segunda-feira, 17 de março de 2008

LA FIESTA

A América Latina começa a pegar fogo.
Coincidência ou não, a saída do velho guerrilheiro Fidel Castro da cena política deixa a paisagem não somente deserta, mas também desequilibra o jogo ideológico que ainda se mantinha vivo, com aquele acampamento cubano armado lá fora, diante do Forte Apache comandado pelo Grande Pai Branco armado até os dentes.
Agora, começam a aparecer os efeitos colaterais da despedida de Fidel.
No vácuo da sua liderança, emerge a figura aloprada de Hugo Chávez, esgueirando-se por entre os jequitibás das selvas caribenhas para desafiar as repúblicas embananadas que mascateiam coca e gás natural; sob as vistas tolerantes da diplomacia sambista do Brasil animado pelo pagode de Lula na Comissão de Frente e a repentina milonga que se instalou na Plaza de Mayor, graças aos volteios do casal Nestor e Cristina Kirchner diante da Casa Rosada.
A bem da verdade, o ritmo é de samba do crioulo doido.
Antes fosse.
Foi no camarim de Carmem Miranda, que se maquilou á imagem de uma América exótica, cravejada de cidades encantadoras à beira-mar, com seus casinos, suas rumbeiras e seus ventiladores de teto zumbindo em dueto com as moscas impertinentes que vinham de matas povoadas de micos irreverentes, araras de penugem nacionalista e papagaios pornográficos.
Como estratégia de marketing, até que funcionou, apesar dos caminhos cruzados entre o Rio de Zé carioca e o Buenos Aires de Carlos Gardel. Bem que vendemos memoráveis carnavais em parceria com os hermanitos animados com os seus bandoneones...
O pano que começa a cair sobre a cena política da América Latina encerra o último ato de um exuberante espetáculo de degradação da vontade popular entremeada por lances de um grotesco fascismo getulista, por um nauseabundo populismo peronista e por uma feroz ditadura pinochetista do lado de lá da cordilheira.
Terá sobrado mais alguma coisa?
O sonho cubano estará condenado a morrer na praia?
Cartas para a Laponia de papai Noel ou, quem sabe, para o túmulo do Camarada Che, que prometeram, do alto das suas botas, os dois juntos e cada qual a seu modo, uma Pátria y Libertad que não se consumou.
O canto do cisne castrista serve de trilha sonora para essa melancólica fiesta que reúne Uribe, Morales, Chávez, Correa, Lula e a dupla de milngueiros Kirchner.
Um triste espetáculo!

‘Luiz Augusto Crispim’

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