1. A Plataforma Sindical dos professores exagera quando não aprecia devidamente o recuo e a humildade com que a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, soube emendar a falta de tacto político que a certa altura lhe guiou os passos na introdução da avaliação aos professores. Uma coisa é simplificar processos, reconhecer a existência de problemas na relação avaliador-avaliado, mostrar abertura para dialogar; outra coisa, diferente, seria abdicar completamente de um projecto importante para a melhoria do ensino em Portugal e consequente requalificação do ambiente escolar.
Por muitos erros que tenha cometido - e cometeu alguns - a ministra tem razão no essencial, e a verdade é que começa a ser evidente para a opinião pública que há uma parte significativa dos professores que não quer qualquer avaliação. Essa parte da classe protesta o contrário mas, no fundo, claramente pretende o regresso ao passado de uma escola onde os professores bons e maus conviviam como se fossem frutos da mesma árvore.
Não são.
E, pelo meio, os sindicatos, com a Fenprof à cabeça, mais do que a paz nas escolas, para descanso dos pais e devida classificação dos alunos, apostam num braço-de-ferro político com o Governo.
Há um limite para tudo. Nesta questão, depois dos desenvolvimentos das últimas semanas, nomeadamente após a confissão de humildade da ministra, chegou o momento de dizer que o Governo não pode nem deve recuar mais. Os sindicatos e as corporações já governaram Portugal durante décadas. O resultado está à vista - e obviamente não apenas nas escolas. Desse "diálogo" já houve que chegue.
2. Um governo democrático, legítimo, ainda para mais com maioria absoluta, deve lutar pelas suas convicções, ver para além das dificuldades do presente.
É certo que, num primeiro momento, o ministério avaliou mal a carga de trabalho que estava a colocar sobre os docentes nesta fase. Um processo destes deve ser implementado por fases e sobretudo analisando bem a qualidade média da população a que se destina. Essa avaliação falhou.
Agora, em sentido inverso, falha a percepção que os professores têm do seu lugar na sociedade.
Uma escola não se faz para os professores, como um tribunal não existe para os juízes e advogados ou um jornal para os jornalistas. Uma escola funciona para servir uma comunidade e, sobretudo, para formar gente melhor e mais qualificada. É neste âmbito que os professores devem ver a sua acção e perceber a missão do Estado.
A proposta da auto-avaliação, assente na assiduidade, feita agora pelos sindicatos para "fechar" este ano, é obviamente inaceitável. Quem está de fora e de boa-fé entende que a solução a encontrar não pode ferir a face de qualquer das duas partes. A dos professores, fruto da sua indignação e protesto, acabou por ser garantida. Mas esta obstinação dos sindicatos fere a legitimidade do Governo e a convicção da ministra. Mário Nogueira trai-se quando diz que Sócrates "se quer guerra, vai tê- -la". Para o professor sindicalista da CGTP o objectivo é fazer capitular o Governo. No dia em que os professores, de uma maneira geral, assumirem este objectivo perderão a simpatia que a determinada altura ganharam com a seu indignação. Vamos a ver se o compreendem a tempo.
O PSD ainda não sabe o que fazer na questão do Estatuto dos Açores (vota com Sócrates ou por Cavaco?...) mas já sabe como reparar a mais recente e notória "balda" dos seus deputados: vai apresentar um projecto de lei a propor a suspensão da avaliação aos professores ("defendendo naturalmente sempre a avaliação", no dizer de Paulo Rangel)! Uma vergonha tapa-se com a demagogia mais básica. E assim vai a política à portuguesa.
'João Marcelino'
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