Antes, borboletas em repouso; hoje, alvos barulhentos, os monges tibetanos aprecem nas telas da mídia mundial como sintoma de algo muito estranho. Sentimos fraturas na carcaça de compromissos éticos imemoriais: a referência sagrada jaz agora na bolha do desespero dos condenados.
O caminho do meio foi bombardeado. As ligas camponesas da resistência destroçadas pelo arbítrio. Trabalhador aviltado. As comunidades intelectuais mergulhadas em tortura. Um banho de sangue envolve a juventude.
Rastros do espírito dissolvidos foram no pó do medo.
A ditadura que controla o Tibete meteu uma peixeira na alma de Avalokitevara, este é o nome do avatar da compaixão nascido no país, e empenha-se na trama do genocídio cultural que pratica há mais de 50 anos no topo do mundo.
Mordaça nas mentes. Couraça contra direitos. Lança nos olhos da liberdade. As montanhas desceram à planície do ódio, da cobiça. A China sempre cobiçou o Tibete. Assim como os Estados Unidos sempre cobiçaram Cuba.
Os parricidas lavam a maturidade e a razão em sangue inocente. É a sorte humana civilizada.
No Tibete invadido, o massacre dos opositores pela China provocou a fuga do Dalai Lama, chefe do governo, para a Índia em 1959. com ele, seguiram 80 mil monges. Uma campanha milionária para difundir o ateísmo causou a fuga do Karmapa Lama, o terceiro na hierarquia espiritual tibetana, também para a Índia. Este episódio ocorreu em 1990, 10 anos depois do massacre da Praça da Paz Celestial em que um manifestante pró-independencia do Tibete foi esmagado por um tanque chinês.
Nos últimos dias, os monges sempre surgem num espasmo, expondo-se ao flash dos canhões midiáticos. Soluços nos respirar da transmissão permanente do fluxo histórico via satélites. Instigam a memória da comunidade mundial quanto ao calendário de totalitarismo que desabou sobre os tibetanos.
Nossos olhos acostumados à superfície do cotidiano esquecem de ouvir o clamor subterrâneo das bandeiras estranguladas há cinco décadas no país do lamanismo.
Enquanto monges gritam, internautas cubanos sofrem toda a ferrugem ideocrática nas infovielas agora lideradas pelo ditador de Cuba: há medo pânico oficial frente ao potencial conectivo da crítica via internet. Lembrando: há canalhas e líderes em Miami.
Enquanto internautas sofrem repressão em Cuba, meninas estão sendo vendidas neste momento em algum buraco ou palácio miserável do Nordeste. Alguém morre de dengue, o tuberculoso não encontra o remédio, o vil queima a carne da mulher.
O Dalai Lama recita o poema do desespero de granito dos povos sufocados. A indignação é sol áspero na manhã do inconformismo mundial.
‘Walter Galvão’
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