segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

COM PENA DE SOCRATES

Hoje amanheci com muita pena de Sócrates, o chamado “pai da filosofia”, que nasceu na velha Grécia e convidava todo o mundo para o conhecer a si mesmo. Vestia-se mal, tinha uma mulher temperamental e muito prática. Mas ela tinha razão de estar se queixando do marido a todo o tempo. É que Sócrates só queria saber de filosofia. E para muitos, sem duvida, não passava de um velho chato, que vivia perguntando: O que é a justiça? O que é a beleza, o que é o amor?
As pessoas que passavam para o mercado, decerto, não agüentavam aquele perguntador, que deixava muita gente perturbada. E, aqui para nós, não há nada que perturbe mais do que uma pergunta. Uma pergunta como esta: “o que você acha da morte?” Ou senão: “Porque você não deixa de fumar?” Ou ainda: “Qual a finalidade da vida?” pois Sócrates era assim. Vivia enchendo as pessoas com as suas indagações. Chegava a casa de mãos vazias, enquanto Xantipa, a mulher, se esbaldava varrendo a casa e preparando a comida do casal.
Um dia ela não agüentou e disse o diabo ao marido, que pacientemente a ouvia. E quando ela deixou de grita, vendo a passividade do filosofo, não agüentou e jogou um balde de água fria sobre ele. Sorrindo, Sócrates apenas disse: “Depois da trovoada vem a chuva...”
Mas, o diabo é que amanheci hoje muito compadecido do grande pensador. É que ele, na época em que viveu, não desfrutava das facilidades que a moderna tecnologia nos oferece, a começar pelo papel higiênico. Sócrates não conheceu o automóvel, não conheceu o avião, não conheceu a ressonância magnética, não conheceu o portão eletrônico, não conheceu o radio, o computador e, consequentemente a Internet. Não conheceu a calça-jens, que ficaria muito bem em Xantipa. Sua época era atrasadíssima. Como telefonar para Platão, para Alcebíades, se não havia telefone, seja de parede, seja celular?...
E que dizer da medicina do seu tempo, que quase nada sabia sobre o corpo humano? Ainda não se sonhava com a anestesia. A cirurgia era a cru. E o tratamento dos dentes? Sócrates deveria ter muita carie.
Não sei não, mas deveria ser horrível viver naquele tempo. Acontece que o filosofo soube levar a vida muito em com a sua sabedoria. E haverá maior riqueza do que saber a resposta pra estas perguntas: “Donde viemos, o que somos, e para onde vamos?”
Sócrates conhecia-se a si mesmo. Condenado a beber veneno, não perdeu a calma. Quando Xantipa foi avisá-lo que os juizes o haviam condenado. Ele apenas respondeu com uma pergunta: “E eles também não estão condenados á morte?”
Não, agora não estou mais com pena de Sócrates. Estou com pena de quem não se conhece a si mesmo. De quem vive sem reflexão, igualzinho a um animal.

‘Carlos Romero’

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