terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Funeral arbóreo


Outro dia cruzava o retão de manaíra (Av.Flávio Ribeiro Coutinho), enquanto aguardava o sinal verde, fiquei olhando o desbragado cortejo fúnebre de uma frondosa palmeira imperial afastando-se e sumindo. Igual a um pobre-diabo, sem direito ao enterro digno, missa de sétimo dia, visitas de pêsames e outros rituais que fazem parte de nossa tradição.
            É. Foi um sentimento de choque, raiva, perplexidade e aturdido vê essa árvore sendo conduzida, numa carroça, por quatro empregados fardados. Em razão da distância, não deu para identificar a organização para qual serviam.
            Puxa, que tristeza, que infortúnio crasso! Reconheço que o luto é uma manifestação humana de pesar pela morte de outro ser humano. Mas essa cena melancólica não poderia ser tão diferente diante daquilo que acabara de presenciar. As demais palmeiras, ali plantadas, eram como parente e amigos chorando a perda do ente querido. Clamando: “Eles querem me matar!”. Ou, então, no ato de desespero: “Não quero morrer!”.
            Não pretendo acreditar (já acreditando) que um provável mané graduado, com PhD em tudo que envolve paisagismo e meio ambiente, tenha planejado o “estreito canteiro central” dessa importante artéria pública. Ora, o manejo impróprio, a falta de um distanciamento adequado que permita o livre crescimento dessas palmeiras, tiram-nos não só a plasticidade de sua beleza, como a sombra e o conforte térmico.
            Sem soberba, sem arroubo de imaginação, mas muito menos com exagerada humildade de conhecimento, necessário dizer e entender que árvore tem sua arquitetura própria antes de escolher. Plantando aleatoriamente sem se preocupar com o crescimento saudável das espécies, a saúde das árvores é prejudicada, ficando, por sua vez, susceptíveis a quedas.
            Lastimável que as pessoas parecem ignorar o fato de que as árvores crescem e que têm raiz, pois árvores mutiladas perdem tanto a função de sombrear, quanto a de liberar oxigênio. Além de ficarem expostas a bactérias, fungos e vírus, provocando os mais variados tipos de doença.
            Intui-se que o idílio bucólico vivido em plena área urbana é fruto da falta da consciência ambiental, da consciência verde dos moradores. Mesmo sabendo que o fator essencial de melhoria da vida urbana é uma necessidade ambiental.
            Claro que vou ficar frustrado com os meus apelos se não forem atendidos, mas me sentirei orgulho de ter feito a minha parte. Agora, as autoridades devem decidir como agir para que o resto de tais palmeiras não seja dizimado, esmigalhado, machucado. Detalhe: sem desculpas nem trocadilhos baratos.


                                                    LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                           (lincolncartaxo.blogspot.com)

Sem comentários: