quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Via-crúcis dos travestis


Todo ser humano é um quebra-cabeça composto por muitas peças, cujo cotidiano de milhares de pessoas que circulam pela cidade expõe suas incertezas, alegrias, dúvidas, paixões, dramas e esperanças.  Nesses pedaços custam a se encaixar quando se trata dos travestis.
            Não vou me meter em filosofias, ou melhor, em filosofadas, pois não podemos nos calar frente a este comportamento raivoso e de segregação. Ora, se fosse possível juntar os preconceitos manifestados contra negros, índios, pobres, homossexuais, garotos de programa, mendigos, gordos, anões, judeus, muçulmanos, orientais e outras minorias, mesmo assim, estaria longe, muito longe, comparar o desprezo rancoroso que a sociedade impõe aos travestis.
            Essa mentalidade tacanha, miúda e discriminatória que até então assola parte de nossa sociedade só nos mostra o quão distante estamos da real democracia. Aí está: é um menoscabo à Justiça, haja vista que a nossa Constituição impede o cerceamento, a discriminação e a violação dos direitos, independentemente de seu estilo ou opção sexual.
            Pisoteado pelo preconceito, poucos conseguem concluir os estudos elementares. Se para os mais ricos com diploma universitários não é fácil, imagine para eles. Realidade crua, sem artifícios, o máximo que conseguem é lugar de cozinheiro em botequim, varredor de salão de beleza na periferia ou atividade semelhante sem carteira assinada.
            A seu favor (sabe-se lá a que preço) ainda consegue alguns trocados fazendo programas sexuais, mostrando-se bastante feminino (através de hormônio), maquiagem para esconder a barba, uma saia mínima com bustiê, sapato alto e um rebolado acrobático que só eles sabem.
            Para ficarem “nos trinques”, muitos injetam silicone na face, nas nádegas, nas coxas, mas sem dinheiro para adquirir o de uso médio, fazem-no com silicone industrial comprado em casa de materiais de construção, injetado por pessoas despreparadas, sem qualquer cuidado de higiene. Com o tempo, as conseqüências são nefastas, dando origem à inflamações dolorosas, desfiguradas, difíceis de debelar.
            Escarafunchando os meus arquivos, li um artigo do médico Drauzio Varella, como sempre lúcido e coerente em suas afirmações, diz, entre outras considerações, que os hospitais públicos deveriam ser obrigados a criar pelo menos um posto de atendimento especializado com diagnósticos médicos mais comuns entre os travestis: complicação de hormônios femininos e silicone industrial, prevenção e tratamento de doenças sexualmente transmissíveis.
            Será que já não é hora (tarde) de se discutir esse problema absolutamente vergonhoso de anacronismo puro e nocivo?  Não, mil vezes não, podemos continuar dando as costas para essa minoria de homens, só porque eles decidiram adotar a identidade feminina, direito de qualquer um.


                                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                    (lincolnconsultoria@hotmail.com)

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

'Devem-nos_dinheiro''

José Sócrates em 2001 prometeu que não ia aumentar os impostos. E aumentou. Deve-me dinheiro. António Mexia da EDP comprou uma sinecura para Manuel Pinho em Nova Iorque. Deve-me o dinheiro da sinecura de Pinho. E dos três milhões de bónus que recebeu. E da taxa da RTP na conta da luz. Deve-me a mim e a Francisco C. que perdeu este mês um dos quatro empregos de uma loja de ferragens na Ajuda onde eu ia e que fechou. E perderam-se quatro empregos. Por causa dos bónus de Mexia. E da sinecura de Pinho. E das taxas da RTP. Aníbal Cavaco Silva e a família devem-me dinheiro. Pelas acções da SLN que tiveram um lucro pago pelo BPN de 147,5 %. Num ano. Manuel Dias Loureiro deve-me dinheiro. Porque comprou por milhões coisas que desapareceram na SLN e o BPN pagou depois. E eu pago pelo BPN agora. Logo, eu pago as compras de Dias Loureiro. E pago pelos 147,5 das acções dos Silva. Cavaco Silva deve-me muito dinheiro. Por ter acabado com a minha frota pesqueira em Peniche e Sesimbra e Lagos e Tavira e Viana do Castelo. Antes, à noite, viam-se milhares de luzes de traineiras. Agora, no escuro, eu como a Pescanova que chega de Vigo. Por isso Cavaco deve-me mais robalos do que Godinho alguma vez deu a Vara. Deve-me por ter vendido a ponte que Salazar me deixou e que eu agora pago à Mota Engil. António Guterres deve-me dinheiro porque vendeu a EDP. E agora a EDP compra cursos em Nova Iorque para Manuel Pinho. E cobra a electricidade mais cara da Europa. Porque inclui a taxa da RTP para os ordenados e bónus da RTP. E para o bónus de Mexia. A PT deve-me dinheiro. Porque não paga impostos sobre tudo o que ganha. E eu pago. Eu e a D. Isabel que vive na Cova da Moura e limpa três escritórios pelo mínimo dos ordenados. E paga Impostos sobre tudo o que ganha. E ficou sem abonos de família. E a PT não paga os impostos que deve e tenta comprar a estação de TV que diz mal do Primeiro-ministro. Rui Pedro Soares da PT deve-me o dinheiro que usou para pagar a Figo o ménage com Sócrates nas eleições. E o que gastou a comprar a TVI. Mário Lino deve-me pelos lixos e robalos de Godinho. E pelo que pagou pelos estudos de aeroportos onde não se vai voar. E de comboios em que não se vai andar. E pelas pontes que projectou e que nunca ligarão nada. Teixeira dos Santos deve-me dinheiro porque em 2008 me disse que as contas do Estado estavam sãs. E estavam doentes. Muito. E não há cura para as contas deste Estado. Os jornalistas que têm casas da Câmara devem-me o dinheiro das rendas. E os arquitectos também. E os médicos e todos aqueles que deviam pagar rendas e prestações e vivem em casas da Câmara, devem-me dinheiro. Os que construíram dez estádios de futebol devem-me o custo de dez estádios de futebol. Os que não trabalham porque não querem e recebem subsídios porque querem, devem-me dinheiro. Devem-me tanto como os que não pagam renda de casa e deviam pagar. Jornalistas, médicos, economistas, advogados e arquitectos deviam ter vergonha na cara e pagar rendas de casa. Porque o resto do país paga. E eles não pagam. E não têm vergonha de me dever dinheiro. Nem eles nem Pedro Silva Pereira que deve dinheiro à natureza pela alteração da Zona de Protecção Especial de Alcochete. Porque o Freeport foi feito à custa de robalos e matou flamingos. E agora para pagar o que devem aos flamingos e ao país vão vendendo Portugal aos chineses. Mas eles não nos dão robalos suficientes apesar de nos termos esquecido de Tien Amen e da Birmânia e do Prémio Nobel e do Google censurado. Apesar de censurarmos, também, a manifestação da Amnistia, não nos dão robalos. Ensinam-nos a pescar dando-nos dinheiro a conta gotas para ir a uma loja chinesa comprar canas de pesca e isco de plástico e tentar a sorte com tainhas. À borda do Tejo. Mas pesca-se pouca tainha porque o Tejo vem sujo. De Alcochete. Por isso devem-me dinheiro. A mim e aos 600 mil que ficaram desempregados e aos 600 mil que ainda vão ficar sem trabalho. E à D. Isabel que vai a esta hora da noite ou do dia na limpeza de mais um escritório. Normalmente limpa três. E duas vezes por semana vai ao Banco Alimentar. E se está perto vai a um refeitório das Misericórdias. À Sexta come muito. Porque Sábado e Domingo estão fechados. E quando está doente vai para o centro de saúde às 4 da manhã. E limpa menos um escritório. E nessa altura ganha menos que o ordenado mínimo. Por isso devem-nos muito dinheiro. E não adianta contratar o Cobrador do Fraque. Eles não têm vergonha nenhuma. Vai ser preciso mais para pagarem. Muito mais. Já.

Mário Crespo

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Analfabeto genial


Erra feio, àqueles (poucos) que apóiam a ação contra o deputado federal Tiririca, na tentativa de impedi-lo de assumir o mandato conquistado, sob argumento de analfabetismo funcional, previsto na Lei Eleitoral.
            A gente precisa evitar um olhar estereotipado, preconceituoso, ou com aquela noção de que político bom e competente é o político apenas alfabetizado (letrado). Afinal, votar o analfabeto pode, mas ser votado não? A lei maior, que é a Constituição, tem uma cláusula pétrea que afirma que todos nós somos iguais perante a lei.
            Agora, o representante do Ministério Público Eleitoral pretende fazer um novo teste com o Tiririca, uma vez já ter provado ser alfabetizado e preencher os requisitos exigidos pelo TRE. Como diz um amigo: “Juro por todos os Orixás que esse promotor gosta dos holofotes da mídia e deveria se ocupar com questões mais relevantes para os cidadãos”. Completo, sem acrobacias verbais: seu raciocínio, com as vênias de estilo, é indigesto ou travesso, ou as duas coisas.
            Não à toa, diriam alguns, que Tiririca seja discípulo de ensinamento irreverente do Chacrinha: “Eu vim pra confundir, não para explicar”. A ousadia dá sempre certo. Como deu. Ele obteve, livre e espontaneamente, 1.300.000 votos. Isso despolitiza qualquer discussão injusta e equivocada. Principalmente, os que gorjeiam soluções capazes de contornar os escândalos de boa parte de nossos parlamentares.
            Há algo de desdém nessa visão. É preciso agir. Não dá mais para repaginar ou colocar curativos nesse tipo de atitude dasafortunada. A meus olhos, sem efeito infringente, pode-se até discordar da votação expressiva (voto de protesto/desencanto) de Tiririca, mas devemos ser justo e aceitar o resultado das urnas, respeitar a democracia e a soberania popular.
            Não sou juiz da consciência alheia, mas só que porta deficiência de visão – e uma boa dose de mediocridade – não consegue vislumbrar o valor da manifestação das urnas. No reverso: aplicar também o teste aos milhares eleitores de Tiririca, sabendo-se que eles podem votar, não teria assim efeito prático: só apontaria mais 1.300.000 analfabetos. Isso sim é quinquilharia pura!
            O grande fascínio da ficção é justamente poder alterar e distorcer a realidade à vontade. Que não é o caso. Tiririca ao questionar: “O que é que faz um deputado federal?”. Em seguida, responde: “Na realidade, eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto”. Ora, beira o nonsense simplesmente achar que ele feriu o decoro ou a elegância de nosso Congresso. Não vejo com isso “deboche a democracia”, mas uma declaração de “Simplicidade Franciscano” de quem foi direto ao ponto...  Esse analfabeto é genial!!!

                                                              LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                       (lincolnconsultoria@hotmail.com)

sábado, 13 de novembro de 2010

Uma auto-estrada para onde...

Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa. Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê:
- É sempre assim, esta auto-estrada?
- Assim, como?
- Deserta, magnífica, sem trânsito?
- É, é sempre assim.
- Todos os dias?
- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.
- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram?
- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.
- E têm mais auto-estradas destas?
- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.
- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões?
- Porque assim não pagam portagem.
- E porque são quase todos espanhóis?
- Vêm trazer-nos comida.
- Mas vocês não têm agricultura?
- Não: a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.
- Mas para os espanhóis é?
- Pelos vistos...
Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga:
- Mas porque não investem antes no comboio?
- Investimos, mas não resultou.
- Não resultou, como?
- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.
- Mas porquê?
- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.
- E gastaram nisso uma fortuna?
- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos...
- Estás a brincar comigo!
- Não, estou a falar a sério!
- E o que fizeram a esses incompetentes?
- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.
- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo?
- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km.
Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.
- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto?
- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.
- Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa?
- Isso mesmo.
- E como entra em Lisboa?
- Por uma nova ponte que vão fazer.
- Uma ponte ferroviária?
- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa.
- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros!
- Pois é.
- E, então?
- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.
Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.
- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a auto-estrada está deserta...
- Não, não vai ter.
- Não vai? Então, vai ser uma ruína!
- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.
- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras?
- Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa!
- E vocês não despedem o Governo?
- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo...
- Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro?
- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.
- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia?
- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.
- Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter?
- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade.
Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás:
- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê?
- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa.
- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo?
- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.
- Não me pareceu nada...
- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.
- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível?
- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido.
- E tu acreditas nisso?
- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo?
- Um lago enorme! Extraordinário!
- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.
- Ena! Deve produzir energia para meio país!
- Praticamente zero.
- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber!
- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha.
- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?
- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.
- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada?
- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor.
Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente:
- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos?
- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez.
Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou:
- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!
Miguel Sousa Tavares

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Consumo contemporâneo


Uma das grandes sacadas motivacionais do consumidor contemporâneo de Shopping Center, não é apenas comprar, mas consumir comunicação, para se mostrar, para encontrar outras pessoas. Essa tese é do italiano Massimo Canevacci, professor de antropologia Cultural da Universidade La Sapienza, de Roma, que considera esse centro de compras como a “fábrica da contemporaneidade”.
            Veja bem: quem de nós já não se deparou com uma desinteressante vitrine de loja, mas que, por trás, encontramos uma lourinha, moreninha, elegante, distinta, expressiva, pronta para lhe atender toda sorridente.  Como diria Tim Maia: “numa relaxe, numa boa”. É regra costumeira: se você não é notado, você não tem nada. Você tem que ser notado!
            O logotipo de algumas empresas está baseado na espiritualização do fetiche. O desafio contemporâneo é justamente subjetivar o produto. A subjetivação, entretanto, é uma “fetichização”. O produto não é mais um produto, mais um ser.
            Um bom exemplo disto foi a Parmalat, que colocou no seio de uma modelo sua logomarca, um tipo “fetichização” mais simples, mas que ao mesmo tempo tem sedução erótica forte.
            Basta dizer, se a sinergia dos olhares for legal, e aí, meu caro leitor, meio caminho andado para o gol de placa, que pode ser uma venda consumada ou início de uma nova amizade ou algo mais íntimo... Dá prá sacar?
            Repare só. Nesse processo de comunicação-consumo rola-se de tudo. Outro dia, eu estava numa loja de artigos esportivos, quando presenciei o seguinte diálogo entre dois jovens:
            -Cara! Essa vendedora faz nossa mão gelar, nossa boca secar e o coração palpitar.
 -É isso. Vamos comprar alguma coisa, e lhe roubar um beijinho ou, quem sabe, um selinho.
Alguns outros entendidos no assunto sentenciam de que o lazer se incorporou de forma tão intensa a esse lugar, que se confunde centro de compras como centro de lazer. Sendo ainda capaz de confrontar angústias e de completar o vazio da vida social dos indivíduos.
Mais uma vez dou meu pitaco: o Shopping é, sim, um fenômeno global, uma tendência fortíssima de contemporaneidade, onde o valor do produto tem uma relação de sensibilidade significante na corporalidade das pessoas. O que leva, por sua vez, uma atração vigorosa ao consumo.
A vida é como circuito elétrico: sempre tem um lado positivo. E, neste caso, o lado positivo é o fascínio dos Shoppings Center.

                                          LINCOLN CARTAXO DE LIRA   
                                                  (lincolnconsultoria@hotmail.com)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

JOSÉ SÓCRATES É UM HOMEM DE CIRCO (quer dizer, um PALHAÇO, com perdão dos verdadeiros profissionais)

A economia vai derrotar a democracia de 1976.
José Sócrates, é um homem de circo, de espectáculo. Portugal está a ser gerido por medíocres, Guterres, Barroso, Santana Lopes e este, José Sócrates, não perceberam o essencial do problema do país.
O desemprego não é um problema, é uma consequência de alguma coisa que não está bem na economia. Já estou enjoado de medidinhas. Já nem sei o que é que isso custa, nem sequer sei se estão a ser aplicadas.
A população não vai aguentar daqui a dez anos um Estado social como aquele em que nós estamos a viver.
Este que está lá agora, o Sócrates, é um homem de espectáculo, é um homem de circo. Desde a primeira hora.
É gente de circo. E prezam o espectáculo porque querem enganar a sociedade.

Vocês, comunicação social, o que dão é esta conversa de «inflação menos 1 ponto», o «crescimento 0,1 em vez de 0,6». Se as pessoas soubessem o que é 0,1 de crescimento, que é um café por português de 3 em 3 dias... Portanto andamos a discutir um café de 3 em 3 dias... mas é sem açúcar.
Eu não sou candidato a nada, e por conseguinte não quero ser popular. Eu não quero é enganar os portugueses. Nem digo mal por prazer, nem quero ser «popularuxo» porque não dependo do aparelho político!"
Ainda há dias eu estava num supermercado, numa
fila para pagar, e estava uma rapariga de umbigo de fora com umas garrafas, e em vez de multiplicar « 6 x 3 = 18 », contava com os dedos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7... Isto não é ensino... é falta de ensino, é uma treta! É o futuro que está em causa!
Os números são fatais. Dos números ninguém se livra, mesmo que não goste. Uma economia que em cada 3 anos dos últimos 27, cresceu 1%... esta economia não resiste num país europeu.
Quem anda a viver da política para tratar da sua vida, não se pode esperar coisa nenhuma. A causa pública exige entrega e desinteresse.
Se nós já estamos ultra-endividados, faz algum sentido ir gastar este dinheiro todo em coisas que não são estritamente indispensáveis?
P'rá gente ir para o Porto ou para Badajoz mais depressa 20 minutos? Acha que sim?
A aviação está a sofrer uma reconversão, vamos agora fazer um aeroporto, se calhar não era melhor aproveitar a Portela?
Quer dizer, isto está tudo louco?"
Eu por mim estou convencido que não se faz nada para pôr a Justiça a funcionar porque a classe política tem medo de ser apanhada na rede da Justiça. É uma desconfiança que eu tenho. E então, quanto mais complicado aquilo for...
Nós tivemos nos últimos 10 / 12 anos 4 Primeiros-Ministros:
- Um desapareceu;
- O outro arranjou um melhor emprego em Bruxelas, foi-se embora;
- O outro foi mandado embora pelo Presidente da República;
-
E este coitado, anda a ver se consegue chegar ao fim"
O João Cravinho tentou resolver o problema da corrupção em Portugal. Tentou.


Foi "exilado" para Londres.
 
O Carrilho também falava um bocado, foi para Paris.
 
O Alegre depois não sei para onde ele irá...
 
Em Portugal quem fala contra a corrupção ou é mandado para um "exílio dourado", ou então é entupido e cercado.
Mas você acredita nesse «considerado bem»? Então, o meu amigo encomenda aí uma ponte que é orçamentada para 100 e depois custa 400?
 
Não há uma obra que não custe 3 ou 4 vezes mais? Não acha que isto é um saque dos dinheiros públicos?

E não vejo intervenção da polícia... Há-de acreditar que há muita gente que fica com a grande parte da diferença!
De acordo com as circunstâncias previstas, nós por volta de 2020 somos o país mais pobre da União Europeia. É claro que vamos ter o nome de Lisboa na estratégia, e vamos ter, eventualmente, o nome de Lisboa no tratado. É, mas não passa disso. É só para entreter a gente.
Isto é um circo. É uma palhaçada. Nas eleições, uns não sabem o que estão a prometer, e outros são declaradamente uns mentirosos:

- Prometem aquilo que sabem que não podem."
A educação em Portugal é um crime de «lesa-juventude»: Com a fantasia do ensino dito «inclusivo», têm lá uma data de gente que não quer estudar, que não faz nada, não fará nada, nem deixa ninguém estudar. Para que é que serve estar lá gente que não quer estudar? Claro que o pessoal que não quer estudar está lá a atrapalhar a vida aqueles que querem estudar. Mas é inclusiva...
O que é inclusiva? É para formar tontos? Analfabetos?"
"Os exames são uma vergonha.
Você acredita que num ano a média de Matemática é 10, e no
outro ano é 14? Acha que o pessoal melhorou desta maneira? Por conseguinte a única coisa que posso dizer é que é mentira, é um roubo ao ensino e aos professores! Está-se a levar a juventude para um beco sem saída. Esta juventude vai ser completamente desgraçada!
A minha opinião desde há muito tempo é: TGV - Não !
Para um país com este tamanho é uma tontice. O aeroporto depende. Eu acho que é de pensar duas vezes esse problema. Ainda mais agora com o problema do petróleo.
Bragança não pode ficar fora da rede de auto-estradas? Não?
Quer dizer, Bragança fica dentro da rede de auto-estradas e nós ficamos encalacrados no estrangeiro?
 
Eu nem comento essa afirmação que é para não ir mais longe...
Bragança com uma boa estrada fica muito bem ligada. Quem tem interesse que se façam estas obras é o Governo Português, são os partidos do poder, são os bancos, são os construtores, são os vendedores de maquinaria... Esses é que têm interesse, não é o Português!
Nós em Portugal sabemos resolver o problema dos outros: A guerra do Iraque, do Afeganistão, se o Presidente havia de ter sido o Bush, mas não sabemos resolver os nossos.
As nossas grandes personalidades em Portugal falam de tudo no estrangeiro: criticam, promovem, conferenciam, discutem, mas se lhes perguntar o que é que se devia fazer em Portugal nenhum sabe. Somos um país de papagaios...
Receber os prisioneiros de Guantanamo?
Isso fica bem e a alimentação não deve ser cara...» Saibamos olhar para os nossos problemas e resolvê-los e deixemos lá os outros... Isso é um sintoma de inferioridade que a gente tem, estar sempre a olhar para os outros.
 
Olhemos para nós!
A crise internacional é realmente um problema grave, para 1-2 anos. Quando passar lá fora, a crise passará cá. Mas quando essa crise passar cá, nós ficamos outra vez com os nossos problemas, com a nossa crise. Portanto é importante não embebedar o pessoal com a ideia de que isto é a maldita crise. Não é!
Nós estamos com um endividamento diário nos últimos 3 anos correspondente a 48 milhões de euros por dia: Por hora são 2 milhões!
Portanto, quando acabarmos este programa Portugal deve mais 2 milhões! Quem é que vai pagar?
Isso era o que deveríamos ter em grande quantidade.
Era vender sapatos. Mas nós não estamos a falar de vender sapatos. Nós estamos a falar de pedir dinheiro emprestado lá fora, pô-lo a circular,
o pessoal come e bebe, e depois ele sai logo a seguir..."
Ouça, eu não ligo importância a esses documentos aprovados na Assembleia...
Não me fale da Assembleia, isso é uma provocação... Poupe-me a esse espectáculo...."
Isto da avaliação dos professores não é começar por lado nenhum.
Eu já disse à Ministra uma vez «A senhora tem uma agenda errada"» Porque sem pôr disciplina na escola, não lhe interessa os professores. Quer grandes professores? Eu também, agora, para quê? Chegam lá os meninos fazem o que lhes dá na cabeça, insultam, batem, partem a carteira e não acontece coisa nenhuma. Vale a pena ter lá o grande professor? Ele não está para aturar aquilo...Portanto tem que haver uma agenda para a Educação. Eu sou contra a autonomia das escolas Isso é descentralizar a «bandalheira».
Há dias circulava na Internet uma notícia sobre um atleta olímpico que andou numa "nova oportunidade" uns meses, fez o 12º ano e agora vai seguir Medicina...
Quer dizer, o homem andava aí distraído, disseram «meta-se nas novas oportunidades» e agora entra em Medicina...
Bem, quando ele acabar o curso já eu não devo cá andar felizmente, mas quem vai apanhar esse atleta olímpico com este tipo de preparação...
Quer dizer, isto é tudo uma trafulhice..."
É preciso que alguém diga aos portugueses o caminho que este país está a levar.
Um país que empobrece, que se torna cada vez mais desigual, em que as desigualdades não têm fundamento, a maior parte delas são desigualdades ilegítimas para não dizer mais, numa sociedade onde uns empobrecem sem justificação e outros se tornam multi-milionários sem justificação, é um caldo de cultura que pode acabar muito mal. Eu receio mesmo que acabe.
Até há cerca de um ano eu pensava que íamos ficar irremediavelmente mais pobres, mas aqui quentinhos, pacíficos, amiguinhos, a passar a mão uns pelos outros... Começo a pensar que vamos empobrecer, mas com barulho...
Hoje, acrescento-lhe só o «muito». Digo-lhe que a gente vai empobrecer, provavelmente com muito barulho...
Eu achava que não havia «barulho», depois achava que ia haver «barulho», e agora acho que vai haver «muito barulho».
Os portugueses que interpretem o que quiserem...
Quando sobe a linha de desenvolvimento da União Europeia sobe a linha de Portugal. Por conseguinte quando os Governos dizem que estão a fazer coisas e que a economia está a responder, é mentira! Portanto, nós na conjuntura de médio prazo e curto prazo não fazemos coisa nenhuma. Os governos não fazem nada que seja útil ou que seja excessivamente útil. É só conversa e portanto, não acreditem...
No longo prazo, também não fizemos nada para o resolver e esta é que é a angústia da economia portuguesa.
"Tudo se resume a sacar dinheiro de qualquer sítio. Esta interpenetração do político com o económico, das empresas que vão buscar os políticos, dos políticos que vão buscar as empresas...Isto não é um problema de regras, é um problema das pessoas em si...Porque é que se vai buscar políticos para as empresas?
É o sistema, é a (des)educação que a gente tem para a vida política...
Um político é um político e um empresário é um empresário. Não deve haver confusões entre uma coisa e outra. Cada um no seu sítio. Esta coisa de ser político, depois ministro, depois sai, vai para ali, tira-se de acolá, volta-se para ministro... é tudo uma sujeira que não dá saúde nenhuma à sociedade.
Este país não vai de habilidades nem de espectáculos.
Este país vai de seriedade.
Enquanto tivermos ministros a verificar preços e a distribuir computadores, eles não são ministros. São propagandistas! Eles não são pagos nem escolhidos para isso! Eles têm outras competências e têm que perceber quais os grandes problemas do país!
Se aparece aqui uma pessoa para falar verdade, os vossos comentadores dizem «este tipo é chato, é pessimista»...
Se vem aqui outro trafulha a dizer umas aldrabices fica tudo satisfeito...
Vocês têm que arranjar um programa onde as pessoas venham à vontade, sem estarem a ser pressionadas, sossegadamente dizer aquilo que pensam. E os portugueses se quiserem ouvir, ouvem. E eles vão ouvir, porque no dia em que começarem a ouvir gente séria e que não diz aldrabices, param para ouvir.
 
   O Português está farto de ser enganado!


Todos os dias tem a sensação que é enganado! 

"Medina Carreira"

Os sociopatas

A PT pode distribuir os dividendos este ano para escapar aos impostos.
Entre os principais accionistas, está Ricardo Salgado, que pediu ao PS
e ao PSD que se entendessem para pedir sacrifícios aos outros. 
 
 
Lembram-se da comitiva de banqueiros à porta de Passos Coelho e
Teixeira dos Santos a pedir responsabilidade aos políticos? Lembram-se
de como foram tratados como homens de boa vontade que recordavam a
políticos desnorteados as suas obrigações para com o País? Lá estava
Ricardo Salgado, como porta-voz de todos eles.
 
Ficámos agora a saber que a PT pode vir a pagar aos seus 15 principais
accionistas os dividendos ainda antes de entrar em vigor o novo
orçamento, fugindo assim à cobrança de impostos que ele estipula.
Entre os principais accionistas está, pois é claro, o BES.
 
A responsabilidade, as obrigações para com o País, o sentido
patriótico... Tudo isso fica para os outros. O Estado pode perder 260
milhões de euros, metade do buraco que ficou para tapar depois da
negociação do governo com o PSD.
 
Que esta gente trate de si, sabendo que de uma forma ou de outra se
safa sempre de contribuir para a resolução dos problemas do País, só
espanta quem vive noutro planeta. Para quê pagar impostos se os
trouxas que trabalham por conta de outrem, os pensionistas, os
beneficiários do abono de família, os funcionários públicos, os pobres
e a classe média podem dar parte do pouco que têm?
 
O que me choca é que estes cavalheiros, que tão pouco fazem pelo País
e dele tudo exigem, continuem a ser ouvidos como oráculos da Nação.
Que tenham a última palavra sobre um orçamento para o qual não
contribuem. Que insistam em falar de responsabilidade. Na verdade,
tratam-se de sociopatas, incapazes de qualquer gesto de solidariedade
e de dever perante a comunidade em que vivem, apenas movidos por uma
ganância sem qualquer limite. Põem e dispõem ministros, pressionam o
poder político sem se darem ao trabalho de serem discretos, mas não
hesitam em saltar do barco quando todos são chamados a dar a sua
parte. Espertos são eles. Idiotas somos nós.
 
Por isso, quando vierem com a conversa da irresponsabilidade da
próxima greve geral, espero que ninguém lhes dê ouvidos. Já cansa
tanta hipocrisia.
 
Daniel Oliveira (www.expresso.pt)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A MAMÃ ... do nosso PRIMEIRO MINISTRO

Uma lição a aprender!!!!
A mamã Adelaide e a misteriosa pensão superior a 3000 euros
Divorciada nos anos 60 de Fernando Pinto de Sousa, "viveu modestamente em Cascais como empregada doméstica, tricotando botinhas e cachecóis...".(24 H)

Admitamos que, na sequência do divórcio ficou com o chalet (r/c e 1º andar).
Admitamos ainda, que em 1998, altura em que comprou o apartamento na Rua Braamcamp, o fez com o produto da venda da vivenda referida, feita nesse mesmo ano.

Neste mesmo ano, declarou às Finanças um rendimento anual inferior a 250 €.(CM), o que pressupõe não ter qualquer pensão de valor superior, nem da Segurança Social nem da CGA.

Entretanto morre o pai (Júlio Araújo Monteiro) que lhe deixa "uma pequena fortuna, de cujos rendimentos em parte vive hoje" (24H).

Por que neste momento, aufere do Instituto Financeiro da Segurança Social (organismo público que faz a gestão do orçamento da Segurança Social) uma pensão superior a 3.000 € (CM), seria lícito deduzir - caso não tivesse tido outro emprego a partir dos 65 anos - que ,considerando a idade normal para a pensão de 65 anos, a mesma lhe teria sido concedida em 1996 (1931+ 65).
Só que, por que em 1998 a dita pensão não consta dos seus rendimentos, forçoso será considerar que a partir desse mesmo ano, 1998 desempenhou um lugar que lhe acabou por garantir uma pensão de (vamos por baixo): 3.000 €.

Abstraindo a aplicação da esdrúxula forma de cálculo actual, a pensão teria sido calculada sobre os 10 melhores anos de 15 anos de contribuições, com um valor de 2% /ano e uma taxa global de pensão de 80%.

Por que a "pequena fortuna " não conta para a pensão; por que o I.F.S.S. não funciona como entidade bancária que, paga dividendos face a investimentos ali feitos (depósitos); por que em 1998 o seu rendimento foi de 250 €; para poder usufruir em 2008 uma pensão de 3.000 €, será por que (ainda que considerando que já descontava para a Segurança Social como empregada doméstica e perfez os 15 anos para poder ter direito a pensão), durante o período (pós 1998), nos ditos melhores 10 anos, a remuneração mensal foi tal, que deu uma média de 3.750 €/mês para efeitos do cálculo da pensão final. (3.750 x 80% = 3.000).

Ora, como uma pensão de 3.000 €, não se identifica com os "rendimentos " provenientes da pequena fortuna do pai, a senhora tem uma pensão acrescida de outros rendimentos.

Como em nenhum dos jornais se fala em habilitações que a senhora tenha adquirido, que lhe permitisse ultrapassar o tal serviço doméstico remunerado, parece poder depreender-se que as habilitações que tinha nos anos 60 eram as mesmas que tinha quando ocupou o tal lugar que lhe rendeu os ditos 3.750 €/mês.

 Pode-se saber qual foram as funções desempenhadas que lhe permitiram poder receber tal pensão?

 VÁ PESSOAL, APRENDAM COM A MAMÃ DO SÓCRATES...POUPEM, PARA TER UMA REFORMA DIGNA, MAS PRIMEIRO TEMOS DE ENCONTRAR UM FILHO COMO ELE!!!!

 E há mais...
 A Adelaide comprou um apartamento na Rua Braamcamp, em Lisboa, a uma sociedade off-shore com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, apurou o Correio da Manhã.

 Em Novembro de 1998, nove meses depois de José Sócrates se ter mudado para o terceiro andar do prédio Heron Castilho, a mãe do primeiro-ministro adquiria o quarto piso, letra E, com um valor tributável de 44 923 000 escudos
- Cerca de 224 mil euros
- Sem recurso a qualquer empréstimo bancário e auferindo um rendimento anual declarado nas Finanças que foi inferior a 250 euros (50 contos).

 Ora vejam lá como a senhora deve ter sido poupadinha durante toda a vida.
 Com um rendimento anual de 50 contos, que nem dá para comprar um mínimo de alimentação mensal, ainda conseguiu juntar 224.000 euros para comprar um apartamento de luxo, não em Oeiras ou Almada, na Picheleira ou no Bairro Santos, mas no fabuloso edifício Heron, no nº 40, da rua Braamcamp, a escassos metros do Marquês de Pombal e numa das mais nobres e caras zonas de Lisboa.

Notável exemplo de vida espartana que permitiu juntar uns dinheiritos largos para comprar casa no inverno da velhice.

 Vocês lembram-se daquela ideia genial do Teixeira dos Santos, que queria que pagássemos imposto se dessemos 500 euros aos filhos ?

 Quem terá ajudado, com algum cacau, para que uma cidadã, que declarou às Finanças um RENDIMENTO ANUAL de 50 contos, pudesse pagar A PRONTO, a uma sociedade OFFSHORE, os tais 224.000 euros ?

Luz, Restelo, Tapadinha, Alvalade – Uma certa memória de Lisboa

No dia 8 de Setembro de 1966 cheguei a Lisboa de comboio e recebi instruções precisas para sair na estação do Rego onde apanhei um táxi até às Amoreiras. Vinha de Vila Franca de Xira e no dia seguinte começava a trabalhar no Banco Português do Atlântico da Rua do Ouro. Logo nesse primeiro dia utilizei o 24 (Praça do Chile – Carmo), o mesmo eléctrico onde iria viajar no dia 12 de Setembro até à Praça do Chile para tirar a chapinha dos Tuberculosos, envelope essencial para arranjar emprego. Aos poucos fui conhecendo a cidade sempre através dos eléctricos. Havia o 2 para o Sporting, o 5 para o Benfica, o 16 para o Belenenses, o 18 para o Atlético e o 17 para o Oriental. O poema Luz, Restelo, Tapadinha, Alvalade regista essa realidade hoje com 44 anos de memória. Outro poema Balada da Morais Soares faz a cartografia dos carros com atrelado na Morais Soares a caminho da Escola Patrício Prazeres. O som da campainha do segundo carro não morreu ainda. Logo a seguir aos eléctricos descobri os elevadores. No de Santa Justa pagava 2 tostões. Ao lado desse elevador havia a casa do ensaio da Banda da Carris. Devo a esse pormenor o primeiro poema do meu livro Transporte Sentimental. Além das expedições futebolística anteriores não devo esquecer o estádio do Jamor e a célebre raquete do eléctrico 15 (Praça do Comércio – Estádio) Estádio onde assisti ao vivo à vitória do Celtic sobre o Milan por 2-1 em 1967 na final da Taça dos Campeões Europeus com o endiabrado Jimmy Johnstone a ganhar o definitivo cognome de Lisbon Lion. Para além do futebol havia a escola à noite. Fui aluno do Instituto Comercial mas antes estudei na Veiga Beirão e também na Patrício Prazeres.

As ruas de Lisboa em 1966 pareciam sossegadas e eram mesmo sossegadas mas as prisões estavam cheias. Aljube, Caxias, Peniche, Tarrafal. Mais tarde vim a ouvir dizer que em Cabo Verde só havia angolanos mas isso significava o primado do faz-de-conta tão caro ao ditador Salazar: para fora e depois da II Guerra Mundial já não havia presos políticos mas para dentro era outra a realidade.
Os eléctricos eram um espectáculo mas dentro desse espectáculo avultava um curioso jogo de cestos de verga com lancheiras. Sempre que um eléctrico se cruzava com outro havia uma leve paragem e as lancheiras eram trocadas com ternura. Nunca falhava.
No largo do Rato passavam o 5 e o 24 ambos a caminho do Largo do Carmo mas outros faziam tempo no resguardo: o 22 e o 23 (São Bento Circulação), o 25 e o 26 (Estrela – Gomes Freire), o 29 e o 30 (Estrela – Príncipe Real).
Nós, os passageiros, os utilizadores como se diz hoje em dia, falávamos dos eléctricos como quem fala de pessoas: – Estou à espera do 24! Já passou o 5? Aquele ali não era o 29? Daí vê-se o 22 a subir a Rua de São Bento? O 25 nunca mais passa!
Às vezes faziam essas perguntas a um cego que vendia jornais e lotaria no meio do Largo do Rato, junto ao expedidor. O homem disfarçava e mudava de assunto. Nunca se enganava nos trocos, conhecia as moedas pelo peso e pelo diâmetro. Dizia Seques e Diére em vez de Século e Diário.
Eu morava na Travessa do Barbosa num quarto alugado a um guarda-freio da Carris. Morava muito perto da estação de recolha das Amoreiras onde os eléctricos dormiam o sono dos justos. As outras estações de recolha eram Santo Amaro e Arco do Cego.
Mais tarde fui morar para a Travessa do Caldeira e passeia a apanhar o 28 (Graça – Estrela) para ir até à Rua do Ouro. Quando casei fui morar para a Travessa de São Pedro e passei a utilizar o 20 (Cais do Sodré – Gomes Freire) que me deixava na Rua Rosa Araújo, muito perto da Rua Castilho onde estava o Departamento de Estrangeiro do Banco Português do Atlântico.
O meu livro mais feliz chama-se Transporte Sentimental mas não começou bem. Um obscuro secretário-geral da Carris negou-se a apoiar a sua primeira edição, o presidente Consiglieri Pedroso não o quis contrariar e lá saiu com a chancela de uma editora modesta. Só a posterior edição da Câmara Municipal de Lisboa lhe deu algum relevo e lá está garboso e bisonho na montra da Livraria Municipal da Avenida da República.
Comecei a trabalhar no Departamento de Estrangeiro de um Banco em 1966 com 15 anos e reformei-me com 45 em 1996. Ainda a tempo de fazer outras coisas e de aprender que a nossa vida é uma viagem. Cada dia e cada passo é uma etapa naquilo a que com muita graça Woody Allen afirmava num dos seus livros: Não sei se há vida depois da morte mas tenho a certeza de que há morte depois da vida. O importante é fazer dessa morte relativa uma injustiça absoluta. E digo morte relativa porque só morre quem se perde nas emboscadas do esquecimento.

José Carmo Francisco

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Mecanismos moleculares da fotossíntese

O programa BIOEN-FAPESP realizou no dia 25 de outubro, o BIOEN Workshop on Molecular Mechanisms of Photosynthesis, que teve apresentações de pesquisadores do Brasil, Canadá, Israel, França e Reino Unido.

O principal objetivo do workshop, realizado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEAUSP), foi estimular grupos de pesquisa do BIOEN a estudar mecanismos moleculares da fotossíntese, utilizando técnicas modernas de biologia molecular, elucidação estrutural e dinâmica ultrarrápida.

Os coordenadores do BIOEN tiveram como objetivo que alguns desses grupos se interessem pelo desafio maior da fotossíntese artificial (fotólise da água) como uma solução para a produção de energia abundante, sustentável e limpa.

“Photosynthetic water splitting and the structure of PSII”, com James Barber (Imperial College), “Supramolecular structures of the photosynthetic apparatus in the thylakoid membrane, as studied by AFM and other methods”, com James Sturgis (CNRS), “Photosynthesis research being carried out by BIOEN-FAPESP groups”, com Marcos Buckeridge (BIOEN), “Biophysical molecular dynamics simulations”, com Munir Skaf (Unicamp), e “Supramolecular chemistry for light capture and controlled energy and charge transfer”, com Henrique Toma (USP), foram as palestras no período da manhã.

À tarde a programação continuou com “Atomic structure of photosystems, as studied by high-resolution x-ray diffraction”, com Nathan Nelson (Universidade de Tel Aviv), “Dynamics of energy transfer in the photosynthetic complexes, as studied by ultrafast optical spectroscopies”, com Gregory Scholes (Universidade de Toronto), e “Infrastructure for advanced optical spectroscopies in the state of São Paulo”, com Paulo Miranda (USP) e René Nome (Unicamp).

As palestras foram seguidas por um debate. O evento foi isento de taxa de inscrição e as palestras foram proferidas em inglês com tradução para o português.

Mais informações em: www.fapesp.br/bioen/evento/photo

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Querido Portugal

Caro João,

Aqui vai uma carta aberta ao Portugal em crise que resolvi escrever num momento de raiva pela constatação da merda que vão fazendo e que nós vamos permitindo que continuem a fazer!


Querido Portugal,


Depois de muito hesitar decidi-me e resolvi tomar a única atitude que achei estar ao meu alcançe, a escrita de uma carta!
Há uns anos a esta parte, longe de ti e com as tradicionais saudades batendo no peito, tenho sido agredido com multiplas notícias quase diárias do desnorte a que estás voltado. Triste! Lamentável!
Como é possível que um País como tu, tenha chegado a isto?
Por este andar onde irás parar?
Que raio se passa na tua cabeça?
Acorda! Dá um murro na mesa e endireita as coisas!
Pára um pouco para pensar.
Não esqueças que são 900 anos!
Não aprendeste agora a gatinhar!
Levanta-te!
Os quase 11 milhões de que também faço parte, continuam a ter orgulho em ti! Não te deixes adormecer. Levanta-te e anda! Caminha como sempre fizeste de peito aberto e olhos fixos no objetivo.
Vence os obstáculos, marca a tua posição e faz valer a tua história!
Lembra-te do 1º Afonso, do Infante Henrique, do 2º João e do 1º Manuel, põe os olhos no Pedro Alvares Cabral,no Vasco da Gama, no Bartolomeu Dias, mergulha uma vez mais nas palavras de Luis Vaz de Camões e endireita os ombros, pois essa é a tua história. Esse és tu! És grande! Faz valer as tuas honrosas memórias!
Por que andas tão cabisbaixo?
Enfrenta as adversidades! Vá, anda!
Isto são brincadeiras de criança se comparadas ás travessias de mares desconhecidos e ás conquistas de inúmeras batalhas.
Vais desculpar-me, mas não vou mudar de conversa.
Lembra-te que a coragem e o valor de que somos todos feitos te permitiram ser o "imenso Portugal" no dizer do poeta.
Marcaste os teus espaços frente aos nossos vizinhos espanhois à força da espada e correste com as forças do "corso" quando tentaram violar as tuas entranhas.
Que mais será preciso dizer para te fazer sentir que tudo consegues quando queres?
Queres que te lembre também que és o único dos colonizadores que merece respeito e não desencadeou ódios? Sim, isso também é verdade.
Vá, espreguiça-te, dá um safanão nos lençois e levanta-te!
Estamos todos à espera e ansiosos que voltes a ser quem eras!
Sim, já sei!
Dir-me-ás certamente que a culpa não é tua, mas nossa, que não soubemos dar o poder a quem tem dentes!
Pois é, aí terás razão, mas isso são outros contos.
Não deves esquecer-te que somos simples mortais , sujeitos a sermos enganados por boas falas!
Enfim, não quero aborrecer-te mais, mas trata depressa de corrigir as coisas, ou não te perdoo se não fizeres valer a tua história.
Recebe um grande abraço, deste que te ama,

Manuel Guilherme Peixoto

PS. Ah, já quase me esquecia de dizer-te que, logo que possa e o dinheiro seja suficiente, meto-me no avião, atravesso o atlantico e vou aí dar-te um abraço para matarmos as saudades um do outro.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Planeta com cauda de cometa


Por meio de observações com o telescópio Hubble, da Nasa, a agência espacial norte-americana, um grupo de astrônomos confirmou a existência de um objeto extremamente quente ao qual chamaram de “planeta cometário”.
O motivo é que o HD 209458b, seu nome oficial, lembra um cometa. Trata-se de um gigante gasoso que está em uma órbita tão próxima de sua estrela que sua atmosfera aquecida está se esvaindo no espaço.
Segundo o estudo, publicado no The Astrophysical Journal, ventos estelares poderosos estão soprando material da atmosfera e deixando-o para trás na forma de uma cauda de um cometa.
“Desde 2003, cientistas têm teorizado que a massa perdida [do HD 209458b] está sendo empurrada em uma cauda e até mesmo calcularam como ela seria. Achamos que encontramos a melhor evidência observacional até o momento para apoiar essa teoria”, disse Jeffrey Linsky, da Universidade do Colorado em Bouder, líder do estudo.
O HD 209458b está a 153 anos-luz da Terra e pesa pouco menos do que Júpiter, mas está cerca de cem vezes mais perto de sua estrela do que a distância do Sol para o maior planeta de seu sistema.
O planeta cometário completa uma volta em torno de sua estrela em apenas 3,5 dias. No Sistema Solar o período orbital mais curto é o de Mercúrio, com 88 dias.
Linsky e colegas detectaram elementos pesados, como carbono e silício, na atmosfera de mais de 1.000 ºC do planeta. Segundo eles, isso implica que a sua estrela está aquecendo toda a atmosfera e fazendo com que os elementos químicos mais pesados escapem.
O artigo Observations of Mass Loss from the Transiting Exoplanet HD 209458b (vol.717, doi:10.1088/0004-637X/717/2/1291), de Jeffrey Linsky e outros, pode ser lido no The Astrophysical Journal em http://iopscience.iop.org/0004-637X/717/2/1291