segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

ONDE ESTÃO DESTA VEZ OS NEGROS CATIVOS?

Um pouco de história.

Foram em vão os esforços para a abolição da tarifa discriminatória em favor de África.

Será indispensável cortar sessenta ou cinqüenta por cento das despesas internas do homem brasileiro, a fim de que ele venha a suportar a competição dos seus concorrentes favorecidos pelos interesses da Europa ocidental. Não vejo que o Brasil, com a animosidade que manifesta todo o dia contra os Estados Unidos, consiga viver sem a Europa.

Nova Iorque, 18 de Julho – O regresso do sr. Chester Bowles da Europa está provocando uma das maiores controvérsias que tem agitado a Casa Branca, desde que o sr Kennedy tomou conta do governo.
Deve ter o ex-governador de Connecticut um merecimento fora do comum, ou então inimigos rancorosos. Não é habito dos grandes jornais americanos doutrinários a pressão que se vem fazendo para o afastamento nos Estados Unidos dos postos-chaves, que já desempenhou e que está desempenhando na atual administração federal. Mas o presidente não cedeu a verdadeiros imperativos, a fim de mandar no mínimo o sr. Bowles para o limbo da Embaixada do Rio de Janeiro. Ontem mandou chamá-lo. Almoçaram juntos e a Casa Branca acabou fazendo-o secretário de Estado adjunto. Foi essa a resposta que o sr. Bowles apresentou hoje de manhã à legião de inimigos que o queria separar do presidente.
Poucas figuras de políticos militantes tem aqui o colorido e a força magnética do sr. Bowles. A tendência do meio democrático para o afastar de Washington decorre da sua enorme fascinação pessoal. É uma personalidade que vive dentro de um partido, fazendo sombra aos companheiros que não têm a quarta parte dos seus predicados intelectuais, inclusivamente a fresca jovialidade com que luta nas duas arenas: a interna e a externa.
Esta personagem não tem outro atrativo para nós que não o de haver trabalhado, em nome do presidente americano, para que a Europa acompanhasse os Estados Unidos na questão da divida comercial brasileira. Depois foi-lhe cometida uma segunda tarefa, pertinente também a nós Ibero-Americanos. Fazia empenho o governo de Washington em que a tarifa preferencial não fosse aplicada pelos seis do Mercado Comum ao Brasil e aos outros países da América Latina. Quebraram lanças tanto o presidente como o seu à Europa. Foram, contudo, em vão os esforços daqui desenvolvidos para a abolição da tarifa discriminatória em favor do mercado africano. Regressa o ex-governante de Connecticut com as mãos vazias, sem trazer nada para o outro lado do hemisfério.
Há dois meses lavrara aqui e na Europa ocidental uma onda de otimismo quanto à filiação provável do Reino Unido no Mercado Comum. Na própria Inglaterra quase no havia dúvida do seu ingresso na sociedade dos Seis. Toda a industria inglesa se acha sobressaltada pela perda dos seus habituais consumidores do continente e que passaram a abastecer-se entre si, porque protegidos por uma barreira alfandegária, excluindo o tradicional produtor britânico. Manifestaram-se as associações manufatureiras favoráveis à entrada do País no acordo continental.
Acontece, porém, que subsiste na Inglaterra o mito imperial. Deliberou o gabinete conservador ouvir as nações da Comunidade, manifestaram-se logo contra a Austrália e a Nova Zelândia. Esta última, coitada, tem o seu comercio externo com quarenta por cento na dependência do consumidor inglês. O que ela manda para Londres e Liverpool é o que a Inglaterra iria receber da França, da Itália, da Bélgica, da Alemanha e da Holanda, como artigos de alimentação agrária e pecuária. Na hora em que o Reino Unido fosse o sétimo, seu comercio internacional estaria desarticulado.

‘Assis Chateaubriand – 27 de Julho de 1961’

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