terça-feira, 6 de maio de 2008

O ACTOR DE ESCREVER – O LEITOR

“Existem dois tipos de escritores: aqueles que fazem pensar, e aqueles que fazem sonhar” diz Brian Aldiss, que me fez sonhar por muito tempo com seus livros de ficção cientifica. Pensando em sua frase e em meu oficio, resolvi escrever umas três colunas sobre o tema. Acho, em principio, que todo ser humano neste planeta tem pelo menos uma boa história para contar aos seus semelhantes. A seguir, minhas reflexões sobre alguns itens importantes no processo de criar um texto.

O leitor

O escritor precisa ser, sobretudo, um bom leitor. Aquele que se aferra aos livros acadêmicos, e não lê o que os outros escrevem (e aí não estou falando apenas de livros, mas de blogs, colunas de jornais, etc) jamais irá conhecer as suas próprias qualidades e defeitos.
Portanto, antes de começar qualquer coisa, busque gente que se interessa em dividir a sua experiência através da palavra.
Não digo: “busque outros escritores”.
Digo: encontre pessoas com diferentes habilidades, porque escrever não é diferente de qualquer atividade feita com entusiasmo.
Seus aliados não serão necessariamente aquelas pessoas que todos olham, se deslumbram, e afirmam: “não existe ninguém melhor”. Muito pelo contrario é gente que não tem medo de errar, e portanto erra. Por causa disso, nem sempre o seu trabalho é reconhecido. Mas é este tipo de pessoa que transforma o mundo, e depois de muitos erros consegue acertar algo que fará a diferença completa na sua comunidade.
São pessoas que não podem ficar esperando que as coisas aconteçam, para depois poderem decidir qual a melhor maneira de contá-las: elas decidem à medida que agem, mesmo sabendo que isso pode ser muito arriscado.
Conviver com estas pessoas é importante para um escritor, porque ele precisa entender que antes de colocar-se diante do papel, deve ser livre o bastante para mudar de direção à medida que o seu imaginário viaja. Quando ele termina uma frase, deve dizer para si mesmo: “enquanto escrevia, percorri um longo caminho. Agora termino este parágrafo com a consciência de que arrisquei o bastante, e dei o melhor de mim”.
Os melhores aliados são aqueles que não pensam como os outros. Por isso, enquanto busca os seus companheiros nem sempre visíveis (porque raramente há o encontro entre o leitor e o escritor), acredite na sua intuição, e não ligue para os comentários alheios. As pessoas sempre julgam os outros tendo como modelo as suas próprias limitações – e às vezes a opinião da comunidade é cheia de preconceitos e medos.
Junte-se aos que jamais disseram: “acabou, preciso parar por aqui”. Porque assim como o inverno é seguido da primavera, nada pode acabar: depois de atingir o seu objetivo é necessário recomeçar, sempre usando tudo o que aprendeu no caminho.
Junte-se aos que cantam, contam histórias, desfrutam a vida, e tem alegria nos olhos. Porque a alegria é contagiosa, e sempre consegue impedir que as pessoas se deixem paralisar pela depressão, pela solidão, e pelas dificuldades. E conte a sua história, nem que seja apenas para que a sua família leia.

‘Paulo Coelho’

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