Confidenciava-me há poucas semanas um amigo que os homens de hoje em dia também já têm dores de cabeça. Segundo ele, reina entre os casais uma preocupante ausência de desejo sexual, o qual também se manifesta nos homens.
É sabido que as mulheres são exímias em enumerar razões para não ter sexo: cansaço, sobrecarga doméstica, filhos, falta de auto-estima, medo do espelho, tensão pré-_-menstrual, depilação por fazer, resquícios de uma discussão, sono, falta de dinheiro, entre tantas outras. O dado novo é que os homens também passam pelo mesmo, ou seja, entre ter sexo aborrecido e rotineiro ou não ter, alguns preferem ficar a ver o futebol e a beber cervejas aconchegadas com uma reconfortante pratada de tremoços, o que me faz pôr em causa a clássica máxima muito popular nos anos 80, divulgada em canecas e t-shirts, que proclamava ‘sex is like pizza, when it’s good it’s very good, when it’s bad, it’s still good’.
O sexo mecânico, que eu pensava não ser bom para as mulheres mas ainda assim satisfazer os homens, afinal pode não ser considerado uma opção.
Esta INFORMAÇÃO leva-me para o território do sim e do não que pelos vistos se arruma agora de forma diferente. Aos homens sempre calhou o ónus de aguentar com a recusa das mulheres e estão habituados a encarar o cenário negativo com fair-play e descontracção. Um não é o prato do dia; o sim é muitas vezes um bónus.
Com as mulheres é ao contrário: habituadas ao luxo de dizer sim ou não conforme lhes apetece, quando são confrontadas com uma recusa, tomam-na como uma ofensa pessoal e o mundo pode desabar. Não conseguem perceber que uma recusa pontual não representa automaticamente um acto de rejeição. Como é próprio do modus operandi feminino, tendem a interpretar e reinterpretar todo e qualquer gesto, atribuindo-lhe os mais variados significados baseados mais na fantasia e na insegurança do que em qualquer dado real.
Acredito que aos homens também assiste o direito de dizer não, tal como tantas vezes as mulheres o fazem. Afinal, se andamos cá há tantos anos a lutar pela igualdade, nós, as mulheres, temos a obrigação de assumir com humildade que o outro também tem o direito a dores de cabeça, sejam elas verdadeiras ou ilusórias. A libido tem vida própria, tal como o amor e o desejo, é por isso um acto de uma enorme ingenuidade tentar forçá-la. Num mundo em que os homens se vão parecendo cada vez mais com as mulheres, é apenas natural que também eles tenham os seus dias não, mesmo sem tensão pré-menstrual ou sintomas de menopausa.
Não esqueçamos que esta nova espécie também tem outras qualidades; usa perfume e bons cremes para a pele e vai de boa vontade à faca operar o nariz para nos deixar dormir em paz sem banda sonora. Além disso, o clássico homem feio, porco e mau e a cheirar a cavalo raramente conhece as subtilezas do bom sexo e nem sequer se preocupa se a parceira atinge o nirvana ou está a pensar que precisa de mudar o verniz das unhas.
'Margarida Rebelo Pinto'
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