sexta-feira, 18 de setembro de 2009

DEBATES

Chegou ao fim a série de dez debates que opuseram os líderes dos cinco maiores partidos.

A primeira ideia a reter é a de que o modelo adoptado, importado dos EUA, falhou em toda a linha. As restrições de tempo e de temas em cada frente-a-frente levou a uma série de ideias apenas afloradas, facilitou a fuga a perguntas difíceis e, de uma maneira geral, retirou interesse aos debates. Faltou, também, em quase todos os debates, o confronto directo, algo que melhorou nos últimos frente-a-frente.

A série começou com um duelo entre Sócrates e Portas que foi, basicamente, equilibrado, tendo, talvez, o segundo conseguido uma vitória tangencial.

Seguiu-se um soporífero confronto entre Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, com o líder do BE a conseguir ser menos eficaz como cura para a insónia.

Sócrates foi vencedor claro frente a Jerónimo de Sousa, enquanto Ferreira Leite surpreendeu pela positiva face a Louçã.

Frente a Jerónimo, Paulo Portas voltou a sair vencedor, tendo conseguido encontar pontos de contacto entre CDS-PP e os comunistas, nomeadamente na «defesa dos agricultores».

O debate seguinte trouxe nova surpresa, com Sócrates a incomodar bastante Louçã e a conseguir vencer o confronto que muitos pensavam que seria o mais difícil para o primeiro-ministro. O trunfo do fim dos benefícios fiscais defendido pelo Bloco para os PPR, Educação e Saúde deixou Sócrates em clara vantagem.

Contra Jerónimo de Sousa, Ferreira Leite abriu o capítulo das gaffes, confundindo taxas de IRS com IRC. No dia seguinte, a líder do PSD voltou a sentir dificuldades, perdendo claramente face a Paulo Portas, apesar de ter tocado um ponto sensível ao lançar a ideia de que para o CDS era indiferente se vencia o PS ou o PSD, uma posição de mera estratégia política e não de convicções.

Portas voltou a exibir-se em boa forma frente a Louçã, num debate entretido que serviu de aperitivo para o dito «Grande debate».

Sócrates e Ferreira Leite mostraram, de forma inequívoca, as debilidades do modelo dos debates, deixando de fora muitas questões importantes, nomeadamente as áreas da Segurança ou Justiça, e aflorando apenas outros temas de interesse.

Pelo meio ficam mais duas gaffes da líder do PSD, com uma explosão anti-espanhola inaudita e uma imagem infeliz sobre orfãos parricidas.

Contas feitas, a série de debates beneficiou claramente Paulo Portas, que insiste na especialização em nichos de oportunidade (segurança, agricultores, pensionistas, antigos combatentes, etc). Sócrates acabou por se sair bem, podendo a jogada do fim dos benefícios fiscais proposto pelo Bloco vir a impedir alguma transferência de votos do PS para o BE. Ferreira Leite não convenceu, mas acabou por não ser o desastre que muitos previam, saindo, eventualmente, mais penalizada com o facto de falar de «asfixia democrática» ao lado de Jardim. Jerónimo de Sousa esteve ao nível esperado, sabendo-se que o eleitorado comunista não é conquistado em debates mas sim nos movimentos sindicais e nas ruas. Louçã surpreendeu pela negativa, vendo-se obrigado a falar de alguns aspectos do programa do BE que podem alienar alguns potenciais eleitores.

A campanha (oficial) começa agora e o tom dos ataques deverá começar rapidamente a subir. As contas, essas, ficam para dia 27.

P.S.: O «Caso TVI» marcou o período da pré-campanha e é, no mínimo, um episódio grave. Admitindo que a decisão da administração seja legal, algo que é muito duvidoso, parece óbvio que o modo e o timing são totalmente errados. Que alguém apregoe que o grande beneficiado de toda esta situação é o PS entra quase na esfera da inimputabilidade...


"Pedro Corvelo"

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