Especialistas da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) investigaram as implicações neurológicas do amor em uma relação a dois e concluíram que este sentimento dura no máximo quatro anos entre casais de países desenvolvidos. Segundo eles, é um período caracterizado como “estado de atordoamento temporário”. O estudo vem de encontro a outras pesquisas e psicólogos que sustentam a tese de que a grande crise do matrimônio se dá aos sete anos de convivência.
Uma controvérsia entre os cientistas está no ato de distinguir o que é o amor e o que é atração sexual ou paixão. Georgina Montemayor Flores, da Unam, explica que há diferenciação entre os sentimentos. E que uma pessoa apaixonada ativa substancias químicas no cérebro que ocupam todos os neurônios, que fazem com que ela não consiga mais pensar no ser amado.
“São acionadas as zonas que controlam as emoções, como o tálamo, a amígdala, o hipotálamo, o hipocampo, o giro cingulado e as partes do sistema límbico”, explica Georgina Montemayor. De acordo com ela, o estado físico químico é temporário e acaba. “Costuma durar um máximo de quatro anos ou até aparecer outra que desperta essa paixão romântica, e só persiste o apego ou a companhia para uma pessoa”, assegura.
Para o psicólogo e terapeuta sexual Aureliano Lima de Souza não há fundamento limitar em quatro ou em sete anos os limites para o estouro da grande crise conjugal. Na opinião dele, tudo é uma questão de sintonia sexual. “O amor vem do sexo e se o casamento está desmoronando é porque acabou o tesão, a intensidade sexual entre as duas pessoas”, disse o especialista. Ele ressaltou que para se viver um casamento é preciso haver plena cumplicidade e harmônica na adequação sexual.
Aureliano Souza destacou que quando um casamento ultrapassa a marca de um ano é porque esta havendo a dita sintonia sexual. Porém, o que leva à desconstrução da união íntima entre duas pessoas, segundo o psicólogo, é mesmo a incompatibilidade advinda da desinformação sobre o aspecto da sexualidade. O terapeuta lembrou que no Brasil este fator é bem presente. Ele reforçou argumento lançando mão das palavras do famoso psicólogo brasileiro Ângelo Gaiarsa. Este afirmou que o Brasil estava de mal a pior, quando da passagem do milênio, no que diz respeito ao fator sexo. “Ou seja, o brasileiro continua vivendo mal a sexualidade”, declarou.
O terapeuta sexual observou que a saída para que o casamento não descambe para um final melancólico, em decorrência da ausência de apetite sexual, passa pela reeducação sexual. “Este é o caminho para manter a vida a dois”, salientou Aureliano de Souza. Na avaliação dele, o fracasso da relação de um casal atesta o que foi aprendido sobre sexo por um dos dois, ou por ambos, estava errado.
PAIXÃO PODE SER RENOVADA
Pensar recorrentemente em uma mesma pessoa, leva o ser humano apaixonado a uma condição psicológica que pode ser comparada “a um estado obsessivo-compulsivo”. É o que observa Georgina Montemayor Flores, da Unam, no México. Ela lembra que neste contexto só é possível se apaixonar por uma única pessoa ao mesmo tempo.
Um outro ponto negativo no cenário da paixão, segundo Georgina Montemayor, é que as pessoas deixam de ser produtivas. Ela exemplifica que as grandes obras de arte nunca foram criadas quando os autores estavam apaixonados, mas sim no processo do desamor, ou melhor, da desilusão. De acordo com a cientista, as pessoas entram e saem do estado de paixão porque o cérebro não poderia resistir a tantos desgastes se fosse mantido assim frequentemente.
‘Edvanildo Lobo’
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