quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Ave, réptil ou mamífero?

Agência FAPESP – Não há nada igual. Quando exemplares do ornitorrinco (Ornithorhynchus anatinus) foram enviados da Austrália para a Inglaterra, em 1798, causaram tamanho espanto que os cientistas britânicos consideraram se tratar de uma farsa.
Não é para menos, pois o estranho animal desfila uma lista de características inusitadas. Para começar, é um mamífero que põe ovos. Em seguida, combina um couro espesso que permite a permanência em águas geladas com um bico semelhante ao de um pato – bico que tem um sistema sensorial usado para buscar alimentos na água. O macho conta ainda com esporão capaz de disparar poderoso veneno para afugentar predadores ou competidores.
Tudo isso tem aguçado, desde o século 18, o interesse da ciência pelo representante da ordem dos monotrematas. Agora, um grupo internacional acaba de dar a mais valiosa contribuição ao conhecimento do ornitorrinco, com o seqüenciamento de seu genoma.
Publicada na edição de 8 de maio da revista Nature, a análise revela que as características únicas do animal não se resumem ao seu exterior, mas são também destacadas geneticamente. A seqüência foi comparada com as do homem, camundongo, cão, gambá, frango e lagarto.
Os pesquisadores descobriram que o genoma do ornitorrinco tem aproximadamente o mesmo número de genes que codificam proteínas que o genoma dos demais mamíferos – cerca de 18,5 mil. Ele também compartilha mais de 80% de seus genes com outros mamíferos cujos genomas foram seqüenciados.
Bico de pato à parte, os cientistas verificaram no genoma do animal, além de detalhes de mamíferos, características comuns aos répteis. A principal foi a presença de genes associados à fertilização de ovos. Outra é a presença de poucos receptores olfativos, diferente dos demais mamíferos.
O grupo também descobriu que o veneno produzido pelo animal deriva de duplicações em determinados genes durante a evolução, que foram herdados de ancestrais répteis.
"À primeira vista, o ornitorrinco aparenta ser resultado de um acidente evolucionário. Mas, independentemente de sua aparência estranha, a seqüência de seu genoma é muito valiosa para compreender como os processos biológicos fundamentais dos mamíferos evoluíram. Comparações de seu genoma com os de outros mamíferos levarão a novas descobertas a respeito da história, estrutura e funcionamento do nosso próprio genoma", disse Francis Collins, diretor do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, nos Estados Unidos, que financiou parte do estudo.
"Com o seqüenciamento, poderemos identificar quais genes foram conservados, quais foram perdidos e quais se transformaram durante a evolução dos mamíferos", disse Richard Wilson, da Escola de Medicina da Universidade Washington, um dos autores da pesquisa.
O artigo Genome analysis of the platypus reveals unique signatures of evolution, de Wesley Warren e outros, pode ser lido em www.nature.com.

Bactérias espertas

Agência FAPESP – Bactérias antecipam mudanças no ambiente e rapidamente se adaptam de modo a conseguir vantagem competitiva. É o que aponta um estudo publicado na revista Science.
Por meio de simulação em computadores, Ilias Tagkopoulos, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e colegas apresentam no artigo evidências de que bactérias podem aproveitar seqüências previsíveis de sinais ambientais, como variações de temperatura ou de oxigênio, para antecipar necessidades futuras e imediatamente se preparar para um novo cenário.
Os pesquisadores verificaram que as respostas da bactéria simulada em computador espelharam precisamente o comportamento real da Escherichia coli durante transições entre o ambiente externo e o trato gastrintestinal de mamíferos, sugerindo o comportamento antecipatório.
A E. coli também demonstrou capacidade de adaptação única em diversos novos ambientes, modificando-se para a sobrevivência em apenas centenas de gerações, no lugar de milhares, como se achava até agora.
"O estudo fornece evidências de comportamento antecipatório por meio da revelação de relações notáveis entre as respostas transcricionais da E. coli com perturbações na temperatura e em oxigênio", destacaram os autores. "Essas relações internas refletem um real paradigma de aprendizado associativo, uma vez que mostram rápidas alterações internas após exposição a novos ambientes."
Segundo a Science, as descobertas promovidas pela pesquisa destacam a necessidade de se reavaliar as interpretações de respostas a estímulos ambientais observadas em todos os organismos.
O artigo Anticipatory behavior within microbial genetic networks, de Ilias Tagkopoulos e outros em www.sciencemag.org.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Para a preservação da água

Agência FAPESP – A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio) publicaram a cartilha O uso racional da água no comércio, que está disponível para livre consulta na internet.
A publicação traz informações para ajudar no combate ao desperdício da água. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cada pessoa necessita de cerca de 110 litros de água por dia para atender suas necessidades de consumo e higiene, sendo que no Brasil esse consumo quase dobra: 200 litros por pessoa.
O livreto é dividido em categorias como “Dicas de economia”, “Soluções ambientais”, “Caixa d’água”, “Recebimento de esgotos não domésticos”, “Medição individualizada”, “Como calcular o seu consumo” e “Entenda a sua conta de água”.
Um dos pontos destacados pela obra é o fato de que combater o desperdício e dar o destino correto à água deixaram de ser questões econômicas, passando a também ser um diferencial competitivo para as empresas modernas.
Nesse propósito, a cartilha aponta que, para atender empresas que buscam utilizar melhor a água em seus processos, reduzir custos e preservar o meio ambiente, a Sabesp lançou o Programa Sabesp Soluções Ambientais e o Programa de Uso Racional da Água (Pura) para o incentivo ao consumo consciente por meio de ações tecnológicas e mudanças culturais.
A cartilha está disponível em: www.sabesp.com.br

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Poeira do deserto faz chover na floresta

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – A poeira do deserto do Saara, na África, tem uma influência importante no regime de chuvas da Amazônia. A afirmação, que pode parecer inusitada à primeira vista, foi comprovada em um estudo realizado por um grupo internacional de pesquisadores – com participação brasileira –, publicado na revista Nature Geoscience.
De acordo com Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e um dos autores do trabalho, o objetivo foi realizar, pela primeira vez em uma região tropical do planeta, medidas de aerossóis conhecidos como núcleos de condensação de gelo – partículas que têm a propriedade de formar nuvens convectivas, influenciando a precipitação, a dinâmica das nuvens e a quantidade de entrada e saída de radiação solar.
“As nuvens convectivas na Amazônia, que ficam entre 12 e 15 quilômetros de altitude, têm suas gotas congeladas. Para que possam aparecer partículas de gelo nessas nuvens é preciso existir os núcleos de condensação de gelo. Pela primeira vez medimos as propriedades físico-químicas desses núcleos”, disse à Agência FAPESP.
Segundo Artaxo, ao fazer as medidas, o grupo descobriu que a vegetação da própria Amazônia e a poeira proveniente do Saara são as duas principais fontes dos núcleos de condensação de gelo.
“A importância disso é que a maior parte da chuva na Amazônia é proveniente das nuvens convectivas. E é a primeira vez que detectamos essas partículas. Identificamos como núcleos de gelo e medimos suas propriedades físicas, químicas e biológicas”, disse o também coordenador do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) e ex-coordenador da área de geociências da FAPESP.
Para realizar o estudo, o grupo utilizou modelos matemáticos que simulam o comportamento das nuvens de gelo em condições amazônicas. “A parte surpreendente é que a poeira do Saara é responsável por uma fração significativa dos núcleos de condensação de gelo da Amazônia, especialmente em altas altitudes e temperaturas mais baixas”, explicou.
Segundo Artaxo, o estudo sugere que a contribuição das partículas biológicas locais para a formação de núcleos de gelo aumenta em altas temperaturas atmosféricas – com altitude mais baixa –, enquanto a contribuição por partículas de poeira cresce nas baixas temperaturas das regiões mais altas.
“Descobrimos que a vegetação da própria floresta alimenta os núcleos em altitudes que vão até 8 ou 9 quilômetros. Enquanto isso, a poeira do Saara nessa época do ano – o estudo foi feito entre fevereiro e março – predomina em altitudes acima de 9 ou 10 quilômetros”, disse.
As análises apontaram que os núcleos são compostos principalmente de materiais carbônicos e poeira. “Mostramos que as partículas biológicas dominam a fração carbônica, enquanto a importação da poeira do Saara explica o aparecimento intermitente de núcleos contendo poeira”, contou.
A poeira do deserto africano, segundo Artaxo, é um fenômeno atmosférico sazonal cujo pico se dá entre março e o fim de abril. “É um fenômeno de transporte atmosférico de longa distância que já conhecíamos. Mas nunca tínhamos medido as propriedades de nucleação dessas partículas.”

Continuidade em Temático

Na primeira fase do estudo a equipe utilizou um equipamento supercongelador para esfriar as partículas a 50 graus negativos e lançá-las na Floresta Amazônica, a fim de fabricar cristais de gelo.
“A partir daí, analisamos as propriedades físicas, químicas e biológicas desses cristais, utilizando técnicas analíticas nucleares – especificamente o método Pixe, disponível no Instituto de Física da USP. Pudemos analisar a concentração de alumínio, silício, titânio e ferro nas partículas”, disse.
A partir da análise, os pesquisadores descobriram que a assinatura elementar das partículas correspondia à assinatura da poeira do deserto do Saara. O segundo passo foi descobrir como essas partículas saem da África e chegam à Amazônia.
“Para isso rodamos modelos de circulação global da atmosfera e mostramos que, efetivamente, quando estavam presentes as concentrações de alumínio, silício, titânio e ferro que correspondiam à poeira do Saara, o modelo confirmava essa circulação”, afirmou.
Com a pesquisa, o grupo concluiu que a concentração e a abundância de núcleos de condensação de gelo na Amazônia podem ser explicadas, em sua quase totalidade, por emissões locais de partículas biológicas complementadas pela importação da poeira saariana.
Segundo Artaxo, os estudos terão continuidade dentro de um Projeto Temático apoiado pela FAPESP no âmbito do Programa FAPESP sobre Pesquisa Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG). “Faremos novos estudos dentro desse Temático que acaba de ser aprovado. Tentaremos simular e medir como se dá a variabilidade sazonal dos núcleos de condensação de gelo sobre a Amazônia”, destacou.
Além de Artaxo, participaram do estudo Markus Petters, Sonia Kreidenweis e Colette Heald, do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade Estadual do Colorado (Estados Unidos), Scot Martin, da Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas da Universidade de Harvard (Estados Unidos), e Rebecca Garland, Adam Wollny e Ulrich Pöschl, do Departamento de Biogeoquímica do Instituto de Química Max Planck (Alemanha).
O artigo Relative roles of biogenic emissions and Saharan dust as ice nuclei in the amazon Basin, de Ulrich Pöschl e outros, estão publicado na Nature Geosciences, e podem ser lidos em www.nature.com/ngeo

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

DIA 10 DE JUNHO NA TAILÂNDIA

Tudo isto é fado!

José Gomes Martins

Um dia antes do dia 10 de Junho zarpei de Banguecoque em direcção a Kanchanaburi, onde durante um ano me quedo, várias vezes, para carregar as baterias junto à margem da bonançosa corrente do Rio Kwai, na popular estância turística “Jolly Frog” (Júlia Rã).
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Ontem, pela manhã peregrinei prestar homenagem, junto de sua imponente estátua o Rei Narasuen, erigida entre imensos lameiros onde se produz muito arroz ,cujo monarca siamês, contribuiu, para a continuação da independência do Reino do Sião, desde o século XVI até aos dias de hoje.
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Uns quinze dias antes recebi da Embaixada de Portugal, pelo correio, um convite para assistir, em companhia de minha família, integrada na celebração do Dia 10 de Junho, à exibição da fadista portuguesa Carminho, no auditório pequeno, do “Thailand Cultural Centre”.
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Ignorei o convite e não vou apontar aqui as razões de minha atitude.
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Todos os dias em minha casa se celebra o Dia 10 de Junho, onde no espaço onde trabalho, diariamente a escrever, estão lá várias bandeiras das cinco quinas.
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E de quando há celebrações especiais na Tailândia, minha mulher, tailandesa, coloca três bandeiras, a oficial, a de S.M. o Rei e a das Quinas, num suporte fixado no muro que divide o espaço da casa com a rua.
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Os meus vizinhos de há mais 20 anos, sabem que ali, além de ser a Tailândia também é Portugal. Na minha casa, nos arredores de Banguecoque, todos os dias é Portugal!
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E mais ainda em todas as casas dos meia dúzia de portugueses, que aqui se fixaram e fizeram vida, constituíram família, há uma bandeira de Portugal juntinha à da Tailândia. Conheço um, que numa das janelas, do segundo andar, de sua casa há uma e outra da Tailândia de dois panos cada.
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Hoje quinta feira um dia depois do Dia 10 de Junho, pelas 6 da manhã, dou uma vista de olhos aos e-mails e outra a certos blogues, onde se incluiu o do Miguel Castelo Branco, http://combustoes.blogspot.com a noticiar, em parangona, “10 de Junho quer dizer futuro” .
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Era mais nem nem menos à celebração do Dia 10 de Junho, de Portugal, de Camões, da Raça e das Comunidades Portuguesas, na Embaixada de Portugal em Banguecoque, pelos Embaixadores de Portugal, Maria da Piedade e António de Faria e Maya.
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Porém o Miguel, na sua peça descreve os apelidos de nomes portugueses, de outras eras, os Siqueira, Costas, Antunes e Pereira. E, ainda, a emoção dos luso-descendentes ao ouvirem o discurso do Embaixador de Faria e Maya.
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Não sei nem faço ideia qual teria sido a gente de nossas raízes que ensoparam lenços com lágrimas porque o Miguel só se refere aos antigos e não aos actuais que hoje vivem na Tailândia, ordeiramente e têm contribuído para o desenvolvimento deste Reino e dar a continuação do nome de Portugal.
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O Miguel saboreou bacalhau que fazia parte da ementa do jantar que os representantes de Portugal ofereceram, aos seus convidados, de luxo, na residência, que já não “trincava” há dois anos.
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Parabéns ao Miguel que depois de um “pobre” do fiel amigo tirou a barriga de misérias e mais notável no “Dia 10 de Junho”!
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Não poderia ficar aqui ignorado os “miminhos” que vai oferecendo à nossa Embaixatriz Maria da Piedade de Faria e Maya, que só falta colocá-la no topo do pau-de-bandeira que se encontra no jardim da Residência.
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Pelas fotografias apostas pelo Miguel na peça que escreveu, vimos de facto uma mesa farta e por mais estranho que possa parecer não vimos ali, ninguém, da comunidade portuguesa residente na Tailândia, que sempre haja estado nesta especial celebração onde gostariam, (sem ser sentados à mesa do -embaixador) beber um copo de vinho e comer uma mastiga.
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Evidentemente que os embaixadores de Portugal sentam à sua mesa as pessoas que muito bem entenderem, mas no Dia de Portugal oferecer (ao que me parece) apenas fado, sem um copo e uma mastiga, aos portugueses residentes na Tailândia não se coordena muito bem e apetece-me dizer: “Tudo Isto é o Fado a que, infelizmente, os portugueses estão sujeitos, não só na Tailândia como em, alguns, outros países onde foram acolhidos, onde não há o mínimo respeito por eles e substituídos, por outros que nada têm a ver com Portugal".
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Quanto ao Miguel Castelo Branco vejo-o como um desesperado que tudo faz em procura das "graças do senhor" para se manter em Banguecoque (ele diz.... que estuda arduamente!) , com a concessão e da continuação do subsidio mensal da Fundação Calouste Gulbenkian, coisa rara, e que a outros que já muito aqui fizeram em prol da história, de Portugal e a Tailândia, nunca tiveram meio tostão furado.
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O Miguel continua anunciar festas deitando os foguetes, a tocar a música para se promover um “herói de nada”.

Para finalizar (como o diria o Carlos Castro, no programa da Praça da Alegria”) aqui vai a “laranja amarga” para os Embaixadores de Portugal na Tailândia, pelo facto de oferecerem (não sei quantos estiveram no espectáculo da Carminho) fado aos portugueses no Dia 10 de Junho e não o convívio, no jardim, na arcada, e oferecer-lhe um copo e uma mastiga.

José Martins
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P.S. O autor serviu Portugal durante 24 anos, na Representação Diplomática em Banguecoque, tem 74 anos, reformado e nunca procurou enaltecer-se com “mimos” (hipócritas) seja a quem fosse para atingir objectivos.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Dinossauro venenoso

Agência FAPESP – Um grupo de cientistas chineses e norte-americanos descobriu um dinossauro venenoso, com aparência de ave, que viveu há cerca de 128 milhões de anos onde hoje está a China.
Trata-se da primeira descrição de veneno na linhagem que deu origem às aves modernas. O estudo será publicado no site e na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences
“Podemos dizer que esse animal era uma ave venenosa. É um achado que certamente terá um grande impacto”, afirmou Larry Martin, professor da Universidade do Kansas e curador do Museu de História Natural e Instituto de Biodiversidade, um dos autores da pesquisa.
O animal descrito, Sinornithosaurus (“ave-lagarto da China”), é um parente próximo do velocirraptor. Viveu em florestas no nordeste da China que continham grande variedade de animais, incluindo outros dinossauros e aves primitivas.
“Tinha o tamanho aproximado de um peru atual e, muito provavelmente, tinha penas. Foi um predador especializado de aves e dinossauros de pequeno tamanho. Era um parente muito próximo do microrraptor, que tinha asas e planava”, explicou Martin.
Segundo o cientista, o veneno não era letal, mas colocava rapidamente a vítima em choque, diminuindo as chances de retaliação ao ataque, de fuga ou de ser devorado por outros predadores. Em pouco tempo o Sinornithosaurus devorava sua presa.
“As vítimas eram atacadas de surpresa. Ele se escondia em uma árvore, por exemplo, e dava o bote por trás. O objetivo era posicionar as mandíbulas. Uma vez que os dentes estavam na pele da presa, o veneno penetrava na ferida, saindo de glândulas e escorrendo pelos dentes. A vítima entrava em choque e observava o predador em ação enquanto era devorada, sem poder reagir”, disse Martin.
O Sinornithosaurus tinha pelo menos duas espécies que, segundo o estudo, empregavam um sistema de veneno semelhante ao de alguns lagartos modernos, como os do gênero Heloderma. Mas tinha dentes mais longos, eficientes para passar pelas camadas de penas de suas vítimas, no caso das aves.
O artigo The birdlike raptor Sinornithosaurus was venomous, de Larry D. Martin e outros, poderá ser lido em www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.0912360107.

Carta Aberta a Humberto Nuno de Oliveira

Caro Camarada,

Conheci-te, pela primeira vez, meu velho amigo e muito querido camarada, isso no já distante ano de 1983. E não foi por acaso e ao dobrar de uma qualquer esquina. Foi no Campo Militar de São Jorge, no local exacto onde, em 1383, se travou a sempre para nós, portugueses, memorável Batalha de Aljubarrota. Nesse referido ano de 1983 comemorava-se (e que inesquecível e espectacular comemoração foi aquela junto ao Mosteiro da Batalha, recordas-te, Humberto?) os 600 anos de tal gloriosa efeméride. E, Humberto, que melhor local, no mundo, para nos termos conhecido, que não fosse Aljubarrota? Estava escrito nas estrelas que assim tinha que ser. E foi.
Pouco interessa, neste contexto em que eu te escrevo esta missiva, se eu votei em ti ou não, isso nas eleições do passado domingo, dia 7 de Junho de 2009, para o Parlamento Europeu. O que eu quero e realmente me importa deixar aqui registado – passado que foi a realização das ditas eleições – é que me agradou bastante a tua intervenção política nas mesmas; o teu enorme portuguesismo; a tua coragem e coerência; a tua fidelidade a Portugal; a tua superior inteligência na abordagem das questões lançadas por ti na tua campanha; o teu à-vontade no trato das respostas (e da RESPOSTA pronta) às perguntas que os jornalistas te colocaram e, sobretudo, à inesperada surpresa que tu causas-te entre os ditos nas entrevistas que tu lhes destes nas rádios e nas televisões.
Na verdade eles estavam à espera de uma qualquer criatura mais ou menos boçal que, logo às perguntas mais banais ou matreiramente urdidas, se espalhasse ao comprido, como se costuma dizer. Talvez esperassem (para eles era o ideal, não era?) um “brutamontes” de um “Skinhead” (1)? Porém (e que grande desilusão eles sofreram!), tu não foste nada disso, já que tu não és nada disso. Independentemente daquilo que eu possa pensar acerca do PNR, tu foste absolutamente brilhante. Independentemente de eu achar que o PNR não te merece lá ter (e esta minha afirmação é meramente pessoal, é evidente), muito obrigado Humberto Nuno de Oliveira. Assim como, um dia, nos conhecemos em Aljubarrota e porque isso estava escrito, estava também já escrito que eu, passados estes 26 anos (como o tempo passa, não é?), te tinha que te escrever estas palavras.


António José dos Santos Silva

sábado, 19 de dezembro de 2009

Diferenças e diversidade

Agência FAPESP – Mais finos ou mais grossos, pouco ou muito. Há muitas variações com relação às características dos pelos humanos. Mas há diferenças ainda maiores entre os pelos do homem e os de um chimpanzé, seu parente mais próximo.
Os genes que fazem com que uma espécie seja diferente da outra são os mesmos responsáveis pela diversidade observada na própria espécie? Essa é uma questão que há muito os cientistas tentam responder.
Um novo estudo, publicado na revista Science, indica que a resposta é sim. Os genes da diversidade são os mesmos, seja entre espécies ou dentro delas, pelo menos em alguns casos.
A pesquisa, feita por Patricia Wittkopp, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e colega, indica uma origem genética para as diferenças em pigmentação entre duas espécies próximas de insetos. Os mesmos genes atuam na determinação de cores diferentes dentro de cada uma das espécies.
Os cientistas analisaram os mecanismos genéticos que definem a pigmentação em duas espécies de drosófilas, a Drosophila americana, que tem cor marrom escuro, e a Drosophila novamexicana, que é amarelo claro.
“Inicialmente procuramos identificar que partes dos genomas contribuíam para as diferenças de pigmentação entre as espécies. O mapeamento genético nos levou a duas regiões que contêm genes envolvidos na pigmentação”, disse Patricia.
Em seguida, o grupo focou em um gene específico, conhecido como “bronze”, e mapeou novamente os genomas, verificando que mudanças evolucionárias nesse gene – e não em outro na mesma região – contribuíram para as diferenças de pigmentação.
Os pesquisadores transferiram cópias do gene “bronze” da espécie amarela para moscas de outra espécie diferente (Drosophila melanogaster) e, depois, fizeram o mesmo com o gene “bronze” da espécie marrom. “A única diferença entre os dois grupos de moscas modificadas foi o gene transferido. E essa diferença foi suficiente para resultar em variação na pigmentação”, disse Patricia.
Em seguida, os pesquisadores investigaram as diferenças de tonalidade em indivíduos da espécie Drosophila americana – alguns são bem mais escuros do que os outros.
Por meio de mapeamento genético, o grupo encontrou evidência de que o gene “bronze” também contribuía para variação de cores entre indivíduos da espécie marrom.
Na sequência do estudo, os pesquisadores pretendem determinar quais são as mudanças genéticas dentro do gene responsáveis pelas diferenças de pigmentação. Segundo eles, embora o trabalho tenha se centrado em moscas-de-frutas, poderá levar a um melhor entendimento dos padrões de variação na natureza.
“Trata-se de um modelo, mas quando verificamos os mecanismos básicos da herança – como informações são passadas de uma geração a outra – o processo é essencialmente o mesmo em todos os seres vivos. Mutações que contribuem tanto para variações dentro das espécies como entre espécies podem ser uma fonte comum de mudanças evolucionárias”, disse Patricia.
O artigo Intraspecific polymorphism to interspecific divergence: genetics of pigmentation in drosophila, de Patricia Wittkopp e outros, pode ser lido na Science em www.sciencemag.org.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

DIA DE PORTUGAL

Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas

De celebração em celebração vamos empacotando os símbolos vivos da nação, na banalidade da rotina factual comemorativa, como se tratasse de sardinhas embrulhadas em folhas de jornal. Festa de desobriga com golfadas de incenso para o corpo moribundo da nação.

A 10 de Junho de 1580 morre Luís de Camões, o Homem que cantou o alvorecer e expandir de Portugal. Camões conseguiu, na sua incomparável epopeia “Os Lusíadas”, imortalizar o espírito português. “Os Lusíadas” tornaram-se o livro da identidade portuguesa. Identidade esta, com o tempo desbotada pelo sol desgastante da ideologia e pelas ondas enleantes das revoluções.

Os descendentes dos Homens-bons afirmam que, à morte de Camões, Portugal também morreu. Seguramente, uma afirmação certa no que respeita à classe política dos governantes de Portugal. Esta já não entende Camões nem entende a alma portuguesa, hoje residindo no borralho das cinzas do povo. Um governo “fraco torna fraca a forte gente…” escrevia aquele visionário que ao morrer terá dito "Morro com a Pátria"!

Não, Portugal não morreu. Só morrerá quando deixar de possuir aquilo que o criou, ergueu e tornou específico: a fé. A grandeza de Portugal foi construída à sombra do cristianismo. O povo assumiu a missão cristã tornando-a sua. Pátria e fé eram uma coisa só. O povo sabia conjugar o “ heróico” com o “imortal”. Assim, os portugueses descobrem o mundo como missionários da pátria. Com o andar dos tempos perdeu-se o povo e com ele a pátria também. Agora, dela pouco mais resta do que massas à deriva e um Estado de abutres que voam sobre elas.

A obra à nossa frente não é menos grandiosa do que a dos descobrimentos. Já não chega uma restauração, é necessário uma nova descoberta. Hoje, os Homens Bons” terão de se deitar à missão de, primeiro, descobrir o povo e a pátria, na redescoberta do novo cristianismo.

Para ressurgir terá de descobrir “mares nunca antes navegados”. Terá de ultrapassar a “Taprobana” do materialismo institucional estatal e religioso. Terá de, como os nossos “egrégios avós”, possuir a coragem de se lançar no fluxo da vida, arriscar e ousar “pecar corajosamente” para abandonar as certezas dos “Velhos do Restelo” que, agarrados às velhas ideologias materialistas, fizeram o 25 de Abril, embrulhando, com elas, um povo inteiro. Filhos da escrava, da russa Agar, da gálica Libertas, continuam a enxovalhar, inconscientes, a grei.

Portugal, desembrulhado, voltará a descobrir-se povo e então redescobrirá a missão que o levará à vitória sobre o nevoeiro estranho que embacia o cérebro das nossas elites e tolhe a vida moura do país.

Então, alijará as formas mecanicistas do seu pensar para poder proporcionar o salto quântico da nova física, a nova consciência. Uma nova mundivisão, surgida já não de revoluções de interesses oportunos e subjugadores mas dum impulso genuíno de verdade, dum desejo de liberdade criadora e universal.

Não teremos a ajuda dum infante D. Henrique que concatenou então saber e engenho e energia universal. Seremos ajudados por um processo paulatino desformatizador das formas do medo, do ganho, da avidez e do poder. O sofrimento e o desespero duma natureza cada vez mais atrofiada despertar-nos-á para uma nova criatividade, um novo pensar. Então sonho e realidade serão as formas do mesmo pensar. Então seremos tão livres que não saberemos onde a liberdade começa nem acaba. Então navegaremos à tona do mar como se esta fosse o seu fundo! Descobriremos no céu do horizonte novos mundos com caminhos diferentes. Nesse mundo da nova consciência a dignidade já não é apenas humana, passa a ser natural!

No novo mar português, o Povo já não descobre; ele pode criar porque a nova cultura já não é poder nem ter, mas sim relação.

Até lá vamos rasgando a cobertura das ideologias do céu português. Das aberturas surgirão novas auroras e do céu baixarão as cores do arco-íris. Então todas as relações e ligações serão libertadoras e benditas porque, entre uns e outros, deixará de haver muros, para nos delimitar chegarão apenas as cores do arco-íris.

António da Cunha Duarte Justo

Plasticidade comprometida

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Ao estudar células nervosas em moscas-das-frutas (Drosophila melanogaster), cientistas norte-americanos descobriram uma nova função para um gene cujo equivalente em humanos tem um papel fundamental na esquizofrenia.
Os pesquisadores da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), nos Estados Unidos, já sabiam que a forma mutante do gene humano – um dos três consistentemente associados à esquizofrenia – interrompe levemente a transmissão de sinais químicos entre as células nervosas do cérebro.
O estudo, publicado na revista Science, tem foco em genes envolvidos na chamada “plasticidade adaptativa” – a capacidade das células nervosas em compensar uma ampla gama de perturbações e permanecer funcionando normalmente.
Pesquisas feitas com diversas espécies – de moscas-das-frutas até humanos – mostraram que, se uma célula nervosa for funcionalmente comprometida, as células vizinhas podem compensar o prejuízo e restaurar a comunicação normal entre células. Esse tipo de plasticidade adaptativa estabiliza as funções cerebrais, mas as moléculas envolvidas no processo ainda permanecem desconhecidas.
A equipe coordenada por Graeme Davis, chefe do Departamento de Bioquímica e Biofísica da UCSF, realizou testes de triagem com 276 genes mutantes, ou “desligados”, a fim de determinar se sua ausência teria algum papel na plasticidade adaptativa do sistema nervoso das moscas-das-frutas.
Ao contrário do que ocorreu com a maior parte dos genes, a ausência do gene conhecido como disbindina teve grande impacto na plasticidade adaptativa. “A mutação do gene comprometeu completamente a capacidade dos circuitos neurais para responder a uma perturbação experimental – isto é, para ser adaptável”, disse Davis.
Segundo ele, a mutação da disbindina foi uma das poucas mutações genéticas a causar tal efeito. “A função singular do gene sugere que o prejuízo à plasticidade adaptativa pode ter uma particular relevância para a causa ou progressão da esquizofrenia”, afirmou.
A esquizofrenia geralmente se desenvolve no fim da adolescência ou no início da idade adulta. Segundo o estudo, é possível que as mudanças normais de desenvolvimento nessa fase da vida representem um esforço significativo para as funções neurais.
“Se isso realmente ocorre, a capacidade do sistema nervoso para responder a essas mudanças normais de desenvolvimento – que em certo sentido são perturbações – pode estar comprometida nas pessoas que se tornam esquizofrênicas”, disse Davis.
O próximo passo para as pesquisas consistirá em investigar se a ausência do gene disbindina provoca um bloqueio da plasticidade adaptativa em camundongos e se outros genes ligados à esquizofrenia causam efeito semelhante.
O estudo revelou, ainda, uma visão mais geral sobre os mecanismos de plasticidade adaptativa, pois foi possível descartar o envolvimento de inúmeros genes que haviam sido previamente considerados potenciais atores do processo.
“Testamos várias mutações que alteram a função neural. A maioria delas mostrou perfeita plasticidade adaptativa. Isso sugere que existem papéis distintos para os genes na sinapse: alguns apóiam a função neural normal, enquanto um pequeno subconjunto controla a plasticidade adaptativa”, disse.
O fenômeno da plasticidade adaptativa, segundo os autores, representa uma área emergente de investigação nas neurociências, reconhecida pela primeira vez há cerca de uma década. Os primeiros estudos de Davis – cientista pioneiro da área – mostraram que, quando os genes em funcionamento no sistema nervoso das moscas-das-frutas sofrem mutação, o sistema nervoso compensa a modificação e os animais parecem surpreendentemente normais.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

No rastro dos tubarões

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – A partir da análise de fragmentos do DNA mitocondrial de barbatanas, um grupo norte-americano, com participação de pesquisador brasileiro, conseguiu reconhecer a região geográfica oceânica na qual tubarões-martelo da espécie Sphyrna lewini – globalmente explorada pela pesca – foram capturados.
O estudo analisou parte da sequência do DNA mitocondrial extraído de nadadeiras comercializadas. Um dos objetivos do trabalho, publicado na revista Endangered Species Reseaech, é propor a moratória ou a restrição da captura dessa espécie de tubarão-martelo, atualmente ameaçada de extinção devido à caça predatória e ao comércio ilegal de barbatanas.
As barbatanas alimentam um mercado clandestino, principalmente na Ásia, onde atingem alto valor comercial. A sopa de barbatana de tubarão é considerada pelos povos orientais uma iguaria, muito apreciada em cerimônias como casamentos e banquetes.
“Conseguimos associar todas as barbatanas analisadas a uma determinada área dentro dos oceanos, onde essa espécie de tubarão-martelo habita, com base na similaridade entre a composição genética das barbatanas e estoques genéticos dos indivíduos dessas águas”, disse Danillo Pinhal, doutorando no Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Botucatu, à Agência FAPESP.
A pesquisa foi coordenada por Demian Chapman, da Universidade Stony Brook, em Nova York, e por Mahmood Shivji, diretor do Instituto de Pesquisa Guy Harvey, da Universidade Nova Southeastern, na Flórida, Estados Unidos.
Pinhal se integrou à equipe para desenvolver parte de seu doutorado, intitulado “Estrutura genético-populacional do tubarão-martelo Sphyrna lewini (Elasmobranchii: Sphyrnidae) utilizando marcadores moleculares de microssatélites”, que tem apoio da FAPESP na forma de bolsa. O projeto se insere no âmbito de um Auxílio à Pesquisa, coordenado pelo professor Cesar Martins, do Instituto de Biociências da Unesp.
Segundo Pinhal, o objetivo da pesquisa de doutoramento é entender a dinâmica populacional da espécie Sphyrna lewini ainda mais detalhadamente, ao longo da costa brasileira.
“Realizo uma análise em fina escala comparando um grande número de indivíduos oriundos de múltiplas localidades, na costa do Brasil. Também utilizo amostras do Caribe e do Golfo do México e marcadores genéticos microssatélites, além do DNA mitocondrial, para estabelecer uma comparação da composição genética dos animais ao longo da costa brasileira em relação a essas áreas e melhor avaliar a evolução contemporânea da espécie”, explicou.
Além das barbatanas, o estudo também comparou o DNA de 177 amostras de indivíduos selvagens de S. lewini do Atlântico e determinou a variabilidade genética dos estoques existentes.
Pelas análises foi possível identificar três estoques distintos no Atlântico Ocidental, compreendendo a parte norte do Atlântico (Estados Unidos e Golfo do México), a parte central (Mar do Caribe) e o Atlântico Sul, que englobaria todo o litoral brasileiro.
Uma das possíveis explicações para a diferenciação genética dentro de uma mesma área se daria pela existência dos berçários ao longo da costa, constituída de águas rasas, calmas e ricas em alimento.
“As fêmeas escolhem essas áreas porque há segregação entre neonatos e adultos machos que ali não habitam e assim, não predam seus próprios filhotes, uma das estratégias da espécie”, disse.
A alta fidelidade de as fêmeas ao local de nascimento seria outro motivo para explicar a presença de estoques distintos da espécie no Atlântico Ocidental. “Não só verificamos que a tendência de filopatria, ou seja, a chance das fêmeas retornarem ao local de nascimento, para ter os filhotes é muito maior do que se pensava, como percebemos que há uma grande diferenciação entre populações de pontos relativamente próximos”, apontou.
Segundo ele, essas características seriam responsáveis pela diferenciação genética nessas áreas. Além disso, a continuidade da pesquisa de doutorado busca também entender melhor a movimentação dos machos.
“Mostramos que existe diferenciação entre as populações do tubarão-martelo S. lewini não somente entre os oceanos, como já havia sido publicado, mas também em menor escala, entre áreas relativamente próximas. Observamos que dentro de um mesmo oceano, no caso o Atlântico, se encontram populações geneticamente bastante distintas”, disse Pinhal.
Ameaça
O estudo destaca que as espécies de tubarão-martelo são alvo da pesca predatória. As barbatanas chegam a custar de 20 a 30 vezes do mais que o quilo da carne do animal. Hong Kong é o principal comércio mundial de barbatanas, mas a prática está disseminada em todo o mundo.
“O problema é a falta de fiscalização da pesca e do comércio do pescado. Os pescadores empregam o finning, método em que o animal é capturado e, depois de cortadas as barbatanas, é jogado no mar ainda vivo. Como não consegue mais nadar, agoniza até a morte”, contou Pinhal.
No artigo publicado, os pesquisadores concluíram, a partir da análise da região controle do DNA mitocondrial (mtCR), que 21% das barbatanas analisadas eram provenientes do Atlântico Ocidental, região onde o tubarão-martelo já entrou na lista de espécies consideradas “em perigo”, segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). De acordo com o biólogo, é a primeira vez que um estudo conseguiu determinar a origem geográfica de barbatanas utilizando o DNA.
De acordo com diversas pesquisas, o declínio global do tubarão-martelo já o coloca como uma espécie em perigo de extinção. “Na costa brasileira, como temos verificado que há falta de peixes, os pescadores têm capturado e aproveitado também a carne. Podemos dizer que a prática do finning caminha para não ocorrer mais, porque estão tentando aproveitar tudo em função da queda nas pescarias tradicionais, ou seja, de outras espécies que eram comumente comercializadas”, disse Pinhal.
Segundo ele, as análises de DNA estão contribuindo significativamente para o conhecimento acerca da distribuição e da saúde das populações de espécies marinhas criticamente ameaçadas.
“Os tubarões são particularmente sensíveis à exploração excessiva em função de apresentarem crescimento lento, maturidade sexual tardia e baixa fecundidade relativa, características biológicas que os aproximam dos mamíferos”, destacou.
O pesquisador ressalta que o trabalho tem como meta fornecer mecanismos que possibilitem a adoção de medidas para o adequado manejo e conservação dessas espécies de peixes.
O grupo pretende utilizar dados publicados no artigo para propor medidas de proteção na Convention on Internacional Trade in Endangered Species, que será realizada em março de 2010 no Qatar.
O artigo Tracking the fin trade: genetic stock identification in western Atlantic scalloped hammerhead sharks Sphyrna lewini, de Demian D. Chapman, Danillo Pinhal e Mahmood S. Shivji, pode ser lido em www.int-res.com/abstracts/esr/forensic/pp9.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Quatro planetas são descobertos

Agência FAPESP – Um grupo internacional de caçadores de planetas acaba de descobrir quatro novos desses corpos celestes em órbita de duas estrelas relativamente próximas e que são muito parecidas com o Sol.
Os planetas foram encontrados por astrônomos australianos, britânicos e norte-americanos, com a ajuda dos telescópios Anglo-Australiano e Keck, localizados respectivamente na Austrália e no Havaí. O anúncio foi feito no passado dia 13 de Dezembro.
O grupo não observou os planetas diretamente, tendo usado para a detecção o efeito Doppler, que mede como os planetas são atraídos pela gravidade das estrelas dos sistemas de que fazem parte.
Dos planetas descobertos, três orbitam a estrela 61 Virginis, que é praticamente uma gêmea do Sol, tamanha a semelhança entre as estrelas. As massas dos planetas variam de 5,3 a 24,9 vezes a massa da Terra.
“Esses planetas são especialmente instigantes. Estão próximos, em tamanho, à Netuno, que tem 17 vezes a massa da Terra. Aparentemente, há muitas estrelas parecidas com o Sol que contam com planetas dessa massa ou menor. Isso indica um caminho para descobrirmos planetas menores que podem ser rochosos e com condições favoráveis ao suporte da vida”, disse Chris Tinney, da Universidade de New South Wales, na Austrália, um dos autores do estudo que será publicado em breve no Astrophysical Journal.
A 61 Virginis pode ser vista da Terra a olho nu. Ela se encontra a 28 anos-luz da Terra na constelação de Virgem, que, nesse período do ano pode ser observada algumas horas antes do nascer do Sol.
O quarto planeta descoberto é bem maior, com massa semelhante à de Júpiter, e orbita a estrela 23 Librae, também parecida com o Sol. A estrela está a 84 anos-luz da Terra na constelação de Libra. É o segundo planeta observado nessa constelação, após o primeiro em 2006. O novo planeta tem uma órbita de 14 anos, um pouco maior do que a de Júpiter, que é de 12 anos.
“O que detectamos nesse sistema estelas é muito parecido com o que encontraríamos em nosso Sistema Solar se o estivéssemos observando a distância”, disse Simon O’Toole, do Observatório Anglo-Australiano, outro autor da descoberta.
Outro ponto destacado pelos pesquisadores é a colaboração entre equipes e instrumentos, com o uso conjunto, no caso, de dois potentes telescópios. “Com essa colaboração, teremos uma excelente chance de identificar, nos próximos anos, planetas potencialmente habitáveis em órbita de estrelas próximas”, disse Paul Butler, do Instituto Carnegie, em Washington, outro autor do estudo.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Mais quente e seco

Agência FAPESP – Dados preliminares do projeto Mudanças Climáticas Impactantes no Brasil, colaboração entre o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Met Office Hadley Centre, do Reino Unido, indicam que o aquecimento global e desmatamentos podem causar grande impacto na floresta amazônica e também afetar o clima local e regional.
Além disso, de acordo com o Inpe, reforçando conclusões de estudos anteriores, a pesquisa aponta que o desmatamento em grande escala poderá tornar o clima mais quente e seco.
Se mais de 40% da extensão original da floresta amazônica for desmatada, pode significar a diminuição drástica da chuva na Amazônia Oriental. Esse percentual, ou aquecimento global entre 3°C e 4°C, representaria o tipping point, ou seja, o ponto a partir do qual parte da floresta corre o risco de entrar em colapso.
O projeto foi apresentado durante evento do Met Office na 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP15), em Copenhague.
O estudo foi desenvolvido a partir de modelos climáticos do Inpe e do centro britânico, que indicam um aquecimento maior nas regiões tropicais amazônicas em relação ao aumento médio de temperatura projetado para as áreas continentais do planeta.
Outro resultado importante é a tendência de tropicalização do clima em parte do Brasil, com duas estações ao ano. Nesse cenário, a primavera pode se tornar tão ou mais quente que o verão em algumas regiões hoje de clima subtropical.
“Esses impactos são extremamente importantes porque reduções de precipitação nas bacias levarão à diminuição da geração de energia hidrelétrica. Os modelos mostram que concentrações mais baixas de dióxido de carbono na atmosfera causam menor aquecimento e, portanto, menos impactos nas chuvas e nos regimes de temperatura e de extremos de clima. Talvez para o Brasil a melhor opção de mitigação dos efeitos do aquecimento global seja reduzir o desmatamento tanto quanto possível”, disse José Antonio Marengo, coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Mudanças Climáticas do Inpe.
Também é importante ressaltar que os próprios impactos do desmatamento são maiores em condições de seca. Por conta disso, reduzir o desmatamento ajudaria a manter a floresta mais resistente num clima sob mudanças. Pelo Inpe participam do projeto os pesquisadores Carlos Nobre, Gilvan Sampaio, Luiz Salazar e Marengo.
Enquanto o modelo climático global do Hadley Centre é usado para projetar mudanças do clima em todo o mundo, o modelo climático regional do Inpe fornece maiores detalhes sobre o Brasil para níveis diferentes de aquecimento global.
Mais informações: www.inpe.br

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Nova Déli lança campanha para combater o ato de urinar em público, será que Portugal vai lançar uma campanha para combater os políticos corruptos...

A capital indiana vai sediar os jogos da Comunidade das Nações em 2010. E lançou uma campanha para combater o ato de urinar, cuspir e jogar lixo nas ruas que passam a poder ser punidos com multas.
Uma boa iniciativa que merecia ser também seguida em Portugal, com uma campanha para combater os políticos e gestores corruptos que se deixam comprar por caixas de peixe ou meia dúzia de euros embrulhados em papel de almaço...
Podia delimitar-se como útil urinar ou defecar publicamente em cima dos políticos corruptos, como forma de os notificar da imagem que tem para os portugueses.

O senhor Pinto continua sob suspeita publica

O maior dilema politico, e que virou autentico problema nacional relativamente a imagem e credibilidade do PM, é no momento o assunto das escutas telefônicas de conversas do senhor Pinto, com alguns amigos implicados em inúmeros casos de corrupção e outros crimes que tais.

A questão central não é se foi escutado, pois não existem cidadãos acima da lei... ou se não devia ter sido escutado..., pois ninguém obviamente está livre de ser escutado..., mas sim, a verdade sobre o assunto uma vez que já esta mais do que provado que o homem foi escutado, e também já esta alegadamente provado que não pescou nem comeu os robalos, mas quem sabe foi efetivamente convidado para o repasto... pelo menos da duvida ninguém o livra.

Na verdade o desconhecimento real, por parte dos portugueses, em termos de veracidade sobre o muito que se vai escutando por cada rua, esquina, repartição publica, café ou boteco, é que deixa o senhor Pinto sob constante e crescente suspeita publica, e aumento do descrédito na sua credibilidade e honorabilidade como pessoa publica, ainda mais com as responsabilidades nacionais que tem sobre as suas costas.

Os portugueses neste momento do campeonato, e perante o ponto da situação, e em especial do constante vazamento de informações sobre o assunto, tem o direito de saber o que realmente esta a acontecer, uma vez que o assunto por portas e travessas já se tornou do foro publico... e sendo boatos ou verídicos os episódios e as historias que correm, com o constante silencio, só podem agravar as duvidas na mente dos cidadãos, e aumentar o ruído exterior...


“João Massapina”

sábado, 5 de dezembro de 2009

UM CERTO ODOR SALAZARENTO

O que me provoca uma repulsa epidérmica neste processo (no sentido dialéctico do termo, não no sentido jurídico-burocrático) de «Face Oculta» são três coisas:
• Um ar certo de leviandade generalizada
• Um odor forte de ausência de profissionalismo
• Um toque fatal de moralismo provinciano
Confesso que a junção destes três ingredientes me parece uma amostra de um caldo de cultura do piorzinho que Portugal tem. Um compósito de resíduos inquisitoriais-pidescos com cheirete a salazarenta sacristia, tudo muito repelente e de má memória, insuportável e incompatível com a Democracia. Leviandade e incompetência profissionais pintadas por fora com umas tintas de moralismo são, de facto, um traço típico de um certo Portugal salazarento.
Confesso que não percebo o “moralismo”, vindo de quem vem, e muito menos entendo o ar de leviandade e falta de profissionalismo em pessoas e cargos a que tal não se pode admitir. Fica-se com a ideia de que os que têm como função e obrigação velar pelo Estado de Direito nem se preocupam já sequer com o direito de Estado e passaram no seu quotidiano a ignorá-lo. E tão evidente isso é que até Proença de Carvalho se permite, sob forma interrogativa, declinar o tema Agentes da lei fora da lei...
A confirmarem-se estes ares, odores e toques, então, o Estado português terá entrado em anomia e ter-se-á tornado disfuncional e contraproducente… E isso obriga cada português a tirar conclusões. E a primeira será, nesse cenário, que o Estado Português falha a única missão que o justifica e legitima e pela qual lhe pagamos: garantir a segurança e o bem-estar dos cidadãos. E, se o Estado falha, serão os próprios cidadãos a ter que assumir o essencial da sua segurança e do seu bem-estar… Para ter umas luzinhas sobre o império futuro (mas próximo) deste novo “sistema D”, leia-se John Robb que tem algumas pistas (“power to the people” e “resilient communities”) sobre o assunto.
Gostaria – confesso-o - que Robb estivesse totalmente enganado, na análise e nas propostas, mas quanto mais o leio e quanto mais observo o que se passa à minha volta mais dúvidas tenho sobre as possibilidades de realização deste meu desejo.
José Mateus Cavaco Silva

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Haverá asas brancas nas costas de Pinto Monteiro?

Vamos ver se nos entendemos: Fernando José Pinto Monteiro é procurador-geral da República desde Outubro de 2006 e a sua nomeação foi uma escolha pessoal do primeiro-ministro José Sócrates. Pinto Monteiro, coitado, não tem culpa disso - são as regras da pátria -, mas factos são factos: ele deve a José Sócrates o gabinete mais espaçoso no palacete da Procuradoria. Não foi o Parlamento que o pôs lá. Não foi o Presidente da República (formalismos à parte) que o pôs lá. Foi o Governo, foi este primeiro-ministro.
Implicação óbvia: nem por um momento Pinto Monteiro pode deixar transparecer que a sua independência possa estar em causa quando se trata de lidar com suspeitas que recaem sobre o primeiro-ministro. Mas é isso que tem transparecido. Pinto Monteiro teve azar, porque ninguém poderia imaginar que o percurso de Sócrates contivesse material capaz de animar cinco séries inteiras do CSI. Só que ele, como PGR, também não tem dado mostras do distanciamento que lhe seria exigido no caso "Face Oculta", em que, se não está a proteger o primeiro-ministro a todo o custo, está pelo menos a imitar muito bem.
Os golpes de cintura que Pinto Monteiro tem dado para impedir que se saiba o que quer que seja sobre as certidões emitidas pelo juiz de Aveiro são dignos de um malabarista do circo Chen. A coisa chegou a tal ponto que a própria associação dos juízes se viu obrigada a emitir um comunicado duríssimo, em que fala de uma "inexplicada divergência de valoração dos indícios que foi feita na comarca de Aveiro e pelo PGR", considerando que "os deveres de transparência e de informação impõem o esclarecimento daqueles equívocos", e que é "imperioso" que "se proceda à publicitação das decisões do PGR e do presidente do Supremo Tribunal de Justiça".
Os juízes têm toda a razão. Afinal, que argumentos apresentou até agora o procurador para mandar as certidões e as suspeitas sobre Sócrates para o baú? Zero. Pinto Monteiro disse: "Não há indícios probatórios" e esperou que todos acreditássemos. O procurador deu-nos a sua palavra e nada mais. Ora, diante de todas as notícias vindas a público, qualquer português que não viva à sombra do guarda-sol cor-de-rosa perguntar-se-á: e porque vou eu acreditar na palavra, e nada mais do que a palavra, de um homem que foi posto naquele lugar por José Sócrates?
As regras institucionais existem exactamente para não estarmos apenas dependentes da boa vontade e do carácter de determinados homens. Se fôssemos todos anjos, não precisaríamos de leis nem de edifícios jurídicos. Ora, até este momento, Pinto Monteiro limitou-se a apontar para as suas costas e a rezar para que o povo ali vislumbrasse um belo tufo de penas brancas. Eu, infelizmente, não vislumbro.

“João Miguel Tavares”