segunda-feira, 21 de junho de 2010

Supernova ou velha?

Agência FAPESP – Até hoje, astrônomos observaram dois tipos de supernova. O primeiro é a gigante jovem que explode em uma exibição violenta à medida que entra em colapso por conta de sua própria massa. O segundo tipo é o da explosão termonuclear de uma estrela do tipo anã-branca, velha e densa.
Um novo tipo de supernova acaba de ser descrito – ou não. A novidade, ou melhor, a dúvida é destaque na edição da revista Nature em dois artigos: um que defende se tratar de uma nova supernova e outro que afirma se tratar de um tipo conhecido.
A estrela de enorme massa que explodiu foi detectada por meio de telescópios em janeiro de 2005, pouco após ter iniciado o processo de explosão. Desde então, ao investigar a estrela, pesquisadores de diversos países verificaram que se tratava de um fenômeno inusitado.
Denominada SN2005E, a supernova fica na galáxia NGC1032, vizinha à Via Láctea. Nas análises feitas desde 2005, alguns cientistas concluíram que a quantidade de material ejetado pela supernova era muito reduzida para ter se originado de uma gigante que explodiu.
Além disso, sua localização, distante das regiões conhecidas e movimentadas nas quais as estrelas se formam, implica que se tratava de uma estrela mais velha que levou bastante tempo para se deslocar de seu berço natal.
Mas a assinatura química da estrela que explodiu não se encaixava no segundo tipo conhecido de supernova. “O resultado deixou claro de que se trata de um novo tipo de supernova”, disse Hagai Perets, do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, nos Estados Unidos, primeiro autor de um dos artigos.
Os pesquisadores fizeram diversas simulações em computador de modo a tentar entender que tipo de processo poderia ter levado ao fenômeno observado. Uma importante incógnita é a assinatura química.
Um tipo comum de anã branca que explode (conhecido como supernova tipo Ia) é composto principalmente por carbono e oxigênio, o que é refletido na composição do material ejetado.
“A nova supernova é vazia de carbono e oxigênio. Em vez disso, é rica em hélio. Ou seja, é surpreendentemente diferente das demais”, disse Dae-Sik Moon, do Departamento de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Toronto, no Canadá, outro dos autores do artigo.
“As simulações feitas sugerem que um par de anãs brancas estava envolvido, um roubando hélio do outro. Quando o hélio da estrela que roubou se eleva além de certo ponto, ocorre a explosão. A estrela roubada é provavelmente destruída no processo, mas não sabemos ainda o destino da estrela que roubou o gás”, disse Avishay Gal-Yam, do Instituto Weizmann, de Israel, também autor do artigo que defende o novo tipo de supernova.
Mas Koji Kawabata, da Universidade de Hiroshima, no Japão, e colegas defendem no outro artigo publicado na Nature que a SN2005E é uma supernova tipo Ib.
Segundo eles, a supernova deriva de uma estrela de massa gigantesca que explodiu pelo colapso gravitacional em seu próprio núcleo. O caso da SN2005E seria raro por a supernova se localizar em uma região sem sinais claros da formação de estrelas.
“As duas interpretações diferentes oferecidas pelos artigos ilustram a atual incerteza a respeito da origem dessas explosões. Mas a composição incomum do material ejetado pela SN2005E e outros eventos similares terão implicações importantes para diversas áreas da astrofísica”, disse David Branch, da Universidade de Oklahoma, em um artigo na mesma edição da revista com comentários sobre os outros dois.
Os artigos A massive star origin for an unusual helium-rich supernova in an elliptical galaxy (doi:10.1038/nature09055), de Kawabata e outros, A faint type of supernova from a white dwarf with a helium-rich companion (doi:10.1038/nature09056), de Perets e outros, e o comentário de Branch podem ser lidos na Nature em www.nature.com.

Sem comentários: