quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

SINAIS EXTERIORES DE POBREZA

Ficou famoso o indicador econômico de Antonio Guterres, que uma vez disse no Parlamento que não era possível que a crise fosse assim tão grave, pois as vendas de telemoveis não paravam de subir. Pois até para esse sofisticadíssimo índice se prevê recessão. I isso não tem graça nenhuma.
De todos as previsões recessivas que vão surgindo, em catadupa, a mais impressionante é esta: mãos oito milhões de desempregados nos países da OCDE nos próximos dois anos. Oito milhões. É o equivalente a quase todos os portugueses com mais de 15 anos que, em 42 países, vão deixar de ter emprego. É o saldo liquido (diferença entre postos de trabalho criados e destruídos). É um aumento de 24% em dois anos, para um total de 42 milhões. É o custo dramático da destruição da aparência de prosperidade econômica em que vivíamos. É o fim do mito do homem-heroi do século XX: despedir oito milhões de pessoas não é um ajustamento econômico, é o fracasso da sociedade ocidental.
As previsões da OCDE são medonhas e incluem Portugal no fumo negro, prevendo para nós a mais alta taxa de desemprego desde a adesão à comunidade européia. Mas não é preciso fazer muita futurologia para ver como a crise econômica já chegou em força: as vendas de automóveis e casas caem a pique, os centros comerciais vão perdendo logistas, o malparado está a aumentar, os orçamentos das empresas cortam custos para o próximo ano, o consumo está em perda, os principais países nossos clientes estão com previsões ainda piores que as nossas.
Só depois do Natal, o período forte do consumo do ano, se medirá a extensão da crise que já existe, pois muitas empresas estão à espera deste balão de oxigênio para respirar fundo antes de arrancar o ano. A julgar pelas promoções avançadas que se vêem nas montras, este não será o pior Natal dos últimos anos, mas o melhor Natal dos próximos.
Com esta crise, não é apenas o nosso modo de vida que está ameaçado, é o nosso emprego. E nesta ameaça pode-se começar a conjugar o verbo “perder” seis vezes: eu, tu, ele, nós, vós, eles.


‘Pedro Santos Guerreiro’

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