sexta-feira, 21 de maio de 2010

Aldemaro Campos

Sempre detive como conceito, de que a Família é o lugar onde o amor deveria ser praticado, vivenciado, desfrutado em toda sua essência.
Inspirado nesse diapasão, confesso que jamais apagarei de minha mente a figura extraordinária do Dr.Aldemaro Campos (meu sogro). Era um homem inteligente, íntegro, grande conhecedor de nossa literatura, e um grande visionário. De hábito simples (até demais). Vivia uma vidinha pacata, típica ao homem do campo.
Depois de um longo expediente, não de sua Repartição Pública (Procuradoria do Estado), mas de suas atividades na fazenda, chegava em casa exausto, sujo, amarrotado, malcheiroso, moído e monossilábico, mesmo assim, não deixava de dirigir um gesto de atenção e de cordialidade as pessoas.
Sempre se queixava da vida moderna: estresse, trânsito, correria, insegurança, colesterol, triglicérides etc. Não era adepto a nostalgia esquizofrênica de seu tempo de mocidade. Dizia que o ser urbano enfrentava uma crise de referências.
Entre tantos bate-papos que tivemos juntos, não me esqueço quando ele disse que todas as criaturas nascem flexíveis para morrerem rígidas. Donde a flexibilidade era discípulo da vida e a rigidez, da morte. Exemplificava-se com maestria essa teoria através da velha história do carvalho e do junco (plantas) que enfrentam a tempestade: o primeiro, por ser firme, quebra-se e morre. O segundo, maleável, sobrevive.
Meu coração tem por essas lembranças, reais sentimentos de alegria, saudade e felicidade. Mormente, as histórias ingênuas contadas por sua esposa Dona Salete (como dizem por ai, a sua “cara-metade”, a “tampa da panela”) sobre a estonteante Maria Amaral - sua parenta.
Não sei até hoje se tais narrativas eram reais ou de ficção. Ressaltando, qualquer semelhança com seus personagens vivos ou mortos teria sido mera coincidência.
E mais: nessas histórias contadas por Dona Salete, sobre essa criatura indefectível, pareciam peças de Shakespeare por tratarem de temas universais, tipo traição, paixão, inveja, ódio, caridade etc.
Quando estava em regime de inspiração total, Dona Salete (espécie de detergente d’alma) brilhava com umas histórias (sem fim) didáticas e empolgantes sobre as travessuras trepidantes dessa tal Maria Amaral. Com vestígio de humor, ou de ironia, vinha lá Dr.Aldemaro com sua tirada: “Eeeiita!!! Boa... Boa... Muito boa!!! Já terminou???
Por isso, todas às vezes que vejo um político tentando se defender (com histórias mirabolantes) nos embaraçosos escândalos de corrupção, eu sinto a falta da presença do Dr.Aldemaro, com sua maldita lealdade inabalável, para lhe sapecar: Chega... Chega de Maria Amaral!


LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Adm.Empresas

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