Um dos princípios mais básicos da democracia é exatamente que qualquer tema pode e deve ser discutido pela cidadania. É assim, dizem os mais entendidos na nobre arte da política, que se forma a opinião publica esclarecida, responsável, e, é precisamente desse discutir sadio que em ultima instancia, nas democracias, se fazem, ou deveriam fazer, as escolhas periódicas mais acertadas, entre os legítimos dirigentes políticos dos países.
Nesta base de cidadania, não se pode esconder a importância de debater o Portugal de hoje, e as necessárias mudanças que a médio prazo urge efectuar.
O que Portugal mais necessita neste preciso momento da sua historia é ter uma oposição que mesmo desunida, seja forte em cada um dos seus pilares e com capacidade de liderança e afirmação pessoal e com o pragmatismo necessário para descer a terra e dizer aos portugueses o que afinal esta a faltar, e o que querem mudar.
Mudar!!!
Sim mudar! Porque os portugueses estão realmente a espera é de uma mudança de políticas, e de sociedade. Uma mudança de rumo em termos de políticas sociais, judiciais, econômicas e da mais do que necessária nova visão sobre aquilo que mais diretamente afeta as famílias e, um e cada um dos portugueses, que é a sua vida concreta do dia-a-dia, e o funcionamento da sociedade em que estão a viver.
Se por um lado cabe a cada um dos portugueses mudar a sua própria vida, e adaptar a sua vivencia individual as novas realidades. Por outro lado; cabe em primeiro lugar ao governo estabelecer as prioridades e condições necessárias para que essas adaptações de cada cidadão possam acontecer e ter êxitos pessoais e efeitos práticos para o bem coletivo do país. Se assim acontecesse; Portugal estaria a construir-se de um modo bem diferente, sem duvidas para bem melhor do que aquilo que podemos observar atualmente.
O que Portugal necessita afinal (e uma vez que não se vislumbra, nos tempos mais próximos, outra formação política com capacidade de mobilização eleitoral, que garanta uma alternativa de governo, minimamente credível) é a emancipação do PSD, que nos últimos anos deixou de pensar e agir pela sua própria inteligência política interna, (que sem duvida alguma a tem, mas infelizmente esta toda, ou quase toda na reserva) e passou a atuar de acordo com o gosto e as vontades de quem; governa o País, para assim (erradamente) não perder a bolsa política (do centrãoooo) que entende sustentar infinitamente os partidos que governam Portugal desde praticamente o 26 de Abril de 1974.
Mas atenção que mais dia, menos dia isso vai acabar por mudar, pois alguém vai acabar por descobrir como mudar a alternância de poder em Portugal. Quando esse dia chegar; tanto o Partido Socialista, como o PSD vão ter que se reformular a toda a velocidade, ou então vão desmembrar-se, e cada militante e simpatizante seguirá o seu rumo natural, integrando as novas alternativas, que mais cedo ou mais tarde vão nascer, pois sinto que os portugueses estão cada vez mais cansados desse derby tipo Benfica-Sporting, que também um dia viu a entrada do Porto no caminho, e agora até já tem um Braga pelo meio.
Portugal necessita como de pão para a boca de uma oposição credível, e independente de quem governa neste ou naquele momento. Que mostre á sociedade as mais diversas opções possíveis e imaginarias de políticas, de vontades e de quereres. Não podemos continuar a ter uma oposição que tenha medo de perder eleições pelo simples facto de que acha politicamente incorreta uma ou muitas políticas que se mostram bem mais necessárias para a sociedade que uma tonelada de fantasias para tentar conquistar votos, que mais cedo ou mais tarde se vão esfumar quando a realidade vier a tona da água.
Sinceramente, e não querendo ser demasiado séptico, ou premonitório, mas não vejo que o PSD se consiga emancipar com a liderança de Pedro Passos Coelho, porque a sua equipa de trabalho, conhecida até este momento, e salvo raras exceções, esta pejada de profissionais da política, que fora dela mais nada sabem fazer na vida.
Mas por outro lado, o PSD tem a seu favor a situação de degradação do Partido Socialista enquanto governo, que esta de tal forma apodrecida, que qualquer que seja a liderança do maior partido da oposição, tudo se conjuga para que mais cedo ou mais tarde a cadeira se parta, e o senhor Pinto, caia de costas no chão. Só não sei é se esta queda do senhor Pinto poderá ser ainda pior que a sua manutenção, pois o que se seguirá pode ser infinitamente pior do que aquilo que de mau já hoje temos ao nosso dispor.
As únicas, das muitas duvidas que ficam assim no ar; é de se saber se o PSD com PPC a liderar será capaz de mostrar as diferenças, se é que elas realmente existem em termos programáticos, e de reunir a sua volta a quantidade necessária e suficiente de apoios eleitorais, ditos votos, para conseguir formar um governo isoladamente sem a ‘chaga’ que é ter que dividir poder, idéias, projetos com formações políticas que apenas sonham com a chegada ao ‘poleiro’ para dividirem entre si o quinhão de lugares governamentais. Dito isto falta ainda saber se o PSD será também capaz de lançar para os lugares governamentais, não os amigos dos amigos e os desempregados da política, mas os verdadeiros gestores públicos e privados, independentemente da filiação partidária, que sabem como mais ninguém as mil e uma formas de alterar o estado degradante em termos econômicos, sociais e políticos a que chegou Portugal.
Quando falo de ‘chagas’; falo obviamente do CDS que sob a liderança de Paulo Portas, tanto na versão um, de que até conheci in-loco a fermentação, como na versão dois, mais não tem feito que trabalhar para chegar ao patamar de lugares governamentais, nem que para isso se tenha que ‘prostituir’ em termos de proximidade a famílias políticas que nada tem que ver em termos programáticos ou ideológicos com aquilo em que se transformou o CDS, dito também de PP de hoje. Por vezes, parece que o CDS, formação política dita de direita, mais parece um partido político acantonado em todas as possibilidades e espaços que lhe possam possibilitar uma chegada rápida e eficaz a casa da divisão dos quinhões ministeriais.
Um partido responsável, não pode estar dependente deste ou daquele resultado, para escolher o caminho a seguir. Um partido responsável, liderado por políticos responsáveis tem que ter a capacidade de dizer desde logo – nos vamos por ai, e por ali, pois o nosso caminho é este!
O CDS de hoje não tem caminho, tem sim motivações pessoais e de lugares para optar por certos caminhos, mesmo que estes possam conduzir a verdadeiros abismos como aconteceu na ultima participação (desastre) governamental ao lado do PSD de Santana Lopes.
O que fez a emancipação do PSD em momentos chave da política nacional, e o conduziu por caminhos de determinante e fundamental importância na historia da democracia portuguesa, ajudando a construir a diferença, foi precisamente essa emancipação, essa diferença bem vincada e marcante em relação aos outros. Sem ela, essa tal emancipação, essa diferença; o PSD nunca passou de um partido igual a tantos outros, com políticas e posições iguais as de tantos outros, e com essa igualdade nunca conseguiu mudar nada na sociedade, e muito menos conseguiu marcar o seu território político e de base social.
Os portugueses já por mais do que uma vez demonstraram que gostam e preferem a diferença. Francisco Sá Carneiro foi, no seu tempo, a diferença ao afirmar categoricamente que Portugal devia seguir o rumo traçado por uma aliança política, que venceu e convenceu a maioria dos portugueses.
Mais tarde; Cavaco Silva voltou a emancipar o partido, e a marcar um caminho diferente, desde logo com a escolha do candidato presidencial próprio, e a afirmação de um caminho bem diferente daquele que estava a ser traçado até então com o projeto de bloco central apoiado nas idéias de outrem que não as de políticos do PSD.
Depois dele, depois de Cavaco, e goste-se ou não da figura, o PSD não voltou, até ao dia de hoje, a ter emancipação política, e viveu na sombra de políticos na sua maioria cinzentos que traçaram caminhos voltados para a projeção pessoal esquecendo que primeiro está Portugal e os portugueses, depois o partido e nunca eles próprios, que ali chegam para servir e não para se servirem.
É urgente reformarem o PSD, para que essa emancipação retorne a casa que sempre pautou a sua doutrina pelo reformismo, e que de a uns tempos a esta parte vive no mais profundo e empedernido conservadorismo e oportunismo político.
*J.M. – 2010*
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