamos aqui para reconstituir o que foi estilhaçado e remontar o desenho primordial. Quando conseguirmos essa proeza, ironicamente, a nossa existência deixará de ter propósito, porque a grande pergunta terá sido respondida, o grande vazio terá sido preenchido.
O ser humano é doido por dar um ponto final a si mesmo. O marxismo anunciou que a historia humana se encerraria com o Comunismo. Em tempos mais recentes, um economistazinho de direita anunciou nos EUA “O Fim da Historia”, ou seja, o capitalismo atual seria o ponto final, o ponto mais alto d evolução social. Não admira que exista, do lado oposto, um exercito incansável de exploradores do desconhecido, de poetas do absurdo, de coros de descontentes, de desarrumadores das idéias, todos dizendo:
Não! Não acabou ainda! Falta muita coisa!
E, como Penélope, desmancham a ciência e a filosofia recém bordadas e começam tudo de novo, para adiar o Instante Terrível.

‘Dirceu Cardoso Gonçalves’

O MELHOR RESULTADO É O COLETIVO

As organizações hoje estão realizando semestralmente “avaliações de desempenho” dos seus colaboradores, com o intuito de redirecionar as suas performances e alcançar uma maior produtividade.
Em função disto foi observado que só as competências individuais como: foco em resultados, responsabilidade, comprometimento, etc, se não forem aliadas a um bom relacionamento interpessoal que facilite o trabalho do grupo, não atinge um resultado significativo para a organização.
Todas as melhores teorias em gestão de pessoas nos levam a concluir que a performance superior de um time só é obtida a partir de três bases de sustentação praticadas continuadamente, ou seja:

- HUMOR: Um clima alegre, aberto, participativo, torna o ambiente feliz e agradável, e assim a rotina e os desafios tendem a pesar menos.

- AMOR: Gostar do que faz, do lugar onde faz e, principalmente, com quem faz o trabalho é uma grande fonte de sinergia, pois leva as pessoas a encarar as conquistas do grupo e as dificuldades de um jeito positivo e com possíveis soluções.

- SIGNIFIADO: Quando a equipa percebe que o trabalho realizado torna a imagem do grupo forte, e, portanto, os resultados do grupo são mais poderosos do que o desempenho individual, passa a existir uma cumplicidade maior.

Hoje o centro de atenção de qualquer gestor, é unir as competências individuais as competências coletivas.

‘Rocha & Coelho’

O JOVEM NO CRIME

Grupos de especialistas têm-se debruçado em estudos comportamentais com uma única finalidade: saber por que tantos jovens ingressam no crime. O dia a dia, porém, revela que as razoes são muitas e diversas. Famílias desestruturadas, falta de oportunidades para o exercício de alguma atividade profissional, espancamentos, abusos sexuais cometidos até mesmo por familiares, e a sedução do consumismo, do “ganho fácil” com a venda de drogas e de produtos roubados ou furtados explicam parte dessa realidade social. Em muitos desses casos o recrutamento de jovens para o crime é feito dentro da própria residência onde vivem; noutros, o primeiro contato ocorre onde existem agrupamentos e a influencia, nesse caso, parte de colegas com quem tem mais afinidade.
No Brasil é de 30% o percentual de jovens que cumprem pena de prisão em presídios estaduais.isso significa que de cada dez apenados, três são jovens com idade que varia entre os 18 e os 24 anos. A situação é basicamente a mesma na Paraíba. Aqui, como no País, tem-se verificado uma ligeira tendência – para cima – dos números que apontam a presença de jovens nos Presídios pelos mais diversos crimes, sendo que a maioria dessas prisões é por assalto ou trafico de drogas. Depois dos 24 anos constata-se uma inclinação maior para crimes de elevado potencial ofensivo, como homicídio (assassinato) e latrocínio (roubo seguido de morte). Essas duas infrações são típicas da meia-idade, e são motivadas, geralmente, por: ciúmes, vingança, brigas comuns, questões de terras, trafico de drogas e de armas, assaltos a bancos e carro-forte ou questões de propriedade. Ainda, para enriquecimento fácil e demonstração de poder. Mas no quantitativo da população carcerária eles representam uma parcela pouco significativa em comparação ao numero de apenados com idade abaixo dos quarenta anos.
A preocupação com o índice de jovens na criminalidade foi manifestada, recentemente, pelo Secretário Nacional da Juventude, durante o encontro Vozes Jovens, promovido pela pasta da qual é o titular, mais a ONU (Organização para as Nações Unidas) e o Banco Mundial. A própria política nacional de juventude, que avalia a situação dos jovens no país, reconheceu que 71% das instituições que tendem a jovens infratores não o fazem de forma adequada. Muito do que está disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente no é efetivamente aplicado em favor daqueles que deveriam, por lei, ser os maiores beneficiários. E isso quem o diz não sou eu,mas a própria política nacional de juventude.
E com o objetivo de atenuar os efeitos danosos à formação psíquica do jovem infrator enquanto apenado, estamos buscando formas práticas e perfeitamente passíveis de serem aplicadas em favor deles. A Paraíba, em breve, terá um Presídio exclusivo para abrigar infratores jovens. O efeito imediato dessa iniciativa será, no entendimento do Ministério da Justiça, o de afastá-los da companhia e da influencia de presos que, pela experiência e exemplo, se tornam mais perigosos. Ocorre que a potencialidade criminosa dos jovens infratores pode ser aumentada se estimulada por criminosos mais experientes. E a habilidade, a agilidade, a coragem e a determinação desses “noviços” na “profissão” cem como uma luva nas mãos desses promotores do crime.
A construção de unidades prisionais especialmente para jovens deverá criar as condições ideais para que profissionais de diversas áreas; professores, psicólogos, assistentes sociais, médicos, enfermeiros, dentistas, advogados, etc e da própria sociedade, possam atuar de forma ostensiva e satisfatória junto aqueles que, por razoes sócio-culturais, sucumbiram à tentação, em tempo, de salvar a nossa juventude, enquanto não ocorra melhor educação para a manutenção de uma cultura que respeite valores sociais e morais em beneficio de uma exitosa cidadania.

‘Pedro Adelson’

O ESTRUPO DA MONTANHA

Estava quase findando a leitura de um velho texto de Jorge Luis Borges – “Otras inquisiciones” – quando me chega a mensagem de Márcia Costa, doutora em tênis e mais ainda em humanidades, contando a seguinte historieta, que mais parece um conto de terror:
No vale de São Felix, ao Sul do Chile , nascem dois rios alimentados por glaciares que estão aí desde o começo dos tempos. A origem desses cursos produzidos pelo degelo natural das estações quentes do ano garante a pureza das águas.
É a principal fonte de suprimento de água das populações campesinas dessa região. Recentemente, foram descobertas imensas jazidas de ouro e prata no fundo desses glaciares. Para arrancar das entranhas geladas essa riqueza toda será preciso construir dois imensos túneis, numa operação jamais vista desde que o espetáculo do Big Bang que lançou essa bolinha de gude chamada planeta Terra pela calçada da Via Láctea.
Dizem as más línguas que o projeto leva dinheiro de George Bush, o Velho. Não tenho como provar. Não importa quem está pagando: o certo é que o governo chileno já autorizou o estupro da montanha.
Caso venha a se concretizar o tal projeto, nunca a natureza será a mesma nesse lugar. Água pura nem pensar mais. Quanto ao equilíbrio do ecossistema é obvio que sofrerá as penas que todo o desvirginamento sem amor é capaz de trazer.
Mas o que tem a ver os glaciares desvirginados do Chile com a leitura das Inquisiciones de Borges?
Tudo.
Descobre o genial argentino que um imperador chinês chamado Che Huang-ti, foi não apenas o idealizador da Muralha da China, com suas sete ou oito léguas de extensão, como também o sujeito que mandou o seu exército queimar todos os livros existentes no país anteriores àquela dta. Queria que a história começasse com ele.
As duas situações me fazem lembrar a delicadeza da obra de Gabriel Mistral de um lado dessa mesma cordilheira, toda cinzelada com requintes de uma catedral iluminada e do outro a tragédia dessa montanha de cristal barbaramente assassinada pela cobiça dos homens.
O homem não tem limites. Na ternura ou na iniqüidade, na vilania assim como na genialidade, alcança os extremos que Deus e o Diabo escrevem no seu currículo.
É mesmo uma pena que nunca mais se tenha visto nenhum imperador, presidente, sequer inspetor de quarteirão construindo ou botando sentido em monumentos capazes de atravessar uma banda do Mundo.
Já os livros quase todo o dia milhares deles são queimados a céu aberto. Principalmente o Livro da Lei.

‘Luiz Augusto Crispim’

O DIA DO JULGAMENTO

Eu não vim para molestar o sentimento daqueles que perderam o caminho das lágrimas. Nem tampouco para ulcerar a dignidade sacra do pão sobre a mesa. Eu vim, amigo, para falar desta ferramenta fundamental que é a vida, destes olhos naufragados na rebelião de um pranto, da tristeza sem fim de minha mãe que toma remédio de hora em hora, do cansaço comprido de seus olhos pedindo sossego pro mundo — sobretudo, amigo, para falar do regresso imponderável de todas as manhãs da estrela magnífica que clareia como espuma nos olhos da lavadeira, daqueles que trabalham com os mortos e sabem de cor a numeração das lágrimas, dos que constroem apartamentos e dormem em camas de zinco, dos que tiram fotografias ao lado dos políticos, da poesia, sobretudo da poesia, que é mais forte que um boi na canga de seu ofício, da poesia que é mais vulgar que um beijo no prostíbulo da poesia que cancela o desespero que maltrata o sofrimento que proclama a paz da poesia que navega em nosso corpo como um grito numa mansão deserta da poesia que é mais bela que um trem na mata da poesia que é mais bela que um cantil cheio d'água da poesia sobretudo da poesia, que é como a presença de um rio entrando pela noite dos escombros, — ave muito clara, ternura, deixa-me morrer entre as estrelas.

Gabriel Nascente

MORREU O TEU PERSEGUIDOR

Contou-me João Alfredo que, Numa das grandes empresas de São Paulo, os murais amanheceram com um esquisito aviso:
“Falecimento. Morreu, ontem, quem o perseguia, atrapalhando a sua vida na empresa. Todos, sem exceção, são convidados a comparecer ao velório, das 7 ás 17 horas, no auditório. Após o expediente, ocorrerá o sepultamento. Assina o DP”.
Ninguém se dirigiu aos postos de trabalho. Nunca um anúncio da diretoria tinha sido tão respeitado. Alguns, sem bater o ponto, apressaram-se para ocupar o seu lugar na longa fila que se formou na entrada da Quadra de Esporte, aonde o defunto tinha sido levado, devido ao afluxo de curiosos. Um amigo do falecido muniu-se de uma obsoleta máquina fotográfica. Os mais comovidos improvisaram buquês de variadas flores, colhidas, ali mesmo, nos jardins da repartição.
Lamentava-se a dor da eventual viúva que, conforme o palpite, mudava a cada instante. Não havia barulho, mas, como era de esperar, ouvia-se um constante murmúrio, ora de curiosidade, ora de consternação e até de acusações. A amante de um dos injuriados ensaiou algumas lágrimas, embora somente um morto houvesse sido anunciado. Aqui e acolá, como é comum nos velórios, uma gargalhada ou a costumeira saudação “tudo bem? nunca mais te tinha visto”.
Uns expressavam certeza absoluta ser aquele culpado pelo péssimo clima de fuxicos, pelo mal-estar reinante no trabalho, em como por alguns prejuízos à produção, detectados pelos técnicos no assunto. Outros atribuíam ao morto a falta de ética profissional, na disputa por espaço, em nome da concorrência. Afinal, concorrer é democrático, dizia um, com ar de intelectual. Mas, convenhamos, sem maquiavelismo! Outro acrescentava: DE que adiantou tanta ganância? Um terceiro apontava para o cadáver – todos têm esse destino. É melhor partir sem inimizades. Discutiam também quem ganharia a vaga de chefe deixada pelo morto.
A fila avançava. Ao observarem o esquife, logo retornavam aos seus postos de trabalho, sem comentários. Isso porque, ao se debruçarem sobre o caixão, tinham visto o seu próprio rosto no reflexo de um limpo espelho. Viam, constrangidos, que todos eram o defunto. Quebrou o silencio o poeta Zeca Boêmio que, ao sair da Quadra, filosofou:
- Só a morte nos faz pensar sobre a vida.
E aqui, cabe lembrar Sartre: L’enfer c’est lês autres (o inferno é os outros). Nessa empresa, como na maioria das repartições publicas, obtêm-se promoções, cargos, ascensões, salários, sempre em nome de interesses difusos. O inferno é a mediocridade, tentando denegrir, a qualquer custo, a competência; invejar as qualidades alheias e confundir, utilizando o mecanismo de transferência e expressando incurável neurose de perseguição. Os perseguidores são os “perseguidos”, como também os perseguidos são os “perseguidores” de si próprios. Infelizmente, isso não está morrendo. Ainda gozará de extensa longevidade.

‘Damião Ramos Cavalcanti’

MELÔ DO CONGRESSO

Honestidade foi embora / E a vergonha no Congresso já não mora.

Esperança no Brasil, só piora / Porque sei que a falsidade lá vigora.

O deputado já começa aproveitando / Mete a mão vai desviando.

E não pára de roubar / E o dinheiro do hospital / Vai pra boiada / Pra amante e o novo carro / Que o Juninho vai comprar.

Moralidade foi-se embora / E a maldade no Congresso é lá que mora.

E é por isso que o nosso só se explora / Porque sei que a pilantragem lá vigora.

O deputado fala errado / Ri à toa se fingindo de inocente / E começa a enrolar / E o coitado que votou nessa pessoa / Lembra o voto, que vergonha / Quatro anos para aturar.

Seriedade foi-se embora / O picareta virou dono, e nos devora / E o povo inteiro já percebe, a ilusão / De que a política em Brasília / É enganação.

Daqui a pouco é eleição e lá vêm eles / Com sorriso, abraço e beijo / Pro meu voto conquistar / E eu mando á merda, não sou burro nem palerma.

Ninguém mais me passa a perna / Eu vou botar pra quebrar.

Renovação vamos embora / Que a limpeza do Congresso não demora.

Não sou trouxa, tô cansado / Vou à forra / Porque sei que a falsidade não vigora.

‘Lupiscínio’

LA FIESTA

A América Latina começa a pegar fogo.
Coincidência ou não, a saída do velho guerrilheiro Fidel Castro da cena política deixa a paisagem não somente deserta, mas também desequilibra o jogo ideológico que ainda se mantinha vivo, com aquele acampamento cubano armado lá fora, diante do Forte Apache comandado pelo Grande Pai Branco armado até os dentes.
Agora, começam a aparecer os efeitos colaterais da despedida de Fidel.
No vácuo da sua liderança, emerge a figura aloprada de Hugo Chávez, esgueirando-se por entre os jequitibás das selvas caribenhas para desafiar as repúblicas embananadas que mascateiam coca e gás natural; sob as vistas tolerantes da diplomacia sambista do Brasil animado pelo pagode de Lula na Comissão de Frente e a repentina milonga que se instalou na Plaza de Mayor, graças aos volteios do casal Nestor e Cristina Kirchner diante da Casa Rosada.
A bem da verdade, o ritmo é de samba do crioulo doido.
Antes fosse.
Foi no camarim de Carmem Miranda, que se maquilou á imagem de uma América exótica, cravejada de cidades encantadoras à beira-mar, com seus casinos, suas rumbeiras e seus ventiladores de teto zumbindo em dueto com as moscas impertinentes que vinham de matas povoadas de micos irreverentes, araras de penugem nacionalista e papagaios pornográficos.
Como estratégia de marketing, até que funcionou, apesar dos caminhos cruzados entre o Rio de Zé carioca e o Buenos Aires de Carlos Gardel. Bem que vendemos memoráveis carnavais em parceria com os hermanitos animados com os seus bandoneones...
O pano que começa a cair sobre a cena política da América Latina encerra o último ato de um exuberante espetáculo de degradação da vontade popular entremeada por lances de um grotesco fascismo getulista, por um nauseabundo populismo peronista e por uma feroz ditadura pinochetista do lado de lá da cordilheira.
Terá sobrado mais alguma coisa?
O sonho cubano estará condenado a morrer na praia?
Cartas para a Laponia de papai Noel ou, quem sabe, para o túmulo do Camarada Che, que prometeram, do alto das suas botas, os dois juntos e cada qual a seu modo, uma Pátria y Libertad que não se consumou.
O canto do cisne castrista serve de trilha sonora para essa melancólica fiesta que reúne Uribe, Morales, Chávez, Correa, Lula e a dupla de milngueiros Kirchner.
Um triste espetáculo!

‘Luiz Augusto Crispim’

JORNALISMO, ÉTICA E INTERESSE PÚBLICO

A expansão das sociedades de mídia, fundidas em poderosas aglomerações, revela as especificidades do Jornalismo neste inicio de século. Princípios éticos que balizavam as relações entre o moral e o interesse público são diluídos numa insensibilidade traduzida na espetacularização do real e na banalização da violência e da permissividade sexual.
Atento a estas características contemporâneas, Francisco José Karam acaba de lançar o livro “A Ética Jornalística e o Interesse Público”, pela Summus Editora, oportunidade em que reflete sobre o papel das variadas médias na construção da realidade.
“No inicio do século XXI, o crescimento das corporações do jornalismo ligadas a uma estrutura combinada de comunicação ou mídia cruzada (radio, TV, jornais, mídias digitais e similares), aliadas a outros setores produtivos, compromete ainda mais o ideal sempre perseguido de um jornalismo como forma de conhecimento ou como grande mediador imediato das discussões no espaço público”.
Abordando temáticas fundamentais acerca das relações entre o jornalismo e a sociedade, Karam privilegia o enfoque ético. “O jornalismo, como código terciário de segunda natureza, carrega valores. Um deles é o da constituição moral interna, que embute uma ética, expressa em variados casos, em deontologia profissional, especifica de cada atividade.
O autor acredita que a concentração de poder resultante dos grandes conglomerados de comunicação chega a colocar em risco a sobrevivência da profissão de jornalista.
“Diante da complexidade social, amplia-se contemporaneamente a necessidade da afirmação de projetos profissionais específicos, ancorados em uma ética/deontologia profissional, com fundamentação teórica e critica. Junto com outras atividades, o jornalismo tem potencialidades emancipadoras, como a de qualificar o sentido comum de entendimento social sobre o entorno imediato, sobre o passado que se acumula no presente”.

‘Josinaldo Malaquias’

HAJA VERMELHO EM AMESTERDAM

Noticias dão conta de que será construído um monumento em Amesterdão, no bairro da “Luz Vermelha”, em homenagem às prostitutas do mundo, tendo a Escultora Els Majoor, sido encarregada do projeto, representando uma mulher olhando para o céu, com as mãos nos quadris, em pé, diante de uma escadaria. Afirma o noticiário que a iniciativa, primeira e única no mundo, já fora aprovada pelos órgãos locais competentes, com uma só exigência: que seja todo em cor vermelha.
Nenhuma objeção quanto á homenagem, nem ao projeto, por não conhecermos os seus detalhes, embora se considere que a mais antiga das profissões não deve ser discriminada, por não merecer essa ou outra iniciativa.
Seria, no mínimo, mais uma discriminação odiosa e injustificável com uma categoria de pessoas, que aderem a essa atividade por razoes as mais diversas, inclusive, na maioria das vezes, por imposições e contingências da própria sociedade onde vivem. Sem entrar no mérito da questão, nem pretender discutir as origens e motivações da prática, universalmente aceita, o que chama a atenção no noticiário foi o local para a construção do monumento: o conhecido bairro da “Luz Vermelha”, onde mulheres em trajes sumários ficam expostas nas vitrines, que enchem numerosas ruas, em posturas sensuais, a fim de atraírem as atenções dos turistas, e, consequentemente, cooptá-los.
A grande maioria dos que são levados lá; por interesse turístico, tem a sensação de que está assistindo a um total abastardamento da profissão, como se as protagonistas fossem objetos à venda, e, para serem aceitas, devessem permanecer com o seu corpo à mostra, a titulo de atração, na disputa de clientes, numa concorrência brutal, própria do mercado, que é assaz competitivo.
Poder-se-á dizer que são costumes consagrados, naquele país, onde tudo é liberado: sexo, droga, e inúmeras outras perversões do corpo e do espírito, numa conduta diferente da nossa, e que contraria, por isso mesmo, as nossas tradições. Daí a rejeição que tais cenários inspiram, à primeira vista, para os que não estão afeitos a tamanhas aberrações.
Que fique explicito, porém, que nada a objetar quanto à homenagem, nem quanto às homenageadas, certos de que os erros e vícios resultam, infelizmente, das deformações do comportamento do homem. E nenhuma outra profissão está isenta desses abusos, que lhe inibem as suas saudáveis destinações, em proveito das velhacarias humanas.
Concordemos ou no, há muito vermelho em Amesterdão!

‘Evaldo Gonçalves’

FIDEL E RAUL: QUASE NADA MUDA

Fidel Castro no deixou o poder. Apenas renunciou a presidência de Cuba. Como grande estrategista que sempre foi está agora cuidando ele próprio da sua sucessão. Nada mais sábio. O anuncio da renuncia, comemorado pelos cubanos exilados nos EUA e com frases do governo americano se oferecendo para “ajudar o povo cubano no seu anseio por liberdade” soa festiva demais. A renúncia não significa quase nenhuma mudança.
O maior mito vivo da história política mundial sabe que está gravemente enfermo e que o pior que poderia acontecer seria a sua morte repentina sem deixar a ilha preparada. Se assim fosse, este não seria Fidel. Afinal, no foi ele que conseguiu escapar de inúmeras tentativas de assassinato da Agencia Central de Inteligência Americana? De charutos envenenados a canetas-atiradoras, o homem mais odiado dos Estados Unidos durante décadas escapou ileso a tanta ira.
Foi Fidel, um simples latino-americano, que trouxe o pavoroso monstro do comunismo para muito perto. Fez a União Soviética mandar os seus navios para Cuba com armas nucleares apontadas para os EUA depois do fiasco da invasão da Baia dos Porcos que usou os cubanos treinados pelos americanos.
A Guerra Fria, que hoje parece ficção, fez todos os países tremerem como o anuncio do fim do Mundo. Só nos últimos anos o surgimento de Osama Bin Laden foi capaz de desviar os olhos do governo americano de Fidel Castro.
Ele dedicou a sua vida à causa que acreditou desde jovem, quando aos 26 anos e formado em Direito, liderou um grupo de revolucionários contra o ditador Fulgêncio Batista. Cuba nada mais era do que o quintal dos EUA, corrupta com uma pequena população rica, muitas empresas americanas e a grande maioria pobre e miserável.
Preso, condenado e anistiado, no México conheceu Che Guevara e juntos com Raul, o seu irmão inseparável desde então, que esteve sempre ao seu lado, voltou á ilha com um grande plano de guerrilhas de supetão e que culminou com a tomada do poder em 1959, quando o general Batista fugiu num avião; recheado de familiares e aliados.
Acusado por muitos de manter um governo rígido, com execuções desnecessárias, sem liberdade e cheio de sacrifícios para o seu povo, Fidel também é admirado por outros. Instituiu um grande plano de educação, erradicou o analfabetismo, e tem na saúde um dos melhores, senão o único exemplo da América Latina.
A sua renuncia em favor do irmão, sem duvida, faz pensar. A era Fidel entra, sem duvida, no capitulo final. Algumas reformas podem até vir, e já estão, aos poucos, acontecendo, mas no haverá nenhuma mudança drástica enquanto o Comandante viver.

‘Rosa Aguiar’

FENG SHUI INTERIOR – COMO DOMAR A BAGUNÇA

A bagunça é inimiga da prosperidade. Ninguém está livre da desorganização. A bagunça forma-se sem que se perceba e nem sempre é visível. A sala prece em ordem, a cozinha também, mas basta abrir os armários para ver que estão cheios de inutilidades.
De acordo com o Feng Shui Interior – uma corrente do Feng Shui que mistura aspetos psicológicos dos moradores com conceitos da tradicional técnica chinesa de harmonização de ambientes – bagunça provoca cansaço e imobilidade, faz as pessos viverem no passado, engorda, confunde, deprime, tira o foco de coisas importantes, atrasa a vida e atrapalha relcionamentos.
Para evitar tudo isso fique atento às SETE REGRAS PARA DOMAR A BAGUNÇA.

1 – Jogue fora o jornal de anteontem.

2 – Somente coloque uma coisa nova em casa quando se livrar de uma velha.

3 – Tenha latas de lixo espalhadas nos ambientes, use-as e limpe-as diariamente.

4 – Guarde coisas semelhantes juntas; arrume roupas no armário de acordo com a cor e fique só com as que utiliza mesmo.

5 – Toda sexta-feira é dia de jogar papel fora.

6 – Todo dia 30, por exemplo, faça limpeza geral e use caixas de papelão marcadas, lixo, consertos, reciclagem, em duvida, presentes, doação. Após enchê-las, jogue tudo fora.

7 – Organize devagar, comece por gavetas e armários e depois escolha um cômodo, faça tudo no seu ritmo e observe as mudanças acontecendo na sua vida.

AGORA PASSE A DESENVOLVER AS SEGUINTES MEDIDAS:

1 – Veja uma lista de atitudes pessoais capaz de esgotar as nossas energias. Conheça cada uma dessas ações para evitar a “crise energética pessoal”
.
2 – Maus hábitos, falta de cuidado com o corpo – Descanso, boa alimentação, hábitos saudáveis, exercícios físicos e o lazer são sempre colocados em segundo plano. A rotina corrida e a competitividade fazem com que haja negligência em relação a aspetos básicos para a manutenção da saúde energética.

3 – Pensamentos obsessivos – Pensar gasta energia, e todos nós sabemos disso.
Ficar remoendo um problema cansa mais do que um dia inteiro de trabalho físico. Quem não tem domínio sobre os seus pensamentos – mal comum ao homem ocidental, torna-se escravo da mente e acaba gastando a energia que poderia ser convertida em atitudes concretas, além de alimentar ainda mais os conflitos. No basta estar atento ao volume de pensamentos, é preciso prestar atenção à sua qualidade. Pensamentos positivos, éticos e elevados podem recarregar as energias, enquanto o pessimismo consome energia e atrai mais negatividade para nossas vidas.

4 – Sentimentos tóxicos – Choques emocionais e raiva intensa também esgotam as energias, assim como ressentimentos e mágoas nutridos durante anos seguidos. No é à toa que muitas pessoas ficam estagnadas e não são prosperas. Isso acontece quando a energia que alimenta o prazer, o sucesso e a felicidade é gasta na manutenção de sentimentos negativos.
Medo e culpa também gastam energia, e ansiedade descompassa a vida. Por outro lado, os sentimentos positivos, como a amizade, o amor, a confiança, o desprendimento, a solidariedade, a auto-estima, a alegria e o bom-humor recarregam as energias e dão força para empreender os nossos projetos e superar os obstáculos.

5 – Fugir do presente – As energias são colocadas onde a atenção é focada. O homem tem a tendência de achar que no passado as coisas eram mais fáceis: “Bons tempos aqueles!”, costumam dizer. Tanto os saudosistas, que se apegam às lembranças do passado, quanto àqueles que não conseguem esquecer os traumas, colocam as suas energias no passado. Por outro lado, os sonhadores ou as pessoas que vivem esperando pelo futuro, depositando nele a sua felicidade e realização, deixam pouca ou nenhuma energia no presente. E é apenas no presente que podemos construir as nossas vidas.

6 – Falta de perdão – Perdoar significa soltar ressentimentos, mágoas e culpas. Libertar o que aconteceu e olhar para a frente. Quanto mais perdoamos, menos bagagem interior carregamos, gastando menos energia ao alimentar as feridas do passado. Mais do que uma regra religiosa, o perdão é uma atitude inteligente daquele que busca viver bem e quer os seus caminhos livres, abertos para a felicidade. Quem não sabe perdoar os outros e si mesmo, fica “energeticamente obeso”, carregando frdos passados.

7 – Mentira pessoal – Todos mentem ao longo da vida, mas para sustentar as mentiras muita energia é gasta. Somos educados para desempenhar papeis e não para sermos nós mesmos: a mocinha boazinha, o machão, a vitima, a mãe extremosa, o corajoso, o pai energético, o mártir e o intelectual. Quando somos nós mesmos, a vida flui e tudo acontece com pouquíssimo esforço.

8 – Viver a vida do outro - Ninguém vive só e, por meio dos relacionamentos interpessoais, evoluímos e nos realizamos, mas é preciso ter noção de limites e saber amadurecer também a nossa individualidade. Esse equilíbrio nos resguarda energeticamente e nos recarrega. Quem cuida da vida do outro, sofrendo os seus problemas e interferindo mais do que é recomendável, acaba não tendo energia para construir a sua própria vida. O único premio, nesse caso, é a frustração.

9 – Bagunça e projetos inacabados – A bagunça afeta muito as pessoas, causando confusão mental e emocional. Um truque legal quando a vida anda confusa é arrumar a casa, os armários, gavetas, a bolsa e os documentos, além de fazer uma faxina no que está sujo. Á medida que ordenamos e limpamos os objetos, também colocamos em ordem a nossa mente e coração. Pode não resolver o problema mas dá alivio. Não terminar as tarefas é outro “escape” de energia.
Todas as vezes que você vê, por exemplo, aquele trabalho que não concluiu, ele lhe “diz” inconscientemente: “Você não terminou! Você não me terminou!” Isto gasta uma energia tremenda.
Ou você a termina ou livre-se dela e assuma que não vai concluir o trabalho. O importante é tomar uma atitude. O desenvolvimento do autoconhecimento, da disciplina e da determinação fará com que você não invista em projetos que não serão concluídos e; que apenas consumirão o seu tempo e energia.

10 – Afastamento da natureza – A natureza, nossa maior fonte de alimento energético, também nos limpa das energias estáticas e desarmoniosas. O Homem moderno, que habita e trabalha em locais muitas vezes doentios e desequilibrados, vê-se privado dessa fonte maravilhosa de energia. A competitividade, o individualismo e o estresse das grandes cidades agravam esse quadro e favorecem o vampirismo energético, onde todos sugam e são sugados em suas energias vitais.
Divulgue essas dicas para o maior número de pessoas possível e mentalize que, quando todos colocarem essas regras em prática, o mundo será mais justo e mais belo. Vamos tentar melhorar a nossa energia pessoal. Atitudes erradas jogam a energia pessoal no lixo (...). Portanto, os efeitos positivos da aplicação do Feng Shui nos ambientes estão diretamente relacionados à contenção da perda de energia das pessoas que moram ou trabalham no local. O ambiente faz a pessoa, e vice-versa.
A perda de energia pessoal pode ser manifestada de várias formas, tais como: a falha de memória (o famoso “branco”); o cansaço físico, o sono deixa de ser reparador; a ocorrência de doenças degenerativas e psicossomáticas.
Para economizar energia – o crescimento pessoal, prosperidade e a satisfação diminuem – os talentos não se manifestam mais por falta de energia, o magnetismo pessoal desaparece, medo constante de que o outro o prejudique, aumentando a competição, o individualismo e a agressividade, falta proteção contra as energias negativas e aumenta o risco de sofrer com o “vampirismo energético”.

‘Brígida Brito’