segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Honduras: O jogo vai para a prorrogação

Ahora es esta la batalla
Pa’que vuelva Manuel Zelaya

E parece que vai ter de chegar aos pênaltis. O governo golpista de Roberto Micheletti resolveu não ceder nem mesmo diante do acordo que fez com o governo norte-americano. Para este, fica a escolha entre ter encenado um acordo para também ganhar tempo e favorecer os golpistas, ou não ter forças para enfrentar uma situação política que vai embaraçar – embaçar – toda sua relação com a América Latina e prejudicar sua posição perante sua oposição interna.
Dia 29 deverão se realizar as eleições gerais em Honduras. Quase toda a América Latina, do México à Argentina e ao Chile, está comprometida com o não reconhecimento dessas eleições promovidas sob a égide do golpe. O presidente (deposto, suspenso) Manuel Zelaya chamou o boicote às urnas. O candidato de esquerda Carlos Reyes retirou sua candidatura; outros cinco candidatos continuam inscritos, entre eles os favoritos Porfírio Lobo Sosa, do Partido Nacional, e Elvin Santos, do Partido Liberal.
A situação internacional tornou-se mais complicada. Para a presidência do Conselho da União Europeia elegeu-se no dia 19 de novembro o primeiro ministro belga, do Partido Democrata Cristão, Herman Van Rompuy. Ele assume no dia 1º de janeiro de 2010, mas desde já isso significa uma inclinação mais para a direita. Se nenhum país reconheceu o governo de Micheletti, é possível que alguns venham a fazê-lo depois da eleição. Um indício disso é a posição dos dois partidos que compõem o atual governo alemão. O governo de Berlim, seguindo os demais da União Européia, não reconheceu o governo golpista. Mas em compensação, informações na imprensa local dizem que a União Democrata Cristã, partido da chanceler Ângela Merkel, apoiaria o Partido Nacional, enquanto o FDP, do ministro de Relações Exteriores, Guido Westerwelle, apoiaria o Partido Liberal.
Ainda é impossível dizer o que acontecerá. Tudo vai depender do comparecimento às urnas, do desempenho das Forças Armadas, da possibilidade da Frente de Resistência contra o Golpe de Estado em Honduras, de que Carlos Reyes é líder, capitalizar o boicote. Certamente tudo vai depender também da até aqui mantida unidade de 99% dos governos da OEA contra os golpistas e contra a atitude complacente dos Estados Unidos. Quanto a este governo, a impressão que dá é a de não só estar enredado em suas contradições internas e confrontos externos (com o governo de Hugo Chávez, por exemplo), como a de estar disposto a sacrificar o futuro de suas relações na região por causa de suas lealdades do passado. Ou seja, o governo de Barck Obama pode estar muito bem dando um pequeno passo para o abismo em matéria de relações diplomáticas na América Latina enquanto olha no espelho retrovisor.
Quanto à direita latino-americana, esta almeja, evidentemente, o sucesso golpista.


Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior.

sábado, 28 de novembro de 2009

A trajetória errante de Kurt Cobain

Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC

No início da década de 1990, o universo pop exalava glamour e pretensão, com um abismo entre o grande público e as produções de caráter alternativo. Sob a liderança do vocalista, guitarrista e compositor Kurt Cobain (1967-1994), o Nirvana mudou definitivamente o panorama musical, com meia dúzia de acordes e versos que condenavam a alienação juvenil de maneira cáustica.
Registro da trajetória errática do cantor, o recém-lançado livro "Cobain dos Editores da Rolling Stone" que reúne entrevistas, resenhas e reportagens especiais publicadas na revista norte-americana.
FAMÍLIA - Filho de secretária e mecânico de automóveis, o músico nasceu em Hoquiam, no Estado de Washington. Aos 6 meses, mudou com a família para o município vizinho Aberdeen - cidade madeireira com altas taxas pluviométricas e elevados índices de suicídio.
Foi uma criança dotada de extrema sensibilidade, que gostava de cantar Beatles a plenos pulmões e reservava lugares à mesa para amigos imaginários. Um dos companheiros criados pelo menino foi Boddah, parceiro que o acompanhou até os últimos dias e ganhou até citação na carta de suicídio deixada pelo roqueiro.
A primeira e irreversível mudança na vida de Cobain ocorreu aos 8 anos, com o divórcio dos pais."Ele mudou completamente. Ficou muito introvertido e isso o deixou desolado", lembrou a mãe do ídolo, Wendy O'' Connor.
Na adolescência, já aficionado pela distorção das guitarras do punk rock, era o típico desajustado social. Passou temporadas na casa da mãe, do pai, tios, avós e até dormiu sob a ponte North Aberdeen.
CARREIRA E DROGAS - No livro, a saga do Nirvana - desde o início da amizade de Cobain com o baixista Krist Novoselic, em 1985, até o último álbum de inéditas, "In Utero" (1993) - é ilustrada com fotos raras e análises de medalhões do jornalismo musical, como Greil Marcus e David Fricke.
Um dos destaques é a entrevista concedida pelo astro cerca de três meses antes de morrer. Na ocasião, ele comentou a camisa de força artística criada pelo sucesso do disco Nevermind, turbinado pelo clássico Smells Like Teen Spirit.
"Eu mal consigo chegar ao final dessa música. Tenho vontade de jogar a guitarra no chão e ir embora."
Os textos também abordam o efeito destruidor do envolvimento de Cobain com a heroína, a angústia em relação às pressões do megaestrelato e a conturbada relação com a cantora Courtney Love, com quem teve uma filha, Frances Bean. Trata-se de leitura recomendável para quem deseja aprofundar conhecimentos sobre a cartilha roqueira.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Impacto imediato

Agência FAPESP – Um novo estudo afirma que a supererupção vulcânica de Toba, ocorrida na ilha de Sumatra há cerca de 73 mil anos, resultou no desflorestamento da maior parte da Índia central, em uma área que se estendeu a até 5 mil quilômetros do epicentro.

O vulcão teria ejetado estimados 800 quilômetros cúbicos da cinza na atmosfera. Outra consequência foi uma cratera de 100 quilômetros de comprimento por 35 quilômetros de largura, que hoje é o maior lago vulcânico do mundo.

De acordo com a pesquisa, cujos resultados foram publicados na revista Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, a cinza refletiu a luz solar e os aerossóis de enxofre bloquearam os raios solares na região por seis anos, iniciando uma era do gelo que teria durado 1.800 anos.

“Durante essa era do gelo, as temperaturas caíram em até 16º C”, disse Stanley Ambrose, professor da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, principal autor do estudo. Segundo ele, os efeitos da erupção podem explicar a queda nas populações humanas em todo o mundo que se estima teria ocorrido entre 50 mil e 100 mil anos atrás.

Os cientistas analisaram substrados marinhos na baía de Bengala, que contêm uma camada de cinza resultante da erupção. Também estudaram taxas de isótopos de carbono em sedimentos fossilizados subterrâneos em três regiões na Índia.

Os resultados indicam uma alteração clara no tipo de vegetação encontrada na Índia imediatamente após a erupção. A vegetação que se sucedeu demonstra as condições mais secas e mais frias na região por pelo menos mil anos depois do evento.

O artigo Environmental impact of the 73 ka Toba super-eruption in South Asia, de Stanley Ambrose e outros, pode ser lido por assinantes da Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology em:

www.sciencedirect.com/science/journal/00310182.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Deputados Prestaram um Mau Serviço à Democracia

A democracia é hoje um dos modelos políticos que mais vigora em grande parte dos países, no entanto, cada país procura enquadrar o modelo a sua própria realidade social e política. Muito recente na Guiné-Bissau, ela reclama por ajustes que facilitem sua institucionalização, mas a incompreensão do modelo e, sobretudo as enormes dificuldades de instituições responsáveis para o seu funcionamento dificultam gravemente o aperfeiçoar de regras que garantem a participação e contestação.

Duas emendas de lei-eleitoral foram recentemente aprovadas no Parlamento guineense. A primeira foi a emenda que criou novo regulamento para se candidatar ao cargo de presidente da República. Esta nova lei obriga os candidatos às próximas eleições a depositarem uma caução de 20.000.000 de F.cfa para, entre outros, validarem suas candidaturas. E caso o candidato não atinja 10% de votos validamente expressos, perderá o direito de recuperar o dinheiro, que será revertido aos cofres públicos e depois destinado ao fundo da democracia. A segunda obriga a automática extinção de partidos ou coligações que não conseguirem atingir 5% de votos validamente expressos nas legislativas. A medida apresentada pela bancada do PAIGC também teve apoio da bancada oposicionista liderada pelo PRS. Para defensores das emendas, isso visa por um lado reduzir o elevado número de candidatos à Presidência da República e, por outro lado, permitir que menos partidos compitam pelos votos que dão acesso à ocupação de cadeiras no Legislativo e controle do Executivo.

No mínimo, e dentro dos critérios de princípios democráticos pode-se dizer que é irracional agir dessa forma. Apesar de não se poder negar hoje o elevado índice de proliferação de partidos e candidatos nas eleições, isso se levarmos em consideração o número de habitantes que temos (1.700.000hab, aproximadamente) e com apenas pouco mais de 500.000 eleitores. Mas, mesmo com esse cenário, não é recomendável a criação de leis antidemocráticas como forma de controlar a situação. Além do mais, a proliferação de partidos e candidatos é própria de uma sociedade multi-étnica e, sobretudo, com elevado índice de analfabetismo como a nossa.

É contra as leis da democracia extinguir partidos ou coligação de partidos porque tiveram baixo desempenho nas urnas ou deixaram de comparecer em determinadas eleições. Em alguns países, como o Brasil, por exemplo, um dos mecanismos para controlar a proliferação de partidos é retirar o beneficio de fundo partidário àqueles que não atingiram 10% dos votos nas eleições, salvo erro. Na Guiné, contrariamente, há muito que os partidos não são beneficiados com fundos provenientes do Governo para apoiar suas atividades políticas, devido à falta de recursos. E preferimos não acreditar no que dizem algumas pessoas, que essa estratégia é para permitir ao PAIGC e ao PRS terem o domínio sobre o ambiente político nacional. Pois, o sistema bipartidário de competição eleitoral como nos Estados Unidos, Portugal, Cabo Verde, etc., foi resultado de um processo consolidado que permitiu naturalmente dois partidos competindo a nível nacional por votos dos eleitorados, o que não quer dizer que não existem nas arenas Estaduais e Municipais pequenos partidos a competir.

A democracia faz parte de um conjunto de “pacotes” padronizados de ideais liberais. Da mesma forma como funciona o mercado econômico, a democracia também se auto-regulariza à medida que são criadas condições institucionais legais para o seu funcionamento. Ou seja, é o próprio sistema que naturalmente vai de acordo com a sua institucionalização eliminar pequenos partidos e candidatos fracos na arena de competição eleitoral e não as leis ilusórias e inconsistentes que irão desempenhar essa função. Como chegar à institucionalização? É um processo que exige respeito pelo princípio do jogo democrático, no entanto, alguns requisitos são fundamentais para atingir o objetivo, como: ausência de golpes de Estado, ausência de queda do Parlamento e do Executivo, remodelar o Governo com menos frequência e de forma racional, selecionar para Legislativo pessoas com reconhecidas capacidades técnico-administrativa, idoneidade do Judiciário, submissão do poder militar ao civil, fidelidade e disciplina partidária, realização de eleições livres, justas e transparentes, e criação de uma consciência cidadã na sociedade que deve se sustentar mediante um investimento educacional sério. Portanto, adequar o nosso sistema às leis democráticas significa ausência da violência institucional, mais responsabilidade pública, e, isso ajuda a reduzir a proliferação de pequenos partidos e candidatos fracos nas eleições.

A condição exigida para se concorrer à Presidência da República nas próximas eleições seguramente não será barreira para impedir a afluência de possíveis candidatos por motivos que são óbvios. Pois, nosso sistema de finanças públicas ainda não consegue controlar o rendimento anual financeiro dos contribuintes (pessoas físicas), o que abre uma enorme possibilidade na alocação fácil e por vias criminosas de recursos para concorrer às eleições presidenciais. E literalmente pode-se dizer que a referida lei vai apenas incentivar o crime financeiro contra as finanças públicas. Desafio que o nosso sistema de segurança pública não tem estrutura para enfrentar, tanto que existem cidadãos que de dia para noite aparecem com fortunas (dinheiro, palácios e carros de elevado valor) e não são questionados sobre a procedência da riqueza que adquiriu em pouco tempo sem ter herdado dos pais ou ganho na loteria. E mais, um número insignificante de servidores públicos consegue ter rendimento anual de 5.000.000 F.cfa e se conta pelos dedos os que têm nos bancos (seja na conta corrente ou poupança) valor correspondente a 1.000.000 de F.cfa. Criar leis incompatíveis com a realidade do país, em linhas gerais, é motivar cidadãos a praticar crimes. Não obstante, resta saber em que moldes ficará a lei de financiamento público das campanhas eleitorais, evento em que habitualmente circulam elevados valores de procedência duvidosa, além de descarado desvios de bilhões do cofre público. Por que candidatos, partidos ou coligações não declaram seus gastos de campanha nas Contribuições e Impostos?

Há muita coisa que precisa ser revista na nossa lei eleitoral, e, apesar da legitimidade que os deputados têm para fazê-la, contraditoriamente, uma parte considerável carece de um adequado preparo técnico para discernir o assunto e se limitam apenas aos empurrões da liderança partidária. Votam favoravelmente ou não porque simplesmente foram mandados e abdicam-se outrora por falta de conhecimento da realidade de ver o interesse nacional. Por isso, às vezes, é pertinente convidar especialistas para ministrar palestras sobre o funcionamento da democracia e suas leis para precavê-los em tomadas de decisões, no sentido de contribuir para dissipar algumas dúvidas sobre as matérias complexas.

Com o mau serviço prestado à democracia pelos deputados da Assembleia Nacional Popular, agora se espera uma correção do presidente da República Bacai Sanhá que deve responder à situação de modo mediato, reflexivo e racional para salvar o barco de um possível naufrágio democrático. Outrossim, esperamos a contribuição exemplar de seus assessores em mostrar-lhe não só a inconstitucionalidade da nova lei como a sua inadequação ao pleno funcionamento da democracia e não promulgar a emenda ora aprovada pelos parlamentares.


"Rui Jorge da Conceição Gomes Semedo"

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ferramenta de telecomunicação simula teletransporte

Através de um sofisticado óculos que projeta cenários de imersão digital, já é possível fazer chamadas telefônicas como se os interlocutores estivessem interagindo no mesmo ambiente.

Esta tecnologia é uma plataforma de telecomunicação inspirada no teletransporte e batizada de Arcah, desenvolvida pela empresa Ualah – start-up 100% brasileira. O diferencial da Arcah para outras tecnologias de imersão digital, é a capacidade de interagir em ambientes projetados vendo a si mesmo em 1ª. pessoa, o que aumenta a sensação de estar em outro ambiente. “Olhe para seu corpo e imagine que tudo a sua volta é uma projeção. Isso é o Arcah, a captura da imagem do seu corpo físico, vista em primeira pessoa, em diferentes ambientes projetados” diz Martin Ignácio Izarra, co-fundador da Ualah. Para interagir através do Arcah, o usuário deve ter o óculos de imersão digital, chamado de Imersor.

O sistema detecta o movimento das mãos dentro do espaço projetado possibilitando navegar pela internet, interagir em espaços projetados com outros usuários, como em reuniões de trabalho, encontros sociais, palestras e aulas particulares. “As pessoas que utilizaram o Arcah se sentiram imergidas dentro de um sistema e teletransportadas para um lugar diferente”, diz Léo Souza, co-fundador da Ualah. Segundo os sócios da Ualah, o uso de programas e aplicativos da internet e a telefonia VoIP são particularidades do Arcah que tornam o produto funcional, indo além do seu valor de imersão digital. A tecnologia Arcah já possui protótipo em funcionamento. Em Dezembro de 2009, será disponibilizada uma versão beta gratuita para o público com funcionalidades parciais e uso através do computador conectado a webcam.