Houve um tempo em minha vida em que se alguém me pergunta-se:
“Se você pudesse ser outra pessoa, quem gostaria de ter sido?”
Eu respondia:
“Neil Aspinall”
Minha resposta produziria no rosto do perguntante uma expressão vácua, e um olhar de computador travado – o que era, de certo modo a minha intenção. Aspinall, falecido á poucos dias, aos 65 anos, foi talvez a pessoa mais próxima dos Beatles durante toda a existência do grupo. Mais do que o empresário Brian Epstein, mais do que o produtor musical e arranjador George Martin, mais do que qualquer outro individuo.
Nascido em Liverpool, ele estudou no mesmo colégio com John, Paul e George, mas aproximou-se deles através de Pete Best, o baterista que depois foi descartado em proveito de Ringo Star, e que era seu amigo do peito. Hunter Davies, o biografo oficial dos Beatles, sugere inclusive que Neil teve um caso com a mãe de Pete, Mona Best, dona do Casbah Club e da pensão onde Neil morava. Quando a banda começou a fazer shows profissionais Neil, que os rapazes chamavam “Nell”, tornou-se motorista e “roadie” oficial, dirigindo a van que os levava e carregava os amplificadores. Quando Pete Best foi dispensado, Neil ficou furioso e quis se demitir, em solidariedade ao amigo, mas Pete o dissuadiu:
“Não faça essa besteira, esses caras vão longe”.
Foram, e Neil com eles.
Trzia comidas,providenciava garotas, falsificava autógrafos nas fotos da banda, passava os ternos, resolvia todos os pepinos de última hora. Os Beatles decolaram para o estrelato mundial, e Neil do lado, alugando jatinhos, administrando excursões, apaziguando brigas. Foi ele quem descobriu e comprou, por meio milhão de libras, a casa de 3 Savile Row, onde a Apple Records se instalou. Como ex-estudante de contabilidade, tornou-se gerente de produção da gravadora. Trabalhou na produção do filme “Let it Be” e na organização da “Beatle Anthology” lançada em 1995. Juntamente com o outro pau-pra-toda-a-obra Mal Evans, falecido em 1976, era uma das pessoas em quem os Beatles tinham total confiança, uma confiança que nunca foi traída. Neil, aliás sempre recusou propostas de editoras interessadas em publicar as suas memórias.
Na reta final da separação dos Beatles, quando o empresário Allen Klein assumiu os negócios do grupo no auge da crise da Apple, Neil confessava ter sonhos estranhos. Sonhava que estava fugindo de um perseguidor desconhecido, correndo pelas ruas com os braços cheios de preciosos peixes feitos de prata. Quanto mais corria, mais os perseguidores se aproximavam; e quando mais tentava segurar os peixes mais eles deslizavam e escapuliam dos seus braços.
O saite do The Telelegraph:
http://www.telegraph.co.uk/news/main.jhtml?xml=/news/2008/03/04/db2405xml
mostra uma rara foto de Neil substituindo George Harrison à guitarra durante um ensaio dos Beatles para o Ed Sutlivan Show: aquele sujeito louro, magrinho, tocando no meio dos outros três. Pense num cara que realizou um sonho!
‘Braulio Tavares’
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