segunda-feira, 24 de março de 2008

AH, TEMPOS DE LOBISOMEM

Outro dia me mandaram pela Internet um texto muito bem elaborado no qual o autor cobrava ao mundo:
- Quero minha liberdade de volta!
Era uma longa lamentação sobre esse estado de confinamento em que vivem as famílias por trás de grades de ferro, vigiadas por circuitos fechados de vídeo e sistemas de alarme paranóicos.
O certo é que vivemos em liberdade condicional.
Na verdade, a histeria coletiva acaba com a noção de liberdade que Rousseau imaginava para a civilização do seu tempo. Que liberdade é essa em que não se pode sentar em cadeiras nas calçadas, nem tampouco ninguém consegue mais dormir de janelas abertas?
Viajamos em carros blindados, levantamos ainda mais os muros das nossas casas, que já eram altos, rastreamos os passos dos nossos filhos, decoramos senhas eletrônicas somente para pagar as nossas contas, mas o pior de tudo é que no confiamos em mais ninguém.
Cuidado com homem elegante que se próxima de você nas proximidades do estacionamento. De uma hora para a outra, ele pode sacar de uma pistola e apontá-la para a sua cabeça. Quem nos garante uns contra os outros?
É preciso ser hostil com a via pública.
O telefone, a voz educada quer saber o seu endereço, CPF, suas impressões digitais, sua biografia eletrônica. Em poucos segundos o seu gentil interlocutor terá transferido todo o seu saldo bancário para o bisaco da ladroagem cibernética.
É preciso ser hostil com o telefone.
A jovem e sedutora beldade que lhe atende no balcão da loja anuncia maravilhas sobre o produto que você está prestes a levar para casa. O preço é uma piada, o prazo uma valsa. A coisa em si um prodígio da tecnologia. Se for telefone celular, entao, só falta falar. Em casa, você descobre que tudo é uma fraude.
É preciso ser hostil com a loja.
Será que não há mais espaço para ser verdadeiro em lugar nenhum deste mundo? Com quem eu posso ser gentil? Ou melhor, com quem se pode ser gente, simplesmente?
A liberdade é um zumbi, uma assombração que se esconde por trás dos muros elevados, das cercas eletrificadas e dos olhares apavorados do Big Brother que se mudou definitivamente para dentro das nossas vidas.
A liberdade morreu. Virou zumbi e hoje em dia arrasta correntes pelos corredores da noite, pois ninguém acredita mais em lobisomem.
Mas em bandido quem não acredita?

‘Luiz Augusto Crispim’

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