A abstenção define, pelas razões erradas, a política portuguesa. Os políticos indígenas fazem da abstenção a sua ideologia. Compreende-se e aceita-se: quando nos abstemos de dizer "sim" ou "não", escondemos a nossa falta de ideias. A abstenção é a burka nacional. A abstenção de ideias cria, de resto, o carreirista perfeito, como se pode verificar pelos inúmeros cogumelos que frequentam o Parlamento. A abstenção é o encolher de ombros: os outros que decidam, e se decidirem mal, a culpa há-de ser deles. O novo OGE vai ser aprovado pela ideologia da abstenção. O PP abstém-se, para bem do País. O PSD, entalado pela decisão do PP, terá de se abster porque não pode votar contra, ao lado do BE e do PCP, sob pena de ser excomungado pelo FMI. O Governo, por seu lado, é o abstencionista completo: absteve-se de alterar muitas coisas no OGE que tem de gerir. Este OGE é uma vitória política de Paulo Portas, mas é uma derrota de Portugal. Não é positivo, de estratégia, de tendência para o futuro. É um OGE envergonhado. Não é sim nem não: é "nim". Há quem diga que este é o derradeiro orçamento de Teixeira dos Santos, mas parece mais o último do resto das nossas vidas. Há vida para lá do OGE, mas ela não vai ser muito alegre para Portugal nos próximos tempos. Porque não somos como David Copperfield e não nos conseguimos libertar, sem ruído, das cordas que prendem a nossa economia, a nossa sociedade e a nossa política abstencionista para tomar as decisões fortes que se exigem. Depois deste orçamento, Portugal torna-se o País que não é sim nem não.
“Fernando Sobral”
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