segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

O OSCAR NÃO É O MELHOR

(Cinema mesmo é na Europa)

Tudo bem: é unnime que Daniel Day-Lewis e Johnny Depp são atores excepcionais. Quem há de negar? Concorreram ao Oscar de melhor ator na festa que rolou lá para as bandas da Costa Oeste americana. Day-Lewis por “Sangue Negro”, cotado para receber a estatueta e melhor filme. Depp por “Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet”, mais uma das suas delirantes fantasias em parceria com o diretor tim Burton. A dupla Depp-Burton sempre dá certo. Quem há de negar?
Mas, o Oscar, “Ladies and Gentlemen”, meninos e meninas, pode ser uma grande festa, sem dar pra ser levado a serio como evento do cinema de arte, apesar de já ter premiado uma obra prima como “Sindicato de Ladrões”, de Elia Kazan (e como isso faz tempo!...). Como festa, prefiro esses embates entre Obama e Hillary nas previas das presidenciais americanas.
Sejamos, não imperialistas, mas um pouquinho didáticos, e percebamos que o Oscar não é um festival. O modelo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas é uma droga empurrada pelas goelas de milhares e milhões de espectadores no mundo inteiro, com audiência predominante nas três Américas (o maior mercado do que é premiado com as estatuetas). Vem de uma previa do lado “trash” do mercado, que é o “Globo de Ouro”, e de pesadas investidas de estúdios, produtoras e distribuidoras no sistema “coast to coast”, de Nova Iorque a Los Angeles, comprando páginas inteiras de jornais, fazendo eventos que nem Sílvio Santos assinaria e promovendo um “lobby” atrás de outro. Repito: não é um festival. Não dá pra levar a serio.
Vez em quando eles disfarçam e vêm com uma historia de que tem um filme de baixo orçamento, como é esse “Juno”, que pode ser o azarão, e blá-blá-blá, numa conversa pra enganar corações e mentes que ainda acreditam em alguma possibilidade de seriedade pros lados de Hollywood. Pura enganação.
Uma festa de cinema cujo maior “feeling” é ver qual o filme que “arrecada”, através de lobistas, o maior número de estatuetas, não fica nada a dever a qualquer evento picareta montado na Florida, nos interiores de Minas e São Paulo ou em algumas das capitais ou cidades em crescimento desordenado no Nordeste brasileiro. Por isso é que os novos ricos (eles sempre aparecem) e os emergentes que chegaram à classe média alta adoram o Oscar. Estavam todos sentados à noite, em frente à deusa-telinha, preparados pra se comover com a pós-adolescente Ellen Page exibindo a sua barriguinha de gravidez numa cena de “Juno”. Dá pra lembrar que Ellen é aquela protagonista de “Menina Má.Com”?
Onde existe bom cinema, como produção e eventos, é na Europa. Lembro que Hollywood não inventou o cinema, mas apropriou-se dele de uma maneira para dar impressão ao mundo que são os melhores nesse negocio. Como mercado, são. Como criadores, deixam a desejar, tendo as exceções da praxe. Gente como Robert Altman, por exemplo. Sim, didaticamente: o cinema foi inventado pelos irmãos Lumière. Na França.
As melhores coiss do cinema saíram da Europa. Movimentos como a “Nouvelle Vague”, o “Free Cinema” da Inglaterra, o neo-realismo, o expressionismo lemao. Gênios – inventores de linguagem, poesia, imagem e som, como Truffaut, Bergmn, Fellini, Visconti, Godard, Wenders, Buñuel, Antonioni, Carné, Eisenstein... Dio mio, não é pouco.
E os festivais, como os de Cannes, Berlim,, Veneza, Karlovy-Vary?... Foi em Cannes que o Brasil brilhou com o “Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte, adaptando Dias Gomes e ganhando a Palma de Ouro. Não faz muito tempo que o polemico “Tropa de Elite” ficou com o Urso de Ouro em Berlim. Teve Glauber Rocha, endeusado pelo “Cahiers du Cinema” e referencia em nas melhores discussões sobre cinema, até hoje, em qualquer país europeu.
Quero lembrar um filme: “O Leopardo” de Luchino Visconti. Em toda a historia do cinema americano, é impossível citar um só filme que chegue perto dessa obra-prima das obras-primas.
O Oscar, até aos anos 70 era considerado um lixo no Brasil. Aí, a ditadura militar promoveu o distanciamento entre as culturas brasileira e européia e arreganhou as pernas para a colonização mediatica dos EUA.
Estavam abertas as veias da América Latina.

‘Carlos Aranha’

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