Quem já não passou por situação onde a gente se segura e conta até vinte pra não infartar? Some-se a isso um detalhe arrasador: o cara responsável pela situação (vexatória!) detinha evidências de alcoolismo e descontrole emocional.
Assim aconteceu. Não faz muito tempo, quando saia com o carro do estacionamento do meu condomínio, despercebido, bati e quebrei um simples (surrado) jarro de um dos seus moradores recém-chegado, e antes que se desculpasse e se comprometesse a repor o prejuízo material, fui tremendamente mal compreendido e questionado de forma indelicada pela infeliz trombada. Coisa de cascalho bruto do linguajar cotidiano. Sim, há uma lição ser dada a esse cara, assim murmurei. Mesmo sendo um dia de domingo, percorri toda a cidade e acabei comprando outro jarro maior e muito mais bonito.
Foi aí, e só aí, que me lembrei do grande dramaturgo Nelson Rodrigues, com seu delicioso exagero, dizia que Pelé ignorava os marcadores e que sua grande qualidade era não ter nenhuma humildade. Acho não, tenho certeza, que nesse episódio eu dei uma típica ao do rei de futebol.
Um dos livros mais interessante que li no ano passado foi “O fator gente boa”, do escritor e palestrante Tim Sanders. Por que se recordar deste livro justo agora? Ora, porque ele mostra que nosso instinto é agir com reciprocidade quando alguém é cordial conosco. E o inverso é verdade. Exemplo: você já parou para pensar por que às vezes o garçom entrega docinhos junto com a conta? Para inspirar a reciprocidade.
Da mesma maneira, a hostilidade reduz a força do carisma. Uma atitude grosseira ou uma expressão de raiva não só provocam atitudes negativas como afetam a saúde. Até na área jurídica, a capacidade de cativar as pessoas é fundamental. Ou seja: para os réus, a simpatia é uma questão de psicologia básica. Por quê? Porque ninguém quer acreditar que uma pessoa de quem gosta poderia fazer algo ruim.
Já que estamos prestes a uma campanha eleitoral, o famoso instituto George Gallup (EUA) revela que vem conduzindo enquetes desde 1960 sobre a importância que o eleitor dá à personalidade do candidato. Dos três fatores analisados - propostas, avaliação partidária e carisma -, apenas um mostra-se consistente: o carisma.
Não esqueça: todo mundo tem um Fator-GB (Gente Boa), que é o indicador de seu nível de simpatia e carisma. A convivência com uma pessoa de alto “fator” proporciona uma sensação de alegria, de felicidade, de relaxamento e até de rejuvenescimento. Sem falar do alívio nos casos de depressão, ansiedade ou tédio.
Hoje em dia, pessoas desagradáveis e antipáticas estão percebendo que seu dinheiro pode comprar carrões e apartamentos suntuosos, mas não pode comprar afeto e lealdade. Enfim, nada de “dicas”, “macetes” e “fórmulas miraculosas”, a antipatia faz parte do passado e o futuro está na simpatia.
LINCOLN CARTAXO DE LIRA
Advogado e Adm.Empresas
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