segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

COM A RENUNCIA DE FIDEL O SECULO XX VAI AO “PAREDÓN”

Para que tudo desaparecesse, para que não restasse pedra sobre pedra daquilo que tanto amamos e detestamos, ao longo de tanto tempo, faltava que Fidel saísse de cena.

Há de se dizer que um homem não mata um século. E isto provavelmente é verdade. O comum é que os séculos matem os homens. Sejam eles bons ou maus.mas há algo de secularmente macabro nesta renuncia do comandante Fidel Castro. Ele nem sequer morreu (ainda) mas a sua capitulação política é, sem nenhuma duvida, o sinal mais evidente de que o Século XX acabou de vez.
Não há mais guerra fria, não há muro de Berlim, os Beatles não tocam mais e Picasso já era. Desafio o leitor a citar, agora mesmo, o nome de um grande romancista, de fama mundial, que tenha surgido e emocionado os leitores dos dias de hoje. Cadê Guy de Maupassant, cadê Graciliano? Onde estarão Hemingway, Carlos Drummond e Neruda? Noel Rosa, Nat King Cole e Tom Jobim, onde estarão?
O século XX acabou de vez. Os amores literários de Gonzaga, os apreços filosóficos de W. Solha, o suspense hitchcokquiano de Martinho e a voz frondosa de Nora Ney no existem mais. O século acabou e disso não se fala mais.
Mas, para que tudo desaparecesse completamente, para que não restasse pedra sobre pedra daquilo que tanto amamos e detestamos, ao longo de tanto tempo, faltava que Fidel saísse de cena. E na semana passada, finalmente, Fidel saiu.
Nada indica, muito pelo contrario, que Raul seja melhor do que ele. Talvez seja bem pior, mas o importante é que Fidel não há mais. Como todos os ditadores, um dia haveria de chegar para deixá-lo no chão. Como todos os déspotas, não haveria ele de escapar dos desígnios da historia.
Pois bem, sumiram Glauber Rocha, Frank Sinatra, Darcy Ribeiro e Juan Perón. Levaram consigo o restinho do século XX que ainda havia em cada um de nós. Agora, querendo ou não, somos todos pós-modernos. Estamos no século XXI e a pergunta que primeiro se apresenta é a seguinte: o que podemos esperar desses novos tempos?
Haverá um novo John Lennon, um Di Cavalcanti mais encantador nas paredes de nossa memória? O século XX morreu mas nós estamos vivos e precisamos sempre dessas referencias que nos chegam pelos jornais, pelas revistas e... sim, agora pela Internet.
Será Bill Gates a nossa nova bússola? O que faremos com a lembrança de Jean Paul Sartre? Steven Spielberg será mesmo o nosso Fellini ou Antonioni de antigamente?
Nenhuma dessas perguntas precisa ser respondida. Mora no coração da gente a certeza de que também estamos passando. Lamentar que os ídolos de hoje sejam como os de antigamente é só uma manifestação primária de saudade consigo mesmo.
Não há nenhum mal nisso: ter saudade de si mesmo é como ter a absoluta convicção de que, para o bem ou para o mal, nós mudamos. Seja lá o que possamos encontrar pela frente, o importante é não esquecer que “O passado nos condena”, como sugere o belo titulo de um filme também inesquecível.

‘Agnaldo Almeida’

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