segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

EPITÁCIO PESSOA – O PRÓDIGIO DA PARAIBA QUE GOVERNOU O BRASIL

Na próxima quarta-feira, dia 13 de Fevereiro, completam-se 66 anos sobre a data da morte de Epitácio Pessoa que, poucos sabem, foi o primeiro nordestino eleito diretamente para a Presidência da Republica do Brasil. Não é verdade, porém, que tenha presidido aos três poderes da república. Costuma-se dizer na Paraíba que ele, além de Presidente do Executivo, teria sido também Presidente do Senado – ou seja, do Congresso Nacional, e do Supremo Tribunal Federal.
Historiadores de vários quilates já se encarregaram de biografar o mais importante político paraibano de todos os tempos. Se o leitor entrar no “google”, ou em qualquer outro site de buscas, vai ver que o ex-presidente Epitácio Pessoa figura entre as mais importantes personalidades da política brasileira.
Há, porém, alguns fatos da sua vida pessoal que não são do conhecimento de todos. Agora vou relembrar pelo menos dois:
Órfão de pai e de mãe desde os oito anos, Epitácio Pessoa foi morar em Pernambuco, sob a responsabilidade do tio, o desembargador Henrique Pereira de Lucena, o futuro Barão de Lucena. O barão não cuidou muito do menino e logo cedo o encaminhou para o Ginásio Pernambucano, que era dirigido pelos padres.
Terminadas as provas no último ano da sua permanência neste colégio, biscoitos de água e sal. Tomava conta do refeitório um jovem funcionário. Naquele dia, o sabor dos biscoitos esta intolerável. Epitácio Pessoa levantou-se e queixou-se ao funcionário. Este respondeu-lhe brutalmente: “São sempre os que mais reclamam”, disse referindo-se ao fato de Epitácio ser bolsista.
Sentindo-se humilhado, um acesso de raiva escureceu a vista do jovem estudante. Sem pensar, acertou com um biscoito no nariz do funcionário, tirando-lhe sangue. Momentos depois, apareceu o diretor no refeitório que, sem muitas palavras, tirou do bolso a palmatória e, diante dos internos petrificados, aplicou-lhe meia dúzia de “bolos”. Em seguida, encerrou-o no quarto escuro que ficava embaixo da escada, um cubículo estreito, a pão e água, por oito dias. Epitácio Pessoa fugiu de lá no terceiro dia.
Seis anos mais tarde, o tal funcionário do colégio, desempregado, procurou Epitácio Pessoa na Secretaria do Governo da Paraíba para pedir-lhe ajuda. Foi recebido sem rancor e, o que é melhor, conseguiu uma colocação.
Em Julho de 1919, já eleito Presidente da Republica (ele derrotou Rui Barbosa com 286.373 votos), Epitácio procurou conviver bem com os representantes dos Estados que o haviam indicado para o cargo. Dos sete ministros que compunham a sua equipa, seis vieram justamente de So Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Apesar disso, o seu governo não foi um mar de tranqüilidade, muito pelo contrario. Antes de completar três meses de governo, ele enfrentou o primeiro grande movimento grevista de São Paulo. Não teve duvidas : mandou fechar um dos principais jornais da classe operária, “A Plebe”, e expulsou do país os seus redatores Gigi Damiani, Silvano Antonelli e Alessandro Zanelli. Eram todos italianos, pertencentes ao movimento anarquista internacional.
Mas o grande desafio enfrentado pelo presidente Epitácio tinha se dado bem antes, faltando um dia para assumir o cargo. É que a primeira novidade da sua administração, conforme noticiava a imprensa na época, seria a nomeação de civis para os ministérios da Guerra e da Marinha. Houve grande indignação nos quartéis e até ameaças de levante.
Vinte e quatro horas antes da posse, o então ministro da Marinha, almirante Gomes Pereira, procurou Epitácio em sua casa e o aconselhou a desistir daquele propósito. O presidente respondeu-lhe:
“Amanhã, a imprensa divulgará a nomeação de um civil para a pasta da Marinha. A Armada, digo mal, os indisciplinados da Armada que tomem a responsabilidade de perturbar a ordem constitucional da República, pelo fato de não querer o presidente no uso incontestável do seu inquestionável direito, reconhecendo-lhes titulo de propriedade sobre uma das pastas do governo. Resistirei e veremos por quem se pronuncia a Nação”.
No dia seguinte, os jornais publicaram a nomeação de dois ministros civis para as pastas militares: Pandiá Calógeras para o Ministério da Guerra e Raul Soares para o da Marinha. O número de descontentes cresceu e este fato influiu na política, levando o presidente a intervir no Estado da Bahia e em Pernambuco.
Foi durante o mandato de Epitácio Pessoa que começou a brotar no Exercito uma força nova e antioligárquica, o Tenentismo, que marcaria os anos desta década – a de 1920 – com uma serie de rebeliões militares, a primeira das quais foi o levante do Forte de Copacabana, em cinco de Julho de 1922.
Epitácio, cujo nome completo era Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa, sempre foi reconhecido pela sua inteligência. Entre os amigos, era apelidado de “Menino Prodígio”, “Terremoto”, “Tio Pita” e “Patativa do Norte”. Fisicamente, era um homem de baixa estatura, farto bigode, olhos grandes e perscrutadores.
A sua administração, segundo alguns observadores, não foi muito diferente da ação dos governos anteriores. Entretanto, segundo o historiador Oswaldo Trigueiro “foi uma das mais apaixonadamente discutidas e criticadas”.
Ele ganhou o apelido de “Menino Prodígio” não só pelo brilho da sua inteligência, precocemente revelada, mas sobretudo por ter entrado ainda muito cedo na política. Os seus discursos valeram-lhe os outros apelidos “Terremoto”, dado pela imprensa, e “Patativa do Norte”.
Ele tinha 29 anos quando se casou com Francisca Justiniana das Chagas, em Julho de 1894. menos de um ano depois, “Chiquita” faleceu ao dar á luz um menino natimorto. A viuvez já ia longa quando amigos lhe apresentaram Maria da Conceição Manso Sayao. Os dois ficaram noivos em 8 de Setembro de 1898 e se casaram no dia 8 de Novembro do mesmo ano, ás 19.30 horas, como era moda na época, na Igreja da Candelária, centro do Rio de Janeiro.

‘Agnaldo Almeida’

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