segunda-feira, 24 de março de 2008

AMARELO CETIM

Não são nunca de cetim, amarelo cetim,
cetim de seda talvez (é possível) os lençóis
quando a casa é de lençol, televisão quadrada
a olhar para a cama, no canal enigma,
e às vezes há uma piscina geriátrica no tecto
cadeiras e mesas voltadas ao contrário
o vento em baixo a raspar o tejo
leite mal passado no frigorífico (porque
A Mulher está ausente) e retratos dos filhos
a patinar no jardim. Tem quase a tua idade.
Imagino, e já não gosto dos bonitos.
Melhor é rápido, à esquina
só com o lençol de cimento,
ou o brusco pesadelo
de mãos e pernas torcidas, que não dura, dá vantagem,
mas deixa o corpo dorido.

António Franco Alexandre

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