Refletir sobre ou a partir do tema inclusão no inicio do século XXI é uma responsabilidade muito grande. O que significa falar em inclusão neste nosso país e nestes tempos de globalização? E afinal onde e em que tempo estamos?
O termo globalização aponta para duas imagens: a primeira pressupõe a extensão de uma determinada cultura até seu limite, o globo. As culturas heterogêneas tornam-se incorporadas e integradas a uma cultura dominante, que acaba por cobrir o mundo inteiro. Coisas que eram mantidas separadas são agora colocadas em contato e justaposição. As culturas se acumulam umas sobre as outras, se empilham, sem princípios óbvios de organização.
Esta definição nos garante que todos nós já estamos incluídos de algum modo em todos os espaços, inclusive num sistema de comunicação. No entanto, observamos que a discussão sobre o tema é acirrada, principalmente no meio intelectual brasileiro: quais diferenças terão permissão para permanecer nessa incorporação de culturas? Qual é o problema a ser observado se a globalização mescla mundo, mistura valores? Por que nos inquietarmos diante desse fenômeno e por que a exclusão fica evidente?
Se existe necessidade de falarmos sobre inclusão é porque estamos em duvida sobre o conceito de pessoa humana. E se este conceito está sob suspeita é porque as formas de conhecimento de que dispomos estão desequilibradas em relação ao nosso modo de ser e de agir no cotidiano.
Diante desta realidade novas perguntas podem ser formuladas complementando as primeiras: o que está acontecendo com a pessoa humana e a consciência humana? Por que ela está confusa com relação às imagens da realidade? E que realidade é esta que nos invade, disfarçada, escondida em simbolismos dissimulados e manipuladores?
Essas inquietações nos atingem como profissionais da educação, além de outros profissionais. Nós que mantemos contato permanente com a pessoa humana nos esforçamos para promover a saúde mental, ensinamos, no temos medo de aprender, interpretamos, educamos. Por isso temos que trabalhar a nossa visão de cada dia, a nossa consciência e a nossa identidade.
Durante toda a vida no processo de desenvolvimento normal a identidade vai se constituindo e a criança representa formas sociais de acordo como elas são sintetizadas no seu mundo psíquico em desenvolvimento; o adolescente integra de forma desordenada estas imagens; o adulto as disponibiliza em sistemas coerentes de valores no mundo do trabalho e das relações afetivas; o idoso torna-se generativo, integro e sábio.
Sabemos que a consciência humana está ligada a um processo de constante expansão responsável em grande parte pela construção da identidade. Ou seja, ao longo da vida o ser humano vai integrando aos poucos as imagens de si mesmo e vai diferenciando, num trabalho delicado, as representações de si e as representações das coisas que estão fora de si.
Portanto, as influencias da cultura, as regras, as proibições devem ser bem apresentadas ao sujeito em desenvolvimento para que ele possa representar significativamente este conjunto de informações e possa alicerçar e sustentar a sua identidade como sujeito único e como sujeito social.
A expansão da consciência humana mais do que em nenhum outro tempo é, sem duvida, um dos principais fenômenos responsáveis pela compreensão de nossa época. Através dela podemos conseguir decifrar o conteúdo simbólico da realidade. Será que estamos cegos diante das novas éticas que nos forçam a nos sentir incluídos quando não estamos? Qual a inclusão que defendemos?
Aqui fica a reflexão de autores como Ribeiro (1998), Featherstone (1997) e Carpigiani (2004), reforçando o nosso entendimento de que para se discutir inclusão e identidade precisamos nos perceber inseridos na leitura dos sistemas de valores da nossa realidade atual. E isso se faz no cotidiano.
‘Maria Neusa dos Santos’
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