sábado, 5 de dezembro de 2009

UM CERTO ODOR SALAZARENTO

O que me provoca uma repulsa epidérmica neste processo (no sentido dialéctico do termo, não no sentido jurídico-burocrático) de «Face Oculta» são três coisas:
• Um ar certo de leviandade generalizada
• Um odor forte de ausência de profissionalismo
• Um toque fatal de moralismo provinciano
Confesso que a junção destes três ingredientes me parece uma amostra de um caldo de cultura do piorzinho que Portugal tem. Um compósito de resíduos inquisitoriais-pidescos com cheirete a salazarenta sacristia, tudo muito repelente e de má memória, insuportável e incompatível com a Democracia. Leviandade e incompetência profissionais pintadas por fora com umas tintas de moralismo são, de facto, um traço típico de um certo Portugal salazarento.
Confesso que não percebo o “moralismo”, vindo de quem vem, e muito menos entendo o ar de leviandade e falta de profissionalismo em pessoas e cargos a que tal não se pode admitir. Fica-se com a ideia de que os que têm como função e obrigação velar pelo Estado de Direito nem se preocupam já sequer com o direito de Estado e passaram no seu quotidiano a ignorá-lo. E tão evidente isso é que até Proença de Carvalho se permite, sob forma interrogativa, declinar o tema Agentes da lei fora da lei...
A confirmarem-se estes ares, odores e toques, então, o Estado português terá entrado em anomia e ter-se-á tornado disfuncional e contraproducente… E isso obriga cada português a tirar conclusões. E a primeira será, nesse cenário, que o Estado Português falha a única missão que o justifica e legitima e pela qual lhe pagamos: garantir a segurança e o bem-estar dos cidadãos. E, se o Estado falha, serão os próprios cidadãos a ter que assumir o essencial da sua segurança e do seu bem-estar… Para ter umas luzinhas sobre o império futuro (mas próximo) deste novo “sistema D”, leia-se John Robb que tem algumas pistas (“power to the people” e “resilient communities”) sobre o assunto.
Gostaria – confesso-o - que Robb estivesse totalmente enganado, na análise e nas propostas, mas quanto mais o leio e quanto mais observo o que se passa à minha volta mais dúvidas tenho sobre as possibilidades de realização deste meu desejo.
José Mateus Cavaco Silva

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