quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Prevenção de violência

É compreensível que haja uma revolta latente na sociedade, e que esta se possa tornar violenta. Afinal, os trabalhadores, os jovens, os precários, os desempregados, os estudantes, os professores, os funcionários públicos, boa parte da classe média, toda uma imensa massa de gente que vê um futuro cada vez mais negro e sem esperança, todos eles foram traídos por gente sem escrúpulos que mentiu, enganou, e se serviu deles, da sua boa-fé, e da boa-fé do sistema democrático, para avançar as suas agendas submissas ao grande capital, aos banqueiros, ao FMI, aos grandes empresários exploradores, ao capitalismo liberal e selvagem, ao assistêncialismo degradante.
Quando se promete uma vida melhor e se trai essa promessa de maneira tão descarada, entregando as riquezas da maioria a uma minoria de poderosos de sempre, e depois se tem a suprema lata de vir clamar que nos defendem, que é para nosso bem, é natural que o ressentimento e a revolta  se acumulem e possam acabar por explodir de maneira violenta e imprevisível. É por essa razão, e para evitar vítimas e destruição de propriedade, que o governo tem de estar muito atento a eventuais ataques às sedes do PCP e do BE. Afinal, mesmo os piores oportunistas têm direito a serem protegidos da revolta do povo, por muito justa que seja.

In: Aspirina B

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Paulo Portas quer matar politicamente Passos Coelho!

1.Paulo Portas, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros do atual governo de coligação de centro-direita liderado pelo PSD, atacou violentamente Alberto João Jardim pelo seu despesismo. Ora, tal declaração de Portas mostra bem que o líder do CDS não está de alma e coração no executivo - ao primeiro sinal de que o governo possa estar em crise, Paulo Portas abandonará o barco. Sem a mínima hesitação. Quem dolosamente provoca o primeiro grande conflito (inútil!) na coligação, não terá problemas em precipitar a sua queda. Mas, pergunta-se: a atitude desleal de Paulo Portas é uma surpresa? Não, nada disso. Paulo Portas está a ser o que é e sempre foi: um autêntico e profissional cata-vento.
2.Já aqui escrevi diversas vezes no POLITICOESFERA que colocar Paulo Portas no Ministério dos Negócios Estrangeiros era um risco. Porquê? Porque é confiar ao líder do CDS/PP a pasta que é tradicionalmente mais popular entre os portugueses (e os barómetros do EXPRESSO têm revelado que a tendência se mantém) e está subtraída à tomada de decisões com mais impacto negativo na vida dos portugueses. Ora, a votação do CDS, nas últimas legislativas, já foi bastante significativa - superior à obtida em 2002, que ditou a inclusão dos centristas no governo liderado por Durão Barroso (e depois por Pedro Santana Lopes). Daqui decorre que o CDS tem um peso político muito mais forte neste governo de Passos Coelho -ora, dar mais força ao CDS permitindo que Paulo Portas seja mais popular do que Passos Coelho (líder do PSD e primeiro-ministro) é , no mínimo, suicida! É levar o CDS ao colo! Se o executivo correr mal, nas próximas eleições legislativas (ordinárias ou antecipadas), o CDS vai aparecer como um partido credível, revigorada, nada afectado pela experiência governativa! No fundo, vai capitalizar o lado positivo do governo -e entregar integralmente o podre da governação ao PSD. Passos Coelho sabe disso. Miguel Relvas - embora, por vezes, pareça - não é nenhum naif político. Como será o relacionamento , doravante, com Paulo Portas? Esta será uma questão crucial na política portuguesa nos próximos tempos.
3.A questão é, ainda, mais grave se considerarmos o seguinte: se olharmos para o executivo com muita atenção, as pastas sensíveis pertencem - todas! - ao PSD. As finanças? Pertencem ao PSD. A economia? Ao PSD. O Trabalho? Como na orgânica deste governo, o trabalho está integrado no super-ministério da Economia, está com o PSD. A saúde? Com o PSD. A Justiça? É do PSD. Ao CDS pertence - imagine-se - o Ambiente (pasta mais soft era impossível), a Segurança Social (que, tirando a questão da definição de um modelo mais de capitalização, não suscitará problemas de maior - até porque é um ministro fraco, Pedro Mota Soares) e os Negócios Estrangeiros (o habilidoso Portas). O CDS foi muito chico-esperto na escolha dos ministérios que escolheu.
4. Em suma, Passos Coelho foi, literalmente, fintado por Paulo Portas. Lembro-me que, na altura da formação do governo, a maioria dos comentadores elogiou o poder de negociação de Passos Coelho face ao CDS. Na altura, discordei. E a realidade tem confirmado o meu ponto de vista: Paulo Portas não acredita muito neste governo, muito menos neste Primeiro-ministro. Portas acha-se politicamente superior a Passos Coelho - e não aceita ser seu subalterno. O episódio com Alberto João Jardim do passado fim de semana foi apenas um primeiro sinal. Este governo de coligação tem tudo para não correr muito bem ao PSD... Paulo Portas é, neste momento, o principal adversário político de Passos Coelho.
 
Email:politicoesfera@gmail.com

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Tripas à moda do Porto?‏

Do alto dos meus 48 anos de portuense, posso assegurar que nunca esta cidade teve um Presidente da Câmara tão medíocre. As qualidades que os meus concidadãos lhe reconhecem são para mim um mistério. Sempre o vi como uma figura provinciana, poupadinho, sem obra ou visão de futuro para a cidade. Com uma mentalidade tacanha, privilegiando os seus ódios sobre os interesses do colectivo, é um personagem tão desprezível que quase nunca me apetece escrever sobre este Salazar de pacotilha. Lembro o episódio pífio do fogo de artifício que não rebentou, o virar de costas ao maior clube da cidade, passando pela completa ignorância dos movimentos culturais e artísticos que se geraram na cidade sempre à sua revelia. Agora mostra uma vez mais a menoridade da sua dimensão com o triste episódio das tripas. Incapaz de se articular com quem não segue cegamente a sua cartilha, este homúnculo, dá o dito por não dito e não apoia as tripas como candidato às 7 maravilhas gastronómicas de Portugal. Episódio insignificante e um concurso um bocado ridículo, é certo. Mas como autarca da segunda cidade do país cumprir-lhe-ia apoiar o nosso prato mais antigo e tradicional. Mesmo a contragosto, que há muitos tripeiros que não gostam de tripas. Mas, uma vez mais provando a sua menoridade e incapacidade de estabelecer pontes ou consensos, gasta dinheiros públicos para verberar contra o seu rival Menezes. Como cidadão que paga os seus impostos municipais custa-me sobremaneira que o meu dinheiro seja gasto  para alimentar egos desproporcionalmente inflados ou rivalidades provincianas.