quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Ave, réptil ou mamífero?

Agência FAPESP – Não há nada igual. Quando exemplares do ornitorrinco (Ornithorhynchus anatinus) foram enviados da Austrália para a Inglaterra, em 1798, causaram tamanho espanto que os cientistas britânicos consideraram se tratar de uma farsa.
Não é para menos, pois o estranho animal desfila uma lista de características inusitadas. Para começar, é um mamífero que põe ovos. Em seguida, combina um couro espesso que permite a permanência em águas geladas com um bico semelhante ao de um pato – bico que tem um sistema sensorial usado para buscar alimentos na água. O macho conta ainda com esporão capaz de disparar poderoso veneno para afugentar predadores ou competidores.
Tudo isso tem aguçado, desde o século 18, o interesse da ciência pelo representante da ordem dos monotrematas. Agora, um grupo internacional acaba de dar a mais valiosa contribuição ao conhecimento do ornitorrinco, com o seqüenciamento de seu genoma.
Publicada na edição de 8 de maio da revista Nature, a análise revela que as características únicas do animal não se resumem ao seu exterior, mas são também destacadas geneticamente. A seqüência foi comparada com as do homem, camundongo, cão, gambá, frango e lagarto.
Os pesquisadores descobriram que o genoma do ornitorrinco tem aproximadamente o mesmo número de genes que codificam proteínas que o genoma dos demais mamíferos – cerca de 18,5 mil. Ele também compartilha mais de 80% de seus genes com outros mamíferos cujos genomas foram seqüenciados.
Bico de pato à parte, os cientistas verificaram no genoma do animal, além de detalhes de mamíferos, características comuns aos répteis. A principal foi a presença de genes associados à fertilização de ovos. Outra é a presença de poucos receptores olfativos, diferente dos demais mamíferos.
O grupo também descobriu que o veneno produzido pelo animal deriva de duplicações em determinados genes durante a evolução, que foram herdados de ancestrais répteis.
"À primeira vista, o ornitorrinco aparenta ser resultado de um acidente evolucionário. Mas, independentemente de sua aparência estranha, a seqüência de seu genoma é muito valiosa para compreender como os processos biológicos fundamentais dos mamíferos evoluíram. Comparações de seu genoma com os de outros mamíferos levarão a novas descobertas a respeito da história, estrutura e funcionamento do nosso próprio genoma", disse Francis Collins, diretor do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, nos Estados Unidos, que financiou parte do estudo.
"Com o seqüenciamento, poderemos identificar quais genes foram conservados, quais foram perdidos e quais se transformaram durante a evolução dos mamíferos", disse Richard Wilson, da Escola de Medicina da Universidade Washington, um dos autores da pesquisa.
O artigo Genome analysis of the platypus reveals unique signatures of evolution, de Wesley Warren e outros, pode ser lido em www.nature.com.

Bactérias espertas

Agência FAPESP – Bactérias antecipam mudanças no ambiente e rapidamente se adaptam de modo a conseguir vantagem competitiva. É o que aponta um estudo publicado na revista Science.
Por meio de simulação em computadores, Ilias Tagkopoulos, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e colegas apresentam no artigo evidências de que bactérias podem aproveitar seqüências previsíveis de sinais ambientais, como variações de temperatura ou de oxigênio, para antecipar necessidades futuras e imediatamente se preparar para um novo cenário.
Os pesquisadores verificaram que as respostas da bactéria simulada em computador espelharam precisamente o comportamento real da Escherichia coli durante transições entre o ambiente externo e o trato gastrintestinal de mamíferos, sugerindo o comportamento antecipatório.
A E. coli também demonstrou capacidade de adaptação única em diversos novos ambientes, modificando-se para a sobrevivência em apenas centenas de gerações, no lugar de milhares, como se achava até agora.
"O estudo fornece evidências de comportamento antecipatório por meio da revelação de relações notáveis entre as respostas transcricionais da E. coli com perturbações na temperatura e em oxigênio", destacaram os autores. "Essas relações internas refletem um real paradigma de aprendizado associativo, uma vez que mostram rápidas alterações internas após exposição a novos ambientes."
Segundo a Science, as descobertas promovidas pela pesquisa destacam a necessidade de se reavaliar as interpretações de respostas a estímulos ambientais observadas em todos os organismos.
O artigo Anticipatory behavior within microbial genetic networks, de Ilias Tagkopoulos e outros em www.sciencemag.org.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Para a preservação da água

Agência FAPESP – A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio) publicaram a cartilha O uso racional da água no comércio, que está disponível para livre consulta na internet.
A publicação traz informações para ajudar no combate ao desperdício da água. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cada pessoa necessita de cerca de 110 litros de água por dia para atender suas necessidades de consumo e higiene, sendo que no Brasil esse consumo quase dobra: 200 litros por pessoa.
O livreto é dividido em categorias como “Dicas de economia”, “Soluções ambientais”, “Caixa d’água”, “Recebimento de esgotos não domésticos”, “Medição individualizada”, “Como calcular o seu consumo” e “Entenda a sua conta de água”.
Um dos pontos destacados pela obra é o fato de que combater o desperdício e dar o destino correto à água deixaram de ser questões econômicas, passando a também ser um diferencial competitivo para as empresas modernas.
Nesse propósito, a cartilha aponta que, para atender empresas que buscam utilizar melhor a água em seus processos, reduzir custos e preservar o meio ambiente, a Sabesp lançou o Programa Sabesp Soluções Ambientais e o Programa de Uso Racional da Água (Pura) para o incentivo ao consumo consciente por meio de ações tecnológicas e mudanças culturais.
A cartilha está disponível em: www.sabesp.com.br

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Poeira do deserto faz chover na floresta

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – A poeira do deserto do Saara, na África, tem uma influência importante no regime de chuvas da Amazônia. A afirmação, que pode parecer inusitada à primeira vista, foi comprovada em um estudo realizado por um grupo internacional de pesquisadores – com participação brasileira –, publicado na revista Nature Geoscience.
De acordo com Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e um dos autores do trabalho, o objetivo foi realizar, pela primeira vez em uma região tropical do planeta, medidas de aerossóis conhecidos como núcleos de condensação de gelo – partículas que têm a propriedade de formar nuvens convectivas, influenciando a precipitação, a dinâmica das nuvens e a quantidade de entrada e saída de radiação solar.
“As nuvens convectivas na Amazônia, que ficam entre 12 e 15 quilômetros de altitude, têm suas gotas congeladas. Para que possam aparecer partículas de gelo nessas nuvens é preciso existir os núcleos de condensação de gelo. Pela primeira vez medimos as propriedades físico-químicas desses núcleos”, disse à Agência FAPESP.
Segundo Artaxo, ao fazer as medidas, o grupo descobriu que a vegetação da própria Amazônia e a poeira proveniente do Saara são as duas principais fontes dos núcleos de condensação de gelo.
“A importância disso é que a maior parte da chuva na Amazônia é proveniente das nuvens convectivas. E é a primeira vez que detectamos essas partículas. Identificamos como núcleos de gelo e medimos suas propriedades físicas, químicas e biológicas”, disse o também coordenador do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) e ex-coordenador da área de geociências da FAPESP.
Para realizar o estudo, o grupo utilizou modelos matemáticos que simulam o comportamento das nuvens de gelo em condições amazônicas. “A parte surpreendente é que a poeira do Saara é responsável por uma fração significativa dos núcleos de condensação de gelo da Amazônia, especialmente em altas altitudes e temperaturas mais baixas”, explicou.
Segundo Artaxo, o estudo sugere que a contribuição das partículas biológicas locais para a formação de núcleos de gelo aumenta em altas temperaturas atmosféricas – com altitude mais baixa –, enquanto a contribuição por partículas de poeira cresce nas baixas temperaturas das regiões mais altas.
“Descobrimos que a vegetação da própria floresta alimenta os núcleos em altitudes que vão até 8 ou 9 quilômetros. Enquanto isso, a poeira do Saara nessa época do ano – o estudo foi feito entre fevereiro e março – predomina em altitudes acima de 9 ou 10 quilômetros”, disse.
As análises apontaram que os núcleos são compostos principalmente de materiais carbônicos e poeira. “Mostramos que as partículas biológicas dominam a fração carbônica, enquanto a importação da poeira do Saara explica o aparecimento intermitente de núcleos contendo poeira”, contou.
A poeira do deserto africano, segundo Artaxo, é um fenômeno atmosférico sazonal cujo pico se dá entre março e o fim de abril. “É um fenômeno de transporte atmosférico de longa distância que já conhecíamos. Mas nunca tínhamos medido as propriedades de nucleação dessas partículas.”

Continuidade em Temático

Na primeira fase do estudo a equipe utilizou um equipamento supercongelador para esfriar as partículas a 50 graus negativos e lançá-las na Floresta Amazônica, a fim de fabricar cristais de gelo.
“A partir daí, analisamos as propriedades físicas, químicas e biológicas desses cristais, utilizando técnicas analíticas nucleares – especificamente o método Pixe, disponível no Instituto de Física da USP. Pudemos analisar a concentração de alumínio, silício, titânio e ferro nas partículas”, disse.
A partir da análise, os pesquisadores descobriram que a assinatura elementar das partículas correspondia à assinatura da poeira do deserto do Saara. O segundo passo foi descobrir como essas partículas saem da África e chegam à Amazônia.
“Para isso rodamos modelos de circulação global da atmosfera e mostramos que, efetivamente, quando estavam presentes as concentrações de alumínio, silício, titânio e ferro que correspondiam à poeira do Saara, o modelo confirmava essa circulação”, afirmou.
Com a pesquisa, o grupo concluiu que a concentração e a abundância de núcleos de condensação de gelo na Amazônia podem ser explicadas, em sua quase totalidade, por emissões locais de partículas biológicas complementadas pela importação da poeira saariana.
Segundo Artaxo, os estudos terão continuidade dentro de um Projeto Temático apoiado pela FAPESP no âmbito do Programa FAPESP sobre Pesquisa Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG). “Faremos novos estudos dentro desse Temático que acaba de ser aprovado. Tentaremos simular e medir como se dá a variabilidade sazonal dos núcleos de condensação de gelo sobre a Amazônia”, destacou.
Além de Artaxo, participaram do estudo Markus Petters, Sonia Kreidenweis e Colette Heald, do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade Estadual do Colorado (Estados Unidos), Scot Martin, da Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas da Universidade de Harvard (Estados Unidos), e Rebecca Garland, Adam Wollny e Ulrich Pöschl, do Departamento de Biogeoquímica do Instituto de Química Max Planck (Alemanha).
O artigo Relative roles of biogenic emissions and Saharan dust as ice nuclei in the amazon Basin, de Ulrich Pöschl e outros, estão publicado na Nature Geosciences, e podem ser lidos em www.nature.com/ngeo

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

DIA 10 DE JUNHO NA TAILÂNDIA

Tudo isto é fado!

José Gomes Martins

Um dia antes do dia 10 de Junho zarpei de Banguecoque em direcção a Kanchanaburi, onde durante um ano me quedo, várias vezes, para carregar as baterias junto à margem da bonançosa corrente do Rio Kwai, na popular estância turística “Jolly Frog” (Júlia Rã).
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Ontem, pela manhã peregrinei prestar homenagem, junto de sua imponente estátua o Rei Narasuen, erigida entre imensos lameiros onde se produz muito arroz ,cujo monarca siamês, contribuiu, para a continuação da independência do Reino do Sião, desde o século XVI até aos dias de hoje.
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Uns quinze dias antes recebi da Embaixada de Portugal, pelo correio, um convite para assistir, em companhia de minha família, integrada na celebração do Dia 10 de Junho, à exibição da fadista portuguesa Carminho, no auditório pequeno, do “Thailand Cultural Centre”.
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Ignorei o convite e não vou apontar aqui as razões de minha atitude.
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Todos os dias em minha casa se celebra o Dia 10 de Junho, onde no espaço onde trabalho, diariamente a escrever, estão lá várias bandeiras das cinco quinas.
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E de quando há celebrações especiais na Tailândia, minha mulher, tailandesa, coloca três bandeiras, a oficial, a de S.M. o Rei e a das Quinas, num suporte fixado no muro que divide o espaço da casa com a rua.
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Os meus vizinhos de há mais 20 anos, sabem que ali, além de ser a Tailândia também é Portugal. Na minha casa, nos arredores de Banguecoque, todos os dias é Portugal!
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E mais ainda em todas as casas dos meia dúzia de portugueses, que aqui se fixaram e fizeram vida, constituíram família, há uma bandeira de Portugal juntinha à da Tailândia. Conheço um, que numa das janelas, do segundo andar, de sua casa há uma e outra da Tailândia de dois panos cada.
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Hoje quinta feira um dia depois do Dia 10 de Junho, pelas 6 da manhã, dou uma vista de olhos aos e-mails e outra a certos blogues, onde se incluiu o do Miguel Castelo Branco, http://combustoes.blogspot.com a noticiar, em parangona, “10 de Junho quer dizer futuro” .
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Era mais nem nem menos à celebração do Dia 10 de Junho, de Portugal, de Camões, da Raça e das Comunidades Portuguesas, na Embaixada de Portugal em Banguecoque, pelos Embaixadores de Portugal, Maria da Piedade e António de Faria e Maya.
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Porém o Miguel, na sua peça descreve os apelidos de nomes portugueses, de outras eras, os Siqueira, Costas, Antunes e Pereira. E, ainda, a emoção dos luso-descendentes ao ouvirem o discurso do Embaixador de Faria e Maya.
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Não sei nem faço ideia qual teria sido a gente de nossas raízes que ensoparam lenços com lágrimas porque o Miguel só se refere aos antigos e não aos actuais que hoje vivem na Tailândia, ordeiramente e têm contribuído para o desenvolvimento deste Reino e dar a continuação do nome de Portugal.
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O Miguel saboreou bacalhau que fazia parte da ementa do jantar que os representantes de Portugal ofereceram, aos seus convidados, de luxo, na residência, que já não “trincava” há dois anos.
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Parabéns ao Miguel que depois de um “pobre” do fiel amigo tirou a barriga de misérias e mais notável no “Dia 10 de Junho”!
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Não poderia ficar aqui ignorado os “miminhos” que vai oferecendo à nossa Embaixatriz Maria da Piedade de Faria e Maya, que só falta colocá-la no topo do pau-de-bandeira que se encontra no jardim da Residência.
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Pelas fotografias apostas pelo Miguel na peça que escreveu, vimos de facto uma mesa farta e por mais estranho que possa parecer não vimos ali, ninguém, da comunidade portuguesa residente na Tailândia, que sempre haja estado nesta especial celebração onde gostariam, (sem ser sentados à mesa do -embaixador) beber um copo de vinho e comer uma mastiga.
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Evidentemente que os embaixadores de Portugal sentam à sua mesa as pessoas que muito bem entenderem, mas no Dia de Portugal oferecer (ao que me parece) apenas fado, sem um copo e uma mastiga, aos portugueses residentes na Tailândia não se coordena muito bem e apetece-me dizer: “Tudo Isto é o Fado a que, infelizmente, os portugueses estão sujeitos, não só na Tailândia como em, alguns, outros países onde foram acolhidos, onde não há o mínimo respeito por eles e substituídos, por outros que nada têm a ver com Portugal".
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Quanto ao Miguel Castelo Branco vejo-o como um desesperado que tudo faz em procura das "graças do senhor" para se manter em Banguecoque (ele diz.... que estuda arduamente!) , com a concessão e da continuação do subsidio mensal da Fundação Calouste Gulbenkian, coisa rara, e que a outros que já muito aqui fizeram em prol da história, de Portugal e a Tailândia, nunca tiveram meio tostão furado.
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O Miguel continua anunciar festas deitando os foguetes, a tocar a música para se promover um “herói de nada”.

Para finalizar (como o diria o Carlos Castro, no programa da Praça da Alegria”) aqui vai a “laranja amarga” para os Embaixadores de Portugal na Tailândia, pelo facto de oferecerem (não sei quantos estiveram no espectáculo da Carminho) fado aos portugueses no Dia 10 de Junho e não o convívio, no jardim, na arcada, e oferecer-lhe um copo e uma mastiga.

José Martins
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P.S. O autor serviu Portugal durante 24 anos, na Representação Diplomática em Banguecoque, tem 74 anos, reformado e nunca procurou enaltecer-se com “mimos” (hipócritas) seja a quem fosse para atingir objectivos.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Dinossauro venenoso

Agência FAPESP – Um grupo de cientistas chineses e norte-americanos descobriu um dinossauro venenoso, com aparência de ave, que viveu há cerca de 128 milhões de anos onde hoje está a China.
Trata-se da primeira descrição de veneno na linhagem que deu origem às aves modernas. O estudo será publicado no site e na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences
“Podemos dizer que esse animal era uma ave venenosa. É um achado que certamente terá um grande impacto”, afirmou Larry Martin, professor da Universidade do Kansas e curador do Museu de História Natural e Instituto de Biodiversidade, um dos autores da pesquisa.
O animal descrito, Sinornithosaurus (“ave-lagarto da China”), é um parente próximo do velocirraptor. Viveu em florestas no nordeste da China que continham grande variedade de animais, incluindo outros dinossauros e aves primitivas.
“Tinha o tamanho aproximado de um peru atual e, muito provavelmente, tinha penas. Foi um predador especializado de aves e dinossauros de pequeno tamanho. Era um parente muito próximo do microrraptor, que tinha asas e planava”, explicou Martin.
Segundo o cientista, o veneno não era letal, mas colocava rapidamente a vítima em choque, diminuindo as chances de retaliação ao ataque, de fuga ou de ser devorado por outros predadores. Em pouco tempo o Sinornithosaurus devorava sua presa.
“As vítimas eram atacadas de surpresa. Ele se escondia em uma árvore, por exemplo, e dava o bote por trás. O objetivo era posicionar as mandíbulas. Uma vez que os dentes estavam na pele da presa, o veneno penetrava na ferida, saindo de glândulas e escorrendo pelos dentes. A vítima entrava em choque e observava o predador em ação enquanto era devorada, sem poder reagir”, disse Martin.
O Sinornithosaurus tinha pelo menos duas espécies que, segundo o estudo, empregavam um sistema de veneno semelhante ao de alguns lagartos modernos, como os do gênero Heloderma. Mas tinha dentes mais longos, eficientes para passar pelas camadas de penas de suas vítimas, no caso das aves.
O artigo The birdlike raptor Sinornithosaurus was venomous, de Larry D. Martin e outros, poderá ser lido em www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.0912360107.

Carta Aberta a Humberto Nuno de Oliveira

Caro Camarada,

Conheci-te, pela primeira vez, meu velho amigo e muito querido camarada, isso no já distante ano de 1983. E não foi por acaso e ao dobrar de uma qualquer esquina. Foi no Campo Militar de São Jorge, no local exacto onde, em 1383, se travou a sempre para nós, portugueses, memorável Batalha de Aljubarrota. Nesse referido ano de 1983 comemorava-se (e que inesquecível e espectacular comemoração foi aquela junto ao Mosteiro da Batalha, recordas-te, Humberto?) os 600 anos de tal gloriosa efeméride. E, Humberto, que melhor local, no mundo, para nos termos conhecido, que não fosse Aljubarrota? Estava escrito nas estrelas que assim tinha que ser. E foi.
Pouco interessa, neste contexto em que eu te escrevo esta missiva, se eu votei em ti ou não, isso nas eleições do passado domingo, dia 7 de Junho de 2009, para o Parlamento Europeu. O que eu quero e realmente me importa deixar aqui registado – passado que foi a realização das ditas eleições – é que me agradou bastante a tua intervenção política nas mesmas; o teu enorme portuguesismo; a tua coragem e coerência; a tua fidelidade a Portugal; a tua superior inteligência na abordagem das questões lançadas por ti na tua campanha; o teu à-vontade no trato das respostas (e da RESPOSTA pronta) às perguntas que os jornalistas te colocaram e, sobretudo, à inesperada surpresa que tu causas-te entre os ditos nas entrevistas que tu lhes destes nas rádios e nas televisões.
Na verdade eles estavam à espera de uma qualquer criatura mais ou menos boçal que, logo às perguntas mais banais ou matreiramente urdidas, se espalhasse ao comprido, como se costuma dizer. Talvez esperassem (para eles era o ideal, não era?) um “brutamontes” de um “Skinhead” (1)? Porém (e que grande desilusão eles sofreram!), tu não foste nada disso, já que tu não és nada disso. Independentemente daquilo que eu possa pensar acerca do PNR, tu foste absolutamente brilhante. Independentemente de eu achar que o PNR não te merece lá ter (e esta minha afirmação é meramente pessoal, é evidente), muito obrigado Humberto Nuno de Oliveira. Assim como, um dia, nos conhecemos em Aljubarrota e porque isso estava escrito, estava também já escrito que eu, passados estes 26 anos (como o tempo passa, não é?), te tinha que te escrever estas palavras.


António José dos Santos Silva