segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

REFLEXÃO

Quando atingi os 50 anos, envolvido em reflexão sobre o meu passado, cheguei á penosa conclusão de que ainda tinha muito a fazer.
Vi que tinha lido poucos livros. Artigos e crônicas esparsas publicadas em jornais da cidade, e livros editados.
Uma certeza me consumia; a vida é breve e a arte longa. Há um imenso caminho a percorrer, imaginava.
Aproveitar a inspiração e o sentimento que têm aflorado das visões que adornam o viver, no passado e no presente, é uma necessidade.
As paixões arrastam-me aos livros, com poucos intervalos, disse a um amigo comum.
Idéias fervilham e os sentimentos misturavam-se com as emoções, numa vontade incontida para escrever. Escrever sempre e mais. Todo o dia, sem cessar, mesmo que fosse depois do expediente na redação dos jornais.
Aconselhado, escrevia como exercício diário e continuo. Tudo anotava, tudo revisava. Reescrevendo na tentativa de ter um texto agradável.
Nessas divagações descobri que para elaboração literária não bastam sensibilidade e imaginação, mas esforço na margem dos cem por cento. Noventa por cento de esforço e o restante por conta do talento. É possível se ter um bom romance na junção das três coisas: esforço, sensibilidade e imaginação.
Imagens e situações do passado atormentavam o presente, como agora, nos meus encontros com esse caderno de notações.
O romancista imagina além do limite da sua imaginação. O surgimento de novas formas de comunicação contribuíram para fortalecer o romance.
Imaginação e palavras ganharam nova dimensão. Estão se renovando. No romance a imaginação é tudo. Quero fugir delas, para somente mais tarde revivê-las.
Sou leitor de mim mesmo. A obra que escrevo ajuda-me a desvendar mistérios que as leituras nem sempre me dão. É uma busca do eu escondido que só as palavras escritas desvendam.
Antes buscava completar-me nos versos dos outros, agora são os meus que me dão vida e alegria.
Não sou refém das paixões alheias, mas portador das minhas próprias divagações. Poetizarei meus próprios sentimentos. Impossível ser diferente depois dos 50 anos.

‘José Nunes’

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