quarta-feira, 25 de maio de 2011

Epidemia de estupidez

Uma das características mais intrigantes da política nacional consiste na estupidez da direita, em geral, e do PSD, em especial. Durante o período em que Cavaco foi primeiro-ministro, essa estupidez criou o Cavaquistão – cujas consequências ainda estamos a pagar por causa das actividades criminosas no BPN e SLN. Seguiu-se o Governo de Barroso, o qual só agravou os problemas, mais a sua fuga para Bruxelas e a promoção de Santana pela porta do cavalo. O resultado foram quatro meses de despautério. Vieram as eleições e começaram as campanhas sujas contra Sócrates – boato da homossexualidade e conspiração para a criação do caso Freeport, envolvendo indivíduos ligados ao PSD, CDS, Judiciária e imprensa. Santana sai de cena, entra Marques Mendes. O seu propósito regenerador, ou assim parecia, não convenceu as bases. Menezes atinge a ribalta e aguenta-se apenas 6 meses tamanha a parvoeira que produziu. Mesmo assim, ainda teve tempo para lançar uma campanha suja, como a Fernanda lembra neste texto. O edil de Gaia foi trocado pelo trio Manela-Pacheco-Cavaco. Iniciou-se um período de calúnias, difamações e ensaios de criminalização de elementos do PS como ninguém julgava possível vir a assistir em Portugal. Culminou com a Inventona de Belém e as escutas a Sócrates e respectiva tentativa de golpada judicial. Absolutamente escandaloso o que aconteceu em 2009 e 2010 e, sobretudo, o que não aconteceu como resposta a este inaudito ataque ao Estado de direito e à democracia.
Com Passos, e fazendo fé no que tinha dito e prometido, esperava-se o fim desta degradação política e social. Quando derrubou o Governo, assim provocando eleições no momento indicado por Cavaco, Passos fez repetidos e excitados pedidos para que a campanha corresse sem ataques pessoais e tivesse a elevação que o momento exigia. Logo depois, perante sondagens adversas, assistimos a um chorrilho de insultos e ofensas dos seus mais próximos e importantes colaboradores, que foram desde o pedido de criminalização do Governo PS, passando pela comparação de Sócrates a Hitler e de Portugal à Alemanha nazi, e chegando ao ponto de se dizer que a família de Sócrates devia esconder o seu parentesco por vergonha. Tudo isto embrulhado na constante exaltação do tema da verdade e da mentira, martelando a tecla da falta de honorabilidade de qualquer membro ligado ao Governo e à equipa de Sócrates – nada lhes incomodando que, simultaneamente, estivessem a decorrer melindrosas e complexas negociações com o FMI e UE. E tudo isto sem qualquer responsabilização dos autores, sequer sentido de autocrítica, ou admoestação de Passos.
A maior estupidez, o que mais prejudica Portugal, está na ausência de um projecto político que justifique a sua discussão. Quando bolçam que o PS governa há 15 anos, para além de apagarem do mapa os Governos Barroso/Santana, nem se apercebem que estão a reconhecer que há 15 que não merecem o voto dos portugueses. Para estas eleições de 2011, repetiram a tonteira de chegarem quase ao dia da votação sem programa, tal como tinha acontecido em 2009. Naturalmente, não há condições para a sua discussão. A campanha do PSD aposta tudo, ainda e outra vez, na diabolização de Sócrates. Que andaram a fazer entretanto? Que causa esta permanente exibição de fragilidade intelectual e vileza moral?
O conceito de epidemia também se aplica nas ciências sociais e humanas. Tal como no modelo biológico, podemos falar da transmissão epidémica de ideias ou comportamentos. No estudo da epidemia de estupidez que assola o PSD, o meio ambiente é constituído pelas classes A e B, onde reina o conforto, a segurança, os privilégios financeiros, a fruição do status social, o acesso à melhor instrução, formação e informação. Os hospedeiros são essa legião de arrivistas e cavalheiros de indústria ressabiados, politicamente medíocres ou retintos incompetentes, que chafurdam na indigência ética por falência da inteligência própria. Resta só identificar o agente infeccioso. Aceitam-se palpites. 

In: Aspirina B

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