quarta-feira, 6 de julho de 2011

A estupidez humana...

Albert Einstein disse que só há duas coisas infinitas: o universo e a estupidez humana, acrescentado que, quanto ao primeiro, tinha as suas dúvidas. Vem isto a propósito de, em Portugal, nos dias que correm, só haver uma coisa absolutamente certa: para 90% dos portugueses, o dia de amanhã vai ser pior que o dia de hoje. Há décadas, aliás, que é assim.

Perante um eleitorado incapaz de discernir de acordo com a realidade – ou seja: quem (que pessoas e partidos) conduziu o país à situação em que se encontra, que políticas conduziram ao desastre – e, consequentemente, exigir soluções que invertam essa situação, cerca de 70% dos que ainda votam fazem-no por dois motivos fundamentais: apoiar o partido dos seus afectos, ao qual tudo justificam e aplaudem; derrotar o seu principal opositor, ao qual tudo condenam, mesmo que sejam as práticas políticas – e respectivos resultados – que suportam e justificam no seu.

Em consequência desta absoluta imbecilidade, a vida da maioria dos portugueses, incluindo os tais 70% de eleitores masoquistas, tem vindo a transformar-se num inferno. Paralelamente – e de forma absolutamente perversa e cínica – o poder instalado, pelas vozes e penas de que dispõe em toda a comunicação social, que lhe pertence ou domina, esforça-se por difundir a ideia de que a situação actual do país resulta precisamente do facto de a maioria dos portugueses viver acima das suas posses. Terem muitos «direitos adquiridos». Tenta-se, assim, convencer a população a aceitar, passivamente e de bom grado, os cada vez maiores sacrifícios que lhes são impostos e, principalmente, que não perceba que a resolução da crise não é mais que um mero processo de transferência dos cêntimos que possam existir nos bolsos de milhões de pessoas para as carteiras, contas, cofres e “offshores” de quem domina, de facto, o país: os detentores do poder económico nacional e multinacional.

Como se sabe – alguns fingem que não sabem, e nem gostam que se fale nisso –, Portugal é um paradigma das desigualdades sociais, dos baixos salários e pensões, da pior repartição da riqueza, das piores prestações sociais, do menor peso dos encargos com salários nos custos de produção, enfim, um país onde a miséria alastra de forma assustadora. Mas é um país onde os «direitos adquiridos» das elites fazem inveja aos seus pares por essa Europa fora, ou mesmo ao presidente Obama e ao responsável pela Reserva Federal Norte-Americana. Enfim, algo com que os 70% que votam PS e PSD convivem muito bem, coisa que já não acontece com os «direitos adquiridos» da classe de explorados a que a maioria deles pertence.

Estribado nesta absurda realidade, que Einstein explicou divinalmente, o PSD prepara-se para rapar o fundo ao tacho. Parte do Subsídio de Natal já lá vai. Levado na onda anestésica de um novo ciclo eleitoral (no «agora é que vai ser!») e no enorme suspiro de alívio que foi correr com Sócrates, o pagode vai ser sugado sem dó nem piedade, na crença vã – e estúpida – de que vem aí algo de novo e de melhor.

Daqui a quatro anos estarão a votar em Assis ou Seguro. Mais pobres, mais pindéricos, mas cheios de esperança.





(João Carlos Pereira)

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