A dificuldade em formar um Governo apoiado numa maioria parlamentar vai ser a questão política fundamental após as eleições legislativas de Setembro. As contas que se vão fazendo com base nas indicações fornecidas pelas sondagens confirmam que apenas a reedição do Bloco Central é uma hipótese verosímil. Mas as condições actuais são semelhantes às que, nos anos 80, deram origem à primeira e única, até agora, coligação entre o PS e o PSD?
Em 1983, quando Mário Soares e Carlos Mota Pinto chegaram a acordo para formar um Executivo sustentado pelos dois maiores partidos, o país estava mergulhado numa grave crise económica. A taxa de desemprego estava em alta, os défices público e externo precisavam de ser atacados com medidas impopulares e era necessário garantir uma maioria suficientemente forte para executar um programa que iria colocar a contestação nas ruas, numa época em que o PCP dispunha de influência para explorar a seu favor as consequências da austeridade das políticas.
O Bloco Central é mal visto pelo que significa em termos de repartição de lugares e benefícios entre quadros socialistas e sociais-democratas em lugares que dependem da militância ou da simples simpatia partidária. Mas pelo menos dois pontos fulcrais para o futuro do país justificaram plenamente a sua constituição e a relevância histórica que assumiu, apesar da sua curta duração de dois anos.
Portugal precisava, desesperadamente, de financiamento e, para o conseguir, era preciso a credibilidade suficiente para negociar um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional, o que dependia de o país poder dar garantias políticas de estabilidade e governabilidade para combater os problemas que o tinham colocado à beira da bancarrota. Sem maioria no Parlamento, nem o PS, nem o PSD só por si tinham quaisquer possibilidades de reunir aquelas condições. Depois, era necessário dar um impulso definitivo nas negociações de adesão de Portugal à União Europeia e dar aplicação prática àquele que era o mais pacífico tema de consenso entre os dois partidos.
Os dois objectivos foram conseguidos. Quando, em 1985, o Governo do Bloco Central cai, abrindo as portas ao arranque da década cavaquista, a economia estava a iniciar um período de crescimento acelerado e o acordo de adesão que colocava Portugal no clube das democracias europeias, ainda em plena Guerra Fria, estava negociado e prestes a ser assinado. Só por isto, que não foi pouco, o Governo do Bloco Central valeu a pena. Resta saber o que há de semelhante entre a situação em que o país se encontra actualmente e o que sucedia na primeira metade dos anos 80, que possa justificar uma aproximação entre PS e PSD.
Aparentemente, as coincidências são muitas. Há uma crise económica grave, que não tem apenas a sua justificação na conjuntura internacional, o desemprego está em alta e os défices público e externo precisam de ser corrigidos, reflexo do crescente endividamento das famílias, das empresas e do Estado. Mas também há sinais de que o pior já terá passado e que, com lentidão, a economia estará a iniciar uma recuperação para terrenos positivos, embora de fraca intensidade.
É isto que faz a conjuntura parecer-se mais com a que Cavaco Silva encontrou quando ascendeu à liderança do seu primeiro Governo, minoritário no Parlamento mas que lhe abriu o caminho para duas maiorias absolutas, do que aquela que estava à espera de Mário Soares quando chegou ao poder aliado ao PSD de Mota Pinto. Caso se junte a estas circunstâncias o facto de José Sócrates e Manuela Ferreira Leite terem uma capacidade para conviver como a água e o azeite, a probabilidade de uma reedição do Bloco Central é fraca, mesmo que esta seja a única via para constituir um Governo confortavelmente assente numa maioria.
Caso sobrevivam como líderes dos seus partidos aos resultados das próximas legislativas, Ferreira Leite e Sócrates talvez prefiram arriscar a reedição do percurso de Cavaco, em detrimento de tentarem conquistar algumas vitórias na governação para depois serem derrotados nas urnas.
"João Candido Silva"
3 comentários:
Olá boa tarde,
pesquisando na internet sobre artigos relacionados com Cinfães fui encontrar o seu Blog onde descreve a sua infância nesta localidade.
Em primeiro lugar permita que o corrija pois "Cinfães do Douro" não existe, denomina-se Cinfães essa localidade rodeada por 3 rios; Douro, Paiva e Cabrum.
Em segundo lugar, e apesar de ter nascido uma dezena de anos depois , também passei a minha infância em Cinfães e estou de acordo com algumas opiniões que faz das gentes daqueles tempos...Contudo, não posso deixar passar em claro que o Sr. Padre Adão nunca teve irmãos, consequentemente, nunca teve cunhadas (pois sendo padre não era casado). Penso que a pessoa a que se refere é à Dona Lurdinhas, Irmã do Sr. Padre Adão, viúva do Sr Morais e mãe de 3 filhos; que sempre moraram com o Sr Padre Adão após o suicídio do Sr. Morais, como se deve lembrar.
DIsposta a correcção penso que será de bom grado rectificar no seu "site" este lapso, que talvez por muitos anos volvidos a memória o vá fintando e confunda algumas situações como esta que se tornam indelicadas.
Melhores Cumprimentos
João H.
Estimado Amigo
Atento ao seu importante comentario, para além de não poder mudar a realidade vivida in-loco, não posso deixar de o remeter para uma atenta consulta as gentes daquela epoca, para que possa ficar com a certeza perfeita da personalidade bem como os parentescos e relacionamentos do dito cujo, bem como os seus relacionamentos muito pouco condignos com a figura de representante da igreja catolica.
Soube recentemente que o dito cujo faleceu. Espero que a terra lhe seja bem pesada, tão pesada como o seu passado bem nubloso.
Atentamente
João Massapina
Ainda referente ao seu comentário, dizer-lhe que Cinfães sempre se denominou de Cinfães do Douro, porquanto era essa a sua real denominação.
Se mudanças se verificaram topominicamente falando, as mesmas não podem ser anezadas a uma realidade de 40 anos passados.
Atentamente
João Massapina
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