segunda-feira, 24 de março de 2008

A VIAGEM CANINA DE UMA MULHER SEM PECADOS

Na ladeira da Rua da Republica, perto de um boteco, perambula uma prostituta jovem, habitualmente acompanhada de um cão. Ela não veste Prada. Nem o cão. Seria a nova Madalena?
Passo por ali, quando vou mandar emoldurar quadros, no caminho da Praça da Pedra. A única praça que não é do povo. É minúscula e o povo, como sempre... exagerado.
Já vi essa dona com vários cães diferentes. Geralmente são vira-latas ou misturados. Tanto faz.
Dias atrás andava com um daqueles que parece uma salsicha, aliás, prostituta não gosta de sexo. Nos últimos dias, é um cão corintiano, alvi-negro de pelagem longa.
Baixinha, loira, veste sempre camisetas com letriros no peito, como se imitasse as de Marcos Pires. Deve ter ojeriza ao conluio e não é para menos.
De uns tempos para cá, quando a vejo, já não foco o olhar nela, nem no cão, mas na banalidade à sua volta. Invariavelmente, olham-na inquietação. São anciãos caindo aos pedaços...
Todas as vezes que nos cruzamos, atento mais para a coreografia dos cães e quase nada para a prostituta. Os animais sentam, deitam, equilibram-se em duas patas, nada além. É a tradução do tempo.
A mulher fala com os cães em voz baixa, não faz gestos abruptos a um passo dos esquecidos, na mais paraibana das praças – João Pessoa.
Ora, dirão os pedigree, o vira-lata tem o ouvido melhor que o nosso, por isso não precisa gritar. Ah, é? Banho de tristeza nos olhos daquela mulher. Que lei da física, digo Freud, explica?
Não sei dizer o que mais lhe agrada no coito. Não fui lá. No fundo, é natural uma mulher dominando o “animal”, fazendo-lhe submisso. Qual?
Sonho com o dia em que todas as relações sejam como a dessa puta com os cães: cumprindo a missão de viver.

‘Kubitschek Pinheiro’

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