sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O FORRÓ E O MUNDO

O jornalista e cineasta suiço Bernard Robert-Charrue lançou na Europa, há cerca de duas semanas, o seu documentário “Paraíba meu amor”. Extremamente apaixonado pelo ritmo nordestino, desde que o escutou pela primeira vez num bar da Suíça, tocado por brasileiros lá radicados, Robert-Charrue deu uma entrevista ao repórter Jamil Chade, da Agencia Estado, publicada á dias. O cineasta disse a Jamil que não entendia como o forró até hoje não foi descoberto pelo publico europeu.
Desconhece o suíço que, desde a década de 50 do século passado, algumas tentativas de introduzir o forró na Europa foram efetuadas por produtores musicais e certos importadores da musica brasileira. Não deu certo. Com o reggae, deu certo. A explicação para isso não é complicada. O chamado forró autentico, que tem entre nós o nome de “pé de serra”, é gostoso, é bacana, mas é harmonicamente pobre e melodicamente repetitivo. Harmonia e melodia são elementos da maior exigência entre o público europeu, com ouvidos um tanto diferentes dos nordestinos brasileiros. O forró é em recebido na Europa, num festival como o de Montreux, por exemplo, quando interpretado por uma Elba Ramalho ou um Gilberto Gil, que dão um tratamento pra lá de sofisticado ao ritmo. Um forró com Elba ou Gil, e as suas bandas, ganham uma dimensão bem catalogada na chamada “world music”.
Alguém pode dizer não ser coerente o meu escrever porque o reggae, em geral, também é harmonicamente pobre e melodicamente repetitivo como o forró. Acontece que o reggae tem a sofisticação de um espetáculo da “world music”, principalmente quando usa metais e “backing vocals” aproximado da escola americana. Pra completar, o reggae é primo do rock, que é a musica mais sem fronteiras do planeta, juntamente com o jazz. Qualquer pessoa sensata sabe que não é o caso do forró.
Por que um musico genial como Sivuca conquistou grandes platéias na Europa? Porque Sivuca não se limitou a tocar forró. Ele foi muito além. Transformou-se num dos instrumentistas improvisadores mais sofisticados do mundo, em vários gêneros, como o acordeonista francês Richard Galliano, que, por sinal, está no filme “Paraíba meu amor”, num dueto com o grande Dominguinhos.
Tem mais: Dominguinhos não é um sanfoneiro limitado a tocar somente forró. Lembro bem a genialidade de Dominguinhos, integrando a banda de Gilberto Gil no show “Refazenda”. Um arraso!
Uma ultima explicação, eu gosto de forró, quando bem tocado. Mas, é um gênero musical que escuto como faço com o samba de partido alto. Ou seja: sabendo das limitações harmônicas e melódicas de cada um.

‘Carlos Aranha’

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