sábado, 10 de maio de 2008

MAMÃE…

Na magia do teu senso de ternura, tens sido companheira, mesmo à distância, assim te vejo desde a minha infância, com um sorriso nos lábios, com candura.
Tentei falar-te, mas não conseguindo, vou escrever o que estou sentindo.
Para mim um desafio, um novo teste:
Como um Anjo; vens velando o meu destino, aquecendo o meu coração no desatino.
Mamãe: desceste de um balão celeste!
Tens o domínio e a grande ciência de saber e a todos escutar.
Trazes; atada à cintura, a paciência, sem fazeres do trabalho; o teu cansar.
Como ave conhecendo os ares, tens sido Guardiã de nossos lares investindo no Amor, na Fé, na Fortaleza, não obstante o não conhecimento imbatível nas horas da tristeza, da inveja, da traição, do sofrimento.
As nossas magoas, tu as ouves silenciosa, porque possuis o dom da alquimia, transformando nossa dor em alegria, desculpando nossa vida silenciosa.
Dentro de ti há uma luz incandescente, pois eu me lembro de, quando estive doente, sentir minha vida se apagar, tua presença constante me ergueu, e aquela chaga em mim não mais doeu, e voltei novamente a enxergar.
Se, um dia, eu te deixei sozinha, quase a dispensar-te de minha pauta, hoje reconheço toda a falta e te peço perdão, minha mãezinha!
Sou pequena para ver tua grandeza, meu proceder não se compara ao teu encanto.
Tu me embalas-te, em criança, com o teu canto; em teu carinho, sempre encontrei firmeza; banhaste-me no mar da tua bonança, enfeitaste-me com a jóia da coragem.
Não sendo vento, oeste minha aragem.
Abriste-me o céu da confiança.
Como aprendi com teu manto de pureza!
E descansei sob o teu doce aconchego.
Em ti jamais percebi moleza, soubeste sempre transluzir sossego.
Mesmo te vendo no isolamento, coberta de: dor e de sofrimento, sustentaste a bandeira da esperança, e o teu dedo de decisões sempre em riste jamais arrefeceu a confiança.
Mamãe, a tua clonagem não existe!

‘Magna Celi’


Em 1993, eu dirigia como diretor de campanha, e ao mesmo tempo mandatário e candidato a deputado municipal, uma campanha política, para umas duríssimas eleições autárquicas no Concelho do Barreiro, e foi no decorrer de uma reunião, a meio de mais uma, de tantas outras noites de trabalho político, que recebi a noticia da sua partida oficial.
Chegaram a perguntar-me o que eu ainda fazia ali, perante a situação, ao que respondi: que para mim a morte, não é mais do que uma mudança de estado, e que nada fica igual, mas também nada muda o nosso destino, sempre que se queira tentar fugir dele.
Podemos tentar melhorar o destino, agora alterar o mesmo de forma total e radical...
Claro que conduzi a reunião até ao seu final, e muito poucos dos presentes na sala, naquela noite, souberam o que tinha realmente acontecido, acho mesmo que tirando o portador da noticia, e mais uma ou duas pessoas presentes, mais ninguém se apercebeu do que realmente ele, Francisco Mendes Costa, me tinha segredado ao ouvido, ao entrar na sala; e deparar comigo a dirigir aquela reunião sabendo o que tinha acontecido horas antes.
É por isso que fiquei maravilhado á poucos dias, ao poder assistir a uma reportagem televisiva sobre a uma ultima aula de um Professor Universitário dos EUA, a quem diagnosticaram câncer do pâncreas e deram no máximo 6 meses de vida.
Ele ministrou, a sua ultima aula, falando de: vida, de futuro, de querer, de organização, e até se deu ao luxo de brincar com os presentes, fazendo flexões no solo, só com um braço, e depois com o outro, para provar que estava, naquele momento, bem melhor e mais ágil que alguns que estavam ali sentados naquele anfiteatro, assistindo aquela sua derradeira aula enquanto professor na terra.
Fiquei maravilhado e feliz, porque percebi que no Mundo não sou o único a pensar assim, sobre a importância da vida até ao último momento, como vida vivida...
E que ninguém duvide, que; se eu tiver a oportunidade de saber o dia em que mudo de estado, não farei tudo o que estiver ao meu alcance, para poder escrever aqui, e nos outros espaços que tenho na Internet; umas últimas linhas para vocês, meus amigos, com um caloroso, obrigado final, e até...
Digo partida oficial da minha mãe, nesse dia de 1993, pois que a partida real, para mim, já tinha acontecido dois anos antes, quando pela última vez escutei a sua melodiosa voz, sair daquela boca ornada com finos lábios. Depois; bom depois ali ficou; ligada a uma máquina, como um vegetal, ou um motor elétrico sem autonomia, a quem se recusam a cortar o caule, ou a desligar a tomada, mesmo depois de tantos pedidos pessoais. Pedidos para que alguém que foi realmente; um poço de energia. E uma doçura de pessoa em vida, não tivesse quase como castigo final, aqueles momentos de exposição desnecessária e incompreensível, aos olhos de alguém que acredita que a vida é para ser vivida, enquanto vida, depois é só mais uma transformação, pois que nada se cria, nada se perde, e tudo, mas mesmo tudo se transforma.
Eu não tenho vergonha de dizer e assumir que enquanto esteve ligada á, máquina, eu jamais passei da porta do serviço de internamento para dentro.
A Libânia, aquela mulher tão importante para mim, que partiu fisicamente nesse dia, mas que realmente se mantém inabalavelmente ao meu lado até ao dia de hoje, em memória nunca esquecida, é um dos seres mais importantes, se não o mais importante, que passaram pela minha vida.
E se falo de quem já se transformou, e foi deveras importante, pois não posso esquecer, para que possam sorrir e até pensar que posso ser um louco, que tenho alguns Seres importantes que já partiram, talvez até já demais para o meu gosto, nesta altura do campeonato da minha vida. E que se não chorei por minha mãe, pelo contrario o fiz noutras ocasiões, e até mesmo por um cão, pastor Serra da Estrela, “Lord” que foi o mais fiel Ser que conheci até hoje na minha vida, e partiu comigo agarrado a ele, numa tarde de um malfadado dia 20 de Agosto. Esse dia tão especial na minha vida, no destino da minha vida, e que tantos acontecimentos, nada bons me tem trazido ao longo do tempo.
Nunca fui menino de Mamãe, fui até muito independente, mas sempre soube respeitar a sua importância, na minha formação enquanto homem. Foi também ela, entre outras determinações, quem apoio de modo empenhado a minha aventura de conhecer a Europa com uma mochila ás costa nos idos anos 80. E por lá andar largos meses em 1984 e 1985, e foi também ela que me transmitiu grande parte da minha quota de 50% de raízes pátrias italianas, sangue que jamais reneguei correr nas minhas veias, e que até fazem de mim; um adepto da “Squadra Azurra”, incontido, e reconheço que por vezes deveras exuberante nos festejos de tantas conquistas, e melancólico na tristeza das derrotas, mas sempre respeitador da noção de que a vida é para ser vivida e construída de preferência de pequenas derrotas e de grandes vitórias, mesmo que sejam poucas em quantidade, mas que tenham a força da qualidade.
O dia da mãe, não tem assim para mim um significado especial, é simplesmente um dia...
Seria assim mais um dia, entre tanto, em que telefonaria, para perguntar como estava. Hoje o telefone não pode tocar mais...
Para mim é todos os dias, eis então uma das tais vitórias com a força da qualidade, porque parecendo impossível, muito raro é o dia em que não me vem á memória algo de importante transmitido por essa terna e muito tranqüila mulher, que foi a minha mãe.
Dizer que ao acompanhar o seu corpo no dia do funeral, o fiz com a certeza plena, de que ali já nada restava dela enquanto pessoa, mas só um símbolo, por isso, e como nunca a abandonei, fui até junto da cova final, mas ao contrario de todo o mundo que ficou ali especado, eu não fiquei para ver descer o esquife, ou jogar uma mão cheia de terra. Virei costas e totalmente só, me vim embora, sem olhar sequer para trás, como até hoje faço, quando realmente não mais quero esquecer alguém ou algo importante.
Olhar para trás, é despedir, é dizer adeus, é ter remorsos. E eu detesto despedidas por isso gosto de partir sempre só...
Quando parti, nessa tarde, do Cemitério da Vila Chã no Barreiro, um pouco dela veio, no entanto; junto comigo. Ela veio; a parte importante dela veio, e se mantém, até hoje, bem junto de mim, pois que as ossadas que restam numa gaveta mortuária, com deliberada intenção sem qualquer foto exterior dela, não são mais do que a recordação física da armação do corpo que um dia foi o seu.
Quem sabe um dia mude de idéias e coloque lá uma foto sua, para identificar as ossadas á imagem anterior...
Hoje, tal como ontem e como amanhã, se aqui ainda estiver, só posso pensar, e imaginar os meus lábios articularem um:
Obrigado, Libânia por mais um dia de amizade...

Um beijo mamãe!...

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