Na ladeira da Rua da Republica, perto de um boteco, perambula uma prostituta jovem, habitualmente acompanhada de um cão. Ela não veste Prada. Nem o cão. Seria a nova Madalena?
Passo por ali, quando vou mandar emoldurar quadros, no caminho da Praça da Pedra. A única praça que não é do povo. É minúscula e o povo, como sempre... exagerado.
Já vi essa dona com vários cães diferentes. Geralmente são vira-latas ou misturados. Tanto faz.
Dias atrás andava com um daqueles que parece uma salsicha, aliás, prostituta não gosta de sexo. Nos últimos dias, é um cão corintiano, alvi-negro de pelagem longa.
Baixinha, loira, veste sempre camisetas com letriros no peito, como se imitasse as de Marcos Pires. Deve ter ojeriza ao conluio e não é para menos.
De uns tempos para cá, quando a vejo, já não foco o olhar nela, nem no cão, mas na banalidade à sua volta. Invariavelmente, olham-na inquietação. São anciãos caindo aos pedaços...
Todas as vezes que nos cruzamos, atento mais para a coreografia dos cães e quase nada para a prostituta. Os animais sentam, deitam, equilibram-se em duas patas, nada além. É a tradução do tempo.
A mulher fala com os cães em voz baixa, não faz gestos abruptos a um passo dos esquecidos, na mais paraibana das praças – João Pessoa.
Ora, dirão os pedigree, o vira-lata tem o ouvido melhor que o nosso, por isso não precisa gritar. Ah, é? Banho de tristeza nos olhos daquela mulher. Que lei da física, digo Freud, explica?
Não sei dizer o que mais lhe agrada no coito. Não fui lá. No fundo, é natural uma mulher dominando o “animal”, fazendo-lhe submisso. Qual?
Sonho com o dia em que todas as relações sejam como a dessa puta com os cães: cumprindo a missão de viver.
‘Kubitschek Pinheiro’
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