sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Paulo Portas quer matar politicamente Passos Coelho!

1.Paulo Portas, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros do atual governo de coligação de centro-direita liderado pelo PSD, atacou violentamente Alberto João Jardim pelo seu despesismo. Ora, tal declaração de Portas mostra bem que o líder do CDS não está de alma e coração no executivo - ao primeiro sinal de que o governo possa estar em crise, Paulo Portas abandonará o barco. Sem a mínima hesitação. Quem dolosamente provoca o primeiro grande conflito (inútil!) na coligação, não terá problemas em precipitar a sua queda. Mas, pergunta-se: a atitude desleal de Paulo Portas é uma surpresa? Não, nada disso. Paulo Portas está a ser o que é e sempre foi: um autêntico e profissional cata-vento.
2.Já aqui escrevi diversas vezes no POLITICOESFERA que colocar Paulo Portas no Ministério dos Negócios Estrangeiros era um risco. Porquê? Porque é confiar ao líder do CDS/PP a pasta que é tradicionalmente mais popular entre os portugueses (e os barómetros do EXPRESSO têm revelado que a tendência se mantém) e está subtraída à tomada de decisões com mais impacto negativo na vida dos portugueses. Ora, a votação do CDS, nas últimas legislativas, já foi bastante significativa - superior à obtida em 2002, que ditou a inclusão dos centristas no governo liderado por Durão Barroso (e depois por Pedro Santana Lopes). Daqui decorre que o CDS tem um peso político muito mais forte neste governo de Passos Coelho -ora, dar mais força ao CDS permitindo que Paulo Portas seja mais popular do que Passos Coelho (líder do PSD e primeiro-ministro) é , no mínimo, suicida! É levar o CDS ao colo! Se o executivo correr mal, nas próximas eleições legislativas (ordinárias ou antecipadas), o CDS vai aparecer como um partido credível, revigorada, nada afectado pela experiência governativa! No fundo, vai capitalizar o lado positivo do governo -e entregar integralmente o podre da governação ao PSD. Passos Coelho sabe disso. Miguel Relvas - embora, por vezes, pareça - não é nenhum naif político. Como será o relacionamento , doravante, com Paulo Portas? Esta será uma questão crucial na política portuguesa nos próximos tempos.
3.A questão é, ainda, mais grave se considerarmos o seguinte: se olharmos para o executivo com muita atenção, as pastas sensíveis pertencem - todas! - ao PSD. As finanças? Pertencem ao PSD. A economia? Ao PSD. O Trabalho? Como na orgânica deste governo, o trabalho está integrado no super-ministério da Economia, está com o PSD. A saúde? Com o PSD. A Justiça? É do PSD. Ao CDS pertence - imagine-se - o Ambiente (pasta mais soft era impossível), a Segurança Social (que, tirando a questão da definição de um modelo mais de capitalização, não suscitará problemas de maior - até porque é um ministro fraco, Pedro Mota Soares) e os Negócios Estrangeiros (o habilidoso Portas). O CDS foi muito chico-esperto na escolha dos ministérios que escolheu.
4. Em suma, Passos Coelho foi, literalmente, fintado por Paulo Portas. Lembro-me que, na altura da formação do governo, a maioria dos comentadores elogiou o poder de negociação de Passos Coelho face ao CDS. Na altura, discordei. E a realidade tem confirmado o meu ponto de vista: Paulo Portas não acredita muito neste governo, muito menos neste Primeiro-ministro. Portas acha-se politicamente superior a Passos Coelho - e não aceita ser seu subalterno. O episódio com Alberto João Jardim do passado fim de semana foi apenas um primeiro sinal. Este governo de coligação tem tudo para não correr muito bem ao PSD... Paulo Portas é, neste momento, o principal adversário político de Passos Coelho.
 
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