A crise é má. Todos a vamos pagar. Mas poderá ser boa. Se descongelar algumas ideias políticas que estavam há muito no frigorífico, se enterrar durante algum tempo as ideias de Milton Friedman que iluminaram a classe política nas últimas três décadas. Friedman, guru da escola de Chicago, considerava que só o dinheiro interessava. A partir daí confundiu-se a economia com os ciclos financeiros típicos da economia de mercado.
Todos os outros aspectos da economia (a agrícola, a humana, a laboral, a ambiental – todas fazem parte do eco-sistema a que se chama "economia") foram esquecidos. A ideologia hegemónica cristalizou-se, como se os fluxos financeiros fossem o coração e a alma do mundo. Não são. Esta crise pode incentivar uma nova ruptura criativa na economia, afastando as ervas daninhas que tiravam o sangue ao mercado. O Carnaval financeiro está a acabar e as máscaras estão a ser vendidas em saldo. Não é preciso citar Adam Smith para se chegar à conclusão que o saneamento do sistema bancário e o controle do défice público são medidas essenciais para garantir a saúde económica do Estado moderno. Por aqui imaginava-se que a crise financeira tirasse alguns políticos do seu estado letárgico. Não é o caso. Em Portugal tudo pode ser motivo de debates "fracturantes", menos o que interessa neste momento: a economia real dos portugueses. É nestes momentos que se vê o défice global da classe política nacional. Discute o acessório, esquece o essencial. A crise há-de bater-lhes à porta.
Fernando Sobral
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