segunda-feira, 24 de março de 2008

A DIGNIDADE, A ÉTICA E O POLÍTICO

A renuncia do governador de Nova York, destaque do noticiário nos últimos dias, demonstra que, num país sério, isso é o mínimo que faz o político quando é “apanhado com a boca na botija”. Descoberto como cliente de uma prostituta e tendo-a pago com o seu próprio dinheiro – não o do erário nem o de empreitadas – Eliot Spitzer, em nome da dignidade do cargo publico, viu-se na obrigação de sair de cena e pedir desculpas à população por ter traído a confiança. Na Alemanha, a modelo e empresária que apareceu com os seios “quase á mostra” em fotografias da sua grife, desistiu da candidatura a um governo estadual. Políticos orientais denunciados, além de renunciar, cometem suicídio para escapar à desonra.
Quanto mais desenvolvido e organizado o país, mais respeitado é o exercício do mandato popular. A ele só têm acesso e permanecem homens e mulheres comprovadamente capazes, probos e portadores de dignidade, carisma e liderança que os tornam guardiões do interesse público. Como tal, são figuras que não podem “errar” ou deixar dúvidas, principalmente no aspecto comportamental. Seu erro reflete-se diretamente na parcela de confiabilidade do poder que exercita e o torna moralmente inaceitável à sociedade que o elegeu.
Colocado como uma das principais economias do Mundo e postulante a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, o Brasil não pode ficar á margem de valores e procedimentos éticos que suas nações parceiras cultuam naturalmente e as fazem respeitadas até pelos adversários. Os episódios acima são significativos e devem ser observados e imitados por todas as nações que ainda não chegaram ao estagio avançado de comportamento dos seus agentes públicos.
Toda a vez que aqui eclodir um escândalo, deve tornar-se praxe que o envolvido, culpado ou não, se afaste do seu posto para evitar danos à instituição e diminuir a possibilidade de, com o seu prestigio, prejudicar as apurações e relegar o interesse público. Poderá encontrar-se um meio de, até, permitir a volta dos que restem comprovados inocentes. Esse procedimento evitará a repetição de episódios como os do mensalão, dos sanguessugas e outros que têm emporcalhado a imagem da classe política nacional e, o pior, atinge indistintamente a reputação dos bons e dos maus.
Vivemos no Brasil e na América Latina pós-ditaduras, a falsa idéia de que democracia é o “tudo pode”. Temos de, urgentemente, reformar esse conceito errôneo, passando a cultivar a plenitude de valores como dignidade, honestidade, verdade, civilidade, patriotismo e respeito. A permissividade que se tem visto jamais levará à verdadeira democracia. Pode, no entanto, constituir a anarquia...

‘Dirceu Cardoso Gonçalves’

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