terça-feira, 25 de março de 2008

CANÇÃO PRIMAVERIL

Anda no ar a excitação de seios súbito exibidos à torva luz de um alçapão, por onde os corpos rolarão, mordidos! Ou é um deus, ou foi a Morte que nos vestiu este torpor; e a Primavera é um chicote, abrindo as veias e o decote ao meu amor! Esqueço que os dedos têm ossos: é só de sangue esta carícia; apenas nervos os pescoços... Mas nos teus olhos, nos meus olhos, a luz da morte brilha.

David Mourão-Ferreira

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