segunda-feira, 17 de março de 2008

AS ONDAS, MAS DE LONGE

“Corria o Verão de 1996. Durante uma semana, não houve telejornal das TVs privadas - nessa época a RTP ainda mantinha um alinhamento menos tablóide nos noticiários - que não arrancasse com crimes de sangue. Era uma ‘onda’. Fizeram-se debates e anúncios inflamados, interpelações e declarações dramáticas. Portugal “deixara” de ser “um país seguro”. Na altura, ouvi sobre o assunto o sociólogo Nelson Lourenço, então na Universidade Nova, que trabalhava muito o tema da violência. “Quanto menos violenta é uma sociedade, mais percepciona a violência e mais reage a ela”, disse o universitário, hoje reitor da Universidade Atlântica. E explicou-se: o Portugal de há 100 anos era muito mais violento que o da atualidade, mas a ressonância dessa violência era muito menor.
[…]
Quer isto dizer que não devemos preocupar-nos? Que o que sucedeu na última semana não tem importância? Claro que devemos preocupar-nos com o facto de ter havido seis (ou sete, ainda não é certo) mortes violentas em poucos dias. Mas confundir isso com “um aumento da criminalidade” é um pouco como dizer, no dia das enxurradas de 18 de Fevereiro, que 2008 não vai ser um ano seco. As ondas são assim: vistas de perto fazem um grande efeito, mas de longe fundem-se no mar.”
(Fernanda Câncio)

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