segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Mais falências no Verão, maior desemprego no Outono

Os estudos efectuados pela Coface Portugal, e publicadas esta semana no Jornal de Notícias (JN) revelam que em Julho deste ano faliram mais 28 empresas do que em igual período de 2008 (mais 28%) e que entraram mais 100 pedidos de insolvência (pelos próprios, apresentada; ou por terceiros, requerida). Instala-se o receio efectivo de que muitas empresas não abram depois das férias de Verão e uma insegurança atroz assola os portugueses.

Só em Julho, contabilizaram-se 128 falências e 308 pedidos de insolvência. Esta tendência infelizmente não é nova, e tem vindo a agravar-se de ano para ano, mas agora, e dada a conjuntura que Portugal atravessa, muitos especialistas económicos e muitos analistas políticos, já temem o pior.

O economista Luís Bento afirmou ao JN que estava convicto que «muitas empresas que nos últimos meses tentaram sobreviver, endividando-se e reestruturando pessoal, vão verificar que vão ter que fechar as portas, porque se mantêm os problemas de tesouraria, com clientes que não pagam e com a banca a não dar apoio».

Para o presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), Francisco van Zeller, «os sectores que mais sofrem com os atritos da concorrência, também terão sérias dificuldades», e explica que em alguns casos «são as micro empresas que podem reabrir» mas, noutros, como o segmento dos componentes automóveis, «se fecharem o caso será muito mais sério».

Os números anunciados pelo estudo da Coface Portugal, confirmam que é o no sector da indústria transformadora que se registam mais insolvências (39), logo seguido pelo sector da construção (27), e pelo comércio a retalho (17). Tendo em conta estes três sectores, e os últimos cinco anos, verifica-se que estas são áreas recorrentes, onde se registam mais falências nos meses de Verão, desde o ano de 2004. Já no que diz respeito a “pedidos” de insolvência, entra em contabilidade um quarto sector, os serviços, que registaram um total de 40 pedidos de insolvência.

O economista Luís Bento, acrescentou ainda ao JN um outro dado, já verificável em Agosto, «o encerramento de micro empresas de turismo, que nem esperam pelo fim de Agosto, nota-se no Algarve e percebe-se com o aumento do desemprego na Madeira».

Mas o país não é todo igual e há distritos que se destacam no número de insolvências declaradas (que corresponde ao início do processo, podendo ditar ou não o fecho da empresa). É o caso do Porto, que em Julho já registava 31 falências, mais 21 do que em período homólogo, e que nos últimos cinco anos foi mesmo o distrito que mais falências apresentou, num total de 92, para o mesmo espaço temporal. Segue-se Braga com 29 falências declaradas (mais 12) e depois Lisboa num total de 16 insolvências.

Apesar de muitas campanhas políticas nos quererem fazer crer que a recessão estará a chegar ao fim, estas não passam de meras campanhas panfletárias, de um sistema político gasto e falacioso, que vive de mentiras e enganos fabricados para períodos de ilusões eleitoralistas.

Ainda que muito indicadores económicos sejam propositadamente inibidos e mascarados, o desemprego é uma realidade que vem engrossando o caudal da precariedade de vida dos trabalhadores portugueses, e acreditamos que corremos riscos de um Outono mais revolto e melancólico pelo cair doloroso da esperança, do que pelo cair natural das folhas.


Aveiro, 28 de Agosto de 2009 Susana Barbosa

O nosso amigo Sócrates ontem fartou-se de inaugurar

- Eu ontem não ouvi o “honoris causa”, não tive pachorra.

- Qual “honoris causa”?

- Faz de conta que é.

Custou-me a perceber que se tratava de Marcelo Rebelo de Sousa. Eu costumo ter pachorra porque ele dá sempre opiniões virtuosas, vê-se que anda bem informado, que tem tempo para tudo, estuda muito e que até sabe nadar e nada. Só não absorvo muitas vezes a matéria, devido à velocidade da sua argumentação que soa atropelada aos meus ouvidos retardatários. Também na apresentação final dos livros é um desmoronar estonteante de títulos, raramente acrescidos de comentário orientador. Novo-riquismo, acho, para termos Molière sempre presente. Bastava um livro de cada vez, que ele próprio tivesse lido e comentasse.

- Só ouvi aquela coisa em que ele estava a defender um governo de minorias e coligação – insistiu a minha amiga sempre de ideias fixas. Ele não acredita nas maiorias. Parece que se tornam propícias às ditaduras com perda das liberdades conquistada na mudança para a democracia.

A minha amiga é que disse, mas eu não ouvi isso, e ouvi mais do que ela. Suponho que ela estava a subentender o pensamento íntimo do Professor Marcelo na questão das maiorias absolutas, mais do que a reproduzi-lo.

O que eu tinha ouvido mesmo era que ele gostou do discurso da Manuela Ferreira Leite sobre o programa do PSD, de que eu também gostei, e que achou que ela abordou as questões fulcrais de um propósito de governação, como eu também achei. E até lhe fiquei grata por o ter achado como eu.

Mas apressei-me a referir que, à conta disso, o sr. Casimiro Rodrigues nos tinha apelidado de “babacas” e a minha amiga riu-se e recordou telenovelas brasileiras onde se usava muito o termo, decerto desfiguração do nosso “bacoco”, muito menos suave este do que o brasileiro, pelo predomínio dos fonemas oclusivos e fechados. A verdade é que me senti honrada pela companhia do Professor Marcelo nesse apelativo integrante e igualmente intrigante, para a minha sensibilidade confiante nos propósitos das pessoas em quem confio.

A minha amiga também prefere um governo de minorias, mas onde todos fossem chamados a intervir:

- Experimentem misturá-los, a ver se dá alguma coisa. E não se esqueçam da varinha mágica.

Foi, evidentemente, uma imagem caseira esta da varinha, e não evocação dos contos de fadas da sua infância e da minha, porque as fadas desapareceram de vez, só evocadas nos carnavais das criancinhas vestidas à maneira. Mas ressalvámos, respeitosamente, o Dr. Alberto João Jardim como excelente exemplar de fada com varinha, segundo alguns leais vassalos, mesmo fora dos carnavais que ele costuma frequentar com bom desempenho.

A minha amiga admitiu também a hipótese de Sócrates poder revestir-se dessas funções de fada com varinha:

- O nosso Ministro Sócrates ontem fartou-se de inaugurar e os seus ministros. Eu acho que ele vai ganhar, faz muito por isso, numa época de tanta concorrência frenética que estamos a viver.

Estamos, pois, bem longe já da varinha mágica de fazer o puré, que ela tinha alvitrado, misturando ministros das várias etnias ideológicas, por assim dizer. Cada um responsável pela sua pasta, trabalhando para o puré comum, isto é, para a Nação e os cidadãos, interapoiando-se e intervigiando-se, em zelos de honestidade, competência e esforço rentáveis e exigentes de correspondência, em idênticos parâmetros, desses cidadãos, de todos nós. Eu até que concordei.

Mas agora é que nos sentimos ambas mesmo babacas.


"Berta Brás"

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

OS AUMENTOS SALARIAIS E AS RELAÇÕES POLITICO-MILITARES

“Quem comeu o frango, há-de comer o galo, ou pagá-lo”

D.Francisco de Almeida

De:João J. Brandão Ferreira

Na sequência da actualização de remunerações e suplementos das Forças de Segurança(FS) - em que o governo se preparava,uma vez mais, para fazer-se esquecido relativamente ao parente pobre do Estado,em que as Forças Armadas (FAs) se transformaram depois do fim do Conselho da Revolução,em 1982 – dizia –acabou por ser aprovado, algo a martelo,o diploma que tenta harmonizar a tabela salarial e a condição militar dos,agora e apenas,tolerados militares.

Os cidadãos que servem Portugal nas FAs,começaram por ser desnivelados dos vencimentos dos magistrados,universitários e diplomatas,que em conjunto eram tidos como os grandes pilares do Estado ( e que o “Estado Novo” sábia e laboriosamente equiparara),para serem segregados, a seguir, das “alcavalas” das FS,para agora acabarem abaixo da tabela dos técnicos superiores da função pública. Ódio velho não cansa... mas,se assim é, tenham coragem e afrontem-nos, de caras e de vez!

O presente diploma, para além de conter varios aspectos criticáveis, dispõe que os aumentos para os generais de três e quatro estrelas “diapararam”relativamente ao resto das tropas. Até parece que os querem “comprar”...

Esta diferenciação tomou forma – salvo erro - no primeiro governo do Prof. Cavaco Silva em que, inclusivé,se retirou as chefias militares da grelha salarial dos diferentes postos, indexando-os aos cargos politicos. Ou seja, separaram-se os chefes do resto das tropas. Ora sendo a Instituição Militar (IM),caracterizada pela forte hierquização de postos e funções é natural que a tabela de vencimentos também reflita tal pressuposto. Mas não deve,sem embargo,pôr em causa a coesão a justiça relativa,o espirito de corpo e outros atributos especificos da IM,sem os quais os Exércitos são uma ficção.

E se os chefes militares – não sei se os quatro,se os três – apesar da violência verbal e escrita com que trataram o assunto,não conseguiram fazer valer os seus argumentos,ao menos que não aceitassem, no final,tamanha diferenciação.

Lamentavelmente parece ter sido usada, de novo, a técnica de má conduta consubstanciada no facto das chefias serem entretidas com determinados números e pressupostos e no fim verem-se confrontados com coisas diferentes.Chama-se a isto deslealdade.

Por tudo isto, há muitos anos que semelhantes procedimentos deveriam ter sido atalhados cerces e denunciados. Se o Dr Portas,por ex.,à segunda vez que tivesse chegado atrasado a uma cerimónia militar, já lá não encontrasse ninguém para o receber,certamente que não teria porfiado na irresponsabilidade e falta de educação do acto.

Ou quando o Dr Caldas,em directo na TV,quis fazer uma piada pífia com uma frase do Clemanceau – que ele julgava ser do Churchil – tivesse ,logo de seguida, engolido a graça,se calhar não teriamos chegado a este plano inclinado.

Lembram-se do Dr Jardim? Desde que um coronel na reforma lhe assentou as costuras nos idos de 70 e muitos,que tem tido um comportamento exemplar para com os militares – enfim,questão da bandeira regional,na capitania do porto e tentativa de “assalto”ao Palácio de S. Lourenço,à parte.

É preciso ultrapassar questões do foro “horticola”que nos tolhem e que têm permitido abusos e desconsiderações. Mas só assim poderemos ser respeitados.

O que mais dói,é que os estimáveis profissionais de uma instituição acima de tudo patriótica,que obrigatoriamente tem de dar de si uma imagem de coragem – fisica e moral – e que se consideram,com alguma justiça,os catedráticos da estratégia,da táctica,da logistica,operacionais ferozes de várias artes e saberes,se deixem – ao fim e ao cabo – tosquiar como cordeiros mansos,sem um ai! que se oiça.

Ainda por cima por aprendizes da politica, de muito baixa categoria.

Tenho pena que assim seja. E muita vergonha.


João J. Brandão Ferreira

Tcorpilav(ref)

MILITARES, REGALIAS E OUTRAS COISAS …

Era uma vez um jovem militar do quadro permanente. Tinha tido, em tempos, esta ideia de se tornar oficial e até à data não se tinha desenvencilhado mal. A Academia tinha-lhe mostrado outros horizontes, dado outras referências. Melhor ou pior “Arrumou-lhe” a cabeça de outra maneira. Transpirou muito e fez novas amizades. Conheceu a camaradagem. Aprendeu novas técnicas e, de repente, encontrou-se só, a pôr em prática a bagagem acumulada. Estava feito um profissional das armas. Tinha uma missão a cumprir! Não se dava ainda conta de que era um elo importante nessa missão, mas tinha uma ideia algo consistente de que esta não era propriamente equiparável àquilo que os seus amigos do liceu hoje em dia faziam na vida. Tinha algo de … transcendente. É isso, transcendente.

O nosso amigo habitava na sua unidade, mas aspirava a mudar a sua situação, isto é, gostaria de legalmente poder passar a dar nome a descendentes seus. Ambição perfeitamente plausível no campo humano e social, mas mais complicada de pôr em prática. No meio destas “crises existenciais” próprias da idade e do momento, sentia-se no entanto cada vez mais incomodado com o que de tempos a tempos ia ouvindo sobre a sua condição militar, que ele apesar de tudo muito prezava. Era o jornal “A” que zurzia os militares por causa do orçamento; o locutor da rádio “X” que vociferava que a vida estava cara, não havia hospitais nem estradas e os militares a gastarem dinheiro, etc., foi o facto de, no outro dia, quando viajava de autocarro, ter ouvido cochichar que os militares isto e aquilo, de tal modo que ele até foi no dia seguinte a correr ter com o homem dos serviços sociais perguntar se era verdade (não era); a maneira como no outro dia o tinham olhado quando tinha entrado fardado num café, como se de um marciano se tratasse; mais a prima da outra banda que lhe pedia para lhe comprar o produto XPTY, no “casão”, que era seguramente muito mais barato que cá fora, e a gasolina, meu Deus, a gasolina, ainda havia cidadãos que pensam que os militares têm a gasolina mais barata!

Estava o nosso jovem nestas cogitações, pensando quer certamente havia algo de errado pelo meio, quando apareceu a D. Sabedoria, personagem de elevada cultura e gabarito e lhe disse:

- “Meu bom amigo: coração ao alto! Pois não te disseram que a vida tinha destas coisas? Não te falaram da servidão militar juntamente com a nobreza da profissão? Pois toma a incompreensão popular que por vezes existe, como uma das servidões. Sempre assim foi, dificilmente deixará de o ser (vê a questão dessa maneira: as FAs são como um seguro de vida. Toda a gente o deve ter, mas quem gosta de o pagar? É um seguro caro que pagamos e ficamos satisfeitos quando o seguro não teve de ser utilizado). Há muitas razões para que situações destas existam. A maior delas é o desconhecimento. Vou fazer uma comparação para ilustrar o meu pensamento.

Como sabes a Força Aérea já teve a seu cargo uma Brigada de Pára-quedistas Ligeira praticamente completa e operacional, que foi uma das melhores unidades das FAs portuguesas. O orçamento para 1983 do Corpo de Tropas Pára-quedistas foi de 1.300.000 contos. Ora os pára-quedistas são uma tropa de elite, cara, que salta de avião, desloca-se em viaturas, veste, calça, come, dorme e treina, utilizando ainda uma panóplia muito variada de armamento. Tinham,na altura, um total de cerca de 3100 homens (320 civis).Pois bem, só o subsídio de almoço de uma empresa pública custou mais, no mesmo ano, ao erário público do que a Brigada de Pára-quedistas! Estás a abanar a cabeça, não acreditas? Então repara:

A dita empresa(a TAP) empregava cerca de 10000 trabalhadores em Portugal. O subsídio de almoço era, na altura, de 350$00. Atendendo a que um ano de trabalho tem 11 meses a 25 dias cada, se te quiseres dar ao trabalho de fazer contas, concluirás que só em “alimentação” a empresa gasta 962.500.000$00. Acrescentando a este valor o resultante de idêntico subsídio aos trabalhadores no estrangeiro (em média 1200$00/dia/pessoa), sendo estes cerca de 2000, obtém-se um total de 1.622.000$00, é superior a 1300 000$00!

Já acreditas?

Mas isto nem chega a ser a ponta do iceberg. Os exemplos são muitos, são públicos e revestem-se das mais variadas formas.

Uma grande parte de grupos profissionais, pelo simples facto de o serem, ficam habilitados a usufruir das mais variadas regalias: uns andam mais barato de avião, comboio ou autocarro; outros têm juros ou seguros bonificados, etc.

Regiões existem no país que também por si só conseguem beneficiar os seus habitantes, por exemplo, gasolina ou electricidade mais barata. Os contratos colectivos de trabalho concedem os mais variados benefícios: creches, subsídios de refeição, de aleitamento, casamento, funeral, horas extraordinárias, etc., etc. Grande parte dos funcionários do Estado dispõe de um complicado esquema de emolumentos, que permitem aumentar substancialmente os vencimentos base, para já não falar nas condições especiais, ou no usufruto de bens por parte de grupos seleccionados de eleitos que ocupam algumas posições chave na “sociedade”.

O nosso militar que ouvia atentamente, já de olho um pouco esbugalhado, engoliu duas vezes em seco e balbuciou:

- “Mas então se há tudo isto, porque é que só falam dos militares?”

A D. Sabedoria sorriu e disse:

- “Razões que a razão bem conhece mas que a conveniência esquece. Posso adiantar-te algumas: é fácil e prático por as culpas nos militares. Está na moda e faz jeito arranjar um bode expiatório; má fé, não é segredo para ninguém que a instituição militar não colhe simpatias por parte de alguns indivíduos, grupos e organizações; ignorância e ingenuidade de pessoas e grupos; falta de educação cívica a nível da escola e da família; falta de sensibilidade para os problemas de defesa nacional.

Mas olha, a mim o que me preocupa mais não é o facto em si mas antes as consequências globais do actual estado de coisas. Tais factos estão a gerar assimetrias e injustiças cada vez mais complexas em toda a sociedade, que fica assim enrredada num novelo cada vez mais difícil de desembaraçar. Os alicerces são falsos …”

O nosso homem que recuperava da incredulidade animou-se, colocou-se instintivamente numa posição parecida à de sentido e soltou:

- “Mas então ninguém denuncia uma coisa destas? Como é que o país aguenta?”

- “Acalma-te, retorquiu a D. Sabedoria em tom maternal. O País não se aguenta, endivida-se. Quanto ao denunciar é quase impossível. Sabes, o Hara-Quiri é uma prática que está confinada a alguns grupos de orientais. Nunca fez sucesso no ocidente. O público em geral não denuncia a situação por desconhecedor, os partidos para não perderem votos, os sindicatos para manterem e se possível melhorarem as “conquistas”, “as entidades competentes” para não destabilizarem… e quase todos enfim, porque têm de um modo geral aproveitado com o sistema. Já me esquecia, os órgãos de informação falam por vezes nisto, mas como cada um diz de sua justiça, conseguem baralhar a audiência fiando tudo na mesma”.

O nosso militar coçava agora a cabeça tentando pôr as ideias em claro:

- “Mas então não há nada a fazer, não há esperança?”

- “Olha amigo, ele haver há e muito, assim apareçam homens e condições para o fazer. Até lá,, não te apoquentes com o que dizem da gasolina. Conserva os teus ideais e vai em frente”.

E foi-se.



João José Brandão Ferreira

TCor Pilav (Ref)




PS. Este texto foi escrito em 1983. Pelos vistos ainda não houve “homens e condições” para fazer algo. Ignoro se o jovem ,apesar de tudo, se casou.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A encruzilhada

A dificuldade em formar um Governo apoiado numa maioria parlamentar vai ser a questão política fundamental após as eleições legislativas de Setembro. As contas que se vão fazendo com base nas indicações fornecidas pelas sondagens confirmam que apenas a reedição do Bloco Central é uma hipótese verosímil. Mas as condições actuais são semelhantes às que, nos anos 80, deram origem à primeira e única, até agora, coligação entre o PS e o PSD?

Em 1983, quando Mário Soares e Carlos Mota Pinto chegaram a acordo para formar um Executivo sustentado pelos dois maiores partidos, o país estava mergulhado numa grave crise económica. A taxa de desemprego estava em alta, os défices público e externo precisavam de ser atacados com medidas impopulares e era necessário garantir uma maioria suficientemente forte para executar um programa que iria colocar a contestação nas ruas, numa época em que o PCP dispunha de influência para explorar a seu favor as consequências da austeridade das políticas.

O Bloco Central é mal visto pelo que significa em termos de repartição de lugares e benefícios entre quadros socialistas e sociais-democratas em lugares que dependem da militância ou da simples simpatia partidária. Mas pelo menos dois pontos fulcrais para o futuro do país justificaram plenamente a sua constituição e a relevância histórica que assumiu, apesar da sua curta duração de dois anos.

Portugal precisava, desesperadamente, de financiamento e, para o conseguir, era preciso a credibilidade suficiente para negociar um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional, o que dependia de o país poder dar garantias políticas de estabilidade e governabilidade para combater os problemas que o tinham colocado à beira da bancarrota. Sem maioria no Parlamento, nem o PS, nem o PSD só por si tinham quaisquer possibilidades de reunir aquelas condições. Depois, era necessário dar um impulso definitivo nas negociações de adesão de Portugal à União Europeia e dar aplicação prática àquele que era o mais pacífico tema de consenso entre os dois partidos.

Os dois objectivos foram conseguidos. Quando, em 1985, o Governo do Bloco Central cai, abrindo as portas ao arranque da década cavaquista, a economia estava a iniciar um período de crescimento acelerado e o acordo de adesão que colocava Portugal no clube das democracias europeias, ainda em plena Guerra Fria, estava negociado e prestes a ser assinado. Só por isto, que não foi pouco, o Governo do Bloco Central valeu a pena. Resta saber o que há de semelhante entre a situação em que o país se encontra actualmente e o que sucedia na primeira metade dos anos 80, que possa justificar uma aproximação entre PS e PSD.

Aparentemente, as coincidências são muitas. Há uma crise económica grave, que não tem apenas a sua justificação na conjuntura internacional, o desemprego está em alta e os défices público e externo precisam de ser corrigidos, reflexo do crescente endividamento das famílias, das empresas e do Estado. Mas também há sinais de que o pior já terá passado e que, com lentidão, a economia estará a iniciar uma recuperação para terrenos positivos, embora de fraca intensidade.

É isto que faz a conjuntura parecer-se mais com a que Cavaco Silva encontrou quando ascendeu à liderança do seu primeiro Governo, minoritário no Parlamento mas que lhe abriu o caminho para duas maiorias absolutas, do que aquela que estava à espera de Mário Soares quando chegou ao poder aliado ao PSD de Mota Pinto. Caso se junte a estas circunstâncias o facto de José Sócrates e Manuela Ferreira Leite terem uma capacidade para conviver como a água e o azeite, a probabilidade de uma reedição do Bloco Central é fraca, mesmo que esta seja a única via para constituir um Governo confortavelmente assente numa maioria.

Caso sobrevivam como líderes dos seus partidos aos resultados das próximas legislativas, Ferreira Leite e Sócrates talvez prefiram arriscar a reedição do percurso de Cavaco, em detrimento de tentarem conquistar algumas vitórias na governação para depois serem derrotados nas urnas.


"João Candido Silva"

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A imagem da crise nas contas públicas

A violência e as características da actual crise antecipam um défice público dos mais elevados da história económica recente. Estão reunidas as condições para chegarmos ao fim do ano com um desequilíbrio orçamental superior ao historicamente até agora mais elevado, o de 1993.

Na recessão de 1993, o Ministério das Finanças era liderado por Jorge Braga de Macedo e a Secretaria de Estado do Orçamento estava com a actual líder do PSD, Manuela Ferreira Leite. Até muito tarde, os dois desmentiram a existência de uma derrapagem nas contas públicas. Foi o Banco de Portugal que deu o primeiro alerta.

Olhando hoje para esse tempo, verifica--se que a actividade económica teve a sua mais grave queda no primeiro trimestre de 1993. E o "grave" dessa época foi uma produção 1,4% inferior ao trimestre anterior de 1992.

A actual recessão expôs uma redução da actividade económica de quase 4%.

Esta crise é bastante mais grave e, embora existam alguns factores que moderam a subida do défice, há outros que o agravam e não estavam presentes em 1993.

Uma das grandes diferenças é a evolução dos preços. Em 1993, a taxa de inflação esteve próxima dos 7%. Este ano, os preços devem cair.

O "imposto escondido" que é a inflação não poderá dar o seu contributo positivo para as receitas fiscais, ampliando-se assim a descida da cobrança, por exemplo, do IVA. Preços mais baixos pagam menos IVA.

Se acrescentarmos à queda dos preços o facto de os salários estarem a descer em algumas empresas, temos mais um efeito de redução de receita, no IRS, a somar-se ao impacto da subida do desemprego.

O desemprego, por seu lado, está a subir com uma rapidez invulgar e a atingir níveis historicamente elevados com reflexos significativos já este ano, quer por via da descida receita fiscal, quer através do pagamento de subsídios, como aliás já se verifica nas contas da Segurança Social.

Este último impacto seria muito mais elevado caso o Governo não tivesse tornado as regras do subsídio de desemprego menos generosas que no passado. Até agora tem recusado regressar às regras anteriores, apesar das críticas da oposição, sobretudo no que diz respeito à duração do apoio.

Mas este ou o próximo Executivo poderão ter de recuar caso leve muito tempo o regresso ao trabalho de quem perdeu agora o emprego. O que se perspectiva muito provável, uma vez que é entre os menos qualificados que o desemprego está a subir mais, e é apenas nos que têm mais formação que se está a criar emprego. A poupança que se está a fazer nos subsídios de desemprego - relativamente mais elevada que na crise de 1993 - pode ser, por isso, socialmente insustentável.

Há outras diferenças face ao quadro de 1993 mas que jogam no sentido de moderar a derrapagem do défice público. Toda a reformulação que o Governo fez ao nível das progressões nas carreiras dos funcionários públicos e a reestruturação realizada na Educação limita a derrapage na despesa pública. Mas esta moderação dos gastos pode ser anulada pelas ajudas que esta crise impôs aos bancos e às empresas.

A cinco meses do fim do ano, e apesar de o Governo revelar que está a acompanhar muito de perto as contas públicas - como mostra esta inédita divulgação dos números de toda a administração pública realizada ontem -, o ano de 2009 será marcado por um défice historicamente elevado. Que podia ser pior.


"Helena Garrido"

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Offshore socialista

A última novidade do Governo socialista do senhor presidente do Conselho é uma coisa chamada Fundação para as Comunicações Móveis. Esta entidade, cozinhada no gabinete do ministro Lino ex-TGV e ex-aeroportos da Ota e Alcochete, foi a contrapartida exigida pelo Governo a três operadores para obterem as licenças dos telemóveis de
terceira geração. É privada, tem um conselho geral com três membros nomeados pelo Executivo e um conselho de administração com três elementos, presidido por um ex-membro do gabinete do impagável Lino, devidamente remunerado, e dois assessores do senhor que está cansado de aturar o senhor presidente do Conselho e já não tem idade para ser ministro.

Chegados aqui vamos à massa. Os três operadores meteram até agora na querida fundação 400 milhões de euros, uma parte do preço a pagar pelas tais licenças. O Estado, por sua vez, desviou para esta verdadeira offshore socialista 61 milhões de euros. E pronto. De uma penada temos uma entidade privada, que até agora sacou 461 milhões de euros, gerida por três fiéis do ministro Lino, isto é, três fiéis do
senhor presidente do Conselho. É evidente que esta querida fundação não é controlada por nenhuma autoridade e movimenta a massa como quer e lhe apetece, isto é, como apetece ao senhor presidente do Conselho.

Chegados aqui tudo é possível. Chegados aqui é legítimo considerar que as Fátimas, Isaltinos, Valentins, Avelinos e comandita deste sítio manhoso, pobre, deprimido, cheio de larápios e obviamente cada vez mais mal frequentado não passam de uns meros aprendizes de feiticeiro ao pé da equipa dirigida com mão de ferro e rédea curta pelo senhor presidente do Conselho.

Chegados aqui é legítimo dar largas à imaginação e pensar que a querida fundação, para além de ter comprado a uma empresa uma batelada de computadores Magalhães sem qualquer concurso, pode pagar o que bem lhe apetecer, como campanhas eleitorais do PS e dos seus candidatos a autarquias, e fazer muita gente feliz com os milhões que o Estado generosamente lhe colocou nos cofres.

Chegados aqui é natural que se abra a boca de espanto com o silêncio das autoridades, particularmente do senhor procurador-geral da República, justiceiro que tem toda a gente sob suspeita. Chegados aqui é legítimo pensar que a fundação privada criada pelo senhor presidente do Conselho é um enorme paraíso fiscal, uma enorme lavandaria democrática.

"António Ribeiro Ferreira, Jornalista"

2,5 milhões de desempregados no Reino Unido

O número de pessoas a beneficiar do subsídio de desemprego no Reino Unido atinge já 1,58 milhões, depois do anúncio feito ontem pelas autoridades britânicas de 24,9 mil novos beneficiários, a juntar aos já anteriormente existentes. A taxa de desemprego está nos 7,8%, a pior dos últimos 15 anos, e os desempregados são mais de 2,4 milhões.
O próprio ministro da Economia inglês, Peter Mandelson, admitiu já terem sido alcançados níveis "inaceitáveis" de desemprego. Os números da crise ultrapassam as previsões mais pessimistas e vão dificultar o cumprimento da meta estabelecida pelo governo de Gordon Brown de encerrar 2009 com um défice de 10% do PIB.

Dados oficiais mostram que o desemprego afectou mais 220 mil pessoas nos três meses até Junho, chegando aos 2,5 milhões.

O desemprego subiu sobretudo nas camadas mais jovens. Mais 50 mil jovens abaixo dos 25 anos ficaram desempregados, atingindo agora perto de um milhão de desempregados. Os jornais ingleses falam agora da “geração perdida” a propósito dos milhões de jovens que estão entre os mais afectados pela crise. Mais de metade dos empregos perdidos afectaram jovens abaixo dos 25 anos.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

BRASIL sob Censura de Imprensa

O senador José Sarney lutou muito, mas não conseguiu vencer os fatos. Ao decidir disputar a presidência do Senado, em fevereiro passado, acreditava que o cargo era uma garantia de imunidade para ele e a família - aquela altura já investigada pela Polícia Federal por suspeita de uma multiplicidade de crimes. A visibilidade, porém, teve efeito contrário e acabou colocando o mais longevo dos políticos brasileiros no centro de uma devastadora crise de no Congresso. José Sarney, o último dos coronéis, rendeu-se diante de tantos escândalos. Na semana passada, o senador disse ao presidente Lula que está cansado e que decidiu deixar o cargo.

"Não aguento mais. Vou negociar uma saída", afirmou, de acordo com um interlocutor privilegiado do presidente Lula. A conversa aconteceu na segunda-feira, pelo telefone, quando o presidente ligou para saber notícias sobre o estado de saúde de Marly Sarney, esposa do presidente do Senado, que se recupera de uma cirurgia em São Paulo. Sarney, de acordo com o relato feito pelo presidente Lula, estava abatido, disse que não conseguia dormir havia dias e se culpava pelo estado de saúde da mulher, que sofreu um acidente doméstico, fraturando o braço e o ombro.

Nos às vezes tortuosos códigos da política, desabafos como o do senador Sarney podem ser interpretados como um simples blefe, uma ameaça velada ou até chantagem de alguém em busca de proteção. Não é o caso. Desde o início da crise, Lula se empenhou pessoalmente na defesa do presidente do Congresso, sem qualquer pudor, a ponto de gerar constrangimentos ao seu partido, quando desautorizou publicamente o líder do PT, senador Aloizio Mercadante, que havia pedido o afastamento do presidente do Congresso. Depois da conversa telefônica com José Sarney, porém, Lula mudou completamente o tom.

Antes disposto a sacrificar um pouco da própria popularidade em troca de um punhado de votos no Congresso e de uma provável aliança com o PMDB na campanha eleitoral de 2010, o presidente vislumbrou a hora de mudar o discurso. Sarney? "Não é um problema meu. Não votei para eleger o presidente Sarney a presidente do Senado, nem para senador. Votei nos senadores de São Paulo. Quem tem que decidir se ele fica presidente é o Senado", disse o presidente em entrevista. Lula recolheu a bóia. Jamais, portanto, poderá ser acusado de ter associado sua credibilidade à tentativa de manter no cargo um presidente do Congresso envolvido em nepotismo, desvios dinheiros, contas no exterior... E, daqui a alguns dias, Lula pode, quem sabe, invocar até uma conveniente crise de amnésia: Sarney? Que Sarney?...

O presidente, o PMDB e seus aliados já começaram a discutir o futuro do Senado pós-Sarney, mas muito distante daquele que deveria ser o ponto de partida. Lula, por exemplo, está preocupado com questões mais práticas, como a sucessão. Trabalha para que Sarney renuncie, o que obrigaria o Senado a convocar novas eleições em cinco dias, evitando que a Casa ficasse sob o comando do vice-presidente Marconi Perillo, do PSDB. O PMDB, republicano como sempre, quer continuar com a presidência, mas tem dificuldades em encontrar um candidato que seja da absoluta confiança do partido e que tenha a ficha limpa - missão aparentemente impossível.

A desfecho da crise envolvendo Sarney representa um golpe contra as tradicionais oligarquias políticas brasileiras, mas não o definitivo - aliás, longe disso. Antônio Carlos Magalhães, Renan Calheiros, Jader Barbalho e Sarney produziram herdeiros, biológicos ou não, que mantêm vivas as seculares práticas coronelistas. O tamanho e a importância que tem o PMDB no cenário nacional é o maior exemplo disso. Como um câncer em processo de metástase, o partido é o abrigo seguro desse jeito peculiar de fazer política, destes grupos que continuam espalhados pela máquina do estado empenhados exclusivamente em girar a roda do fisiologismo e da corrupção.

Se a renúncia de Sarney se confirmar, alguém é capaz de imaginar que os indicados do senador no setor elétrico serão demitidos? Não, não serão. Eles continuarão lá, fazendo tudo que sempre fizeram, igualzinho ao que manda a cartilha atrasada pela qual rezam a maioria dos políticos brasileiros, independente a qual agremiação pertençam. Afinal, esta é, e vai ainda continuar sendo por muito tempo, a mais eficiente e segura forma de fazer política: trocando votos por cargos, permutando verbas por apoio, empregando parentes e amigos - tudo com o nosso dinheiro.


"Veja"